Liturgia Diária21 – TERÇA-FEIRA
SANTA INÊS
VIRGEM E MÁRTIR
(vermelho, pref. comum, ou dos santos – ofício da memória)
A Virgem forte, expressão do mais alto mistério da pureza e da oblação, entrega-se como oferta viva de castidade ao Cordeiro imolado desde o princípio dos tempos. Na eternidade, ela segue os passos do Amor que, por nós, abraçou a Cruz, revelando o elo profundo entre o sacrifício redentor e a comunhão perfeita da alma com o Divino.
Em Deus reside o fundamento de toda existência serena e confiante, pois Ele, a Justiça transcendente, contempla as obras que brotam da essência do verdadeiro amor, especialmente aquelas que se manifestam em socorro aos irmãos e irmãs como reflexo da compaixão divina.
Unamo-nos ao exemplo radiante de Santa Inês, cuja fidelidade na Roma do século IV resplandeceu no martírio, tornando-se testemunho da Luz que não se apaga. Que sua entrega nos inspire a perseverar na fé em Cristo, Logos eterno e fundamento de todas as coisas, e a praticar boas obras que transcendem o tempo e encontram seu pleno sentido no amor que tudo une ao Absoluto.
Marcos 2:23-28 (Vulgata):
23 Et factum est, ut cum transiret sabbato per sata, discipuli ejus inciperent vixere, et frangere frumenta.
E aconteceu que, ao passar no sábado pelos campos, os discípulos começaram a colher espigas.
24 Et pharisaei dicebant ei: Ecce, quid faciunt, quod non licet in sabbato?
E os fariseus lhe disseram: Vê, porque fazem o que não é lícito no sábado?
25 Et ait illis: Nunquam legistis quid fecerit David, quando necessitate adductus, esuriit ipse, et qui cum eo erant?
E ele lhes disse: Nunca lestes o que fez Davi, quando, necessitado e com fome, ele e seus companheiros comeram os pães da proposição, que non licet edere nisi sacerdotibus, et dedit eis?
26 Quomodo introivit in domum Dei, in tempore Abiathar sacerdotis, et pedit poma, et dedit eis, qui cum eo erant?
Como entrou na casa de Deus, no tempo de Abiatar, o sumo sacerdote, e comeu os pães da proposição, que não é lícito comer senão aos sacerdotes, e os deu também aos que estavam com ele?
27 Et dicebat illis: Sabbatum propter hominem factum est, non homo propter sabbatum.
E dizia-lhes: O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado.
28 Itaque Dominus est etiam sabbati.
Portanto, o Filho do Homem é senhor também do sábado.
Reflexão:
Et dicebat illis: Sabbatum propter hominem factum est, non homo propter sabbatum.
E dizia-lhes: O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado. (Mc 2:27)
Essa frase destaca a centralidade do ser humano na relação com a Lei divina, revelando que as instituições sagradas são instrumentos para o bem e a plenitude do homem, e não imposições que o escravizam.
O evangelho revela uma profunda verdade sobre o tempo e a liberdade, onde a Lei divina, representada pelo sábado, não é uma imposição rígida, mas uma estrutura para o crescimento da alma humana. O próprio Cristo, ao redimensionar o sábado, nos ensina que as leis espirituais devem ser vistas não como fins em si mesmas, mas como meios para o florescimento da humanidade. Nesse processo, a alma humana, ao transcender as limitações temporais, começa a se conectar com a energia cósmica divina, que molda e vivifica o universo. A libertação do espírito está em viver em harmonia com essa força criadora, onde o sentido das coisas se expande além da matéria, levando-nos ao contato com a verdade eterna. A compreensão de que o homem não é subordinado à lei, mas que a lei existe para a plenitude humana, nos convoca a buscar uma integração mais profunda com a essência da criação. Assim, cada ato de amor e de misericórdia reflete essa sabedoria universal que transcende as convenções humanas e nos aproxima do Divino.
HOMILIA
O Senhor do Tempo e o Propósito da Lei
Amados irmãos e irmãs,
O Evangelho de hoje nos apresenta um encontro entre Jesus e os fariseus, uma cena que aparentemente trata de normas e regras, mas que, em sua profundidade, nos fala sobre a essência da existência humana e a ordem divina. Quando Jesus afirma que "o sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado" (Mc 2,27), ele revela uma verdade que transcende o legalismo: as leis, os ritos e as estruturas não têm valor absoluto; sua finalidade está em servir ao crescimento, à liberdade e à plenitude do ser humano.
Nos dias de hoje, em um mundo fragmentado por tantas crises — sociais, espirituais e pessoais —, somos constantemente pressionados por sistemas que, muitas vezes, colocam as regras acima do bem-estar das pessoas. Vivemos em uma sociedade que idolatra o desempenho, a eficiência e o controle, esquecendo que a verdadeira razão de qualquer ordem humana ou divina é promover a vida em abundância. Quando as normas se tornam um fardo, perdem seu propósito original e obscurecem a visão do Divino que está em tudo.
Cristo nos convida a resgatar o sentido da liberdade, aquela que não se confunde com o desregramento, mas que nos conduz à comunhão com o bem maior. O sábado, símbolo do tempo sagrado, nos recorda que há algo mais profundo do que as preocupações cotidianas: o chamado a contemplar, a amar e a crescer em direção à plenitude da nossa vocação divina. Isso nos desafia a reavaliar nossas prioridades, nossas leis pessoais e sociais, para que elas estejam a serviço daquilo que realmente importa: o amor, a compaixão e a unidade.
Se o sábado foi feito por causa do homem, significa que Deus ordenou o tempo e a criação para que encontrássemos nele o caminho para a transcendência. Mas, quantas vezes perdemos essa direção, aprisionados pelo imediatismo, pelo medo ou pela cegueira do egoísmo? Cristo nos recorda que o Filho do Homem é Senhor do sábado, ou seja, é Ele quem dá sentido ao tempo, às leis e a toda criação. Sem Ele, tudo se perde no vazio; com Ele, tudo converge para o propósito eterno.
Hoje somos convidados a olhar para nossas vidas e nos perguntar: estamos vivendo sob o peso de leis, normas e expectativas que nos afastam de Deus e dos outros, ou estamos deixando que essas estruturas nos levem à verdadeira liberdade em Cristo? A resposta está no modo como nos relacionamos com o próximo. Toda lei que impede o amor, toda norma que nega a compaixão, precisa ser revista e redirecionada.
Que possamos abrir nossos corações para ouvir o Senhor que nos convida a transformar o tempo, as regras e as circunstâncias da vida em instrumentos de salvação. Assim, descobriremos que, em Cristo, toda lei se cumpre, todo tempo se plenifica e toda existência encontra seu sentido mais profundo. Amém.
EXPLICAÇÃO TOLÓGICA
A Teologia Profunda de Marcos 2,27: O Sábado e a Dignidade Humana
A frase de Jesus: "O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado" (Mc 2,27), é uma declaração teológica de imensa profundidade, que nos conduz ao cerne da relação entre a lei divina e a liberdade humana. Para compreendê-la plenamente, é necessário explorar sua dimensão histórica, cristológica e escatológica.
1. O Contexto Histórico e a Função do Sábado
No judaísmo, o sábado (Shabat) era e continua sendo um dia sagrado, consagrado ao repouso e à contemplação de Deus. Essa prática remonta ao relato da criação em Gênesis, onde Deus, após seis dias de trabalho, "descansou no sétimo dia" (Gn 2,2-3). O sábado era um sinal da aliança entre Deus e o povo de Israel, uma expressão de liberdade para um povo outrora escravizado no Egito (cf. Dt 5,15). Portanto, o sábado tinha uma dupla função: reconhecimento da soberania divina e proteção da dignidade humana, proporcionando descanso físico e espiritual.
No entanto, com o passar do tempo, os líderes religiosos, como os fariseus, transformaram o sábado em um conjunto rígido de normas. O dia que deveria ser símbolo de liberdade tornou-se um fardo, distorcendo seu propósito original. Jesus, ao afirmar que "o sábado foi feito por causa do homem", restaura o verdadeiro significado desse dia santo.
2. Cristo: Senhor do Sábado e Redefinidor da Lei
Ao declarar que "o sábado foi feito por causa do homem", Jesus revela que as leis e as instituições sagradas não existem para subjugar o ser humano, mas para servi-lo e ajudá-lo a alcançar sua plenitude. O homem não é escravo das normas; antes, as normas são instrumentos para que o homem viva em comunhão com Deus e com os outros.
Essa afirmação é uma reafirmação da dignidade humana, pois coloca o ser humano como destinatário do cuidado e da providência divinos. Jesus, como "Senhor do sábado" (Mc 2,28), demonstra que Ele tem autoridade para reinterpretar a Lei à luz da misericórdia e da verdade. Ele não abole o sábado, mas revela seu significado mais profundo: um convite ao descanso em Deus, que culmina na plena realização do homem no amor.
3. O Sábado e a Perspectiva Escatológica
Teologicamente, o sábado é também um prenúncio do descanso escatológico em Deus, o repouso eterno no qual toda criação encontrará sua plenitude. Ao colocar o homem como centro da intenção divina, Jesus nos aponta para o propósito último da criação: que o homem entre na comunhão plena com Deus, onde não há mais opressão, mas liberdade verdadeira.
4. A Lei e o Amor: A Plenitude da Revelação
A frase de Jesus também nos convida a refletir sobre a natureza da Lei. Segundo São Paulo, "o cumprimento da Lei é o amor" (Rm 13,10). Toda lei que não promove o bem do ser humano e não o conduz ao amor está desvirtuada de seu propósito. Assim, o sábado, como expressão da Lei, só tem sentido se estiver orientado para o bem-estar integral do homem, tanto no plano material quanto no espiritual.
5. Aplicações Contemporâneas
Hoje, essa frase nos desafia a reavaliar as estruturas religiosas, sociais e culturais que muitas vezes se tornam opressoras e esquecem sua finalidade original. Instituições e normas devem sempre estar a serviço da dignidade humana e da glória de Deus. Quando as leis se tornam um fim em si mesmas, perdem seu caráter divino e precisam ser transformadas pela luz do Evangelho.
6. Conclusão: A Suprema Revelação em Cristo
Em última análise, Jesus nos ensina que a dignidade humana está no coração do plano divino. Deus criou o sábado, o tempo, e as leis para conduzir o homem ao Amor, que é a essência do próprio Deus. Ao reconhecer isso, somos chamados a viver não como escravos de normas, mas como filhos livres de Deus, caminhando para a plenitude do descanso eterno n’Ele.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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