Liturgia Diária
9 – DOMINGO
5º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(verde, glória, creio – 1ª semana do saltério)
Vinde, adoremos e prostremo-nos por terra, e ajoelhemo-nos ante o Deus que nos criou! Porque ele é o nosso Deus, nosso Pastor (Sl 94,6s).
Na Eucaristia, tornamo-nos partícipes da emanação divina, onde a bondade e a santidade de Deus se revelam como influxo vivo da Verdade. O Senhor, eterno princípio do movimento ascensional da alma, convoca-nos ao mergulho nas profundezas do Mistério, impulsionando-nos a lançar as redes do espírito na vastidão luminosa de Sua Vontade. Com fé que transcende a linearidade do tempo, criatividade que reflete a Sabedoria incriada e amor que se renova na Fonte primordial, somos chamados a colaborar na irradiação da Palavra vivificadora, para que a realidade inteira se ordene na plenitude da Luz.
Evangelium secundum Lucam 5,1-11
1 Factum est autem, cum turbae irruerent in eum, ut audirent verbum Dei, et ipse stabat secus stagnum Genesareth.
Aconteceu que, estando a multidão a apertá-lo para ouvir a palavra de Deus, ele estava junto ao lago de Genesaré.
2 Et vidit duas naves stantes secus stagnum; piscatores autem descenderant et lavabant retia.
E viu duas barcas paradas junto ao lago; mas os pescadores haviam descido delas e lavavam as redes.
3 Ascendens autem in unam navim, quae erat Simonis, rogavit eum a terra reducere pusillum; et sedens docebat de navicula turbas.
Entrando numa das barcas, que era a de Simão, pediu-lhe que a afastasse um pouco da terra; e, sentado, ensinava as multidões da barca.
4 Ut cessavit autem loqui, dixit ad Simonem: «Duc in altum et laxate retia vestra in capturam».
Quando terminou de falar, disse a Simão: “Avança para o profundo e lançai as vossas redes para a pesca”.
5 Et respondens Simon dixit: «Praeceptor, per totam noctem laborantes nihil cepimus; in verbo autem tuo laxabo retia».
Respondendo, Simão disse: “Mestre, tendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos; mas, sobre tua palavra, lançarei as redes”.
6 Et cum hoc fecissent, concluserunt piscium multitudinem copiosam; rumpebatur autem rete eorum.
E, fazendo isto, apanharam grande quantidade de peixes, e suas redes começavam a se romper.
7 Et annuerunt sociis, qui erant in alia navi, ut venirent et adiuvarent eos. Et venerunt et impleverunt ambas naviculas, ita ut pene mergerentur.
E fizeram sinal aos companheiros da outra barca, para que viessem ajudá-los. E vieram, e encheram ambas as barcas, de modo que quase afundavam.
8 Quod cum videret Simon Petrus, procidit ad genua Iesu dicens: «Exi a me, quia homo peccator sum, Domine».
Ao ver isso, Simão Pedro prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: “Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador”.
9 Stupor enim circumdederat eum et omnes, qui cum illo erant, in captura piscium, quam ceperant,
Pois o espanto tomara conta dele e de todos os que estavam com ele, por causa da pesca que haviam feito,
10 Similiter autem Iacobum et Ioannem, filios Zebedaei, qui erant socii Simonis. Et ait ad Simonem Iesus: «Noli timere; ex hoc iam homines eris capiens».
Igualmente a Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram companheiros de Simão. E Jesus disse a Simão: “Não temas; de agora em diante, serás pescador de homens”.
11 Et subductis ad terram navibus, relictis omnibus, secuti sunt illum.
E, levando as barcas para a terra, deixaram tudo e o seguiram.
Reflexão:
Et ait ad Simonem Iesus: «Noli timere; ex hoc iam homines eris capiens».
E Jesus disse a Simão: “Não temas; de agora em diante, serás pescador de homens”. (Lc 5:10)
Essa frase marca a transformação radical da vida de Simão Pedro. O temor inicial diante do mistério dá lugar a uma missão transcendental. O chamado para ser "pescador de homens" simboliza a conversão do trabalho material em um propósito espiritual, conduzindo as almas ao horizonte da plenitude divina.
O chamado ao profundo é o apelo para que a alma desperte à sua vocação maior, lançando-se para além da superfície do imediato. As redes lançadas no oceano da Graça recolhem frutos invisíveis ao olhar material, pois ali se dá a fusão entre esforço e transcendência. A pesca abundante simboliza a união do humano com o divino, onde o vazio das noites infrutíferas encontra sua plenitude na luz do Verbo. Aquele que se reconhece pequeno diante da imensidão do Mistério descobre, na renúncia de si, a plenitude do Ser. O convite de Cristo não é apenas para seguir, mas para tornar-se ponte entre o visível e o invisível. A barca, que antes era apenas um instrumento de sobrevivência, torna-se veículo da revelação. O horizonte da alma expande-se, e o homem, ao deixar tudo, encontra tudo no Absoluto.
HOMILIA
O Chamado às Profundezas da Existência
Amados irmãos e irmãs,
O Evangelho de hoje nos convida a contemplar o mistério do chamado divino, que ressoa não apenas nos tempos de Pedro, mas em cada momento da história. Quando Jesus diz a Simão: “Avança para o profundo e lançai as vossas redes”, Ele não fala apenas de um mar físico, mas da vastidão interior de cada ser humano, onde se oculta o verdadeiro sentido da existência.
Vivemos em uma era de paradoxos. Por um lado, avançamos na ciência, na tecnologia, na compreensão do universo. Por outro, parecemos estagnados em nossa relação com o essencial, lançando nossas redes apenas na superfície do imediato, sem buscar as profundezas da verdade. Quantas vezes, como Pedro, trabalhamos a noite inteira e nada encontramos? Quantas vezes nos debatemos na escuridão, presos a uma lógica de esforço sem transcendência, de conquistas que não preenchem?
No entanto, Cristo continua a nos chamar. Ele nos convida a ir além da segurança do conhecido, a deixar para trás o medo do fracasso e a confiar na Palavra que transforma. Pedro hesita, mas obedece. E é no ato de lançar as redes confiando em Cristo que o milagre acontece. Esse é o ponto decisivo: a confiança no Invisível, que dá frutos inesperados.
Nos dias de hoje, somos chamados a ser “pescadores de homens” não apenas no sentido missionário tradicional, mas também na maneira como vivemos e testemunhamos a verdade. O mundo está repleto de redes vazias — relações superficiais, ideologias passageiras, verdades fragmentadas — mas aqueles que escutam a voz do Mestre e se dispõem a mergulhar mais fundo encontram um novo horizonte.
Pedro, ao ver a abundância da pesca, sente-se indigno. Reconhece sua pequenez diante da grandeza do mistério. Mas Cristo não o rejeita. Pelo contrário, transforma sua fraqueza em força, sua humanidade em vocação. Assim também nós, com nossas imperfeições, somos chamados a algo maior: não apenas a sobreviver, mas a transformar o mundo ao nosso redor.
Hoje, Cristo nos diz: “Não temas”. Avançar para águas mais profundas significa ousar um amor maior, uma fé mais viva, uma entrega mais radical. Significa não nos contentarmos com a superfície das coisas, mas buscar o que é eterno. As barcas do nosso tempo — a sociedade, as famílias, as comunidades — só encontrarão sua verdadeira direção quando permitirem que Cristo seja o centro, conduzindo-as para o horizonte da plenitude.
Sigamos, pois, como Pedro e seus companheiros. Lancemos as redes não apenas em busca do que é passageiro, mas daquilo que permanece. Porque somente na obediência ao chamado de Cristo encontramos aquilo que, no mais profundo de nosso ser, sempre buscamos.
Amém.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
Explicação teológica de Lucas 5,10: “Não temas; de agora em diante, serás pescador de homens.”
A frase de Cristo dirigida a Simão Pedro no Evangelho de Lucas 5,10 contém um significado teológico profundo, que envolve o mistério da vocação, a transformação da identidade humana e a participação na economia da salvação.
1. "Não temas": A superação do medo na experiência do sagrado
A primeira palavra de Cristo, “Não temas”, ecoa uma constante na revelação divina. Sempre que Deus se manifesta e chama alguém para uma missão, o medo surge como uma reação natural do ser humano diante do transcendente. Moisés, Isaías, Jeremias e tantos outros experimentaram essa mesma hesitação diante da santidade de Deus. Pedro, ao perceber a grandeza do milagre da pesca e reconhecer sua pequenez, sente-se indigno e pede que Jesus se afaste. Mas Cristo responde com misericórdia, revelando que a presença divina não destrói, mas transforma.
O medo que Pedro sente não é apenas um temor psicológico, mas uma reação espiritual diante daquilo que transcende sua compreensão. Ao dizer “Não temas”, Cristo o convida a abandonar essa paralisia e confiar na graça que o capacita. Esse chamado ressoa até hoje, pois muitos temem abandonar suas seguranças para seguir um caminho espiritual mais profundo.
2. "De agora em diante": O tempo da graça e a transformação da vocação
A expressão “de agora em diante” marca uma ruptura com a vida anterior e a entrada em um novo horizonte de existência. Pedro deixa de ser apenas um pescador no sentido material para tornar-se um colaborador direto da missão salvífica de Cristo.
Esse instante representa o kairós, o tempo oportuno da graça. Deus não apenas chama, mas transforma a história pessoal daquele que responde. Pedro, um homem simples, torna-se o fundamento da Igreja. O chamado de Deus não é um evento isolado, mas um ponto de inflexão que ressignifica toda a vida daquele que é chamado.
3. "Serás pescador de homens": A vocação cristã e a missão de reunir a humanidade em Deus
A metáfora do pescador ganha um significado novo. Antes, Pedro pescava peixes para a sobrevivência; agora, sua missão é pescar homens, isto é, conduzi-los à vida verdadeira em Deus. Aqui encontramos um eco do profetismo bíblico, especialmente de Jeremias 16,16, onde Deus promete enviar pescadores para reunir o povo disperso.
Cristo utiliza a imagem da pesca para revelar o mistério da evangelização. O pescador lança suas redes no desconhecido, confia na abundância que virá e, com paciência, recolhe sua colheita. Assim também é a missão apostólica: exige fé, perseverança e a confiança de que a graça de Deus age no invisível.
A escolha de Pedro para essa missão não é arbitrária. Como pescador, ele já possuía qualidades essenciais: paciência, resistência às dificuldades, conhecimento das marés e dos tempos oportunos. Mas agora essas qualidades são elevadas à ordem espiritual, pois a pesca de homens não se baseia na habilidade humana, mas na ação do Espírito Santo.
4. A dimensão eclesial do chamado de Pedro
Este versículo também tem uma forte dimensão eclesiológica. Pedro, o primeiro a receber esse chamado explícito, tornar-se-á o líder dos apóstolos e, posteriormente, a pedra sobre a qual Cristo edificará sua Igreja (Mt 16,18). O ato de pescar homens prefigura a missão da Igreja de reunir a humanidade dispersa na unidade do Corpo de Cristo.
O chamado de Pedro reflete, de maneira paradigmática, o chamado de todo cristão: deixar as seguranças do passado, confiar na graça divina e participar da obra redentora de Cristo. A Igreja, como comunidade apostólica, continua essa missão, lançando suas redes na história para trazer almas à luz do Reino.
Conclusão: O convite para avançar ao profundo
Lucas 5,10 não é apenas um chamado direcionado a Pedro, mas um apelo universal. Todos somos convidados a deixar o medo, a confiar na Palavra de Cristo e a lançar-nos na missão de levar a verdade ao mundo. Assim como Pedro foi transformado pela presença de Cristo, também nós somos chamados a permitir que essa Palavra nos recrie, para que, lançando as redes da fé, possamos participar da grande pesca de Deus: a redenção da humanidade.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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