Liturgia Diária
15 – SÁBADO
5ª SEMANA DO TEMPO COMUM
(verde – ofício do dia)
Vinde, adoremos e prostremo-nos por terra, e ajoelhemo-nos ante o Deus que nos criou! Porque ele é o nosso Deus, nosso Pastor (Sl 94,6s).
Adentremos a esfera da contemplação, onde a reverência ao mistério primordial se torna a chave para desvendar a essência do ser. Convidemo-nos a elevar a consciência, abandonando as amarras do cotidiano para nos conectarmos com a força vital que originou o universo. Ao nos prostrarmos em humildade, reconhecemos a presença da energia criadora, aquele princípio eterno que molda todas as manifestações da existência. É nessa comunhão íntima com o absoluto que descobrimos a orientação que conduz nossa jornada, como um guia sereno que conduz o rebanho dos que buscam a verdade. Assim, celebramos a divindade que se revela em cada detalhe do cosmos e em cada gesto do coração humano.
Evangelium secundum Marcum 8,1-10
1 In diebus illis iterum cum turba multa esset nec haberent quod manducarent, convocatis discipulis, ait illis:
Nesses dias, outra vez, como houvesse uma grande multidão e não tivessem o que comer, chamou os discípulos e lhes disse:
2 «Misereor super turbam, quia ecce iam triduo sustinent me nec habent quod manducent;
Tenho compaixão dessa multidão, porque há já três dias que permanecem comigo e não têm o que comer;
3 et si dimisero eos ieiunos in domum suam, deficient in via; quidam enim ex eis de longe venerunt».
E se os despedir em jejum para suas casas, desfalecerão no caminho, pois alguns vieram de longe.»
4 Et responderunt ei discipuli sui: «Unde istos poterit quis hic saturare panibus in solitudine?».
E seus discípulos responderam: «De onde poderá alguém saciá-los de pão aqui no deserto?».
5 Et interrogabat eos: «Quot panes habetis?». Qui dixerunt: «Septem».
E perguntou-lhes: «Quantos pães tendes?». Responderam: «Sete».
6 Et praecepit turbae discumbere supra terram; et accipiens septem panes, gratias agens fregit et dabat discipulis suis, ut apponerent, et apposuerunt turbae.
E ordenou à multidão que se sentasse no chão; tomando os sete pães e dando graças, partiu-os e entregava-os a seus discípulos para que os servissem, e eles os distribuíram à multidão.
7 Et habebant pisciculos paucos; et benedicens eos, iussit hos quoque apponi.
Tinham também alguns peixinhos; e, tendo-os abençoado, mandou que igualmente os servissem.
8 Et manducaverunt et saturati sunt; et sustulerunt, quod superaverat de fragmentis, septem sportas.
Comeram e ficaram saciados; e recolheram, dos pedaços que sobraram, sete cestos.
9 Erant autem quasi quattuor milia; et dimisit eos.
Eram cerca de quatro mil pessoas; e despediu-os.
10 Et statim ascendens navem cum discipulis suis venit in partes Dalmanutha.
E, entrando logo no barco com seus discípulos, foi para a região de Dalmanuta.
Reflexão:
«Misereor super turbam, quia ecce iam triduo sustinent me nec habent quod manducent;
"Tenho compaixão dessa multidão, porque há já três dias que permanecem comigo e não têm o que comer;" (Mc 8:2)
Essa frase revela o coração compassivo de Cristo, que não apenas ensina, mas também se preocupa com as necessidades daqueles que o seguem. Ela expressa a convergência entre o espiritual e o material, mostrando que a fome do corpo e a fome da alma encontram resposta na misericórdia divina.
A multiplicação dos pães revela a dinâmica da evolução espiritual, onde a matéria se torna veículo de um alimento superior. Assim como a fome da multidão exigiu uma transformação dos recursos disponíveis, a consciência cresce ao integrar o finito ao infinito. O pão, quando compartilhado, transcende sua função e se torna sinal de comunhão. No percurso da existência, somos chamados a descobrir que a abundância não está na posse, mas na doação. Cada fragmento recolhido indica que nada se perde na economia do espírito. A vida avança quando a generosidade reconfigura a realidade. No encontro entre o humano e o divino, o verdadeiro alimento se manifesta.
HOMILIA
A Multiplicação das Oportunidades
Caros cidadãos, em tempos desafiadores como os que vivemos, a passagem de Marcos 8,1-10 revela uma lição que vai além de uma interpretação religiosa, convidando-nos a repensar o papel do indivíduo na transformação da sociedade. Ao distribuir os pães para suprir a necessidade da multidão, vemos um exemplo de ação baseada na iniciativa pessoal e na solidariedade voluntária. Esse gesto nos inspira a reconhecer que, com liberdade para empreender e responsabilidade individual, podemos transformar recursos limitados em oportunidades de crescimento e progresso.
No cenário atual, onde questões sociais e econômicas se entrelaçam, a verdadeira abundância surge quando cada um assume seu papel ativo na construção de soluções inovadoras. A multiplicação dos pães simboliza a capacidade humana de reinventar o cotidiano, superando desafios através do esforço conjunto e da cooperação espontânea. Que possamos abraçar essa mensagem e incentivar uma cultura de liberdade e iniciativa, na qual o progresso individual se converta em bem-estar coletivo.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A Compaixão como Movimento da Verdade Encarnada
A frase de Jesus em Marcos 8,2 — "Tenho compaixão dessa multidão, porque há já três dias que permanecem comigo e não têm o que comer" — transcende a simples narrativa de uma necessidade material e se insere no profundo dinamismo da revelação divina. Aqui, Cristo manifesta a convergência entre sua missão redentora e a fome existencial da humanidade, unindo em um só gesto a saciedade do corpo e a plenitude do espírito.
O termo "compaixão" (miseror), na Vulgata, implica não apenas um sentir piedoso, mas um movimento interior que impele à ação. No grego original, o verbo σπλαγχνίζομαι (splagchnízomai) refere-se a uma comoção das entranhas, um estremecimento profundo diante da miséria humana. Assim, Jesus não olha para a multidão com uma mera preocupação exterior, mas com uma identificação radical com sua condição. Ele vê além da fome física: percebe uma sede mais profunda, uma inquietação que os levou a permanecer com Ele por três dias — número que evoca a plenitude e a passagem para uma nova realidade, como na ressurreição.
A fome que assola aquela multidão aponta para a realidade do homem que, ao seguir a Verdade, encontra-se num espaço liminar entre o esgotamento de suas forças e a esperança da saciedade prometida. Jesus não é apenas um mestre que ensina; Ele é o Logos encarnado que sustenta e alimenta. O fato de que as pessoas persistem com Ele, mesmo sem comida, demonstra que há um chamado mais forte do que a necessidade imediata: há uma busca pela palavra que sacia de forma definitiva, antecipando o que Ele dirá em João 6,35: "Eu sou o pão da vida; quem vem a mim não terá mais fome, e quem crê em mim nunca mais terá sede."
Este versículo, portanto, não é apenas uma introdução ao milagre da multiplicação dos pães, mas uma revelação do próprio dinamismo da graça. A humanidade se mantém diante de Cristo na expectativa do alimento que a sustente em sua travessia rumo ao cumprimento de seu destino transcendente. A compaixão de Jesus não é apenas uma resposta à miséria humana, mas o reflexo de um amor que não abandona aqueles que buscam a Verdade, conduzindo-os à saciedade última no banquete eterno do Reino.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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