Liturgia Diária
19 – DOMINGO
2º DO TEMPO COMUM
(verde, glória, creio – 2ª semana do saltério)
Toda a terra vos adore com respeito e proclame o louvor do vosso nome, ó Altíssimo (Sl 65,4).
Unidos pela força vivificante que nos move em direção ao Bem supremo, somos chamados a participar do banquete eterno, onde se celebra a manifestação primordial do Verbo encarnado. Na plenitude do seu cuidado e serviço, Maria, nas bodas de Caná, nos aponta o caminho da obediência plena à Palavra de seu Filho. Juntamente com toda a criação, elevemos cânticos de louvor ao Criador de todas as coisas.
João 2:1-11 (Vulgata)
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Et die tertio nuptiæ factæ sunt in Cana Galilææ, et erat mater Iesu ibi.
E, no terceiro dia, houve um casamento em Caná da Galileia, e a mãe de Jesus estava lá. -
Vocatus est autem et Iesus, et discipuli eius, ad nuptias.
Jesus também foi convidado para o casamento, assim como os seus discípulos. -
Et deficiente vino, dicit mater Iesu ad eum: Vinum non habent.
E, faltando o vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: "Eles não têm vinho." -
Et dicit ei Iesus: Quid mihi et tibi est, mulier? Nondum venit hora mea.
Jesus respondeu-lhe: "O que há entre mim e ti, mulher? Ainda não chegou a minha hora." -
Dicit mater eius ministris: Quodcumque dixerit vobis, facite.
Sua mãe disse aos servos: "Fazei tudo o que ele vos disser." -
Erant autem ibi lapideæ hydriæ sex, positae secundum purificationem Iudæorum, capientes singulæ metretas binas vel ternas.
Havia ali seis talhas de pedra, destinadas às purificações dos judeus, contendo cada uma de duas a três medidas. -
Dicit eis Iesus: Implete hydrias aqua. Et impleverunt eas usque ad summum.
Jesus disse-lhes: "Enchei as talhas de água." E eles as encheram até a borda. -
Et dicit eis Iesus: Haurite nunc, et ferte architriclino. Et tulerunt.
Então Jesus lhes disse: "Tirai agora e levai ao mestre-sala." E eles levaram. -
Ut autem gustavit architriclinus aquam vinum factam, et non sciebat unde esset (ministri autem sciebant, qui hauserant aquam), vocat sponsum architriclinus,
Quando o mestre-sala provou a água tornada vinho, sem saber de onde vinha (embora os servos que haviam tirado a água soubessem), chamou o noivo. -
Et dicit ei: Omnis homo primum bonum vinum ponit, et cum inebriati fuerint, tunc id quod deterius est; tu autem servasti bonum vinum usque adhuc.
E disse-lhe: "Todo homem serve primeiro o bom vinho, e quando já estão embriagados, serve o inferior; mas tu guardaste o bom vinho até agora." -
Hoc fecit initium signorum Iesus in Cana Galilææ, et manifestavit gloriam suam, et crediderunt in eum discipuli eius.
Este foi o primeiro sinal que Jesus realizou em Caná da Galileia, manifestando sua glória, e seus discípulos creram nele.
Reflexão:
Dicit mater eius ministris: Quodcumque dixerit vobis, facite.
Sua mãe disse aos servos: "Fazei tudo o que ele vos disser." (Jo 2:5)
Essa frase destaca a confiança de Maria em Jesus e a importância de obedecer à sua Palavra, preparando o terreno para o milagre.
O episódio das bodas de Caná revela o dinamismo da transformação: a simples água, expressão do ordinário, torna-se vinho, símbolo do extraordinário. Essa metamorfose aponta para o constante processo de ascensão a que somos chamados, em que o humano é elevado pelo toque divino. A hora de Jesus, ainda não plena, ecoa a evolução espiritual que conduz todas as coisas ao seu cumprimento. A confiança de Maria reflete o elo essencial entre a escuta e a ação, entre a receptividade e a entrega. Somos convidados a reconhecer no cotidiano os sinais da presença daquele que renova todas as realidades. Assim, a glória revelada transcende a ocasião e permeia todo o cosmos em sua marcha para o pleno sentido.
HOMILIA
Transformação e Plenitude: O Chamado das Bodas de Caná
Queridos irmãos e irmãs,
O Evangelho das bodas de Caná nos convida a refletir sobre o mistério da transformação que toca todas as dimensões de nossas vidas. No coração do relato, vemos Maria, atenta e confiante, dizendo aos servos: "Fazei tudo o que ele vos disser." Este chamado ecoa em nossos tempos, onde tantas vezes enfrentamos o vazio, a falta de sentido e a angústia diante das incertezas.
Jesus transforma água em vinho, um gesto que vai além da resolução de uma necessidade momentânea. Ele revela o poder que transcende o ordinário e o eleva a uma realidade plena. Não é apenas a transformação da matéria, mas a abertura para um horizonte mais vasto, onde o humano se encontra com o divino, onde o comum se torna sinal do extraordinário.
Em um mundo tão fragmentado e marcado pela sede de autenticidade, este milagre é um apelo à renovação interior. A água, símbolo da simplicidade, representa nossas vidas muitas vezes presas à rotina, à falta de esperança e ao medo. O vinho, porém, aponta para a alegria, a celebração e a abundância que Cristo deseja para todos nós.
Maria nos ensina a confiança. Sua frase aos servos é uma chave espiritual: ouvir e agir conforme a Palavra de Jesus. Nos desafios modernos, quando tantas vozes competem por nossa atenção, somos chamados a silenciar o barulho ao nosso redor e discernir o que realmente nos conduz à verdade e à plenitude.
Assim como em Caná, onde a glória de Cristo começou a se manifestar, somos convidados a participar dessa transformação. Cada ato de amor, cada gesto de compaixão, cada escolha por um bem maior é como uma gota de água que, no coração de Deus, se torna o vinho novo que sacia a sede da humanidade.
Que, em meio às dificuldades de hoje, possamos reconhecer os sinais de transformação ao nosso redor e abrir nossas vidas para o toque daquele que renova todas as coisas, conduzindo-nos à plenitude para a qual fomos criados. Amém.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
"Fazei tudo o que ele vos disser" (Jo 2,5): Uma Chave Teológica para a Obediência e Transformação
A frase de Maria dirigida aos servos em João 2,5 possui uma profundidade teológica que transcende o momento histórico das bodas de Caná, tornando-se uma chave hermenêutica para toda a relação entre Deus e a humanidade.
1. Maria como modelo de fé e mediação
Maria, ao dizer "Fazei tudo o que ele vos disser," assume o papel de mediadora, não no sentido de substituir Cristo, mas de conduzir os outros a Ele. Sua confiança absoluta em Jesus reflete sua própria vivência de fé, a mesma que pronunciou em Nazaré ao aceitar a vontade divina: "Faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1,38). Assim, Maria personifica a criatura plenamente disposta a acolher a Palavra de Deus, apontando para a necessidade de uma obediência ativa e confiante.
2. A obediência como abertura à revelação
A frase é um convite à obediência radical, que não é subserviência cega, mas um ato de fé que reconhece a soberania de Cristo como o Verbo Encarnado. A obediência a Jesus é a resposta humana à revelação divina, que não apenas comunica verdades, mas transforma a realidade. Quando os servos seguem o comando de Jesus, um gesto aparentemente banal – encher talhas de água – torna-se o prelúdio de um milagre que manifesta a glória de Deus.
3. A dinâmica entre liberdade e confiança
O chamado de Maria implica uma entrega livre. Os servos não eram forçados a obedecer; sua adesão ao comando de Jesus foi voluntária. Isso reflete a dinâmica entre graça e liberdade: a graça convida, mas a resposta é pessoal e envolve confiança. Fazer "tudo o que ele disser" exige, muitas vezes, ir além da lógica humana, como os servos que levaram ao mestre-sala o que parecia ser apenas água.
4. O preâmbulo da nova aliança
As palavras de Maria são teologicamente carregadas de significado escatológico. Elas apontam para a obediência que será requerida na nova aliança, onde Cristo, o novo Adão, é o mediador definitivo entre Deus e os homens. Nas bodas de Caná, o vinho que substitui a água destinada à purificação judaica anuncia a superação das práticas rituais pelo dom da graça que Cristo oferece.
5. Aplicação cristológica
A frase de Maria ressoa com o próprio chamado de Jesus ao longo de seu ministério: "Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me" (Mt 16,24). Fazer tudo o que Jesus diz implica não apenas ouvir, mas conformar a vida à sua Palavra, permitindo que a ação divina opere naquilo que é humano e limitado.
6. Significado para a Igreja e para o fiel hoje
Para a Igreja, Maria é a primeira e perfeita discípula, e sua exortação aos servos ecoa na vida dos fiéis de todos os tempos. No contexto atual, em que o discernimento da verdade é frequentemente desafiado por relativismos e incertezas, a frase de Maria é um convite à fidelidade à Palavra de Cristo, que é imutável e fonte de vida verdadeira.
Assim, "Fazei tudo o que ele vos disser" é um chamado perene à obediência transformadora, que abre caminho para a manifestação da glória de Deus na vida dos que, em liberdade e confiança, escolhem seguir a voz do Filho.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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