Liturgia Diária
27 – QUINTA-FEIRA
3ª SEMANA DA QUARESMA
(roxo – ofício do dia)
A Verdade é a luz que resgata a consciência, revelando a autonomia do ser diante do Eterno. A voz do Absoluto ressoa na liberdade daquele que busca a plenitude, pois toda súplica sincera encontra eco na Fonte que transcende as circunstâncias. Quem se aparta da Sabedoria obscurece o próprio caminho e não reconhece o Verbo que conduz à ascensão. A realidade convida ao despertar: não endurecer o espírito, mas escolher a senda da revelação. O discernimento não impõe servidão, mas abre à comunhão autêntica, onde cada ser se torna responsável por sua jornada rumo à união eterna com o Infinito.
Evangelium secundum Lucam 11,14-23
14 Et erat eiciens dæmonium, et illud erat mutum. Et cum ejecisset dæmonium, locutus est mutus, et admiratæ sunt turbæ.
E estava Jesus expulsando um demônio, e este era mudo. E quando expulsou o demônio, o mudo falou, e as multidões se admiraram.
15 Quidam autem ex eis dixerunt: In Beelzebub principe dæmoniorum ejicit dæmonia.
Mas alguns dentre eles disseram: É por Belzebu, príncipe dos demônios, que ele expulsa os demônios.
16 Et alii tentantes, signum de cælo quærebant ab eo.
E outros, para o tentarem, pediam-lhe um sinal do céu.
17 Ipse autem ut vidit cogitationes eorum, dixit eis: Omne regnum in seipsum divisum desolabitur, et domus supra domum cadet.
Mas ele, conhecendo os seus pensamentos, disse-lhes: Todo reino dividido contra si mesmo será desolado, e casa sobre casa cairá.
18 Si autem et Satanas in seipsum divisus est, quomodo stabit regnum ejus? quia dicitis in Beelzebub me ejicere dæmonia.
E se Satanás também está dividido contra si mesmo, como subsistirá o seu reino? Pois dizeis que é por Belzebu que eu expulso os demônios.
19 Si autem ego in Beelzebub ejicio dæmonia, filii vestri in quo ejiciunt? Ideo ipsi judices vestri erunt.
Se, pois, eu expulso os demônios por Belzebu, por quem os expulsam os vossos filhos? Por isso, eles mesmos serão os vossos juízes.
20 Porro si in digito Dei ejicio dæmonia, profecto pervenit in vos regnum Dei.
Mas se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de Deus já chegou até vós.
21 Cum fortis armatus custodit atrium suum, in pace sunt ea quæ possidet.
Quando um homem forte e bem armado guarda sua casa, em segurança está tudo o que possui.
22 Si autem fortior eo superveniens vicerit eum, universa arma ejus auferet, in quibus confidebat, et spolia ejus distribuet.
Mas se sobrevém alguém mais forte do que ele e o vence, tira-lhe todas as armas em que confiava e reparte os seus despojos.
23 Qui non est mecum, contra me est; et qui non colligit mecum, dispergit.
Quem não está comigo, está contra mim; e quem não ajunta comigo, espalha.
Reflexão:
"Porro si in digito Dei eicio daemonia, profecto pervenit in vos regnum Dei."
"Mas se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de Deus já chegou até vós." (Lc 11:20)
Essa passagem revela a manifestação do poder divino e a presença ativa do Reino de Deus na realidade humana, desafiando aqueles que duvidam da origem da autoridade de Jesus.
A liberdade se fortalece na unidade do espírito que busca a verdade. Quando a consciência resiste ao erro, encontra a força para transformar-se. A divisão interior obscurece o caminho, enquanto a harmonia do pensamento revela a clareza do discernimento. O poder que subjuga as trevas não é o da imposição, mas o da luz que desperta. O ser que não integra o fluxo da verdade dispersa-se no vazio. Quem se abre ao sopro da sabedoria experimenta a renovação que conduz à plenitude. O Reino não se impõe, mas emerge naqueles que o reconhecem. E a consciência desperta é sua morada.
HOMILIA
A Unidade que Liberta e a Consciência que Reconhece
No Evangelho segundo Lucas (11,14-23), Jesus expulsa um demônio e restitui a palavra ao mudo. Diante desse sinal, alguns o acusam de agir pelo poder das trevas, enquanto outros exigem mais provas. O Senhor, conhecendo seus pensamentos, responde com uma verdade irrefutável: um reino dividido contra si mesmo não pode subsistir. Se ele expulsa demônios pelo dedo de Deus, então o Reino já está presente.
Aqui se revela um princípio essencial: a verdade se manifesta na unidade, e a divisão interior é um sinal de ruína. O espírito disperso perde-se no labirinto de suas próprias contradições, incapaz de reconhecer a luz que se lhe apresenta. Mas aquele que, na inteireza do ser, busca a coerência entre pensamento e ação, abre-se à revelação do que é eterno.
A grande ilusão daqueles que se opuseram a Cristo foi negar o evidente, recusando-se a ver na libertação do mudo o reflexo da presença divina. Esse fechamento não é mero erro intelectual, mas uma resistência da vontade, uma recusa da consciência em se curvar diante da verdade. O homem que se fecha ao real constrói muros contra si mesmo, entregando-se à dispersão.
"Quem não está comigo, está contra mim; e quem não ajunta comigo, espalha" (Lc 11,23). O convite aqui não é para um seguimento cego, mas para uma adesão livre e lúcida ao princípio que sustenta todas as coisas. O reconhecimento da verdade não anula a individualidade, mas a eleva, pois a liberdade só se realiza plenamente quando orientada pelo real.
Há um combate invisível na alma de cada ser. O "homem forte" que guarda seus bens simboliza o espírito humano que confia apenas na sua própria força, mas inevitavelmente encontra um mais forte. Somente aquele que reconhece sua origem naquilo que transcende sua própria limitação pode resistir ao assalto do erro e da dispersão.
O Reino de Deus não vem como imposição, mas como presença que se deixa reconhecer. Aquele que vê, que acolhe e que escolhe estar com a verdade se torna parte dessa realidade eterna. Que cada um, ao ouvir este Evangelho, se pergunte: estou reunindo ou dispersando? Pois a verdadeira liberdade não está em afirmar-se contra o real, mas em consentir com aquilo que já é e sempre será.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
"Se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de Deus já chegou até vós." (Lc 11,20) – Uma Explicação Teológica Profunda
A declaração de Jesus em Lucas 11,20 carrega uma profundidade teológica que atravessa os véus da história e toca o cerne da revelação divina. Ele responde à acusação de que expulsa demônios pelo poder de Belzebu, contrapondo-se com um argumento irrefutável: se sua ação se dá pelo "dedo de Deus", então o Reino já está presente. Essa afirmação se desdobra em três aspectos fundamentais: o poder divino manifesto, a presença do Reino de Deus e a necessidade do reconhecimento humano.
1. O Dedo de Deus: Ação Direta do Poder Divino
A expressão "dedo de Deus" não é meramente figurativa, mas remete às Escrituras e à tradição teológica que identifica essa metáfora com a manifestação direta da vontade divina. No Antigo Testamento, o "dedo de Deus" aparece na entrega das tábuas da Lei a Moisés (Ex 31,18) e na obra dos prodígios no Egito, quando os magos do faraó reconhecem a superioridade de Moisés ao dizerem: "Isto é o dedo de Deus!" (Ex 8,19).
A conexão é clara: Jesus, ao expulsar demônios, revela que sua autoridade vem do próprio Deus, não de qualquer outro poder. Assim como a Lei dada no Sinai representava a ordem divina para o povo eleito, os exorcismos de Jesus representam a instauração de uma nova ordem, onde a soberania de Deus se manifesta no mundo de forma concreta.
2. O Reino de Deus: Presença e Realização no Tempo
Jesus não diz que o Reino virá, mas que já chegou. Aqui está a chave da teologia do Reino: não se trata apenas de uma realidade escatológica futura, mas de uma presença atuante que já se realiza. O fato de os demônios serem expulsos é um sinal de que o poder das trevas está sendo desfeito, pois onde Deus reina, o mal perde sua força.
A tradição judaica via a vinda do Reino como um evento cósmico e definitivo. Entretanto, Jesus inverte essa expectativa: o Reino não chega com manifestações externas espetaculares, mas se revela na transformação interior e no triunfo sobre o mal. O exorcismo é, portanto, um sinal visível do invisível – um prenúncio de que a ordem divina está sendo restaurada no mundo.
3. O Chamado ao Reconhecimento e à Decisão
Se o Reino já chegou, o homem é colocado diante de uma escolha inescapável: ou reconhece a ação divina e se abre à verdade, ou se fecha na cegueira espiritual. Aqueles que acusam Jesus de agir pelo poder de Belzebu recusam-se a admitir a evidência da realidade, permanecendo presos a uma lógica autossuficiente que rejeita qualquer intervenção divina.
Esse fechamento da alma é o verdadeiro perigo: negar a presença do Reino significa afastar-se da verdade e cair na dispersão. Por isso, logo após essa afirmação, Jesus proclama: "Quem não está comigo, está contra mim; e quem não ajunta comigo, espalha." (Lc 11,23). O Reino não admite neutralidade – é preciso escolher entre a comunhão com a verdade ou a dissolução no erro.
Conclusão: O Dedo de Deus como Convite à Unidade
A frase de Lucas 11,20 sintetiza a missão de Cristo: Ele não é apenas um mestre ou um profeta, mas a própria manifestação da presença divina. Seu poder não vem de forças exteriores, mas do próprio Deus. Assim, reconhecer que Ele age pelo "dedo de Deus" significa aceitar que o Reino já está em ação.
O convite implícito nesta afirmação é à conversão da mente e do coração. O homem não deve esperar um Reino imposto, mas reconhecer que ele já desponta no mundo. Aqueles que veem e aceitam essa realidade tornam-se partícipes dessa ordem nova, enquanto aqueles que a rejeitam permanecem dispersos.
A questão final que o versículo nos deixa é a mesma que ecoa ao longo da história: estamos dispostos a reconhecer a verdade quando ela se manifesta diante de nós? Pois, se o Reino já chegou, então a decisão de entrar nele cabe a cada um.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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