quarta-feira, 19 de março de 2025

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: Lucas 15:1-3.11-32 - 22.03.2025

 Liturgia Diária


22 – SÁBADO 

2ª SEMANA DA QUARESMA


(roxo – ofício do dia)


Misericórdia e piedade é o Senhor, ele é amor, é paciência, é compaixão. O Senhor é muito bom para com todos, sua ternura abraça toda criatura (Sl 144,8s).


A consciência desperta é o ponto de inflexão onde a alma se reconhece como agente de sua própria jornada. A liberdade do espírito nasce da clareza interior, traçando o percurso do retorno à essência, onde repousa a plenitude. Cada passo é uma afirmação da autonomia do ser, que, ao reconhecer-se, reencontra a fonte originária do Amor. A transcendência não impõe laços, mas convida à livre ascensão, onde a verdade se revela na convergência da vontade e da graça. No ápice desse movimento, aguarda a comunhão plena, onde a identidade e a eternidade se entrelaçam em harmonia suprema.



Evangelium secundum Lucam 15,1-3.11-32

1 Erant autem appropinquantes ei publicani et peccatores, ut audirent illum.
Ora, porém, aproximavam-se dele os publicanos e pecadores para ouvi-lo.

2 Et murmurabant pharisæi et scribæ dicentes: Quia hic peccatores recipit, et manducat cum illis.
E murmuravam os fariseus e os escribas, dizendo: Este recebe os pecadores e come com eles.

3 Et ait ad illos parabolam istam, dicens:
E propôs-lhes esta parábola, dizendo:

11 Homo quidam habuit duos filios.
Um certo homem tinha dois filhos.

12 Et dixit adulescentior ex illis patri: Pater, da mihi portionem substantiæ, quæ me contingit. Et divisit illis substantiam.
E disse o mais jovem deles ao pai: Pai, dá-me a parte da herança que me cabe. E ele dividiu entre eles os bens.

13 Et non post multos dies, congregatis omnibus, adulescentior filius peregre profectus est in regionem longinquam: et ibi dissipavit substantiam suam vivendo luxuriose.
E, poucos dias depois, tendo reunido tudo, o filho mais jovem partiu para uma terra distante e lá dissipou sua herança vivendo dissolutamente.

14 Et postquam omnia consummasset, facta est fames valida in regione illa, et ipse cœpit egere.
E depois de ter consumido tudo, houve uma grande fome naquela região, e ele começou a passar necessidade.

15 Et abiit, et adhæsit uni civium regionis illius: et misit illum in villam suam ut pasceret porcos.
Então foi e se juntou a um dos cidadãos daquela terra, e este o enviou para seus campos a apascentar porcos.

16 Et cupiebat implere ventrem suum de siliquis, quas porci manducabant: et nemo illi dabat.
E desejava encher seu estômago com as vagens que os porcos comiam, mas ninguém lhe dava.

17 In se autem reversus, dixit: Quanti mercenarii in domo patris mei abundant panibus, ego autem hic fame pereo!
Caindo em si, disse: Quantos trabalhadores de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui morro de fome!

18 Surgam, et ibo ad patrem meum, et dicam ei: Pater, peccavi in cælum, et coram te:
Levantar-me-ei e irei a meu pai e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti.

19 Jam non sum dignus vocari filius tuus: fac me sicut unum de mercenariis tuis.
Já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um de teus trabalhadores.

20 Et surgens venit ad patrem suum. Cum autem adhuc longe esset, vidit illum pater ipsius, et misericordia motus est, et accurrens cecidit supra collum ejus, et osculatus est eum.
E, levantando-se, foi para seu pai. Quando ainda estava longe, seu pai o viu e, movido de compaixão, correu, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou.

21 Dixitque ei filius: Pater, peccavi in cælum, et coram te: jam non sum dignus vocari filius tuus.
E disse-lhe o filho: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho.

22 Dixit autem pater ad servos suos: Cito proferte stolam primam, et induite illum, et date annulum in manum ejus, et calceamenta in pedes ejus:
Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor túnica e vesti-o, ponde um anel em sua mão e sandálias em seus pés.

23 Et adducite vitulum saginatum, et occidite, et manducemus, et epulemur:
E trazei o novilho cevado e matai-o; comamos e festejemos,

24 Quia hic filius meus mortuus erat, et revixit: perierat, et inventus est. Et cœperunt epulari.
Porque este meu filho estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado. E começaram a festejar.

25 Erat autem filius ejus senior in agro: et cum veniret, et appropinquaret domui, audivit symphoniam et chorum:
Ora, seu filho mais velho estava no campo e, ao voltar, quando se aproximou da casa, ouviu música e dança.

26 Et vocavit unum de servis, et interrogavit quid hæc essent.
E chamou um dos servos e perguntou o que era aquilo.

27 Isque dixit illi: Frater tuus venit, et occidit pater tuus vitulum saginatum, quia salvum illum recepit.
E ele lhe disse: Teu irmão voltou, e teu pai matou o novilho cevado porque o recebeu são e salvo.

28 Indignatus est autem, et nolebat introire. Pater ergo illius egressus, cœpit rogare illum.
Mas ele se indignou e não queria entrar. Então seu pai saiu e começou a suplicá-lo.

29 At ille respondens, dixit patri suo: Ecce tot annis servio tibi, et numquam mandatum tuum præteri, et numquam dedisti mihi hædum ut cum amicis meis epularer:
Mas ele, respondendo, disse a seu pai: Eis que te sirvo há tantos anos e nunca transgredi um mandamento teu, e nunca me deste um cabrito para festejar com meus amigos.

30 Sed postquam filius tuus hic, qui devoravit substantiam suam cum meretricibus, venit, occidisti illi vitulum saginatum.
Mas, quando veio esse teu filho, que devorou tua herança com prostitutas, mataste para ele o novilho cevado.

31 At ipse dixit illi: Fili, tu semper mecum es, et omnia mea tua sunt:
E ele lhe disse: Filho, tu sempre estás comigo, e tudo o que é meu é teu.

32 Epulari autem et gaudere oportet, quia frater tuus hic mortuus erat, et revixit; perierat, et inventus est.
Mas era preciso alegrar-se e festejar, porque este teu irmão estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado.

Reflexão:

"Fili, tu semper mecum es, et omnia mea tua sunt."

"Filho, tu sempre estás comigo, e tudo o que é meu é teu."  (Lucas 15,31)

Essa frase sintetiza a essência do ensinamento da parábola: a plenitude não está apenas no retorno do filho pródigo, mas na compreensão de que a verdadeira herança é a presença contínua na casa do Pai.

A consciência do caminho surge no instante da liberdade assumida. Quem se aventura ao desconhecido leva consigo o risco e a promessa do retorno. A queda ensina o valor do reencontro, e a busca da plenitude exige autonomia do espírito. O Pai não impõe sua presença, mas aguarda com paciência a escolha genuína. O vínculo renascido não é servidão, mas reconhecimento. A celebração da volta não diminui o esforço do que permaneceu, mas exalta a restauração do que se perdeu. A grandeza do destino não está na posse, mas na compreensão de que tudo sempre esteve acessível à vontade desperta.


HOMILIA

O Chamado à Plenitude do Ser

A história do filho pródigo é mais do que um relato de queda e redenção; é a revelação do dinamismo interior da existência. Há um instante em que a alma anseia pela liberdade, distante da tutela, desejosa de explorar horizontes ainda não conhecidos. Parte-se, então, com a ilusão da posse, crendo que o mundo exterior suprirá o que internamente ainda não se descobriu.

Mas a liberdade sem direção torna-se errância. O que parecia conquista se dissipa, e a plenitude esperada revela-se um vazio. O filho distante, ao tocar o limite da carência, desperta para o que sempre esteve ao seu alcance: a verdadeira herança não estava nos bens, mas no vínculo. Não era a matéria que o sustentava, mas a presença do Pai, silenciosa, paciente, aguardando o momento do retorno consciente.

Quando a alma retorna, ela não é mais a mesma. Já não se apega à herança, pois compreende que a posse é efêmera, mas o reencontro é eterno. O Pai não exige explicações nem punições; antes, celebra a renovação daquele que compreendeu o valor do que fora negligenciado. O abraço que recebe não é apenas um gesto de acolhimento, mas a confirmação de que a escolha livre o levou ao entendimento do que realmente importa.

O filho mais velho, que permaneceu na casa, não percebe que sempre teve acesso a tudo. Sua obediência era formal, mas sua alma não havia se expandido. Não é a permanência que santifica, mas a consciência do dom recebido. O verdadeiro caminho não está na servidão temerosa nem na fuga inconsequente, mas na descoberta de que tudo já nos foi dado.

Assim, a parábola nos ensina que a liberdade encontra sua plenitude quando reconhece sua fonte. O homem não é chamado a meramente obedecer ou buscar fora o que já possui dentro, mas a despertar para a grandeza de sua própria existência, em comunhão com aquele que sempre o aguardou.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

A Herança da Comunhão Perene

A frase “Filho, tu sempre estás comigo, e tudo o que é meu é teu” (Lucas 15,31) condensa uma das verdades mais profundas da Revelação: a participação do ser humano na plenitude divina. No contexto da parábola, o pai responde à indignação do filho mais velho, que, apesar de ter permanecido fiel, não compreendeu a graça que sempre esteve à sua disposição.

Este versículo revela três dimensões essenciais do relacionamento entre Deus e o homem: presença, herança e consciência.

1. A Presença: O Mistério da Comunhão Contínua

O pai declara: “Tu sempre estás comigo.” Aqui, há um eco da promessa divina ao longo das Escrituras: Deus jamais abandona aqueles que são seus. No Antigo Testamento, ouvimos: “Eu estarei contigo todos os dias” (Josué 1,5), e no Novo Testamento, Cristo reitera: “Eis que estou convosco todos os dias até o fim dos tempos” (Mateus 28,20).

O filho mais velho não se afastou fisicamente, mas sua percepção estava obscurecida. Ele não compreendia que sua permanência na casa do pai não era servidão, mas comunhão. Aqui está o ponto central: não basta estar na casa do Pai, é preciso viver com Ele em consciência.

2. A Herança: A Participação na Plenitude

“Tudo o que é meu é teu.” Esta afirmação transcende qualquer noção meramente material de herança. O que Deus possui, Ele não retém para si, mas deseja compartilhar. Esse princípio está na raiz da economia da salvação: Deus não apenas concede dons, mas nos chama a participar da própria vida d’Ele.

O apóstolo Paulo expressa essa realidade ao afirmar que somos “herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo” (Romanos 8,17). A filiação divina não é uma metáfora, mas uma realidade ontológica. O homem é chamado a ser não apenas servo, mas filho, e como filho, tudo o que pertence ao Pai pertence também a ele.

3. A Consciência: O Despertar para a Verdade

O grande drama do filho mais velho não era a ausência de bens, mas a ignorância de sua condição. Ele possuía tudo, mas não sabia. Sua atitude reflete a condição de muitos que vivem na Casa do Pai sem compreenderem a riqueza da graça.

Assim, este versículo não apenas esclarece a relação entre Deus e o homem, mas convida a um despertar: a vida em Deus não é uma espera passiva por recompensas futuras, mas uma realidade que pode e deve ser vivida agora. Tudo já nos foi dado – basta reconhecer e acolher.

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA

Leia também:

Primeira Leitura

Segunda Leitura

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