Liturgia Diária
28 – TERÇA-FEIRA
SANTO TOMÁS DE AQUINO
PRESBÍTERO E DOUTOR DA IGREJA
(branco, pref. comum, ou dos pastores ou dos doutores – ofício da memória)
No meio da Igreja o Senhor abriu os seus lábios, encheu-o com o espírito de sabedoria e inteligência e o revestiu com um manto de glória (Eclo 15,5).
Nosso vínculo essencial com Cristo não é da ordem do sangue, mas da transcendência da fé, que nos conduz à dimensão última do Ser. Ao nos chamar para sua comunhão divina, Jesus revela que a verdadeira família é constituída por aqueles que integram sua vontade ao ritmo eterno da Verdade divina. Santo Tomás de Aquino, em sua luminosa jornada terrena, adentrou esse fluxo metafísico. Nascido na Itália em 1225 e transfigurado para a eternidade em 1274, sua humildade e profunda contemplação abriram caminho para a união do intelecto humano com a Sabedoria divina. Pela ciência e pelo estudo, ele alçou a experiência da santidade ao patamar do absoluto, reconhecendo em cada conceito uma centelha do Logos. Na memória deste espírito elevado, elevemos nossa intercessão por todos aqueles que, nos espaços do ensino e da teologia, buscam desvendar a profundidade do Inefável e contemplar a glória oculta no mistério do Verbo eterno.
São Marcos 3:31-35 (Vulgata)
31. Et venit mater eius et fratres eius, et foris stantes miserunt ad eum vocantes eum.
E sua mãe e seus irmãos chegaram; e, estando do lado de fora, enviaram alguém para chamá-lo.
32. Et sedebat circa eum turba, et dicunt ei: “ Ecce mater tua et fratres tui foris quaerunt te ”.
E a multidão estava sentada ao seu redor, e disseram-lhe: "Eis que tua mãe e teus irmãos estão lá fora e te procuram."
33. Et respondens eis ait: “ Quae est mater mea et fratres mei? ”
Ele, respondendo-lhes, disse: "Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?"
34. Et circumspectans eos, qui in circuitu eius sedebant, ait: “ Ecce mater mea et fratres mei.
E, olhando ao redor para aqueles que estavam sentados ao seu redor, disse: "Eis aqui minha mãe e meus irmãos.
35. Qui enim fecerit voluntatem Dei, hic frater meus, et soror mea, et mater est ”.
Pois aquele que faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe."
Reflexão:
"Qui enim fecerit voluntatem Dei, hic frater meus, et soror mea, et mater est."
"Pois aquele que faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe." (Mc 3:35)
Nesta cena, percebemos o chamado à filiação universal no espírito da vontade divina. O Cristo nos conduz à expansão da consciência, onde o parentesco terreno é transcendido pela unidade daqueles que se entregam ao dinamismo do amor absoluto. Cada gesto de obediência à vontade divina é como um elo que integra a humanidade ao horizonte da plenitude. Aqui, revela-se o convite para uma comunhão que supera o espaço e o tempo, em direção a uma totalidade unificadora. Tornamo-nos, assim, colaboradores do propósito divino, co-criando uma família espiritual que pulsa na interconexão do eterno.
HOMILIA
A Família de Deus e a Expansão da Consciência Divina
No Evangelho de São Marcos 3,31-35, somos convidados a refletir sobre uma transformação profunda: Jesus redefine o conceito de família, alicerçando-o não no sangue ou na carne, mas na vontade de Deus. “Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe.” Essa declaração nos desafia a expandir nossa visão de pertencimento e comunhão, transpondo as barreiras do individualismo e do egoísmo tão marcantes em nosso tempo.
Nos dias atuais, vivemos em um mundo fragmentado por divisões de classe, ideologia, cultura e crença. A humanidade, em sua busca por identidade e significado, muitas vezes se fecha em laços restritivos, esquecendo-se de que a verdadeira unidade não se encontra na uniformidade, mas na convergência de todos em direção ao divino. Jesus nos ensina que, ao fazermos a vontade de Deus, participamos de um parentesco espiritual que transcende todas as limitações humanas.
Fazer a vontade de Deus significa integrar-se ao fluxo do amor criador e redentor que sustenta a existência. É permitir que nossa consciência se eleve além das preocupações terrenas imediatas, conectando-nos a um propósito mais amplo, no qual cada ação que realizamos se torna um reflexo da glória divina. Nesse chamado, Jesus nos revela que a família de Deus é formada por aqueles que, em liberdade, escolhem ser agentes do bem e da verdade.
Em um tempo em que tantas pessoas se sentem solitárias, perdidas ou isoladas, esta mensagem ecoa como uma esperança viva. Não estamos sozinhos; somos chamados a participar de uma família universal, unida não por vínculos biológicos, mas por uma missão comum: transformar o mundo pela força do amor. Para isso, precisamos cultivar um olhar que vá além das aparências e divisões superficiais, reconhecendo no outro um irmão ou irmã em potencial, um companheiro na jornada em direção ao divino.
Assim como Jesus olhou ao redor e declarou: “Eis aqui minha mãe e meus irmãos”, também somos chamados a olhar ao nosso redor com um coração ampliado, percebendo a presença de Deus naqueles que encontramos. Esta é a verdadeira expansão da consciência: ver além da matéria e perceber a luz divina que nos conecta a todos. Fazer a vontade de Deus é, antes de tudo, amar, e nesse amor, encontrar o sentido pleno de ser parte de sua família eterna.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A frase de Jesus em Marcos 3,35, "Pois aquele que faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe", revela um ensinamento teológico de profundidade extraordinária, no qual o Senhor redefine o conceito de pertencimento, deslocando-o da esfera natural e biológica para o âmbito espiritual e ontológico. Essa afirmação não nega os laços familiares humanos, mas os transcende, apontando para uma realidade maior: a participação na comunhão divina mediante a adesão à vontade de Deus.
A Vontade de Deus como Centro de Unidade
A vontade de Deus, na teologia cristã, não é um decreto arbitrário, mas a expressão do amor absoluto que deseja a plenitude da criação. Fazer a vontade de Deus implica uma conformidade interior ao bem, à verdade e à justiça, que são reflexos do próprio ser divino. Essa obediência não é servil, mas uma resposta livre e amorosa ao chamado de Deus, que nos convida a participar de sua própria vida. Assim, tornar-se "irmão", "irmã" ou "mãe" de Cristo é inserir-se numa relação de íntima comunhão com Ele, que é o Verbo encarnado, o ponto de convergência entre Deus e a humanidade.
A Transcendência do Parentesco
Ao afirmar que aqueles que fazem a vontade de Deus são sua família, Jesus nos ensina que os laços espirituais são superiores aos laços carnais. A verdadeira fraternidade cristã não se baseia em critérios externos, como a nacionalidade, a etnia ou o parentesco, mas na obediência à vontade divina, que é o fundamento de uma nova humanidade reconciliada. Nesse sentido, a Igreja, como Corpo Místico de Cristo, é a família de Deus, composta por todos aqueles que, em Cristo, respondem ao chamado à santidade.
A Dimensão Cristológica
Cristo, enquanto Filho de Deus, é o modelo perfeito de obediência à vontade do Pai. Sua vida inteira, desde a encarnação até a cruz, foi um ato de entrega total ao plano divino de salvação. Quando Ele nos chama a fazer a vontade de Deus, não nos impõe algo que Ele mesmo não tenha vivido, mas nos convida a segui-lo no caminho da plena conformidade ao amor do Pai. Ao fazer isso, nos tornamos não apenas seus seguidores, mas seus irmãos e irmãs, compartilhando de sua filiação divina por adoção.
A Maternidade Espiritual
A inclusão da figura da mãe nesta declaração revela uma dimensão fecunda e geradora. Fazer a vontade de Deus não é apenas obedecer passivamente, mas participar ativamente de sua obra criadora e redentora. Assim como Maria gerou Cristo no mundo, cada pessoa que faz a vontade de Deus é chamada a gerar Cristo em sua vida e nas vidas ao seu redor, tornando-se uma extensão do mistério da encarnação.
Implicações para os Dias de Hoje
Esta passagem desafia a visão individualista da sociedade contemporânea, que frequentemente valoriza o "eu" acima do "nós". Fazer a vontade de Deus implica sair de si mesmo, superar o egoísmo e abraçar um amor universal que nos une a todos em Cristo. Ao fazer isso, descobrimos que nossa verdadeira identidade não está em nossas posses, status ou laços naturais, mas em nossa participação na família divina.
Em síntese, esta frase de Jesus não é apenas um ensinamento ético ou moral, mas uma revelação do destino último da humanidade: tornar-se uma única família em Deus, unida pelo amor que se manifesta na obediência à sua vontade. Esta é a comunhão que o Cristo veio inaugurar e que culminará na plenitude do Reino de Deus.
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