Liturgia Diária
7 – SÁBADO
SANTO AMBRÓSIO
BISPO E DOUTOR DA IGREJA
(branco, pref. do Advento I ou IA, ou dos doutores – ofício da memória)
No meio da Igreja, o Senhor abriu os seus lábios, encheu-o com o espírito de sabedoria e inteligência e o revestiu com um manto de glória (Eclo 15,5).
No coração da Igreja, o Senhor manifesta o espírito de sabedoria e inteligência como luz que transcende a matéria, elevando a alma à compreensão do eterno. O manto de glória, revestindo o ser, simboliza a comunhão das consciências na convergência divina, onde o finito encontra seu sentido no infinito.
Mateus 9:35-10:1.6-8 (Vulgata)
9,35 Et circumibat Jesus omnes civitates et castella, docens in synagogis eorum, et prædicans Evangelium regni, et curans omnem languorem, et omnem infirmitatem.
E percorria Jesus todas as cidades e aldeias, ensinando nas sinagogas deles, e pregando o Evangelho do reino, e curando toda enfermidade e toda fraqueza.
9,36 Videns autem turbas, misertus est eis: quia erant vexati, et jacentes sicut oves non habentes pastorem.
Vendo, porém, as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas sem pastor.
9,37 Tunc dicit discipulis suis: Messis quidem multa, operarii autem pauci.
Então disse aos seus discípulos: A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos.
9,38 Rogate ergo Dominum messis, ut mittat operarios in messem suam.
Rogai, pois, ao Senhor da colheita que envie trabalhadores para a sua colheita.
10,1 Et convocatis duodecim discipulis suis, dedit illis potestatem spirituum immundorum, ut ejicerent eos, et curarent omnem languorem, et omnem infirmitatem.
E, tendo convocado os seus doze discípulos, deu-lhes poder sobre os espíritos imundos, para os expulsarem e para curarem toda enfermidade e toda fraqueza.
10,6 Sed potius ite ad oves quæ perierunt domus Israël.
Mas, ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel.
10,7 Euntes autem prædicate, dicentes: Quia appropinquavit regnum cælorum.
E, indo, pregai, dizendo: O reino dos céus está próximo.
10,8 Infirmos curate, mortuos suscitate, leprosos mundate, dæmones ejicite: gratis accepistis, gratis date.
Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios: de graça recebestes, de graça dai.
Reflexão:
"Gratis accepistis, gratis date"
"De graça recebestes, de graça dai" (Mateus 10,8)
A missão confiada por Cristo transcende a simples ação humana, abrindo os discípulos à força divina que atua no mundo. Cada ato de cura e anúncio do reino é um passo na unificação do cosmos com o Criador. A colheita simboliza a convergência das almas em direção à plenitude divina, onde o trabalho dos poucos operários se multiplica pela graça, como se a humanidade e o universo fossem conduzidos à sua consumação no infinito. Assim, o chamado de Cristo ressoa não apenas como um convite, mas como uma força que transforma o tempo e o espaço, guiando tudo para o eterno.
HOMILIA
"A Pureza da Missão Cristã"
Amados irmãos e irmãs,
O Evangelho de hoje nos conduz ao coração da missão de Cristo: um chamado à compaixão e à gratuidade. Jesus percorre cidades e aldeias, anunciando o Reino e curando os que sofrem, movido por misericórdia ao ver as multidões como ovelhas sem pastor. No centro dessa missão, Ele nos lembra: “De graça recebestes, de graça dai.”
Vivemos tempos em que a religião, muitas vezes, é distorcida para servir a interesses egoístas. Há aqueles que transformam o sagrado em meio de exploração, manipulando a fé das pessoas para obter ganhos materiais ou status. Este Evangelho, no entanto, nos alerta para a essência do seguimento de Cristo: o amor gratuito que não busca recompensa.
Cristo nos convida a uma entrega radical, não baseada em barganhas, mas na generosidade que brota de um coração transformado. Os dons que recebemos – a vida, a fé, a esperança – são tesouros que pertencem ao Reino, não a nós. Quando os acumulamos ou os utilizamos para exploração, negamos sua natureza divina.
Hoje, somos chamados a revisitar nossa relação com o sagrado. Será que estamos anunciando o Reino como discípulos autênticos ou estamos reduzindo a mensagem de Cristo a um comércio de bênçãos? Precisamos lembrar que a missão é gratuita porque o amor de Deus é infinito. Ele nos oferece tudo sem medida, pedindo apenas que sejamos canais desse amor para o mundo.
Que este Evangelho nos inspire a refletir: Como posso viver minha fé como uma doação verdadeira? Como posso testemunhar o Reino sem explorar ou manipular? A resposta está no coração da mensagem de Cristo: servir com gratuidade, cuidar com compaixão e transformar o mundo pelo amor que nada pede em troca.
Amém.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A frase "De graça recebestes, de graça dai" (Mateus 10,8) é uma das expressões mais profundas e reveladoras do coração do Evangelho. Ela sintetiza a dinâmica da graça divina e o chamado do ser humano a participar dessa lógica celestial. Para compreendê-la teologicamente, devemos explorar três dimensões fundamentais: a origem da graça, sua gratuidade e a missão que ela engendra.
1. A Origem da Graça
A graça, no pensamento cristão, é o dom imerecido da vida divina que Deus oferece à humanidade. Ela é anterior a qualquer mérito humano, sendo expressão do amor incondicional do Criador. O ser humano não pode conquistar a graça; ela é derramada pela bondade de Deus que quer partilhar Sua vida conosco (Ef 2,8). Em Mateus 10, Jesus lembra aos discípulos que tudo o que receberam – sua vocação, autoridade, e poder de cura – é fruto desse amor divino que os escolheu e capacitou.
2. A Gratuidade da Graça
A gratuidade é a essência da graça. Assim como Deus nos dá tudo sem esperar retribuição, somos chamados a refletir esse mesmo amor em nossas ações. Não há espaço para comercializar o sagrado ou condicionar a partilha do dom divino a recompensas humanas. Esta frase denuncia qualquer tentativa de transformar o Evangelho em objeto de lucro ou manipulação, colocando o serviço desinteressado como base da missão cristã.
3. A Missão Gerada pela Graça
Receber a graça implica responsabilidade. Somos receptores para nos tornarmos doadores. A graça não é algo estático; é um dinamismo que nos impele a agir no mundo. Os discípulos são enviados a curar, libertar e anunciar o Reino com a mesma generosidade com que foram equipados. Essa missão é a continuidade da obra de Cristo no mundo, na qual o cristão se torna cooperador de Deus, participando da reconciliação universal (2Cor 5,18).
Reflexão Teológica
Essa frase revela uma verdade teológica central: a graça é uma participação na própria vida divina, e sua partilha é um ato de comunhão com o amor de Deus. O "dar de graça" não é uma imposição moral, mas uma consequência natural de quem vive na esfera da graça. É a expressão de uma liberdade espiritual que transcende o egoísmo e reflete a plenitude do Reino de Deus, onde o amor é a única moeda.
Assim, "De graça recebestes, de graça dai" nos recorda que todo dom espiritual – desde a salvação até os talentos individuais – é um convite a nos tornarmos instrumentos de Deus, irradiando Sua bondade no mundo com a mesma generosidade com que fomos alcançados.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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