sábado, 22 de março de 2025

LITURGIA EE HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: Lucas 1:26-38 - 25.03.2025

  Liturgia Diária25 – TERÇA-FEIRA 

ANUNCIAÇÃO DO SENHOR


(branco, glória, creio, pref. próprio – ofício da solenidade)


Ao entrar no mundo, Cristo afirma: Eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade (Hb 10,5.7).


No fulgor da consciência e na sacralidade da escolha, celebra-se a plenitude do assentimento que transcende toda imposição. Maria, em sua liberdade interior, acolheu o Verbo como princípio supremo da realização humana, manifestando a convergência entre a vontade e a verdade. Seu "faça-se" não foi servidão, mas afirmação do espírito soberano diante do chamado divino, inaugurando a possibilidade do homem encontrar, na autonomia da entrega, a plenitude do ser. Assim, pela confluência entre razão e graça, desvela-se a grandeza da liberdade iluminada, onde o agir consciente se harmoniza com a ordem eterna que sustenta toda existência.



Evangelium secundum Lucam 1,26-38

  1. Missus est autem Angelus Gabriel a Deo in civitatem Galilaeae, cui nomen Nazareth,
    Foi enviado o anjo Gabriel, da parte de Deus, a uma cidade da Galileia chamada Nazaré,

  2. ad virginem desponsatam viro, cui nomen erat Ioseph, de domo David, et nomen virginis Maria.
    a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria.

  3. Et ingressus Angelus ad eam dixit: Ave, gratia plena: Dominus tecum: benedicta tu in mulieribus.
    E, entrando o anjo onde ela estava, disse: Ave, cheia de graça! O Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres.

  4. Quae cum audisset, turbata est in sermone eius et cogitabat qualis esset ista salutatio.
    Ao ouvir isso, ela se perturbou com aquelas palavras e pensava no que significaria tal saudação.

  5. Et ait Angelus ei: Ne timeas, Maria: invenisti enim gratiam apud Deum.
    Disse-lhe então o anjo: Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus.

  6. Ecce concipies in utero et paries filium, et vocabis nomen eius Iesum.
    Eis que conceberás em teu ventre e darás à luz um filho, e chamarás o seu nome Jesus.

  7. Hic erit magnus et Filius Altissimi vocabitur, et dabit illi Dominus Deus sedem David patris eius:
    Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai.

  8. Et regnabit in domo Iacob in aeternum, et regni eius non erit finis.
    E reinará sobre a casa de Jacó para sempre, e seu reino não terá fim.

  9. Dixit autem Maria ad Angelum: Quomodo fiet istud, quoniam virum non cognosco?
    Disse então Maria ao anjo: Como se fará isso, pois não conheço varão?

  10. Et respondens Angelus dixit ei: Spiritus Sanctus superveniet in te, et virtus Altissimi obumbrabit tibi. Ideoque et quod nascetur ex te sanctum, vocabitur Filius Dei.
    E, respondendo o anjo, disse-lhe: O Espírito Santo descerá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra. Por isso, o que nascer de ti será santo e será chamado Filho de Deus.

  11. Et ecce Elisabeth cognata tua, et ipsa concepit filium in senectute sua: et hic mensis sextus est illi, quae vocatur sterilis:
    E eis que Isabel, tua parenta, concebeu também um filho na sua velhice; e este é o sexto mês daquela que era chamada estéril.

  12. Quia non erit impossibile apud Deum omne verbum.
    Porque para Deus nada será impossível.

  13. Dixit autem Maria: Ecce ancilla Domini: fiat mihi secundum verbum tuum. Et discessit ab illa Angelus.
    Disse então Maria: Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo afastou-se dela.

Reflexão:

Dixit autem Maria: Ecce ancilla Domini: fiat mihi secundum verbum tuum.
Disse então Maria: Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra. (Lc 1:38)

Essa declaração representa a plenitude da liberdade consciente e a perfeita harmonia entre a vontade humana e o desígnio divino, marcando o início da Encarnação.

A liberdade suprema se manifesta quando o espírito reconhece a harmonia entre o chamado e a verdade. Maria não age sob coação, mas na integridade de uma escolha que ressoa no íntimo de sua alma. Seu consentimento não é submissão, mas convergência entre o querer humano e a plenitude do ser. Assim, na consciência desperta, revela-se a grandeza daquele que encontra a plenitude ao afirmar, sem temor, o caminho que lhe é proposto. O "faça-se" torna-se a expressão mais pura da liberdade, onde a essência se alinha ao eterno, e a criação atinge o seu ápice na resposta do indivíduo à verdade.


HOMILIA

O Chamado e a Plenitude do Ser

Amados, diante do mistério da Anunciação, encontramos a mais sublime síntese entre a liberdade e o desígnio eterno. Deus, na infinitude de Seu amor, não impõe, mas chama. O anjo não ordena, apenas anuncia. A resposta de Maria não nasce do medo ou da obrigação, mas do reconhecimento de que a verdade ressoa no mais profundo de seu ser.

Cada alma é convocada a esse momento decisivo: o instante em que a verdade se apresenta e exige uma resposta. Maria, em sua integridade, não se curva sob um destino imposto, mas se eleva na plena aceitação do chamado. Seu “faça-se” não é renúncia de si, mas a realização máxima de sua identidade, pois dizer sim à verdade é tornar-se plenamente aquilo que se é.

Muitos vivem aprisionados entre o medo de escolher e o temor de errar. Mas a liberdade genuína não é ausência de limites, e sim o alinhamento da vontade com a plenitude do ser. Maria não se perde ao aceitar a vontade divina, mas se encontra, pois no consentimento verdadeiro não há anulação, mas realização.

O Verbo se encarna porque houve uma alma que compreendeu que a grandeza não está em resistir ao chamado, mas em reconhecê-lo como a expressão mais pura da própria essência. Maria não se fez menor ao acolher o divino; ao contrário, tornou-se maior do que jamais poderia imaginar. Assim, em cada escolha que fazemos, somos chamados à mesma realidade: não a de um fardo imposto, mas a de um destino que, ao ser livremente aceito, nos conduz à plenitude.

Que, ao escutarmos o chamado da verdade, possamos responder como Maria: não com receio, mas com a convicção de que ao dizer “faça-se”, não nos tornamos servos, mas plenamente livres na realização do que fomos chamados a ser.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

O Consentimento de Maria e a Plenitude da Liberdade

A resposta de Maria ao anúncio do Anjo Gabriel – “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38) – é um dos momentos mais profundos da economia da salvação, onde se revela a perfeita convergência entre a liberdade humana e o desígnio divino.

1. O “Eis-me aqui” como Resposta da Criatura ao Criador

A expressão Ecce ancilla Domini (Eis aqui a serva do Senhor) não denota submissão servil, mas a consciência da criatura diante do Criador. Diferentemente de uma obediência imposta, trata-se de uma resposta que brota da liberdade mais pura: Maria não é reduzida a um mero instrumento, mas participa ativamente do plano divino. O termo “serva” (ancilla) aqui não implica alienação, mas disposição interior à verdade.

2. O Mistério do “Fiat” e a Co-Criação com Deus

O Fiat mihi secundum verbum tuum (faça-se em mim segundo a tua palavra) carrega uma profundidade ontológica. O verbo fiat é o mesmo que inaugurou a criação: Fiat lux! (Faça-se a luz!) (Gn 1,3). Assim, a resposta de Maria ressoa na eternidade, unindo o princípio da criação ao princípio da Redenção. Maria não apenas acolhe a vontade divina, mas a torna fecunda em si mesma, colaborando com a encarnação do Verbo.

3. O Paradoxo da Liberdade e da Graça

O consentimento de Maria revela o mistério da graça e da liberdade. Deus age, mas não força; propõe, mas não impõe. Maria poderia ter recusado? Sim, pois sem liberdade não há amor. Contudo, sua resposta indica que a verdadeira liberdade não está em resistir à verdade, mas em aceitá-la plenamente. Maria se torna mais livre ao aderir à vontade divina, pois é nesse consentimento que sua existência encontra seu sentido mais pleno.

4. A União Perfeita entre o Humano e o Divino

Em Maria, o encontro entre o finito e o infinito se dá de modo singular: o eterno penetra o tempo e o divino assume a carne. A Encarnação não acontece por um decreto unilateral de Deus, mas pelo consentimento de uma criatura que, em sua liberdade, responde ao chamado. Esse momento antecipa o que Cristo dirá no Getsêmani: “Não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lc 22,42). Em ambos os casos, há a plena adesão ao Pai, não por imposição, mas por amor.

5. O Modelo para a Plenitude do Ser

A resposta de Maria se torna modelo para toda a humanidade. Em cada alma, Deus sussurra um chamado, uma verdade que pede acolhimento. O Fiat não é um evento isolado, mas um arquétipo da resposta humana ao divino. O que aconteceu em Maria pode acontecer em cada um: o Verbo quer se encarnar espiritualmente naqueles que, na liberdade, dizem sim.

Conclusão

Ao dizer “faça-se”, Maria não se anula, mas se realiza. Ela não é absorvida pelo divino, mas elevada à sua plenitude. A liberdade, longe de ser resistência ao plano de Deus, manifesta-se como o consentimento consciente e amoroso à verdade. Assim, o Fiat mariano não é apenas um momento na história, mas um princípio atemporal, pelo qual a humanidade encontra sua mais alta vocação: unir-se, em liberdade, à obra do Criador.

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA

Leia também:

Primeira Leitura

Segunda Leitura

Salmo

Evangelho

Santo do dia

Oração Diária

Mensagens de Fé

#evangelho #homilia #reflexão #católico #evangélico #espírita #cristão

#jesus #cristo #liturgia #liturgiadapalavra #liturgia #salmo #oração

#primeiraleitura #segundaleitura #santododia #vulgata


Nenhum comentário:

Postar um comentário