Liturgia Diária
12 – QUARTA-FEIRA
5ª SEMANA DO TEMPO COMUM
(verde – ofício do dia)
Vinde, adoremos e prostremo-nos por terra, e ajoelhemo-nos ante o Deus que nos criou! Porque ele é o nosso Deus, nosso Pastor (Sl 94,6s).
O Princípio Supremo emana a essência do ser e o integra no fulcro da manifestação, concedendo-lhe a centelha necessária para sua plenitude ontológica. Poderá a consciência humana alinhar-se à Vontade que a sustenta, mantendo-se na harmonia do desígnio eterno? Com íntima pureza, elevemos nosso espírito em reconhecimento à Fonte, aspirando à transfiguração do nosso ser.
Evangelium secundum Marcum 7,14-23
14 Et advocans iterum turbam, dicebat illis: Audite me omnes, et intelligite.
14 E, chamando outra vez a multidão, dizia-lhes: Ouvi-me todos, e compreendei.
15 Nihil est extra hominem introëdiens in eum, quod possit eum coinquinare; sed quae de homine procedunt, illa sunt quae coinquinant hominem.
15 Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa contaminar; mas o que sai do homem, isso é o que o contamina.
16 Si quis habet aures audiendi, audiat.
16 Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça.
17 Et cum introisset in domum a turba, interrogabant eum discipuli eius parabolam.
17 E quando entrou em casa, deixando a multidão, os seus discípulos o interrogavam sobre a parábola.
18 Et ait illis: Sic et vos imprudentes estis? Non intelligitis quia omne extrinsecus introëdiens in hominem, non potest eum coinquinare:
18 E disse-lhes: Também vós sois assim sem entendimento? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não pode contaminá-lo,
19 quia non intrat in cor eius, sed in ventrem vadit, et in secessum exit, purgans omnes escas?
19 porque não entra no seu coração, mas no ventre, e sai para fora, purificando assim todos os alimentos?
20 Dicebat autem, quoniam quae de homine exeunt, illa coinquinant hominem.
20 E dizia: O que sai do homem, isso é o que contamina o homem.
21 Ab intus enim de corde hominum malæ cogitationes procedunt, adulteria, fornicationes, homicidia,
21 Porque do interior do coração dos homens procedem os maus pensamentos, os adultérios, as fornicações, os homicídios,
22 furta, avaritiæ, nequitiæ, dolus, impudicitia, oculus malus, blasphemia, superbia, stultitia.
22 os furtos, as avarezas, as maldades, o engano, a impureza, o olhar invejoso, a blasfêmia, a soberba, a insensatez.
23 Omnia hæc mala ab intus procedunt, et coinquinant hominem.
23 Todas essas coisas más procedem do interior e contaminam o homem.
Reflexão:
Nihil est extra hominem introëdiens in eum, quod possit eum coinquinare; sed quae de homine procedunt, illa sunt quae coinquinant hominem.
Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa contaminar; mas o que sai do homem, isso é o que o contamina. (Mc 7:15)
Essa passagem revela a essência do ensinamento de Cristo sobre a pureza verdadeira, deslocando o foco das aparências externas para a interioridade do ser humano, onde se encontram as verdadeiras fontes do bem e do mal.
A pureza não é um estado externo, mas a convergência do ser à Fonte que o sustenta. O Reino não se constrói pela ilusão das aparências, mas pelo alinhamento do coração com o eterno movimento da Verdade. O espírito que se dispersa na sombra das próprias trevas afasta-se do eixo que ordena todas as coisas. O caminho do homem não é apenas evitar o mal externo, mas reconhecer a raiz que dele brota em sua interioridade. O verdadeiro progresso é a ascensão do ser em direção à sua síntese última, onde nada impuro pode subsistir. A purificação não é obra da matéria, mas da interioridade convertida à luz. Quem vê a si mesmo no desígnio divino, encontra o sentido de sua existência. Pois apenas os que emergem da superfície da ilusão atingem a plenitude do real.
HOMILIA
O Caminho da Transformação Humana
Queridos irmãos e irmãs,
No Evangelho de Marcos, capítulo 7, versículos 14 a 23, Jesus nos revela a profundidade da verdadeira purificação. Ele nos desafia a olhar além das aparências, a superar a superficialidade das normas externas e a reconhecer que a verdadeira contaminação vem de dentro de nós. Jesus nos convida a compreender que a verdadeira conversão não se dá em ações externas ou no simples cumprimento de regras, mas no coração humano, naquilo que surge de sua interioridade.
Em um mundo que constantemente nos exige respostas rápidas e superficiais, em que nos perdemos nas aparências e nos padrões impostos pela sociedade, a mensagem de Cristo se faz mais necessária do que nunca. Estamos rodeados de uma multiplicidade de informações, de um turbilhão de opiniões e valores que moldam nossas decisões, mas será que estamos verdadeiramente em sintonia com a essência do nosso ser? Será que conseguimos olhar para dentro e discernir a raiz de nossas ações e pensamentos?
O que Jesus nos ensina, neste evangelho, é que a verdadeira transformação começa quando reconhecemos a nossa responsabilidade interior. O mal não está apenas no que é externo, nas circunstâncias ou nos outros, mas naquilo que brota do coração humano. As más intenções, as mentiras, os egoísmos, os rancores, as invejas – todos esses elementos em nós são os verdadeiros obstáculos ao nosso crescimento e à nossa purificação.
E, ao mesmo tempo, o Cristo nos oferece uma visão de esperança. Ele não nos abandona na escuridão do nosso próprio ser, mas nos chama a uma caminhada de conversão que não é apenas um esforço superficial, mas uma verdadeira transfiguração daquilo que somos em essência. Ele nos ensina que somos chamados a integrar, a harmonizar e a purificar tudo o que há de humano em nós, de modo que possamos refletir, em nosso cotidiano, a luz do Criador.
Nosso mundo contemporâneo está marcado por tensões, desafios e crises existenciais. A busca pela felicidade externa, o consumismo desenfreado, a busca pelo poder e pelo status – tudo isso nos distancia da verdadeira paz. Vivemos um paradoxo: nunca estivemos tão conectados, mas ao mesmo tempo, nunca fomos tão solitários. O que nos falta, muitas vezes, é a capacidade de nos reconectarmos com a nossa essência, de reconhecermos que a verdadeira paz e a verdadeira transformação vêm de dentro.
A purificação que Jesus nos propõe, então, não é uma purificação que ocorre por meio de regras externas ou de comportamentos impostos. Ela é, acima de tudo, uma reconciliação interior, uma volta ao centro de nós mesmos, onde Deus habita, onde somos chamados a reconhecer o potencial divino que nos foi dado. Somente quando nos reconhecemos como seres criados à imagem e semelhança de Deus, somos capazes de transformar o que há de negativo em nós e nas nossas relações.
O apelo de Jesus, portanto, é um apelo à autenticidade. Não podemos ser transformados se continuarmos a viver como se fôssemos apenas as nossas ações ou o que o mundo espera de nós. Precisamos olhar para o interior, reconhecer nossas fraquezas e, com humildade, buscar a verdadeira purificação. Não se trata de uma pureza exterior, mas da pureza do coração, da intenção, do desejo de viver conforme a Verdade que nos foi revelada.
Em nossos tempos, mais do que nunca, somos chamados a esse caminho de conversão. Em meio aos desafios da vida moderna, que nos empurram para fora de nós mesmos, é necessário recolher-se e buscar a verdadeira transformação, que não é feita pela busca incessante de novas soluções externas, mas pela reconciliação com a essência divina que nos habita.
Hoje, Jesus nos chama a ir além da superficialidade das coisas. Ele nos convida a uma transformação profunda, que passa pela nossa interioridade, que nos desafia a purificar nossos corações e a nos alinhar com a verdadeira missão que nos foi dada: a de viver com amor, com sinceridade, com integridade e com a verdadeira sabedoria. Não podemos continuar vivendo em fragmentos; devemos buscar a unidade do nosso ser, que só é alcançada quando deixamos a luz divina entrar e transformar tudo o que somos.
Que possamos, então, acolher esse convite de Jesus. Que, no silêncio de nossos corações, possamos descobrir o caminho da verdadeira purificação, não como uma imposição externa, mas como um caminho de reconciliação com nossa própria natureza divina.
Amém.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A Origem da Impureza: A Interioridade como Fonte da Contaminação
A frase de Jesus em Marcos 7,15 — "Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa contaminar; mas o que sai do homem, isso é o que o contamina." — revela uma profunda verdade teológica sobre a natureza do pecado, da moralidade e da transformação espiritual. Aqui, Cristo desloca a noção de impureza do campo ritual e externo para o âmbito interior, onde residem as intenções, os desejos e as disposições do coração humano.
1. Superando a Pureza Ritualística
No contexto judaico da época, a impureza era frequentemente associada a alimentos proibidos, ao contato com objetos ou pessoas impuras e ao cumprimento estrito de prescrições rituais. Os fariseus e escribas enfatizavam essas práticas como essenciais para manter uma relação íntegra com Deus. No entanto, Jesus inverte essa lógica: a verdadeira impureza não é adquirida por fatores externos, mas nasce do interior do ser humano.
2. A Contaminação Como Manifestação do Coração
O ensinamento de Cristo nos leva a refletir sobre a raiz do mal. O pecado não é um elemento que "entra" no homem de maneira passiva, mas uma realidade que brota do próprio coração. As ações externas são reflexos de uma disposição interior. Como Jesus explica nos versículos seguintes, "do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as fornicações, os homicídios" (Mc 7,21). O coração, na Bíblia, representa o centro da vontade, do pensamento e da consciência moral. Assim, a contaminação surge quando o homem age conforme impulsos desordenados e não segundo a luz divina.
3. A Liberdade e a Responsabilidade Moral
Essa passagem também tem implicações fundamentais para a teologia da liberdade. Se a impureza vem de dentro, então o ser humano é responsável por suas ações. Não se pode culpar unicamente as circunstâncias externas ou influências alheias pela corrupção moral. Deus concede ao homem a capacidade de ordenar suas inclinações ao bem ou ao mal. Assim, a conversão genuína não está em evitar coisas externas, mas em transformar o próprio interior, buscando a conformidade com a vontade divina.
4. A Interioridade e a Salvação
Ao afirmar que "o que sai do homem é o que o contamina", Jesus aponta para a necessidade de um processo de purificação interior. Isso remete ao conceito de metanoia (μετάνοια), a mudança profunda da mente e do coração. A verdadeira salvação não consiste apenas em seguir normas exteriores, mas em permitir que a graça divina transforme o ser humano por dentro. Assim, a purificação não é algo imposto de fora, mas um caminho de regeneração que parte da alma e se reflete nas ações.
5. O Chamado à Autenticidade
Essa afirmação de Jesus também nos alerta contra a hipocrisia religiosa. Não basta observar regras externas se o coração permanece endurecido. Esse ensinamento ressoa com as palavras do profeta Isaías, citadas por Jesus pouco antes: "Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim" (Mc 7,6; Is 29,13). Deus não deseja apenas gestos rituais, mas uma adoração que brota da sinceridade do coração.
Conclusão
A frase de Marcos 7,15 revela um ensinamento essencial sobre a natureza do pecado e da purificação espiritual. Cristo ensina que a verdadeira santidade não depende do que entra no homem, mas do que dele sai. Isso significa que a transformação do mundo começa na conversão interior, na purificação do coração e na busca sincera pela verdade. Esse chamado ressoa até os dias de hoje, nos convidando a um exame de consciência e à vivência de uma fé autêntica, enraizada na integridade e no amor de Deus.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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