sábado, 1 de fevereiro de 2025

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: Marcos 5:1-20 - 03.02.2025

 Liturgia Diária


3 – SEGUNDA-FEIRA 

4ª SEMANA DO TEMPO COMUM


(verde – ofício do dia da 4ª semana)


Salvai-nos, Senhor nosso Deus, e do meio das nações nos congregai, para ao vosso nome agradecer e para termos nossa glória em vos louvar! (Sl 105,47)

A manifestação do Divino em nossa existência nos convida a reconhecer e irradiar a essência do Bem que emana da Fonte Suprema: “Anuncia-lhes tudo o que o Senhor, em sua infinita misericórdia, realizou em ti.” Que a Luz da Verdade nos conceda discernimento, intuição e firmeza para refletirmos e expandirmos a plenitude de Seu Reino.



Marcos 5:1-20 (Vulgata)

1 Et venerunt trans fretum maris in regionem Gerasenorum.
E chegaram à outra margem do mar, à região dos gerasenos.

2 Et exeunti ei de navi, statim occurrit ei de monumentis homo in spiritu immundo,
E, ao sair Ele da barca, logo veio ao seu encontro, dos sepulcros, um homem com espírito impuro,

3 qui domicilium habebat in monumentis, et neque catenis jam quisquam poterat eum ligare,
o qual habitava nos sepulcros, e ninguém podia mais prendê-lo, nem mesmo com correntes.

4 quoniam saepe compedibus et catenis vinctus, dirupisset catenas, et compedes comminuisset, et nemo poterat eum domare.
Pois muitas vezes havia sido preso com grilhões e correntes, mas as correntes havia rompido e os grilhões despedaçado, e ninguém podia dominá-lo.

5 Et semper die ac nocte in monumentis et in montibus erat, clamans et concidens se lapidibus.
E andava sempre, de dia e de noite, nos sepulcros e nos montes, gritando e ferindo-se com pedras.

6 Videns autem Jesum a longe, cucurrit et adoravit eum,
Vendo, porém, Jesus de longe, correu e prostrou-se diante d’Ele,

7 et clamans voce magna, dixit: Quid mihi et tibi, Jesu Fili Dei altissimi? Adjuro te per Deum, ne me torqueas.
E, clamando com grande voz, disse: Que há entre mim e Ti, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Conjuro-Te por Deus que não me atormentes.

8 Dicebat enim illi: Exi, spiritus immunde, ab homine.
Pois Ele lhe dizia: Sai deste homem, espírito impuro.

9 Et interrogabat eum: Quod tibi nomen est? Et dicit ei: Legio nomen mihi est, quia multi sumus.
E perguntou-lhe: Qual é o teu nome? E ele lhe disse: Legião é o meu nome, porque somos muitos.

10 Et deprecabatur eum multum, ne se expelleret extra regionem.
E suplicava-lhe muito que não os expulsasse daquela região.

11 Erat autem ibi circa montem grex porcorum magnus pascens.
Ora, havia ali junto ao monte uma grande manada de porcos que pastavam.

12 Et deprecabantur eum spiritus, dicentes: Mitte nos in porcos, ut in eos introeamus.
E os espíritos suplicavam-Lhe, dizendo: Manda-nos para os porcos, para que entremos neles.

13 Et concessit eis statim Jesus. Et exeuntes spiritus immundi introierunt in porcos; et magno impetu grex præcipitatus est in mare ad duo millia, et suffocati sunt in mari.
E Jesus logo lhes permitiu. E, saindo, os espíritos impuros entraram nos porcos; e a manada precipitou-se com ímpeto no mar, eram cerca de dois mil, e afogaram-se no mar.

14 Qui autem pascebant eos, fugerunt, et nuntiaverunt in civitatem et in agros. Et egressi sunt videre quid esset facti.
Os que os apascentavam fugiram e contaram tudo na cidade e nos campos. E saíram para ver o que havia acontecido.

15 Et veniunt ad Jesum: et vident illum qui a daemonio vexabatur, sedentem, vestitum, et sanum mente, et timuerunt.
E vieram a Jesus e viram aquele que fora possesso pelo demônio, sentado, vestido e em seu juízo, e tiveram medo.

16 Et narraverunt illis qui viderant, qualiter factum esset ei qui daemonium habuerat, et de porcis.
E os que haviam visto contaram-lhes como acontecera com o endemoninhado e acerca dos porcos.

17 Et rogare cœperunt eum ut discederet de finibus eorum.
E começaram a rogar-lhe que se retirasse de seu território.

18 Cumque ascenderet navim, qui daemonio vexatus fuerat, deprecabatur eum ut esset cum illo.
E, ao entrar Ele na barca, o que fora possesso pelo demônio rogava-lhe para estar com Ele.

19 Et non admisit eum, sed ait illi: Vade in domum tuam ad tuos, et annuntia illis quanta tibi Dominus fecerit, et misertus sit tui.
Mas não lhe permitiu, antes lhe disse: Vai para tua casa, para os teus, e anuncia-lhes tudo o que o Senhor te fez e como teve misericórdia de ti.

20 Et abiit, et cœpit prædicare in Decapoli quanta sibi fecisset Jesus, et omnes mirabantur.
E ele foi e começou a proclamar na Decápole tudo o que Jesus lhe fizera, e todos se maravilhavam.


Reflexão:

Et non admisit eum, sed ait illi: Vade in domum tuam ad tuos, et annuntia illis quanta tibi Dominus fecerit, et misertus sit tui.
Mas não lhe permitiu, antes lhe disse: Vai para tua casa, para os teus, e anuncia-lhes tudo o que o Senhor te fez e como teve misericórdia de ti. (Marcos 5,19)

Essa frase sintetiza a missão do restaurado: testemunhar a ação divina, mostrando que a verdadeira transformação não consiste apenas na libertação, mas na proclamação do que foi recebido.

A transformação do endemoninhado revela o mistério da redenção: o ser humano, prisioneiro das forças que obscurecem sua consciência, encontra libertação no Verbo que ordena e reintegra. A palavra de Cristo dissipa os fragmentos caóticos da alma e a restitui à unidade primordial. Mas a libertação não é fuga; é missão. Como o homem curado, somos chamados a testemunhar a luz que nos despertou do abismo. O verdadeiro milagre não está apenas na cura visível, mas na transfiguração interior que faz do restaurado um portador da verdade, anunciando que a plenitude não se impõe, mas se revela na entrega à ação do Eterno.


HOMILIA

A Libertação Interior e a Plenitude do Ser

O Evangelho segundo Marcos (5,1-20) nos apresenta a poderosa cena da libertação do endemoninhado geraseno. Um homem aprisionado pelas forças do caos, vivendo entre os mortos, ferindo-se continuamente, distante da verdadeira vida. Sua existência é uma imagem da alma fragmentada, do ser humano que perdeu a centralidade e a harmonia, mergulhado em angústias e desordens que parecem intransponíveis. Mas eis que surge Cristo, a Palavra que ordena, a Luz que reintegra, e o homem é restaurado à sua plenitude.

O que essa passagem nos diz hoje, em um mundo tão saturado de ruídos, ansiedades e contradições? Se olharmos ao nosso redor, veremos que muitos vivem a mesma experiência do geraseno: aprisionados, não por correntes visíveis, mas por forças internas que os dilaceram. São os medos que paralisam, as vozes que confundem, as ideologias que fragmentam, os excessos que nos tornam reféns de impulsos desordenados. O homem moderno, imerso em tecnologia e progresso, muitas vezes sente-se desconectado de si mesmo, como se sua identidade estivesse dispersa em mil direções, sem unidade, sem centro.

Cristo atravessa o mar e chega àquele território não apenas para libertar um homem, mas para revelar um princípio eterno: a libertação verdadeira não vem da mera ruptura com os males externos, mas da restauração da harmonia interior. A sociedade busca curas superficiais para os males que nos afligem, mas apenas aquele que ordena com autoridade pode restituir a paz autêntica. O homem curado é reencontrado “sentado, vestido e em seu juízo” – símbolo da alma que retorna à sua condição original, centrada, iluminada, integrada.

Contudo, o episódio nos reserva uma surpresa: quando o geraseno, já restaurado, pede para seguir com Cristo, Ele lhe dá uma missão diferente. Não deve fugir, mas permanecer e testemunhar. Isso nos ensina que a verdadeira conversão não é evasão do mundo, mas transformação do mundo a partir do que recebemos. Somos chamados a levar a centelha da Luz ao cotidiano, às nossas relações, às estruturas que nos cercam, ao nosso tempo. A salvação não nos isola, mas nos faz pontes do divino na história.

A cidade rejeita Cristo por medo da mudança. Muitos preferem a ordem decadente ao choque da verdade. Hoje, não é diferente: quantos resistem ao Evangelho porque ele desafia suas seguranças, seus hábitos, suas visões do mundo? Mas aquele que foi tocado pela misericórdia não se cala. O geraseno, antes habitante da morte, torna-se anunciador da vida. E assim, a libertação que começou em um só homem se expande para muitos, revelando que o Reino não avança pela imposição, mas pela irradiação da presença divina em cada um de nós.

Que possamos, também nós, permitir que Cristo ordene nossos abismos, reintegre nossa essência e nos faça testemunhas da plenitude do ser.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

A Missão do Restaurado: A Testemunha da Misericórdia

A frase de Marcos 5,19 – "Mas não lhe permitiu, antes lhe disse: Vai para tua casa, para os teus, e anuncia-lhes tudo o que o Senhor te fez e como teve misericórdia de ti." – é uma síntese da dinâmica salvífica operada por Cristo e da missão confiada àqueles que experimentam a graça da libertação.

1. A Negação que Revela uma Missão

O pedido do geraseno curado parece natural: tendo sido libertado por Jesus, deseja segui-Lo fisicamente, tornando-se um de Seus discípulos diretos. Contudo, Cristo não o permite, e essa recusa é teologicamente significativa. Diferentemente de outros chamados – como os apóstolos que deixam tudo para segui-Lo –, este homem é enviado de volta ao seu mundo cotidiano, indicando que nem toda vocação se manifesta no afastamento da realidade, mas muitas vezes na reintegração transformadora nela.

A libertação operada por Cristo não é uma fuga do mundo, mas uma redenção dentro do mundo. A salvação não se concretiza no isolamento espiritual, mas no testemunho que se encarna no ordinário da vida. O geraseno não é chamado a uma peregrinação externa, mas a uma peregrinação interior, levando consigo a luz da experiência divina.

2. A Casa e os Seus: O Retorno ao Lugar Original

Ao ordenar-lhe que vá para sua casa e para os seus, Jesus aponta para a dimensão comunitária da graça recebida. O homem antes estava alienado de sua própria existência, vivendo entre os túmulos, símbolo da morte espiritual e do exílio interior. Sua libertação não é apenas pessoal, mas restauradora das relações. O pecado e a desordem fragmentam; a graça reúne e reintegra.

O primeiro campo de missão do restaurado é a sua própria casa, sua família, seus próximos. Essa ordem de Cristo desvela um princípio fundamental: o testemunho do Reino começa nos vínculos humanos mais essenciais. Muitas vezes, buscamos grandes feitos espirituais, mas esquecemos que o maior desafio da santidade é viver a graça no cotidiano.

3. O Anúncio da Misericórdia: O Evangelho Encarnado

A missão confiada ao ex-endemoninhado não é simplesmente propagar uma doutrina ou repetir palavras, mas ser testemunha viva da misericórdia divina. Ele não é chamado a argumentar teologicamente, mas a narrar aquilo que experimentou em sua carne e alma: a transformação operada por Deus em sua história.

Esse aspecto é crucial: o verdadeiro anúncio do Evangelho não é teórico, mas existencial. O mundo não precisa apenas de explicações, mas de vidas que encarnem a redenção, que manifestem a força do amor divino na realidade concreta.

A misericórdia divina não apenas perdoa, mas reintegra, ressignifica e reordena. O homem que antes estava despido e errante agora está vestido e em seu perfeito juízo (Mc 5,15). Essa restauração é uma imagem da própria obra da salvação, que não apenas liberta do mal, mas conduz à plenitude do ser.

4. O Contraste com os Habitantes da Cidade

Enquanto o geraseno curado recebe uma missão, os habitantes da cidade, por medo, rejeitam a presença de Cristo e pedem que Ele se retire (Mc 5,17). O que isso significa?

A misericórdia divina nem sempre é bem recebida. Há um custo na presença transformadora de Deus: Ele desafia estruturas, rompe confortos, expõe a necessidade de conversão. Os gerasenos, mesmo diante do milagre, escolhem o medo em vez da fé.

Aqui, o restaurado se torna um profeta em meio à resistência. Sua missão não é apenas anunciar a graça recebida, mas fazê-lo em um ambiente que talvez não o compreenda. No entanto, esse testemunho silencioso é muitas vezes mais eloquente do que qualquer discurso.

Conclusão: A Teologia da Restauração e do Testemunho

A recusa de Cristo em levar consigo o geraseno liberto revela que a verdadeira transformação não se dá na fuga do mundo, mas na santificação do mundo através da presença daqueles que foram tocados por Deus.

O testemunho cristão não se reduz a proclamar verdades abstratas, mas a irradiar a própria vida convertida. O Reino de Deus avança não apenas pela pregação, mas pela encarnação da misericórdia em cada relação humana.

Assim, como o geraseno restaurado, somos chamados a retornar ao nosso mundo não como éramos, mas como novos portadores da graça que nos transformou, anunciando ao mundo não apenas com palavras, mas com a vida, aquilo que Deus fez por nós.

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA

Leia também:

Primeira Leitura

Segunda Leitura

Salmo

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Santo do dia

Oração Diária

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