Liturgia Diária
30 – DOMINGO
4º DOMINGO DA QUARESMA
(roxo ou róseo, creio – 4ª semana do saltério)
Alegra-te, Jerusalém! Reuni-vos, vós todos que a amais! Cheios de júbilo, exultai de alegria, vós que estais tristes, e sereis saciados nas fontes da vossa consolação (Is 66,10s).
Nos reunimos para vivenciar, na Eucaristia, o mistério transcendental da passagem de Cristo. O Senhor, em sua imensa liberdade, nos acolhe, convidando-nos a experimentar a profundidade do Seu amor incondicional. Através da reconciliação com o divino, proporcionada por Cristo, alcançamos a verdadeira harmonia com a origem de nossa existência. Ao participar deste banquete sagrado, somos convidados a compartilhar da essência da misericórdia e do perdão, que são reflexos da liberdade que nos é concedida. Aqui, nos tornamos plenos em nossa liberdade interior, unindo-nos ao amor eterno, fonte do nosso ser e de nossa consciência.
Evangelium secundum Lucam 15,1-3.11-32
1 Erant autem appropinquantes ei publicani et peccatores, ut audirent eum.
Ora, aproximavam-se dele os publicanos e pecadores para ouvi-lo.
2 Et murmurabant pharisæi et scribæ, dicentes: Quia hic peccatores recipit et manducat cum illis.
E murmuravam os fariseus e os escribas, dizendo: Este recebe os pecadores e come com eles.
3 Et ait ad illos parabolam istam, dicens:
Então lhes propôs esta parábola, dizendo:
11 Ait autem: Homo quidam habuit duos filios.
Disse ainda: Um homem tinha dois filhos.
12 Et dixit adolescentior ex illis patri: Pater, da mihi portionem substantiæ, quæ me contingit. Et divisit illis substantiam.
E o mais jovem deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte da herança que me cabe. E ele repartiu entre eles os bens.
13 Et non post multos dies, collectis omnibus, adolescentior filius peregre profectus est in regionem longinquam: et ibi dissipavit substantiam suam vivendo luxuriose.
Poucos dias depois, reunindo tudo, o filho mais novo partiu para uma terra distante e lá dissipou sua herança, vivendo dissolutamente.
14 Et postquam omnia consummasset, facta est fames valida in regione illa, et ipse cœpit egere.
E depois de ter consumido tudo, houve uma grande fome naquela região, e ele começou a passar necessidade.
15 Et abiit, et adhæsit uni civium regionis illius: et misit illum in villam suam ut pasceret porcos.
Foi, pois, e se agregou a um dos cidadãos daquela terra, que o mandou para seus campos a apascentar porcos.
16 Et cupiebat implere ventrem suum de siliquis, quas porci manducabant: et nemo illi dabat.
E desejava encher seu estômago com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava.
17 In se autem reversus, dixit: Quanti mercenarii in domo patris mei abundant panibus, ego autem hic fame pereo!
Caindo em si, disse: Quantos jornaleiros na casa de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui pereço de fome!
18 Surgam, et ibo ad patrem meum, et dicam ei: Pater, peccavi in cælum, et coram te:
Levantar-me-ei e irei a meu pai e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti.
19 Iam non sum dignus vocari filius tuus: fac me sicut unum de mercenariis tuis.
Já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus jornaleiros.
20 Et surgens, venit ad patrem suum. Cum autem adhuc longe esset, vidit illum pater ipsius, et misericordia motus est, et occurrens cecidit supra collum ejus, et osculatus est eum.
E, levantando-se, foi para seu pai. Quando ainda estava longe, seu pai o viu, e, movido de compaixão, correu, lançou-se ao seu pescoço e o beijou.
21 Dixitque ei filius: Pater, peccavi in cælum, et coram te, jam non sum dignus vocari filius tuus.
E disse-lhe o filho: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho.
22 Dixit autem pater ad servos suos: Cito proferte stolam primam, et induite illum, et date annulum in manum ejus, et calceamenta in pedes ejus:
Mas o pai disse a seus servos: Trazei depressa a melhor túnica e vesti-o, colocai um anel em sua mão e sandálias em seus pés.
23 Et adducite vitulum saginatum, et occidite, et manducemus, et epulemur:
Trazei também o novilho gordo e sacrificai-o; comamos e façamos festa:
24 Quia hic filius meus mortuus erat, et revixit: perierat, et inventus est. Et cœperunt epulari.
Porque este meu filho estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado. E começaram a festejar.
25 Erat autem filius ejus senior in agro: et cum veniret, et appropinquaret domui, audivit symphoniam et chorum:
Ora, seu filho mais velho estava no campo, e ao voltar, aproximando-se da casa, ouviu música e danças.
26 Et vocavit unum de servis, et interrogavit quid hæc essent.
E chamando um dos servos, perguntou-lhe o que era aquilo.
27 Isque dixit illi: Frater tuus venit, et occidit pater tuus vitulum saginatum, quia salvum illum recepit.
E ele lhe disse: Teu irmão voltou, e teu pai matou o novilho gordo porque o recebeu são e salvo.
28 Indignatus est autem, et nolebat introire. Pater ergo illius egressus, cœpit rogare illum.
Ele então se indignou e não queria entrar. Seu pai saiu e começou a insistir com ele.
29 At ille respondens, dixit patri suo: Ecce tot annis servio tibi, et numquam mandatum tuum præteriit, et numquam dedisti mihi hædum ut cum amicis meis epularer:
Mas ele, respondendo, disse a seu pai: Eis que há tantos anos te sirvo sem jamais transgredir um mandamento teu, e nunca me deste um cabrito para festejar com meus amigos.
30 Sed postquam filius tuus hic, qui devoravit substantiam suam cum meretricibus, venit, occidisti illi vitulum saginatum.
Mas, vindo este teu filho, que devorou sua herança com meretrizes, mataste para ele o novilho gordo.
31 At ipse dixit illi: Fili, tu semper mecum es, et omnia mea tua sunt:
Ele, porém, lhe disse: Filho, tu sempre estás comigo, e tudo o que é meu é teu.
32 Epulari autem et gaudere oportebat, quia frater tuus hic mortuus erat, et revixit; perierat, et inventus est.
Mas era preciso festejar e alegrar-se, pois este teu irmão estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado.
Reflexão:
"Quia hic filius meus mortuus erat, et revixit: perierat, et inventus est."
"Porque este meu filho estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado." (Lc 15:24)
Essa frase resume o coração da parábola: a restauração do filho que se afastou, enfatizando a redenção, o retorno à verdade e a celebração do reencontro com a luz.
A jornada do filho pródigo revela o dinamismo essencial da existência: a liberdade de escolha, a queda e a redenção. O caminho do erro não é um desvio, mas uma experiência que amplia a consciência da verdade. A misericórdia paterna não impõe condições, apenas acolhe, pois o verdadeiro retorno é o reconhecimento da própria essência. O filho mais velho, por sua vez, é prisioneiro da rigidez e da comparação, esquecendo-se de que a justiça se manifesta na generosidade. A plenitude reside na liberdade do amor, que transforma toda perda em um reencontro com a verdadeira luz.
HOMILIA
O Retorno à Origem: A Jornada do Ser na Liberdade do Amor
A parábola do filho pródigo não é apenas um relato de erro e perdão, mas um retrato da própria existência humana. Dois caminhos se apresentam: um, que busca a autonomia sem compreensão da responsabilidade; outro, que se aprisiona na obediência sem alegria. Ambos partem de um mesmo ponto e, sem perceberem, distanciam-se da plenitude.
O filho mais novo representa a alma que, desejando explorar sua individualidade, afasta-se da fonte, acreditando que a posse dos bens é suficiente para sua realização. Mas ao dissipar-se no efêmero, percebe que a abundância sem sentido conduz ao vazio. No momento mais árido de sua jornada, o desejo de liberdade se converte em necessidade de retorno. Não porque perdeu os bens, mas porque descobriu que sem a verdade não há riqueza que satisfaça.
O pai, que simboliza o amor sem condicionamentos, não exige explicações. Corre ao encontro daquele que retorna, pois reconhece que a distância não estava nos passos, mas na consciência. O acolhimento não significa ignorar a queda, mas transformar a experiência em crescimento. A liberdade genuína não é mera separação, mas a comunhão consciente com a origem.
O filho mais velho, fiel, mas ressentido, revela outro perigo: a servidão sem compreensão. Ele permaneceu, mas não entendeu que estar na casa do pai era, por si só, a maior herança. Seu coração esperava um reconhecimento que já possuía. A liberdade do amor não divide, mas integra. Quem se alegra com o retorno do irmão já se encontra em estado de plenitude.
Essa parábola nos ensina que a grandeza da existência não está na posse ou na obediência vazia, mas na consciência de que todo afastamento pode ser caminho de retorno e todo retorno é um renascimento. O verdadeiro sentido da liberdade não está em escapar do vínculo, mas em reconhecê-lo como origem e destino, não como prisão, mas como plenitude.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
O Mistério do Retorno: A Ressurreição da Consciência e a Redescoberta do Ser
A frase "Porque este meu filho estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado" (Lc 15,24) contém, em sua profundidade, o eixo da revelação divina sobre a liberdade humana, a conversão e a restauração da filiação.
1. A Morte como Separação Existencial
No contexto bíblico, a morte não é apenas o cessar biológico da vida, mas a separação do ser em relação à sua fonte. O afastamento do filho representa o distanciamento da verdade, pois ao abandonar a casa do pai, ele se desconecta não apenas de seu lar, mas de sua própria identidade. A "morte" aqui não é um aniquilamento, mas um obscurecimento da consciência, um exílio da realidade última que sustenta e orienta o ser.
2. O Reviver como Restauração Ontológica
O renascimento do filho não se dá por uma simples mudança de circunstância, mas pela redescoberta de seu sentido de existência. Sua queda no vazio do exílio forçou-o a confrontar sua própria finitude e dependência da verdade. Quando decide retornar, ele já não busca os bens materiais que antes julgava essenciais, mas o reencontro com sua origem. O "reviver" ocorre porque sua consciência desperta para o que sempre foi real: sua filiação.
3. O Estar Perdido como a Ilusão do Isolamento
Perder-se é mais do que errar um caminho geográfico; é obscurecer o olhar espiritual. O filho não se perdeu apenas por afastar-se fisicamente, mas por ter tentado afirmar-se como um ser autônomo, sem reconhecer que sua identidade está enraizada no amor do Pai. Esse estado de perdição reflete a condição humana quando se distancia da verdade e busca preencher sua existência com bens que não sustentam a alma.
4. O Ser Encontrado como a Plenitude da Graça
O retorno do filho não é apenas um ato seu; é também um movimento do Pai. O pai corre ao seu encontro, pois a conversão autêntica é sempre um mistério de liberdade e graça. O reencontro não anula o passado, mas o ressignifica. O filho, que antes julgava-se independente, agora compreende que sua verdadeira grandeza está na comunhão.
A frase de Lucas 15,24 revela o dinamismo da existência humana: a liberdade pode afastar, mas também permite o retorno. A morte do erro pode dar lugar à ressurreição da verdade, e a perdição do ser só é definitiva se este se recusa a ser encontrado. O Pai sempre espera, pois na verdade última do amor, não há condenação, apenas a eterna possibilidade de renascer.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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