Liturgia Diária
11 – SÁBADO
SEMANA DA EPIFANIA
(branco, pref. da Epifania, ou do Natal – ofício do dia)
Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, para que todos recebêssemos a filiação adotiva (Gl 4,4s).
Esta celebração nos convida a transcender a dimensão ordinária do existir, colocando o Verbo Eterno como o eixo que alinha nossa essência à Vontade Divina, pois "é necessário que Ele cresça e eu diminua". Somos chamados a reconhecer, no movimento de nossa diminuição, a expansão da plenitude divina que tudo permeia. Nesta comunhão profunda com o Absoluto, experimentamos a verdade de que, ao harmonizar nossa vontade com a d’Ele, nossas petições são acolhidas no infinito propósito da Criação. Elevemos, portanto, nosso ser em adoração, conectando-nos com a fé que transcende o visível e nos une ao Eterno.
João 3:22-30 (Vulgata)
22 Post haec venit Jesus et discipuli ejus in terram Judæam: et illic demorabatur cum eis, et baptizabat.
22 Depois disso, Jesus foi com seus discípulos para a terra da Judeia; ali permaneceu com eles e batizava.
23 Erat autem et Joannes baptizans in Ennon, juxta Salim: quia aquæ multæ erant illic, et veniebant, et baptizabantur.
23 João também estava batizando em Enon, perto de Salim, porque havia muita água ali; e vinham e eram batizados.
24 Nondum enim missus fuerat Joannes in carcerem.
24 Pois João ainda não havia sido lançado na prisão.
25 Facta est ergo quæstio ex discipulis Joannis cum Judæis de purificatione.
25 Então surgiu uma discussão entre os discípulos de João e um judeu sobre a purificação.
26 Et venerunt ad Joannem, et dixerunt ei: Rabbi, qui erat tecum trans Jordanem, cui tu testimonium perhibuisti, ecce hic baptizat, et omnes veniunt ad eum.
26 Eles foram a João e lhe disseram: Mestre, aquele que estava contigo além do Jordão, de quem deste testemunho, está batizando, e todos vão a ele.
27 Respondit Joannes, et dixit: Non potest homo accipere quidquam, nisi fuerit ei datum de cælo.
27 João respondeu: Ninguém pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu.
28 Ipsi vos mihi testimonium perhibetis, quod dixerim: Non sum ego Christus, sed quia missus sum ante illum.
28 Vós mesmos sois testemunhas de que eu disse: Eu não sou o Cristo, mas fui enviado antes dele.
29 Qui habet sponsam, sponsus est: amicus autem sponsi, qui stat et audit eum, gaudio gaudet propter vocem sponsi. Hoc ergo gaudium meum impletum est.
29 O que tem a noiva é o noivo; o amigo do noivo, que está presente e o ouve, exulta de alegria por causa da voz do noivo. Essa é a minha alegria, que agora está completa.
30 Illum oportet crescere, me autem minui.
30 É necessário que ele cresça, e eu diminua.
Reflexão:
"Illum oportet crescere, me autem minui."
"É necessário que ele cresça, e eu diminua." ( Jo 3:30)
Essa declaração encapsula a essência do papel de João Batista como precursor de Cristo, destacando a necessidade de deixar a centralidade do "eu" para que a glória de Cristo e a Vontade Divina se manifestem plenamente.
A diminuição de João diante do Cristo revela o princípio de uma evolução espiritual em que o ser humano se abre à plenitude divina. Essa dinâmica não é um ato de anulação, mas de integração, onde o "eu" se harmoniza com o Todo. Ao reconhecer que "tudo é dado do céu", somos convidados a participar de uma ascensão que nos conecta ao propósito maior do universo. Assim como João se alegra ao ouvir a voz do Noivo, nossa alma encontra júbilo ao perceber sua unidade com a Vontade que sustenta a criação. Essa transformação exige que renunciemos ao apego ao "menor" para nos tornarmos receptáculos do "maior", permitindo que o amor divino nos eleve.
HOMILIA
"Diminuir para que a Plenitude Divina Cresça"
Homilia
No Evangelho de João 3,22-30, encontramos João Batista apontando para a centralidade de Cristo com as palavras: "É necessário que Ele cresça, e eu diminua." Essa frase ressoa profundamente em um mundo que exalta o ego, o individualismo e a supremacia da própria vontade. Vivemos tempos em que o "eu" frequentemente se coloca como o centro de tudo, gerando divisões, crises existenciais e um distanciamento do propósito maior para o qual fomos criados.
João Batista nos convida a reconhecer que não somos o fim último da criação, mas parte de algo infinitamente maior. Assim como ele se alegra em ouvir a voz do Noivo, somos chamados a encontrar alegria em descobrir que nossa verdadeira identidade está em comunhão com a Vontade divina. Diminuir não significa anular-se, mas abrir espaço para que a graça nos transforme e nos eleve a uma realidade mais plena e verdadeira.
No mundo contemporâneo, onde o progresso tecnológico avança rapidamente e as conquistas individuais são celebradas, somos tentados a esquecer que "ninguém pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu". Toda realização, por mais grandiosa que pareça, é um reflexo da ação divina em nós. Reconhecer isso nos livra do orgulho que separa e nos conduz à humildade que une.
A verdadeira evolução humana não está apenas em dominar o mundo material, mas em harmonizar nossas ações com o plano divino, permitindo que o amor cresça em nós. Quando diminuímos o egoísmo, a ganância e a necessidade de controlar, abrimos espaço para a luz de Cristo brilhar em nossas vidas, conduzindo-nos a uma nova etapa de existência onde a plenitude divina se revela.
Assim, nos dias de hoje, essa mensagem nos desafia a rever nossas prioridades, a olhar para além de nós mesmos e a buscar o crescimento de Cristo em nossas decisões, atitudes e relacionamentos. Como João Batista, possamos testemunhar a alegria que vem de ouvir a voz do Noivo, confiando que, ao diminuirmos, encontraremos nosso verdadeiro lugar no amor infinito de Deus.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A frase "É necessário que ele cresça, e eu diminua" (Jo 3,30) proferida por João Batista é uma síntese teológica profunda do movimento espiritual que define a relação entre o humano e o divino. Essa declaração expressa o reconhecimento de João de que sua missão como precursor estava se cumprindo e que a plenitude do Reino de Deus se manifestaria plenamente em Cristo. Porém, o significado dessa frase transcende o contexto histórico e oferece uma chave para compreender a dinâmica espiritual da salvação.
1. O Crescimento de Cristo em Nós
Teologicamente, a frase aponta para a centralidade de Cristo na vida do cristão. O "crescer" de Cristo refere-se à sua presença cada vez mais plena e ativa em nosso ser, até que possamos dizer, como São Paulo, "já não sou eu que vivo, mas Cristo vive em mim" (Gl 2,20). Esse crescimento não implica uma competição, mas uma transformação. Quanto mais Cristo cresce, mais nos aproximamos de nossa verdadeira identidade como filhos de Deus.
2. A Dimensão Kenótica do "Diminuir"
O "diminuir" refere-se à renúncia ao ego, à soberba e ao apego desordenado à própria vontade. Essa diminuição não é uma perda de identidade, mas um esvaziamento inspirado na kenose (o esvaziamento de Cristo em Filipenses 2,7). Assim como Cristo se humilhou para nos elevar, somos chamados a nos humilhar diante da grandeza de Deus para que sua glória se manifeste plenamente em nós.
3. A Necessidade Teológica
O termo "necessário" na declaração de João não é casual. Ele reflete a lógica divina da salvação: o ser humano só encontra plenitude quando se alinha à vontade de Deus. Na teologia cristã, a diminuição do ego não é uma anulação, mas uma integração no plano divino, no qual a criatura se eleva ao participar da vida divina.
4. Cristo como o Centro
Esse versículo sublinha a cristocentricidade da espiritualidade cristã. João Batista reconhece que ele é apenas uma voz que clama no deserto, um instrumento para apontar para Cristo. De maneira análoga, a Igreja e cada cristão são chamados a ser testemunhas que refletem e proclamam a presença de Cristo, sem buscar a glória para si mesmos.
5. Aplicação Espiritual
Espiritualmente, a frase convida à humildade e à entrega. Crescer em Cristo exige que renunciemos a tudo que nos afasta de Deus: orgulho, vaidade, autossuficiência. O crescimento de Cristo em nossa vida se manifesta na conformidade com seus ensinamentos, no serviço aos outros e na abertura à ação do Espírito Santo.
Em última análise, "É necessário que ele cresça, e eu diminua" é uma expressão da verdade teológica de que a verdadeira realização do ser humano não está no engrandecimento do "eu", mas na união transformadora com Deus, que nos conduz à plenitude do ser. Essa frase ecoa o chamado universal à santidade e ao retorno ao centro divino, onde Cristo reina como o princípio e o fim de toda criação.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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