Liturgia Diária
6 – QUINTA-FEIRA
SÃO PAULO MIKI E COMPANHEIROS
MÁRTIRES
(vermelho, pref. comum, ou dos mártires – ofício da memória)
Os luminares da eternidade rejubilam-se na morada celeste, pois trilharam a senda de Cristo até a consumação última do ser. Por amor à Verdade, transfiguraram a própria substância em oferenda, e agora resplandecem na união inefável com o Verbo eterno.
A Revelação nos conduz ao ápice da comunhão: "Jesus, mediador da Nova Aliança", cuja luz penetra os recessos do tempo e do espírito. Foi essa certeza que impulsionou Paulo Miki e seus 25 companheiros a irradiar a fé em terras do Oriente, onde o testemunho se selou na cruz como selo indelével da transcendência. Que a sua entrega nos eleve, dissipando as sombras que velam a senda, para que avancemos com fervor rumo à plenitude do chamado divino.
Marcos 6:7-13 (Vulgata)
7 Et convocavit duodecim: et cœpit eos mittere binos, et dabat illis potestatem in spiritus immundos.
7 E chamou os doze, e começou a enviá-los dois a dois, dando-lhes poder sobre os espíritos imundos.
8 Et præcepit eis ne quid tollerent in via, nisi virgam tantum: non peram, non panem, neque in zona æs,
8 E ordenou-lhes que nada levassem para o caminho, a não ser um cajado: nem bolsa, nem pão, nem dinheiro na cintura,
9 sed calceatos sandaliis, et ne induerentur duabus tunicis.
9 mas que fossem calçados com sandálias e não vestissem duas túnicas.
10 Et dicebat eis: Quocumque introieritis in domum, illic manete, donec exeatis inde.
10 E dizia-lhes: Onde quer que entrardes em uma casa, permanecei ali até partirdes daquele lugar.
11 Et quicumque non receperint vos, nec audierint vos, exeuntes inde, excutite pulverem de pedibus vestris in testimonium illis.
11 E se em algum lugar não vos receberem nem vos ouvirem, ao sairdes dali, sacudi o pó de vossos pés em testemunho contra eles.
12 Et exeuntes prædicabant ut pœnitentiam agerent:
12 E, partindo, pregavam que se arrependessem.
13 et dæmonia multa ejiciebant, et ungebant oleo multos ægros, et sanabant.
13 E expulsavam muitos demônios, ungiam com óleo muitos enfermos e os curavam.
Reflexão:
Et convocavit duodecim: et cœpit eos mittere binos, et dabat illis potestatem in spiritus immundos.
E chamou os doze, e começou a enviá-los dois a dois, dando-lhes poder sobre os espíritos imundos. (Mc 6:7)
Essa passagem é central porque revela o envio apostólico, a missão em comunhão e a autoridade conferida por Cristo. Ela sintetiza o propósito do discipulado: sair ao encontro do mundo, sustentado não por bens materiais, mas pela força divina que liberta e transforma.
Na simplicidade do envio, manifesta-se a grandeza da missão. O chamado não está na posse, mas na entrega; não no peso dos bens, mas na leveza do espírito que se abre ao eterno. Como peregrinos do Reino, caminhamos na confiança, sustentados pela voz que nos envia. O pó dos pés sacudido não é condenação, mas testemunho da liberdade que não se detém na recusa. A autoridade sobre os espíritos não nasce do poder humano, mas da fusão com a Fonte do Amor. Cada encontro, cada palavra, cada cura são tessituras invisíveis da realidade que se converte no próprio Cristo em expansão. O mundo não é deixado para trás, mas transfigurado na marcha dos que se doam.
HOMILIA
O Chamado à Transfiguração do Mundo
Amados peregrinos da eternidade, o Evangelho de hoje (Mc 6,7-13) ressoa como um eco da origem, um chamado que atravessa os séculos e se renova no coração de cada geração. Jesus, ao enviar os doze, não os dota de riquezas ou estratégias mundanas, mas de uma força que emana do centro do ser: a comunhão com o Absoluto. O poder concedido não é domínio sobre os outros, mas autoridade para libertar, curar e instaurar a realidade do Reino no fluxo da existência.
Diante dos desafios de nosso tempo, marcados por crises de identidade, pelo domínio do efêmero e pelo afastamento da verdade essencial, essa missão se faz urgente. Somos seduzidos por seguranças ilusórias — tecnologia, acúmulo, reconhecimento — e esquecemos que o verdadeiro sustento está na simplicidade do caminho. Jesus pede que nada levemos, senão a confiança, pois só quem se esvazia pode ser plenamente preenchido pela graça.
O mundo atual é ao mesmo tempo um terreno árido e fértil. A solidão cresce em meio à conectividade, a angústia se oculta sob máscaras de sucesso, e a espiritualidade muitas vezes se dilui em buscas desordenadas. Mas há também um anseio profundo pela transcendência, um despertar que clama por sentido. Como os discípulos, somos enviados para tocar essa sede, não com discursos vazios, mas com a presença que irradia a Verdade.
E quando não nos ouvirem? Quando zombarem do que trazemos? O Mestre nos ensina a seguir adiante, a sacudir o pó dos pés, pois a luz não pode ser aprisionada pela recusa. A missão continua, pois cada gesto de amor, cada palavra de esperança, cada vida curada são partículas de eternidade que ressoam além do tempo.
Que não temamos os desafios. O envio não é um fardo, mas um chamado à transfiguração. Somos portadores de uma luz que não nos pertence, mas que através de nós ilumina. Caminhemos, pois, com pés despojados e corações ardentes, porque a marcha do Reino não conhece fim, e sua consumação já se entrelaça ao pulsar do cosmos.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
O Chamado e o Envio: A Autoridade que Transfigura
A frase "E chamou os doze, e começou a enviá-los dois a dois, dando-lhes poder sobre os espíritos imundos" (Mc 6,7) contém em si uma estrutura teológica profunda, que reflete a dinâmica do Reino de Deus, a economia da missão e a natureza da autoridade conferida por Cristo.
1. O Chamado: Eleição e Participação na Vida de Cristo
O verbo "chamou" (convocavit) remete à iniciativa divina na escolha dos discípulos. Em toda a Escritura, o chamado de Deus nunca é um mero convite, mas uma ação eficaz que transforma aquele que é escolhido. Os doze representam o novo Israel, a restauração escatológica da aliança, e seu chamado os insere na missão redentora do Filho. Aqui já vemos um princípio essencial: o chamado não é para a estagnação, mas para a configuração progressiva ao próprio Cristo.
2. O Envio: A Expansão da Presença de Cristo no Mundo
Jesus "começou a enviá-los", revelando que o discipulado não se resume a um vínculo pessoal com o Mestre, mas implica uma dinâmica de envio e expansão. O Reino de Deus não se constrói pelo recolhimento estático, mas pelo movimento que leva a verdade ao encontro das realidades humanas. O fato de serem enviados "dois a dois" denota não apenas o testemunho legítimo (Dt 19,15), mas também a dimensão eclesial da missão: ninguém anuncia o Evangelho isolado, mas em comunhão.
3. O Poder sobre os Espíritos Imundos: A Autoridade que Liberta
Cristo "dava-lhes poder sobre os espíritos imundos", o que indica uma transferência de autoridade. Este poder não é uma força autônoma, mas participação no próprio poder do Filho de Deus. Os "espíritos imundos" simbolizam tudo aquilo que desfigura a criação, impedindo-a de atingir sua plenitude. Assim, a missão apostólica não é apenas informativa, mas ontológica: trata-se de restaurar a ordem original, de reverter a corrupção espiritual e reconduzir as criaturas à sua vocação divina.
4. A Dimensão Teológica do Envio: O Cristo Cósmico em Ação
Essa passagem revela que Cristo não age sozinho, mas já antecipa a Igreja como prolongamento de sua própria missão. O envio é uma participação no mistério do próprio Cristo, que é, Ele mesmo, o Enviado do Pai (Jo 20,21). Aqui se encontra um dinamismo profundo: Deus entra no mundo em Jesus, e Jesus continua a penetrar o mundo através dos seus enviados. Assim, o envio dos doze não é apenas um ato histórico, mas uma realidade metafísica que ressoa no tecido da criação, impulsionando-a para sua consumação escatológica.
Dessa forma, essa frase não apenas narra um evento do passado, mas ilumina o presente e o futuro. Ela nos ensina que a Igreja não é uma instituição estática, mas um organismo vivo, chamado a agir, a libertar e a conduzir o mundo à sua transfiguração final no mistério de Cristo.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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