Liturgia Diária
31 – SEGUNDA-FEIRA
4ª SEMANA DA QUARESMA
(roxo – ofício do dia)
Confio em vós, Senhor. Exultarei e me alegrarei em vossa misericórdia, pois olhastes a minha pequenez (Sl 30,7s).
Celebremos a Eucaristia com júbilo, imersos na esperança de um cosmos renovado, onde a verdadeira fé transcende os fenômenos tangíveis. A fé autêntica não repousa sobre os sinais visíveis, mas se fundamenta na confiança profunda e na palavra eterna de Cristo. Ela é o impulso da liberdade espiritual, a revelação da unidade no mistério divino, além das limitações materiais. A confiança inabalável na verdade transcendental de Cristo não depende de confirmações externas, mas se afirma pela essência imutável da liberdade humana que escolhe, em sua pureza, abraçar o infinito, a transcendência e a plena realização do ser.
Lectio sancti Evangelii secundum Ioannem (Jo 4,43-54)
43 Post duos autem dies exiit inde et abiit in Galilaeam.
Após dois dias, partiu dali e foi para a Galileia.
44 Ipse enim Iesus testimonium perhibuit quia propheta in sua patria honorem non habet.
Pois o próprio Jesus testemunhou que um profeta não recebe honra em sua terra.
45 Cum ergo venisset in Galilaeam, exceperunt eum Galilaei, cum omnia vidissent, quae fecerat Hierosolymis in die festo; et ipsi enim venerant in diem festum.
Quando chegou à Galileia, os galileus o acolheram, pois tinham visto tudo o que fizera em Jerusalém na festa; pois também eles tinham ido à festa.
46 Venit ergo iterum in Cana Galilaeae, ubi fecit aquam vinum. Et erat quidam regulus, cuius filius infirmabatur Capharnaum.
Veio, pois, novamente a Caná da Galileia, onde transformara a água em vinho. E havia um oficial do rei, cujo filho estava doente em Cafarnaum.
47 Hic cum audisset quia Iesus adveniret a Iudaea in Galilaeam, abiit ad eum et rogabat, ut descenderet et sanaret filium eius; incipiebat enim mori.
Tendo ouvido que Jesus vinha da Judeia para a Galileia, foi até ele e rogava-lhe que descesse e curasse seu filho, pois estava prestes a morrer.
48 Dixit ergo Iesus ad eum: “Nisi signa et prodigia videritis, non creditis”.
Então Jesus lhe disse: “Se não virdes sinais e prodígios, não credes”.
49 Dicit ad eum regulus: “Domine, descende priusquam moriatur puer meus!”.
O oficial do rei lhe disse: “Senhor, desce antes que meu menino morra!”.
50 Dicit ei Iesus: “Vade. Filius tuus vivit”. Credidit homo sermoni, quem dixit ei Iesus, et ibat.
Jesus lhe disse: “Vai, teu filho vive”. O homem creu na palavra que Jesus lhe dissera e partiu.
51 Iam autem eo descendente, servi eius occurrerunt ei dicentes quia puer eius viveret.
Quando já descia, seus servos vieram ao seu encontro, dizendo que seu filho vivia.
52 Interrogabat ergo horam ab eis, in qua melius habuerit. Dixerunt ergo ei: “Heri hora septima reliquit eum febris”.
Então perguntou-lhes a hora em que ele melhorara. Disseram-lhe: “Ontem, à sétima hora, a febre o deixou”.
53 Cognovit ergo pater quia illa hora erat, in qua dixit ei Iesus: “Filius tuus vivit”, et credidit ipse et domus eius tota.
O pai reconheceu que fora naquela mesma hora em que Jesus lhe dissera: “Teu filho vive”, e creu, ele e toda a sua casa.
54 Hoc iterum secundum signum fecit Iesus, cum venisset a Iudaea in Galilaeam.
Este foi o segundo sinal que Jesus realizou, ao vir da Judeia para a Galileia.
Reflexão:
Dicit ei Iesus: “Vade. Filius tuus vivit”.
Jesus lhe disse: “Vai, teu filho vive”. (Jo 4:50)
Essa frase sintetiza o poder da palavra de Cristo, a força da fé que não exige sinais visíveis e a confiança no essencial para a verdadeira transformação da existência.
A fé autêntica é impulso para a plenitude, não dependente do visível, mas da confiança no essencial. O oficial do rei encontrou a liberdade ao abandonar a exigência do concreto e abraçar a verdade pela palavra. Assim também, a consciência desperta quando se abre à realidade maior, onde a certeza nasce da comunhão com a origem do ser. O verdadeiro crescimento ocorre na adesão ao infinito, onde a existência não se limita à matéria, mas se expande na confiança ativa. A vida se renova quando a alma escolhe a verdade que a chama para além do imediato e contingente.
HOMILIA
A Fé que Nos Projeta ao Infinito
Amados, o Evangelho nos apresenta hoje um encontro decisivo entre Jesus e um homem que, diante da iminência da morte de seu filho, busca a intervenção do Mestre. Seu pedido é direto, ansioso, preso ainda à necessidade do concreto: “Senhor, desce antes que meu menino morra!” (Jo 4,49). Mas a resposta de Cristo abre um horizonte novo: “Vai, teu filho vive” (Jo 4,50).
Aqui, algo essencial acontece. O homem poderia ter insistido, exigido uma presença visível, um gesto físico, um sinal que confirmasse a promessa. Mas ele escolhe crer. Crer na palavra, na essência da verdade que se manifesta além da forma. Seu coração se abre ao que não se pode tocar, mas se pode reconhecer. E, ao partir, ele encontra a vida onde antes via apenas a ameaça do fim.
Esta passagem nos ensina que a fé não é um refúgio em milagres, mas uma ascensão à verdade última. Enquanto o olhar humano permanece fixado nos sinais sensíveis, Cristo nos convida à liberdade de uma confiança que ultrapassa o que é tangível. Crer não é aguardar uma confirmação externa, mas lançar-se, com plenitude, ao chamado da existência maior.
A fé não se reduz à aceitação passiva, mas é uma escolha ativa que expande a consciência. O oficial do rei, ao crer na palavra de Jesus, não apenas vê a cura de seu filho, mas descobre a profundidade da verdade. Assim também nós, quando libertamos nossa alma das amarras do visível, entramos em comunhão com aquilo que é eterno e vivo.
O verdadeiro sentido da fé é caminhar na direção do infinito, sabendo que a vida se manifesta não apenas no que vemos, mas no que reconhecemos no mais íntimo de nosso ser. Cristo não oferece provas; oferece a verdade. E essa verdade é a única força capaz de transformar, pois não impõe, mas desperta. Quem crê, caminha. Quem caminha, alcança. Quem alcança, descobre que já estava na plenitude desde sempre.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
“Vai, teu filho vive” (Jo 4,50) – A Palavra que Transcende o Tempo e o Espaço
A frase dita por Jesus ao oficial do rei sintetiza um princípio fundamental da revelação divina: a eficácia da Palavra como manifestação absoluta da Verdade. Não há rito, não há toque, não há presença física necessária para que a vida seja restaurada. Há apenas a Palavra, que, sendo plena em si mesma, contém em sua essência a realização daquilo que expressa.
1. A Autoridade Criadora da Palavra
Desde o Gênesis, a Palavra é o princípio gerador: “Dixitque Deus: Fiat lux. Et facta est lux.” (E Deus disse: Faça-se a luz. E a luz foi feita. – Gn 1,3). No Logos eterno, a realidade se estrutura e ganha consistência. Quando Jesus diz ao oficial “Vai, teu filho vive”, ele não está apenas anunciando um fato; ele está atualizando, naquele instante, a realidade da vida. A Palavra de Cristo não descreve, mas gera, não informa, mas transforma.
2. A Superação das Distâncias: O Reino Não Está Preso ao Espaço
O pedido do oficial era concreto: que Jesus descesse até Cafarnaum. Mas Jesus revela que a ação divina não está circunscrita ao espaço. Seu poder não depende da proximidade material, mas da abertura do coração daquele que crê. O oficial, ao aceitar a Palavra e partir sem mais questionamentos, inaugura uma nova dimensão da fé: aquela que não exige presença sensível, mas confia plenamente no Verbo que age além do visível.
3. O Tempo Redimido: A Sincronia da Graça
Quando o homem retorna, descobre que a cura ocorreu exatamente no momento em que Jesus falou (Jo 4,53). Não há demora, não há processo gradativo: a Palavra de Deus realiza o que diz no instante em que é proferida. Aqui, vemos um vislumbre da eternidade penetrando o tempo: o “agora” de Deus se manifesta dentro da história, redimindo o instante e tornando-o portador da plenitude.
4. A Fé Como Abertura ao Infinito
O oficial acreditou e partiu. Esta é a dinâmica da fé: confiar e seguir adiante, sem exigir provas. A fé autêntica não é passiva, mas ativa; ela não aguarda sinais, mas avança sustentada pela certeza interior. O oficial, ao crer, expande sua existência para além da dúvida e entra no movimento da graça.
Conclusão: A Palavra Que Nos Envia
A ordem de Cristo — “Vai” — é um chamado para todos os que creem. Aquele que escuta a Palavra e a acolhe é impulsionado para a existência plena. Assim como o oficial partiu sem hesitação, também nós somos chamados a caminhar na confiança total, sabendo que a vida verdadeira não depende do que vemos, mas do que ouvimos no mais íntimo da alma.
Cristo não diz apenas ao oficial: ele nos diz a cada instante — "Vai, teu ser vive!" — e, se aceitarmos essa Palavra, já não caminhamos na incerteza, mas na luz daquele que, sendo Vida, nos chama para a plenitude.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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