Liturgia Diária
23 – DOMINGO
3º DOMINGO DA QUARESMA
(roxo, creio – 3ª semana do saltério)
Tenho os olhos sempre fitos no Senhor, pois ele tira os meus pés das armadilhas. Voltai-vos para mim, tende piedade, porque sou pobre, estou sozinho e infeliz! (Sl 24,15s)
A harmonia do princípio supremo se manifesta na abundância da graça, concedendo ao ser humano a liberdade de reconstruir seu caminho. A fonte eterna do discernimento estende suas possibilidades àquele que busca a verdade, sem restrições impostas pelo medo ou pela resignação. A existência se revela como um chamado à autodeterminação, onde cada escolha traz consigo a responsabilidade dos frutos cultivados. O Logos intercede por nossa ascensão e sustenta a jornada daquele que caminha na direção da luz. Na autonomia do espírito, encontra-se a força para transpor limites e alcançar a plenitude da essência que nos foi confiada.
Evangelium: Lucas 13,1-9
1. Aderant autem quidam ipso in tempore, nuntiantes illi de Galilaeis, quorum sanguinem Pilatus miscuit cum sacrificiis eorum.
Naquela ocasião, vieram alguns contar a Jesus sobre os galileus cujo sangue Pilatos misturara com seus sacrifícios.
2. Et respondens dixit illis: Putatis quod hi Galilaei prae omnibus Galilaeis peccatores fuerint, quia talia passi sunt?
Jesus respondeu: Pensais vós que esses galileus eram mais pecadores que todos os outros galileus, por terem sofrido tais coisas?
3. Non, dico vobis: sed nisi poenitentiam habueritis, omnes similiter peribitis.
Não, eu vos digo! Mas se não vos converterdes, todos vós perecereis do mesmo modo.
4. Sicut illi decem et octo, supra quos cecidit turris in Siloam, et occidit eos: putatis quia et ipsi debitores fuerint prae omnibus hominibus habitantibus in Ierusalem?
E aqueles dezoito sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, pensais que eram mais culpados do que todos os habitantes de Jerusalém?
5. Non, dico vobis: sed si poenitentiam non egeritis, omnes similiter peribitis.
Não, eu vos digo! Mas se não vos converterdes, todos vós perecereis do mesmo modo.
6. Dicebat autem hanc similitudinem: Arborem fici habebat quidam plantatam in vinea sua, et venit quaerens fructum in illa, et non invenit.
E disse esta parábola: Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha e foi procurar fruto nela, mas não encontrou.
7. Dixit autem ad cultorem vineae: Ecce anni tres sunt ex quo venio quaerens fructum in ficulnea hac, et non invenio: succide ergo illam: ut quid etiam terram occupat?
Então disse ao vinhateiro: Há três anos venho procurar fruto nesta figueira e não encontro. Corta-a! Por que ainda há de ocupar inutilmente a terra?
8. At ille respondens, dicit illi: Domine, dimitte illam et hoc anno, usque dum fodiam circa illam, et mittam stercora,
Mas o vinhateiro respondeu: Senhor, deixa-a ainda este ano, até que eu cave ao redor dela e lhe ponha adubo.
9. Et si quidem fecerit fructum: sin autem, in futurum succides eam.
Se der fruto, ficará; se não, então a cortarás.
Reflexão:
"Non, dico vobis: sed nisi poenitentiam habueritis, omnes similiter peribitis."
"Não, eu vos digo! Mas se não vos converterdes, todos vós perecereis do mesmo modo." (Lc 13:3)
Essa frase centraliza a mensagem do Evangelho, ressaltando a necessidade da conversão como condição essencial para a verdadeira vida.
A existência é um campo onde o crescimento se realiza pela escolha livre de cada ser. O tempo não é apenas uma espera passiva, mas uma oportunidade de desenvolvimento interior e expressão plena do potencial que nos foi confiado. A consciência desperta compreende que a transformação não ocorre pelo medo do juízo, mas pela busca autêntica do aperfeiçoamento. Cada instante é um chamado à evolução, onde a responsabilidade pelas próprias ações determina o destino. Aquele que cultiva a si mesmo, abrindo-se ao aprimoramento, encontra a plenitude. Mas o que se fecha à renovação estanca seu próprio caminho e se perde no vazio.
HOMILIA
O Chamado à Plenitude do Ser
A narrativa de Lucas 13,1-9 nos conduz à essência da transformação interior. Jesus, ao responder sobre os galileus mortos e sobre a torre de Siloé, desvia o olhar do acaso e do juízo exterior, conduzindo-nos a uma verdade mais profunda: a vida não se sustenta no medo da destruição, mas na necessidade da renovação.
A conversão aqui apresentada não é um mero rito ou um temor diante do castigo, mas um despertar para a responsabilidade do ser diante de sua própria existência. A figueira estéril não simboliza um erro fixo ou uma falha condenável, mas uma condição que pode ser transformada. O tempo concedido para que ela frutifique não é uma espera passiva, mas um chamado ao cultivo da própria essência.
A liberdade humana se manifesta na capacidade de reconhecer que a vida é movimento, crescimento e plenitude. Aquele que se fecha à renovação, que permanece imóvel no solo da estagnação, perde-se em sua própria esterilidade. Mas aquele que acolhe o trabalho interior, que se abre ao aperfeiçoamento e à busca sincera do bem, encontra no próprio esforço a força que o sustenta.
Cristo é o vinhateiro que intercede, que nos oferece não a anulação de nossas escolhas, mas a possibilidade de elevar cada escolha a um nível superior de significado. Ele não impõe frutos, mas aduba a terra, para que a decisão de florescer seja verdadeiramente nossa.
Assim, este Evangelho nos ensina que não basta apenas existir. É preciso responder ao chamado da vida com profundidade, nutrindo a alma com as virtudes que fazem do homem não apenas alguém que passa pelo mundo, mas alguém que nele deixa marcas de luz e verdade.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
Conversão e Destino: O Chamado à Plenitude da Existência
A afirmação de Cristo em Lucas 13,3 – "Não, eu vos digo! Mas se não vos converterdes, todos vós perecereis do mesmo modo." – transcende uma advertência imediata sobre calamidades físicas e mergulha no fundamento da existência humana sob a luz da economia divina da salvação.
Jesus responde à mentalidade comum da época, que associava desastres e sofrimentos à punição divina por pecados específicos. No entanto, Ele desloca o eixo da reflexão, ensinando que o verdadeiro perigo não é a morte física, mas a perda do sentido último da existência, que se manifesta na recusa à conversão.
Conversão: Um Movimento Interior de Libertação
O termo grego μετάνοια (metánoia), traduzido como "conversão", significa literalmente uma mudança de mente, uma transformação radical do ser que conduz a um novo modo de viver. Não se trata de mera conformidade a normas externas, mas de um realinhamento da própria consciência com a Verdade que sustenta o cosmos.
Conversão não é apenas um ato pontual, mas um dinamismo contínuo de crescimento. Aquele que permanece fechado na rigidez do próprio ego, recusando-se a abandonar suas ilusões e a abrir-se ao absoluto, condena-se ao perecimento, não como castigo imposto, mas como consequência natural do isolamento espiritual.
O Perecimento como Dissolução do Ser
O termo "perecer" aqui não se refere meramente à morte física, mas a uma realidade mais profunda: a perda do princípio vital que orienta o ser para sua plenitude. Assim como uma árvore que não frutifica se condena à esterilidade, o ser humano que não se abre à conversão mergulha na própria fragmentação.
Jesus não propõe um medo servil do castigo, mas um chamado à liberdade verdadeira. O homem não é um espectador passivo do tempo, mas um agente que modela seu destino por suas escolhas. A conversão, portanto, não é uma exigência arbitrária, mas a condição fundamental para que a vida alcance sua máxima realização.
Conclusão: A Conversão como Caminho para a Plenitude
Cristo não apresenta uma ameaça, mas um convite à transformação. A liberdade humana encontra sua realização não na resistência à conversão, mas na aceitação do chamado à verdade e ao bem. Quem se fecha ao caminho da renovação interior não é punido externamente, mas colhe os frutos de sua própria resistência à graça.
Portanto, esta frase de Jesus revela um princípio profundo: a vida é um processo contínuo de crescimento, e a conversão não é uma renúncia, mas um reencontro com a vocação mais elevada do ser.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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