Liturgia Diária
25 – TERÇA-FEIRA
7ª SEMANA DO TEMPO COMUM
(verde – ofício do dia)
Confiei no vosso amor, Senhor. Meu coração, por vosso auxílio, rejubile, E que eu vos cante pelo bem que me fizestes! (Sl 12,6)
Em nossa jornada pela senda do existir, os desafios podem se manifestar como sombras sobre o caminho. No entanto, jamais deve faltar a centelha luminosa da confiança no Eterno: “Entrega teu ser ao Altíssimo, e Ele te sustentará em Sua providência”. Sejamos, pois, centelhas do Verbo, servindo com simplicidade e humildade, na certeza inabalável de que a Essência Divina vela por aqueles que a buscam com alma sincera e coração despojado.
Evangelium secundum Marcum 9,30-37
30 Et inde profecti prætergabantur Galilæam, nec volebat quemquam scire.
30 E, partindo dali, atravessavam a Galileia, e Ele não queria que ninguém o soubesse.
31 Docebat autem discipulos suos, et dicebat illis: Quoniam Filius hominis tradetur in manus hominum, et occident eum, et occisus tertia die resurget.
31 Pois ensinava seus discípulos, e lhes dizia: O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão; mas, morto, ao terceiro dia ressuscitará.
32 At illi ignorabant verbum: et timebant eum interrogare.
32 Eles, porém, não compreendiam esta palavra e temiam interrogá-lo.
33 Et venerunt Capharnaum. Qui cum domi esset, interrogabat eos: Quid in via tractabatis?
33 E chegaram a Cafarnaum. Quando estavam em casa, perguntou-lhes: Que discutíeis pelo caminho?
34 At illi tacebant: siquidem in via inter se disputaverant, quis esset major.
34 Mas eles se calaram, pois pelo caminho haviam discutido entre si sobre quem era o maior.
35 Et residens, vocavit duodecim, et ait illis: Si quis vult primus esse, erit omnium novissimus, et omnium minister.
35 E, assentando-se, chamou os Doze e lhes disse: Se alguém quiser ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos.
36 Et accipiens puerum, statuit eum in medio eorum: quem cum complexus esset, ait illis:
36 E, tomando uma criança, colocou-a no meio deles e, abraçando-a, disse-lhes:
37 Quisquis unum ex hujusmodi pueris receperit in nomine meo, me recipit: et quicumque me susceperit, non me suscipit, sed eum qui me misit.
37 Quem receber uma destas crianças em meu nome, a mim recebe; e quem me recebe, não me recebe a mim, mas àquele que me enviou.
Reflexão:
A frase mais importante desse trecho do Evangelho segundo Marcos pode ser considerada:
"Si quis vult primus esse, erit omnium novissimus, et omnium minister."
"Se alguém quiser ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos." (Marcos 9,35)
Essa frase sintetiza a essência do ensinamento de Cristo sobre a verdadeira grandeza, que não se encontra no domínio sobre os outros, mas na humildade e no serviço.
A grandeza verdadeira não se manifesta na conquista de poder, mas na humildade que abraça o outro com autenticidade. No caminho da existência, a elevação se dá pelo serviço, pois aquele que se coloca a favor dos pequenos toca o coração do Eterno. O ensinamento de Cristo revela que a ascensão não é privilégio, mas um chamado ao altruísmo. Quem se liberta do peso do ego e acolhe a vida com simplicidade encontra a plenitude. A verdadeira nobreza não está na imposição, mas na doação. Quando nos tornamos servidores, transcendemos a si mesmos. Na pureza do dom oferecido, o espírito se expande e se une ao princípio maior, onde tudo se realiza.
HOMILIA
O Caminho da Verdadeira Grandeza
Amados irmãos e irmãs, o Evangelho de hoje nos coloca diante de uma realidade essencial para nossa jornada: a verdadeira grandeza não se encontra na busca pelo poder, mas na humildade e no serviço. Jesus, ao anunciar sua paixão e ressurreição, encontra discípulos preocupados com sua posição e status. Ele, então, os ensina que aquele que quiser ser grande deve ser o último e o servo de todos (Mc 9,35).
Vivemos em um tempo em que a competição permeia todos os aspectos da vida. No trabalho, nas redes sociais, na política e até nos relacionamentos interpessoais, o desejo de se destacar, de ser reconhecido e de estar no topo parece ser o motor que impulsiona muitos. No entanto, Cristo nos apresenta um horizonte completamente diferente. Ele nos mostra que o verdadeiro crescimento não acontece quando subjugamos o outro, mas quando nos colocamos a serviço.
O progresso de nossa sociedade não depende apenas da força daqueles que comandam, mas da capacidade de cada um de contribuir com o bem comum. A liberdade e a criatividade florescem quando deixamos de lado a busca pelo domínio e abraçamos a colaboração. Quem deseja um mundo mais justo e harmonioso precisa aprender que a ascensão verdadeira não é medida em degraus de poder, mas na profundidade do amor ofertado.
Jesus coloca uma criança no meio dos discípulos, um ser pequeno e sem influência, para dizer que acolher o simples é acolher o próprio Deus (Mc 9,37). Em nossos dias, onde a pressa e a indiferença nos afastam do outro, essa imagem nos desafia a resgatar a compaixão. A grandeza não está em quantos nos obedecem, mas em quantos somos capazes de elevar com nosso exemplo.
Diante dos desafios do presente, onde o individualismo pode nos tornar insensíveis e a ânsia por reconhecimento pode nos afastar da verdade, Jesus nos convida a uma transformação interior. Servir não é sinal de fraqueza, mas de plenitude. Quem se doa, cresce; quem acolhe, expande-se; quem ama, transcende. Somente assim caminhamos para a verdadeira realização, onde nossa existência se alinha ao chamado divino de sermos luz no mundo.
Que possamos, então, escolher o caminho do serviço e da humildade, pois nele está a verdadeira grandeza que nos conduz à plenitude.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A Paradoxa Grandeza do Serviço: Reflexão Teológica sobre Marcos 9,35
A frase de Jesus em Marcos 9,35 — "Se alguém quiser ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos." — revela uma inversão radical das concepções humanas de grandeza e poder. Enquanto o mundo frequentemente associa primazia à dominação e à autoridade, Cristo apresenta uma lógica que transcende os valores terrenos e nos introduz em uma dinâmica espiritual e escatológica.
1. A Grandeza que se Esvazia
A estrutura da frase de Jesus é paradoxal: querer ser o primeiro implica, segundo Ele, tornar-se o último e servo de todos. Esse ensinamento remete à própria kenosis (Filipenses 2,7), o autoesvaziamento de Cristo, que, sendo Deus, assumiu a condição de servo e se humilhou até a morte de cruz. Assim, a primazia, no Reino de Deus, não se alcança pela exaltação própria, mas pelo caminho da entrega total.
O "último de todos" não é apenas uma posição de humildade social, mas uma disposição interior que reconhece a dignidade do outro e se coloca em atitude de serviço. O próprio Jesus, ao lavar os pés dos discípulos (João 13,12-15), concretiza esse princípio, demonstrando que a autoridade no Reino não se exerce por imposição, mas pelo dom de si.
2. O Serviço como Caminho de Transformação
A palavra "servo" no original grego é diákonos, que indica aquele que serve ativamente, aquele que se doa para o bem do outro. Diferente da escravidão imposta (doulos), o diákonos escolhe livremente servir, movido pelo amor. Esse conceito é essencial para a teologia do Reino, pois revela que o serviço não é um meio para um fim, mas o próprio caminho da realização humana.
O que Cristo propõe não é um mero altruísmo, mas uma transformação ontológica: aquele que se faz servo entra em comunhão com a própria missão de Deus. No Evangelho de João, Jesus afirma: "O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos." (Marcos 10,45). O serviço, então, não é uma perda, mas um caminho de plenitude.
3. O Último que é o Primeiro: A Lógica Escatológica do Reino
No Reino de Deus, as categorias humanas são invertidas. Ser "o último" não significa ser insignificante, mas estar mais próximo da verdade do amor divino, que é puro dom. Jesus ensina que aqueles que buscam a primazia por glória terrena acabarão na ilusão do poder efêmero, enquanto aqueles que vivem na humildade e no serviço encontrarão a verdadeira exaltação em Deus.
Essa exaltação, contudo, não é entendida em termos de superioridade sobre os outros, mas de participação mais plena na comunhão divina. Os santos e os mártires da história cristã são testemunhas dessa verdade: aqueles que se rebaixaram por amor foram elevados à glória da eternidade.
4. Implicações para a Vida Cristã
A frase de Jesus exige uma conversão profunda da mentalidade humana. No mundo atual, onde o sucesso é frequentemente medido pela competição e pela autopromoção, Cristo nos desafia a uma lógica diferente. O verdadeiro líder não é aquele que domina, mas aquele que serve. O verdadeiro vencedor não é aquele que impõe sua vontade, mas aquele que se entrega por amor.
Para vivermos essa verdade, precisamos nos despojar da busca egoísta de reconhecimento e abraçar a humildade como caminho de crescimento. No serviço ao próximo, encontramos a liberdade, pois nos tornamos semelhantes ao próprio Cristo, que fez do amor sua única autoridade.
Assim, Marcos 9,35 não é apenas um conselho moral, mas uma revelação do modo como Deus age no mundo. A grandeza autêntica não está no acúmulo de poder, mas na capacidade de amar sem medidas. Quem se faz servo, entra no coração do mistério divino, onde o último se torna o primeiro e o serviço é a chave para a eternidade.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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