Liturgia Diária
18 – TERÇA-FEIRA
2ª SEMANA DA QUARESMA
(roxo – ofício do dia)
Iluminai meus olhos, Senhor, para que eu não adormeça no sono da morte. Que meu inimigo não possa dizer: triunfei sobre ele (Sl 12,4s).
A verdade resplandece quando a consciência se alça à luz do discernimento, reconhecendo que a sabedoria deve ser compartilhada não apenas pelo verbo, mas pela ação que reflete a liberdade interior. A manifestação do princípio supremo exige daqueles que conduzem a jornada do espírito uma adesão autêntica ao chamado da transcendência, onde cada ser, na plenitude de sua autonomia, se torna portador da luz. Assim, a ordem do cosmos se realiza na comunhão entre pensamento e obra, assegurando que o caminho da verdade não seja imposto, mas descoberto por aqueles que, livres, escolhem seguir a senda do absoluto.
Proclamatio Evangelii secundum Matthæum 23,1-12
1 Tunc Jesus locutus est ad turbas, et ad discipulos suos,
Então Jesus falou às multidões e aos seus discípulos,
2 dicens: Super cathedram Moysi sederunt scribæ et pharisæi.
dizendo: Os escribas e fariseus sentaram-se na cátedra de Moisés.
3 Omnia ergo quæcumque dixerint vobis, servate et facite: secundum opera vero eorum nolite facere: dicunt enim, et non faciunt.
Portanto, observai e fazei tudo o que eles vos disserem, mas não imiteis suas obras, pois dizem e não fazem.
4 Alligant autem onera gravia et importabilia, et imponunt in humeros hominum: digito autem suo nolunt ea movere.
Atam amarram fardos pesados e difíceis de carregar e os colocam sobre os ombros dos homens, mas eles mesmos nem com o dedo querem movê-los.
5 Omnia vero opera sua faciunt ut videantur ab hominibus: dilatant enim phylacteria sua, et magnificant fimbrias.
Todas as suas obras fazem para serem vistos pelos homens: alargam seus filactérios e alongam as franjas das vestes.
6 Amant autem primos recubitus in cœnis, et primas cathedras in synagogis,
Gostam dos primeiros lugares nos banquetes e das cadeiras de honra nas sinagogas,
7 et salutationes in foro, et vocari ab hominibus Rabbi.
e das saudações nas praças, e de serem chamados Mestres pelos homens.
8 Vos autem nolite vocari Rabbi: unus enim est magister vester, omnes autem vos fratres estis.
Mas vós não vos façais chamar Mestre, pois um só é vosso Mestre, e vós todos sois irmãos.
9 Et patrem nolite vocare vobis super terram: unus enim est Pater vester, qui in cælis est.
E a ninguém chameis de pai sobre a terra, pois um só é vosso Pai, aquele que está nos céus.
10 Nec vocemini magistri: quia magister vester unus est, Christus.
Nem vos façais chamar guias, porque um só é vosso Guia, Cristo.
11 Qui major est vestrum, erit minister vester.
Aquele que for o maior entre vós, seja vosso servo.
12 Qui autem se exaltaverit, humiliabitur: et qui se humiliaverit, exaltabitur.
Quem se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado.
Reflexão:
"Qui autem se exaltaverit, humiliabitur: et qui se humiliaverit, exaltabitur."
"Quem se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado." (Mt 23:12)
Essa frase sintetiza a mensagem central do trecho, ressaltando a inversão espiritual onde a verdadeira grandeza se manifesta na humildade e no serviço.
A grandeza do ser não se encontra na imposição de títulos ou na busca de reconhecimento, mas na liberdade de servir sem interesse. A verdade só resplandece onde não há peso de jugo, pois cada indivíduo é chamado a expandir sua própria luz sem subjugar a de outrem. O caminho da elevação não reside na posição que se ocupa, mas na autenticidade do espírito que age com pureza. O mundo se ordena quando a consciência descobre que o verdadeiro poder não está em dominar, mas em elevar. Só se alcança o alto ao abraçar o serviço como expressão de plenitude.
HOMILIA
A Grandeza do Espírito na Jornada da Verdade
No caminho da elevação, o espírito humano se vê desafiado entre duas forças: a aparência e a essência, o domínio e o serviço, a exaltação e a humildade. O Evangelho nos recorda que a verdade não se impõe pelo peso de palavras vazias ou pelo brilho efêmero da glória terrena, mas resplandece na autenticidade daquilo que se vive. “Quem se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado” (Mt 23,12).
A verdadeira grandeza não se encontra na rigidez das estruturas que sobrecarregam consciências, mas na liberdade do coração que se doa sem buscar reconhecimento. Há aqueles que se sentam em cadeiras elevadas, proferem ordens e impõem fardos, mas não os movem sequer com um dedo. O conhecimento, quando divorciado da prática, torna-se um peso inútil, um labirinto de discursos onde a luz do entendimento não brilha.
Porém, aquele que descobre a essência da sabedoria compreende que a verdadeira liderança não reside em títulos ou honrarias, mas na capacidade de ser um guia para a liberdade. O mestre não é aquele que subjuga, mas aquele que ilumina o caminho, permitindo que cada ser alcance sua própria plenitude. Pois há um só Pai, há um só Mestre, há um só Guia: Aquele que chama cada um à verdade por meio da experiência viva.
Aquele que se humilha, não se anula, mas se encontra. Pois a humildade não é renúncia do próprio valor, mas reconhecimento da grandeza que transcende a individualidade. Quem serve, não se escraviza, mas se liberta, pois a doação genuína é expressão de um espírito que encontrou sua força. A elevação não se alcança no aplauso dos homens, mas na fidelidade à verdade que pulsa no mais íntimo do ser.
Que cada um, ao trilhar seu caminho, não busque ser grande aos olhos do mundo, mas verdadeiro aos olhos da eternidade. Pois somente aquele que se despoja do desejo de poder e se reveste da luz da verdade encontrará, no fim de sua jornada, a plenitude que não se dissolve no tempo, mas se abre ao infinito.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A Inversão Divina da Grandeza: O Caminho da Humildade e da Exaltação
A frase de Jesus em Mateus 23,12 – "Quem se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado." – revela uma das dinâmicas espirituais mais profundas da revelação divina. Trata-se de um princípio que permeia toda a Sagrada Escritura e encontra sua realização máxima na encarnação, paixão e glorificação de Cristo.
A Sabedoria do Reino: A Lógica da Graça
Na ordem humana, a exaltação é frequentemente buscada como um fim em si mesma. O desejo de reconhecimento, domínio e poder são manifestações da condição caída do homem, que busca se afirmar sobre os outros. No entanto, Jesus apresenta uma inversão desse paradigma: a grandeza não se conquista pelo orgulho, mas pela humildade; não pelo domínio, mas pelo serviço.
O próprio Deus, ao revelar-se em Cristo, manifesta essa verdade de modo absoluto. Ele, sendo Deus, "esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo" (Fl 2,7) e, ao se humilhar até a cruz, foi exaltado pelo Pai acima de toda criatura. Essa dinâmica do abaixamento e da exaltação se torna, então, a lei interna da graça.
A Humildade como Condição da Verdadeira Exaltação
A humildade não é um simples rebaixamento, mas o reconhecimento da verdade sobre si mesmo. Quem se humilha não se anula, mas se alinha à realidade do ser. Deus exalta aquele que se humilha porque esse já está na posição correta diante da verdade. A exaltação, nesse contexto, não significa prestígio terreno, mas a participação na glória divina.
Já a humilhação dos que se exaltam não é uma punição arbitrária, mas a revelação do vazio de suas pretensões. Quem constrói sua grandeza sobre si mesmo ergue uma estrutura sem fundamento, fadada a ruir. O orgulho é, por natureza, uma exaltação ilusória que não pode se sustentar diante da verdade eterna.
A Glorificação pela Verdade
Cristo nos ensina que o caminho da verdadeira elevação passa pelo serviço e pela entrega. A exaltação que Deus concede não é a dos tronos humanos, mas a participação na vida divina. Assim, a alma que aceita o caminho da humildade se abre à graça e, por fim, encontra-se na plenitude do ser, onde toda verdadeira exaltação reside: na comunhão perfeita com Deus.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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