Liturgia Diária
17 – SEGUNDA-FEIRA
6ª SEMANA DO TEMPO COMUM
(verde – ofício do dia)
Sede para mim um Deus protetor e um lugar de refúgio, para me salvar. Porque sois minha força e meu refúgio e, por causa do vosso nome, me guiais e sustentais (Sl 30,3s).
Deus é a origem e o sustentáculo do Ser, convocando-nos à comunhão essencial, e não à negação do outro. A existência, manifestação do princípio divino, pede-nos reverência tanto em nós quanto nos que caminham ao nosso lado, para que nossa jornada ressoe como testemunho vivo da Verdade, assim como foi a de Cristo.
Marcus 8,11-13
11 Et exierunt pharisæi, et cœperunt conquirere cum eo, quærentes ab illo signum de cælo, tentantes eum.
11 E saíram os fariseus e começaram a discutir com Ele, pedindo-Lhe um sinal do céu, para O pôr à prova.
12 Et ingemiscens spiritu, ait: Quid generatio ista signum quærit? Amen dico vobis, si dabitur generationi isti signum.
12 E, suspirando em seu espírito, disse: Por que esta geração pede um sinal? Em verdade vos digo, não será dado sinal a esta geração.
13 Et dimittens eos, ascendens iterum abiit trans fretum.
13 E, deixando-os, subiu novamente na barca e partiu para o outro lado.
Reflexão:
"Quid generatio ista signum quærit? Amen dico vobis, si dabitur generationi isti signum."
"Por que esta geração pede um sinal? Em verdade vos digo, não será dado sinal a esta geração." (Mc 8:12)
A busca pelo sinal exterior obscurece a percepção da verdade que já pulsa no coração do mundo. O olhar que exige provas ignora que a própria realidade é um contínuo desvelar do divino. A espera pelo extraordinário ofusca a revelação cotidiana da presença que sustenta tudo. Jesus recusa-se a alimentar a ilusão do milagre como ruptura, pois o verdadeiro sinal é a própria ascensão do espírito no fluxo do tempo. A travessia do mar ressoa como metáfora da passagem interior que poucos ousam empreender. A geração que pede sinais olha para fora, enquanto o chamado convida ao mergulho profundo no real. A presença do Cristo não é espetáculo, mas a semente que fecunda o vir-a-ser.
HOMILIA
O Sinal que Já Habita em Nós
No Evangelho de hoje, os fariseus pedem um sinal do céu, um prodígio que valide a presença divina. Jesus, porém, suspira profundamente e nega-lhes esse pedido. Sua recusa não nasce da severidade, mas da clareza de que a verdade não se impõe por espetáculos, e sim pela revelação silenciosa que transforma o olhar.
Nos dias atuais, vivemos cercados por demandas semelhantes. Esperamos sinais incontestáveis para acreditar no bem, na justiça e na transcendência do espírito. Desejamos provas tangíveis de que a esperança não é vã, que o amor ainda pode redimir o mundo, que a ordem da existência não é um caos sem sentido. E, no entanto, a presença divina continua a se revelar nas sutilezas do real, esperando que o olhar desperto a reconheça.
O risco dos fariseus é o mesmo que enfrentamos: buscar fora aquilo que já pulsa dentro. Vivemos em uma era de conhecimento sem precedentes, onde as ciências desvelam os mistérios do universo e a tecnologia amplia nossa percepção. Mas, ao mesmo tempo, cresce o vazio daqueles que, mesmo diante da imensidão do saber, não encontram sentido. Perdemos a capacidade de ver que a luz que buscamos já brilha na estrutura mesma da realidade.
Jesus não oferece um milagre arbitrário; Ele é o próprio sinal. Sua vida, sua entrega, sua ressurreição são a manifestação de que a verdade não se impõe pela força, mas atrai pelo amor. E assim nos convida a uma conversão do olhar: não esperar o extraordinário, mas ver o extraordinário no que já é.
A geração que pede sinais continua entre nós, mas também continua o chamado à travessia. A barca de Cristo não leva a um porto de certezas exteriores, mas à descoberta de que o Reino já está entre nós. Que tenhamos olhos para ver e coragem para viver essa verdade.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
O Signo da Verdade e a Ilusão do Sinal
A frase de Jesus em Marcos 8,12 – "Por que esta geração pede um sinal? Em verdade vos digo, não será dado sinal a esta geração." – é uma resposta densa e decisiva ao espírito de incredulidade que busca provas exteriores para validar a presença divina.
Para compreender sua profundidade, devemos situá-la no contexto da revelação. Os fariseus, representantes de uma mentalidade religiosa que condicionava a verdade a manifestações visíveis e extraordinárias, exigem de Cristo um sinal "do céu". Esse pedido não é um ato de fé, mas de resistência ao reconhecimento da verdade já presente. O desejo pelo sinal revela uma postura de fechamento espiritual: em vez de acolher a revelação que se manifesta na própria pessoa de Jesus, tentam submeter Deus a um critério externo e controlável.
Jesus suspira profundamente antes de responder. Esse detalhe revela sua dor diante da cegueira de uma geração que, tendo diante de si a plenitude da revelação, persiste em exigir provas. Esse suspiro é um eco da lamentação dos profetas sobre o endurecimento do coração de Israel: "Tendes olhos e não vedes, ouvidos e não ouvis" (cf. Jr 5,21; Ez 12,2). O sinal já estava dado, mas eles não o enxergavam.
A negativa de Jesus – "não será dado sinal a esta geração" – não significa a ausência de sinais na história da salvação, mas sim a recusa de uma fé baseada no sensacionalismo e na busca pelo espetáculo. O verdadeiro sinal é a própria encarnação do Verbo, a presença divina no ordinário da existência, a revelação de Deus na simplicidade do amor e na verdade que não se impõe, mas convida.
Esse ensinamento tem um impacto teológico profundo. Ele nos lembra que Deus não se reduz a fenômenos extraordinários, mas se manifesta na coerência da sua própria Verdade. A ressurreição, o maior de todos os sinais, não é um espetáculo para convencer os céticos, mas um chamado para aqueles que têm olhos para ver e corações para compreender.
Nos dias de hoje, a busca por sinais permanece viva. Muitos esperam que Deus se revele de forma incontestável, como se a fé devesse ser substituída por uma evidência irrefutável. No entanto, a lógica do Reino é outra: os sinais de Deus não são imposições, mas convites. Eles não anulam a liberdade, mas exigem a abertura do coração. A geração que busca sinais ainda existe, mas a resposta de Cristo continua a mesma: o maior sinal já nos foi dado, basta que tenhamos olhos para ver.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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