segunda-feira, 24 de março de 2025

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: Mateus 5:17-19 - 26.03.2025

Liturgia Diária


26 – QUARTA-FEIRA 

3ª SEMANA DA QUARESMA


(roxo – ofício do dia)


Guiai os meus passos, Senhor, segundo a vossa palavra, e que nenhuma injustiça domine sobre mim! (Sl 118,133)


Nesta celebração, reafirmemos o compromisso com a liberdade do espírito, que se manifesta na fidelidade à Verdade eterna. Não deixemos escapar da consciência aquilo que nos é revelado pela Sabedoria Suprema, cuja luz orienta o ser em sua busca pelo Bem. A Lei, inscrita na essência do cosmos e desvelada aos homens, conduz à plenitude, pois harmoniza justiça e livre-arbítrio. Cumprida na perfeição pelo Verbo encarnado, ela não aprisiona, mas liberta, pois a verdadeira ordem nasce da interioridade iluminada. Assim, seguimos não por imposição externa, mas pelo impulso interior de elevar-se à comunhão com o Transcendente.



Evangelium secundum Matthaeum 5,17-19

17 Nolite putare quoniam veni solvere legem, aut prophetas: non veni solvere, sed adimplere.
Não penseis que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim para abolir, mas para cumprir.

18 Amen quippe dico vobis, donec transeat caelum et terra, iota unum aut unus apex non praeteribit a lege, donec omnia fiant.
Em verdade vos digo: até que passem o céu e a terra, nem uma só letra, nem um só traço da Lei passará, até que tudo se cumpra.

19 Qui ergo solverit unum de mandatis istis minimis, et docuerit sic homines, minimus vocabitur in regno caelorum: qui autem fecerit, et docuerit, hic magnus vocabitur in regno caelorum.
Portanto, aquele que violar um desses menores mandamentos e ensinar os outros a fazerem o mesmo será chamado o menor no Reino dos Céus; mas aquele que os cumprir e ensinar será chamado grande no Reino dos Céus.

Reflexão:

 Nolite putare quoniam veni solvere legem, aut prophetas: non veni solvere, sed adimplere.

Não penseis que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim para abolir, mas para cumprir. (Mt 5:1)

A verdade se manifesta como uma ordem intrínseca ao real, uma harmonia que não pode ser dissolvida sem que se perca a essência do próprio ser. A Lei não é um peso imposto, mas um caminho de convergência para a plenitude do espírito. O cumprimento não é uma obediência cega, mas a participação consciente no desdobramento do sentido último. A cada instante, a criação se aperfeiçoa na liberdade daquele que escolhe a verdade. O menor é aquele que obscurece essa luz, dissolvendo a forma do real em fragmentos dispersos. O maior é quem ilumina, integrando cada partícula do mundo ao fluxo do eterno. No horizonte da existência, a realização da Lei é a consumação do amor.


HOMILIA

O Cumprimento da Lei como Plenitude do Ser

No caminho da revelação, a Lei não é um conjunto de preceitos exteriores, mas a expressão viva de uma ordem que transcende o tempo e os limites humanos. Jesus, ao declarar que não veio abolir a Lei, mas cumpri-la, manifesta a verdade última do ser: não há ruptura entre a origem e a consumação, mas uma continuidade que se revela na fidelidade ao princípio.

A Lei, entendida em sua essência, não é um obstáculo à liberdade, mas sua condição mais elevada. Pois a verdadeira liberdade não consiste em escapar da ordem do real, mas em integrá-la com plena consciência. O céu e a terra podem passar, mas o sentido do mundo não se dissolve, pois ele é sustentado por um desígnio que se desdobra na história.

Cada mandamento, ainda que pareça pequeno, é parte de um todo indivisível. Ignorá-lo, ou ensinar que pode ser ignorado, fragmenta a realidade, afastando a inteligência da unidade que conduz à plenitude. Mas aquele que cumpre e ensina, que se torna testemunha da harmonia invisível sustentando todas as coisas, esse participa da grandeza do Reino.

A Lei se cumpre no amor, e o amor se realiza na verdade. Não há dualidade entre obediência e crescimento, pois quem compreende a Lei como um chamado à perfeição, vive já no horizonte da eternidade. Jesus não veio impor um jugo, mas abrir um caminho, e esse caminho é a unificação do ser com sua origem e seu destino.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

Cristo como Plenitude da Lei e dos Profetas

A afirmação de Jesus em Mateus 5,17 — "Não penseis que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim para abolir, mas para cumprir." — contém em si um dos princípios fundamentais da economia da salvação: a continuidade entre a Antiga e a Nova Aliança. Este versículo situa-se no contexto do Sermão da Montanha, onde Cristo manifesta o verdadeiro sentido da Lei divina, não como um código de normas exteriores, mas como expressão da ordem divina inscrita no ser.

A "Lei" (Nomos, no grego) refere-se à Torá, o conjunto dos mandamentos e preceitos que regulavam a vida de Israel segundo a vontade de Deus. Os "Profetas" representam a voz dinâmica de Deus na história, interpretando e atualizando a Lei à luz da fidelidade divina. Cristo, ao dizer que não veio abolir, mas cumprir (plērōsai, no original grego), revela que Ele não é um legislador humano que impõe novas normas ou rejeita as antigas; Ele é a plenitude daquilo que a Lei e os Profetas sempre apontaram.

Cumprir a Lei não significa apenas obedecer-lhe formalmente, mas levá-la à sua realização perfeita. A Lei mosaica era uma pedagogia (paidagōgós, como dirá São Paulo em Gl 3,24), conduzindo a humanidade a Cristo. As prescrições rituais e morais da Antiga Aliança tinham um valor preparatório, sombras de uma realidade futura (Hb 10,1). Em Cristo, não se trata de revogar a Lei, mas de transfigurá-la: os sacrifícios antigos apontavam para o sacrifício supremo da cruz, a purificação ritual era figura da purificação do coração, e a justiça prescrita pela Lei torna-se, em Cristo, um chamado à santidade interior.

Ao longo do Sermão da Montanha, Jesus explicita essa plenitude da Lei ao revelar seu sentido mais profundo. A Lei dizia: "Não matarás", mas Ele diz: "Quem se irar contra seu irmão já é réu de juízo" (Mt 5,21-22). A Lei dizia: "Não cometerás adultério", mas Ele diz: "Quem olhar para uma mulher com desejo impuro já cometeu adultério no coração" (Mt 5,27-28). Aqui, vemos que o cumprimento da Lei não é sua simples manutenção, mas sua elevação: o que antes era prescrito como norma externa, agora deve ser vivido como uma transformação interior.

Cristo, como Logos encarnado, é a própria Lei viva, a encarnação da ordem divina que sustenta o cosmos e a história. Ele não elimina a antiga revelação, mas a consuma. Não há um Deus da Lei e um Deus da Graça, como queriam os gnósticos, mas um único Deus que conduz progressivamente sua criação à plenitude da verdade. A Antiga Aliança encontra sua finalidade na Nova, e a Nova Aliança não existe sem a Antiga. O que era figura se faz realidade; o que era preparação se faz cumprimento.

Dessa forma, a Lei não é revogada, mas integrada à plenitude da revelação em Cristo. Ele não é um reformador de normas, mas o próprio cumprimento da promessa divina. Seu chamado não é à simples obediência legalista, mas à comunhão plena com Deus, onde a Lei, longe de ser um fardo, torna-se a expressão viva da verdade e do amor.

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA

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