Liturgia Diária
4 – TERÇA-FEIRA
4ª SEMANA DO TEMPO COMUM
(verde – ofício do dia)
Salvai-nos, Senhor nosso Deus, e do meio das nações nos congregai, para ao vosso nome agradecer e para termos nossa glória em vos louvar! (Sl 105,47)
Cristo manifesta a plenitude do Ser àqueles que nele depositam sua essência, libertando-os das sombras que obscurecem a existência sensível e transcendental. Celebremos Aquele que, em nós, inicia e consuma a edificação da Verdade, conduzindo-nos à unidade que transcende toda fragmentação e acolhendo cada alma no seio da eterna comunhão, sem distinções.
Marcos 5:21-43 (Vulgata)
21 Et cum transcendisset Jesus in navi rursus trans fretum, convenit turba multa ad eum, et erat circa mare.
E quando Jesus atravessou novamente de barco para o outro lado, reuniu-se ao seu redor uma grande multidão, e ele estava junto ao mar.
22 Et venit quidam de archisynagogis, nomine Jairus, et videns eum procidit ad pedes ejus.
E veio um dos chefes da sinagoga, chamado Jairo, e ao vê-lo, prostrou-se a seus pés.
23 Et deprecabatur eum multum, dicens: Quoniam filia mea in extremis est, veni, impone manum super eam, ut salva sit, et vivat.
E suplicava-lhe insistentemente, dizendo: "Minha filhinha está à beira da morte; vem, impõe as mãos sobre ela, para que seja salva e viva."
24 Et abiit cum illo, et sequebatur eum turba multa, et comprimebant eum.
E Jesus foi com ele, e uma grande multidão o seguia e o apertava.
25 Et mulier, quæ erat in profluvio sanguinis annis duodecim,
E uma mulher, que havia doze anos sofria de um fluxo de sangue,
26 Et fuerat multa perpessa a compluribus medicis, et erogaverat omnia sua, nec quidquam profecerat, sed magis deterius habebat:
E que havia sofrido muito nas mãos de vários médicos, tendo gasto tudo o que possuía sem obter melhora, mas piorando ainda mais,
27 Cum audisset de Jesu, venit in turba retro, et tetigit vestimentum ejus:
Tendo ouvido falar de Jesus, veio por trás, entre a multidão, e tocou o seu manto.
28 Dicebat enim: Quia si vel vestimentum ejus tetigero, salva ero.
Pois dizia consigo: "Se eu apenas tocar suas vestes, ficarei curada."
29 Et confestim siccatus est fons sanguinis ejus: et sensit corpore quia sanata esset a plaga.
E imediatamente a fonte do seu sangue se estancou, e ela sentiu no corpo que estava curada da enfermidade.
30 Et statim Jesus cognoscens in semetipso virtutem quæ exierat de eo, conversus ad turbam, aiebat: Quis tetigit vestimenta mea?
E logo Jesus, percebendo em si mesmo que uma força saíra dele, voltou-se para a multidão e perguntou: "Quem tocou minhas vestes?"
31 Et dicebant ei discipuli sui: Vides turbam comprimentem te, et dicis: Quis me tetigit?
E seus discípulos lhe disseram: "Vês que a multidão te aperta e perguntas: 'Quem me tocou?'"
32 Et circumspiciebat videre eam, quæ hoc fecerat.
E ele olhava ao redor para ver quem o tinha feito.
33 Mulier vero timens et tremens, sciens quod factum esset in se, venit, et procidit ante eum, et dixit ei omnem veritatem.
Então a mulher, amedrontada e tremendo, sabendo o que lhe havia acontecido, veio, prostrou-se diante dele e contou-lhe toda a verdade.
34 Ille autem dixit ei: Filia, fides tua te salvam fecit: vade in pace, et esto sana a plaga tua.
E ele lhe disse: "Filha, tua fé te salvou; vai em paz e fica curada do teu mal."
35 Adhuc eo loquente, veniunt ab archisynagogo, dicentes: Quia filia tua mortua est: quid ultra vexas magistrum?
Enquanto ele ainda falava, chegaram alguns da casa do chefe da sinagoga e disseram: "Tua filha morreu; por que ainda incomodas o Mestre?"
36 Jesus autem, audito verbo quod dicebatur, ait archisynagogo: Noli timere: tantummodo crede.
Mas Jesus, ouvindo o que diziam, disse ao chefe da sinagoga: "Não temas; crê somente."
37 Et non admisit quemquam se sequi, nisi Petrum, et Jacobum, et Joannem fratrem Jacobi.
E não permitiu que ninguém o seguisse, a não ser Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago.
38 Et veniunt in domum archisynagogi, et videt tumultum, et flentes, et ejulantes multum.
E chegaram à casa do chefe da sinagoga, onde ele viu grande alvoroço, com pessoas chorando e lamentando alto.
39 Et ingressus, ait eis: Quid turbamini, et ploratis? puella non est mortua, sed dormit.
E, ao entrar, disse-lhes: "Por que estais em alvoroço e chorais? A menina não morreu, mas dorme."
40 Et irridebant eum. Ipse vero ejectis omnibus, assumit patrem, et matrem puellæ, et qui secum erant, et ingreditur ubi puella erat jacens.
E zombavam dele. Mas ele, tendo expulsado todos, tomou consigo o pai e a mãe da menina e os que estavam com ele, e entrou onde ela jazia.
41 Et tenens manum puellæ, ait illi: Talitha cumi, quod est interpretatum: Puella (tibi dico) surge.
E, segurando a mão da menina, disse-lhe: "Talitha cumi", que significa: "Menina, eu te digo, levanta-te."
42 Et confestim surrexit puella, et ambulabat: erat enim annorum duodecim: et obstupuerunt stupore magno.
E imediatamente a menina se levantou e começou a andar, pois tinha doze anos. E ficaram completamente maravilhados.
43 Et præcepit illis vehementer, ut nemo id sciret: et dixit dari illi manducare.
E ordenou-lhes severamente que ninguém soubesse disso e disse que dessem algo para ela comer.
Reflexão:
Jesus autem, audito verbo quod dicebatur, ait archisynagogo: Noli timere: tantummodo crede.
Mas Jesus, ouvindo o que diziam, disse ao chefe da sinagoga: "Não temas; crê somente." (Mc 5:36)
Essa frase resume a centralidade da fé diante do medo e do aparente fim. É um chamado à confiança absoluta na Vida que transcende as limitações humanas.
A fé é o fio invisível que liga o ser ao fulgor primordial da Vida. No gesto da mulher e na súplica de Jairo, revela-se a dinâmica do encontro entre a consciência humana e a fonte suprema do ser. Jesus, que transcende as limitações da matéria, desperta na existência a plenitude oculta, onde doença e morte não têm domínio. A realidade não se encerra no que os sentidos percebem, mas se expande na confiança que antecipa a ressurreição. Crer é tocar o horizonte absoluto, onde cada despertar é um passo na direção do mistério maior da Vida.
HOMILIA
O Chamado à Plenitude da Vida
Amados irmãos e irmãs, o Evangelho de hoje nos apresenta dois encontros que revelam a profundidade do amor divino e a força transformadora da fé. De um lado, Jairo, um homem de posição, que se curva diante de Jesus em desespero pela vida de sua filha. De outro, uma mulher anônima, marcada pela dor e pelo isolamento, que ousa tocar o manto daquele em quem deposita sua última esperança. Duas histórias entrelaçadas por um mesmo movimento: a busca por um reencontro com a Vida.
Vivemos tempos marcados por crises que atravessam não apenas nossos corpos, mas também nossas almas. O mundo parece dividir-se entre os que ainda têm poder de falar e agir, como Jairo, e aqueles que, como a mulher do Evangelho, sentem-se excluídos, sem nome e sem voz. Uns clamam publicamente por soluções, outros, em silêncio, buscam uma última centelha de esperança. Mas em ambos, há uma mesma necessidade: tocar a fonte da Vida.
Jesus não apenas responde a esses clamores, mas revela que a verdadeira transformação ocorre naqueles que ousam ultrapassar os limites da dúvida e do medo. A mulher, que por doze anos sofrera sem alívio, atravessa a multidão e toca a veste do Mestre. Esse toque não é apenas um gesto físico, mas a expressão de um coração que já vislumbra a luz além da escuridão. Da mesma forma, Jairo é chamado a crer contra toda evidência, pois a voz do mundo diz: "Tua filha morreu, não incomodes mais o Mestre." Mas Jesus responde: "Não temas, crê somente."
Quantas vezes ouvimos vozes semelhantes ao longo da vida? "Já não há esperança." "Tudo está perdido." "É tarde demais." Mas Cristo nos ensina que a última palavra nunca pertence à morte, mas à Vida. Ele nos convida a despertar para uma realidade que não se encerra nos limites do visível. A menina que se levanta ao chamado de Jesus é sinal de que a existência não está aprisionada à finitude, mas aberta ao infinito.
No mundo de hoje, onde muitos se sentem consumidos pela desesperança, somos chamados a essa mesma atitude de fé viva. Não basta crer de modo superficial; é necessário caminhar até Jesus, romper com a multidão do desânimo e tocar, com confiança, Aquele que é a própria plenitude do existir. Nossa geração anseia por esse despertar, por um novo modo de ver e viver, onde não sejamos mais reféns do medo, mas participantes do grande movimento da Vida.
Que hoje, como Jairo e como a mulher do Evangelho, possamos ousar crer. Que tenhamos a coragem de tocar Cristo com uma fé autêntica, permitindo que Ele desperte em nós aquilo que o mundo já julgava perdido. Pois todo aquele que confia no Senhor não apenas vive, mas participa da verdadeira plenitude da existência.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A Fé como Superação do Medo e Abertura à Vida
A frase de Jesus ao chefe da sinagoga, "Não temas; crê somente" (Mc 5,36), sintetiza uma das mais profundas realidades teológicas do Evangelho: a oposição entre o medo e a fé, entre a paralisia espiritual e a abertura ao mistério da Vida divina.
1. O Contexto da Frase: O Encontro entre a Morte e a Vida
Jairo, um dos chefes da sinagoga, busca Jesus movido pelo desespero: sua filha está morrendo, e ele deposita sua última esperança no poder do Mestre. No entanto, antes que Jesus chegue à sua casa, a notícia chega: a menina já morreu. Aqui, a lógica humana se impõe — a morte, na experiência sensível, é um fim absoluto. "Não incomodes mais o Mestre" (Mc 5,35) dizem aqueles que o cercam, sugerindo que, diante da morte, nada mais pode ser feito.
Mas é nesse momento que Jesus pronuncia as palavras que quebram essa visão limitada da existência: "Não temas; crê somente."
2. A Oposição entre Medo e Fé
O medo é uma resposta natural à realidade da finitude, ao desconhecido e à sensação de impotência diante das forças da existência. No entanto, no âmbito espiritual, o medo não é apenas uma emoção, mas uma barreira ao encontro com Deus. Desde Gênesis, vemos que, após o pecado, Adão se esconde porque tem medo (Gn 3,10). O medo desfigura a percepção da realidade e nos afasta da plenitude da confiança em Deus.
Já a fé, ao contrário, é um salto para além das aparências, um abrir-se ao invisível, ao que transcende a morte e o caos. Jesus não apenas convida Jairo a acreditar em uma cura, mas a dar um passo radical: acreditar contra toda evidência humana, contra toda lógica natural.
3. A Fé que Transcende a Morte
A frase de Jesus nos revela que a verdadeira fé não é um simples assentimento intelectual nem um recurso psicológico para encontrar conforto. É a adesão à Vida divina, que não se curva diante dos limites da morte.
Na tradição bíblica, a fé sempre esteve ligada à confiança no poder criador de Deus. Abraão, por exemplo, "creu contra toda esperança" (Rm 4,18), pois confiou na promessa divina mesmo quando tudo parecia impossível. Da mesma forma, Jesus pede a Jairo uma fé que desafia a morte, uma fé que vê além do imediato.
4. A Frase como Chave para uma Nova Visão da Existência
Quando Jesus diz "Não temas; crê somente," Ele está apontando para uma realidade maior do que a experiência sensível. O que está em jogo não é apenas a cura da filha de Jairo, mas a revelação de que a Vida não está submetida à finitude da morte.
O que define um autêntico seguidor de Cristo é justamente essa fé inabalável, que ultrapassa os horizontes estreitos da razão humana e se lança na confiança absoluta de que Deus é o Senhor da Vida. A frase de Mc 5,36 não é apenas um convite à esperança; é um chamado à metanoia, a uma mudança profunda de percepção, onde a realidade última não é a dissolução, mas a plenitude da Vida.
5. O Chamado para Hoje
No mundo contemporâneo, onde a incerteza, o medo e a desesperança frequentemente dominam o coração humano, a palavra de Jesus ressoa com a mesma força: "Não temas; crê somente."
Diante das crises que assolam o ser humano — sejam elas físicas, emocionais, espirituais ou sociais —, somos constantemente desafiados a crer que Deus não nos abandona, que a morte não tem a última palavra e que a plenitude da Vida está além do que os olhos podem ver.
A verdadeira fé não é um refúgio psicológico, mas uma ousadia espiritual: é a certeza de que, mesmo diante do aparente fim, a Vida continua a pulsar na eternidade de Deus.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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