Evangelho (Marcos 4,26-34)
Sexta-Feira, 1 de Fevereiro de 2013
3ª Semana Comum
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Marcos.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 26Jesus disse à multidão: “O Reino de Deus é
como quando alguém espalha a semente na terra. 27Ele vai dormir e acorda, noite
e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso
acontece.
28A terra, por si mesma, produz o fruto: primeiro aparecem
as folhas, depois vem a espiga e, por fim, os grãos que enchem a espiga.
29Quando as espigas estão maduras, o homem mete logo a foice, porque o tempo da
colheita chegou”.
30E Jesus continuou: “Com que mais poderemos comparar o
Reino de Deus? Que parábola usaremos para representá-lo? 31O Reino de Deus é
como um grão de mostarda que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as
sementes da terra. 32Quando é semeado, cresce e se torna maior do que todas as
hortaliças, e estende ramos tão grandes, que os pássaros do céu podem
abrigar-se à sua sombra”.
33Jesus anunciava a Palavra usando muitas parábolas como
estas, conforme eles podiam compreender. 34E só lhes falava por meio de
parábolas, mas, quando estava sozinho com os discípulos, explicava tudo.
- Palavra da Salvação.
- Glória a vós, Senhor.
HOMILIA
A semente do reino
Marcos mostra Jesus como Mestre do Reino ensinando às
multidões desde a barca de Pedro (4,1). Seu ensino é na base de parábolas ou
exemplos. A parábola é uma narração que sob o aspecto de uma comparação, está
destinada a ilustrar o sentido de um ensino religioso. Quando todos os detalhes
têm um sentido e significado real, a parábola se taransforma em alegoria. Como
em Jo 10,1-16, no caso do bom pastor. No A T as parábolas são escassas, um
exemplo é 2 Sm 12, 1-4 em que Natã dá a conhecer seu crime a Davi. Porém no NT
Jesus usa frequentemente as parábolas especialmente como parte de seu ensino do
Reino dos Céus, para iluminar certos aspectos do mesmo. No dia de hoje temos
duas pequenas parábolas, a primeira própria de Marcos e a segunda compartida
por Mateus (13, 21+) e Lucas (13, 18). Na parábola da semente, Jesus indica que
o Reino tem uma força intrínseca que independe dos trabalhadores. Na segunda
que o Reino, minúsculo nos tempo de Jesus, expandir-se-á de modo a se estender
pelo mundo inteiro. Vejamos versículo por versículo as palavras de Jesus.
E dizia: assim é o Reino do Deus, como se um homem lançasse
a semente sobre a terra (26). Que significa Reino de Deus? No AT Jahvé, o Deus
de Israel, era o verdadeiro rei e seu reino abrangia todo o Universo. Os juízes
eram praticamente os seus representantes. Por isso, o seu profeta Samuel,
último juiz, escutou estas palavras: Não é a ti que te rejeitam, mas a mim,
porque não querem mais que eu reine sobre eles (I Sam 8, 7). A partir de Davi o
reino de Deus tem como representante um rei humano, mas a experiência terminou
em fracasso, e o reino de Deus acabou por ser um reino futuro escatológico como
final dos tempos e transcendente, como sendo Deus mesmo o que seria ou
escolheria o novo rei. Esse reino está chegando e tem seu representante na
pessoa de Jesus e dos apóstolos. Nada tem de material ou geográfico, e é
formado pelos que aceitam Jesus como Senhor, caminho, verdade e vida. Por isso
dirá Jesus que o reino está dentro de vocês. A Igreja fundada por Jesus é a
parte visível desse reino, que não é como os do mundo, mas tem sua base em
servir e não em ser servido (Lc 22, 27). O oposto do amor, que é serviço no
reino é o amor ao dinheiro ( Mt 6, 24), de modo que podemos afirmar que o
dinheiro é o verdadeiro deus deste mundo. A primeira comparação que revela como
atua o Reino é esta parábola de Jesus, facilmente entendida como tipo, e que
finalmente veremos como protótipo nas observações.
E durma e se levante noite e dia; e a semente germine e
cresça de um modo que ele não tem conhecido. É importante unir este versículo
ao anterior para obter o sentido completo da parábola. O agricultor faz sua
vida independente e a semente nasce e cresce sem ter nada que ver com o
agricultor fora o fato de ser semeada por ele no início. Deste modo Paulo pode
afirmar: Eu plantei, Apolo regou; mas era Deus quem fazia crescer. Aquele que
planta nada é; aquele que rega nada é; mas importa somente Deus, que dá o
crescimento (1 Cor 3, 6-7). Assim, a continuação dirá Jesus: Pois por si mesma
a terra frutifica primeiramente a erva, depois a espiga, depois o trigo pleno
na espiga.
Quando, porém, tiver aparecido o fruto, rapidamente ele
envia a foice porque tem aparecido a ceifa. Não há nada a comentar a não ser
que o trabalho do agricultor. Vemos como se reduz a semear e ceifar. A terra e
a semente fazem o resto.
E dizia: a que compararia o Reino do Deus, ou em que
parábola o assemelharia? Parece que Jesus medita antes de afirmar ou escolhe
uma comparação apropriada. Seu estilo é de chamar a atenção dos ouvintes, um
simples recurso oratório que indica por outra parte uma memória viva dos
ouvintes e não uma posterior reconstrução. É possível que estas palavras formem
parte do método de ensino de Jesus.
Como com a semente da mostarda, a qual quando sendo semeada
na terra é a menor de todas as sementes sobre a terra. A mostarda é uma planta
da família da couve ou repolho, de grandes folhas, flores amarelas e pequenas
sementes, que tem duas espécies principais: branca e preta. A branca chega até
atingir 1,2 m de altura e a preta pode chegar até 3m e 4 m de altura. A negra é
comum nas margens do lago de Tiberíades e seu tronco se torna lenhoso. Por isso
os árabes falam de árvores de mostarda. Esta variedade só cresce ao longo do
lago e nas margens do Jordão. Os pintassilgos, gulosos de suas sementes chegam
a bandos para pousar nos seus galhos e comer os grãos. As sementes não são as
menores entre as conhecidas, mas parece que eram modelo, na época, de coisas
insignificantes.
A mais comum é a branca não tão ardente como a preta,
precisamente por sua maior facilidade em recolher os frutos. E quando está
semeada surge e se torna maior do que todas as hortaliças e produz galhos
grandes de modo que podem, sob sua sombra, as aves do céu habitar. Temos visto
como chegam até 3 ou 4 m de altura, suficientes para aninhar os pássaros em
seus galhos.
E com muitas parábolas semelhantes falava a eles a palavra
do modo que podiam ouvir . Temos aqui uma discriminação feita sem saber a razão
de por que foi escolhida por Jesus. Os discípulos tinham ocasião de saber o
significado verdadeiro das comparações, por vezes não muito claras para o
ouvinte geral. O caso mais evidente é o do semeador e os diversos terrenos em
que a semente cai. O público em geral podia ficar com a idéia de que a semente
da palavra era recebida de formas mui diversas pelos ouvintes, mas a razão
destas diferenças só era explicada aos que, interessados, perguntaram junto aos
doze pela explicação da mesma (Mc 4, 13-20). O encontro com a palavra é um dom
de Deus, mas a resposta à mesma depende da vontade e do interesse de cada um. A
explicação correspondente sempre a receberá quem esteja interessado em saber a
verdade.
Na primeira destas parábolas do dia de hoje temos a
exposição de como o Reino se expande com uma força que não depende dos homens,
mas do próprio Deus. Poderíamos dizer que descreve a força interna do Reino.
Na segunda parábola encontramos a visão externa do Reino.
Seu crescimento seria espetacular desde um pequeno grupo insignificante como é
a semente da mostarda que se parece com a cabeça de um alfinete, até uma árvore
que nada tem a invejar os carrascos da Palestina.
Uma certeza é evidente: o Reino é uma realidade que não se
pode ignorar. Em que consiste? Jesus não revela sua essência, mas devido ao
nome estamos inclinados a afirmar que o Reino como nova instituição é uma
irrupção da presença de Deus na História humana, que seria uma revolução e uma
conquista, não violenta mas interior do homem, e que deveria mudar a religião
em primeiro lugar e as relações sociais em segundo termo. Numa época em que
revoluções externas e lutas pelo poder estavam unidas a uma teocracia religiosa
era perigoso anunciar a natureza verdadeira do Reino. Daí que só as externas
qualidades do Reino tenham sido descritas e de modo a não levantar reações
violentas. O reino sofrerá violências, mas não será o violentador.
Se quisermos apurar as coisas, poderíamos atribuir ao Reino
uma universalidade que não tinha a Antiga aliança. Mas isto é esticar as coisas
além do estado natural das coisas e da narração de hoje no evangelho de Marcos.
Padre Bantu Mendonça
Fonte: Canção Nova