Liturgia Diária
31 – SEXTA-FEIRA
SÃO JOÃO BOSCO
PRESBÍTERO
(branco, pref. comum, ou dos pastores – ofício da memória)
Vossos sacerdotes, Senhor, se vistam de justiça e vossos santos exultem de alegria (Sl 131,9).
A liturgia nos exorta à fidelidade na manifestação das sementes do Reino, pois cada ação na verdade é um reflexo da eterna semeadura do Verbo no tempo. Ainda que a existência apresente provações, a perseverança ressoa com a promessa celeste: “Não abandoneis, pois, a vossa coragem, que merece grande recompensa.” Assim como o cosmos se ordena segundo a divina harmonia, também a trajetória dos santos se inscreve no desdobramento da Vontade Suprema.
São João Bosco, peregrino da luz, moveu-se na tessitura invisível da graça, não temendo as sombras que tentaram ofuscar sua missão. Manifestou, em sua jornada terrestre, o zelo pelo crescimento espiritual dos que, à margem do fluxo do mundo, aguardavam o despertar de sua dignidade transcendente. No silêncio do chamado divino, ergueu a “Família Salesiana”, reflexo da comunhão dos santos, para que a sabedoria se expandisse como ondas no oceano do Espírito.
Elevemos nossa prece ao Senhor, para que nos conceda a centelha ardente desse mestre das almas, a fim de que nossa própria senda se alinhe ao eterno desígnio do Reino.
Marcos 4:26-34 (Vulgata)
26 Et dicebat: Sic est regnum Dei, quemadmodum si homo jaciat sementem in terram,
E dizia: Assim é o Reino de Deus, como se um homem lançasse a semente na terra,
27 et dormiat, et exsurgat nocte ac die, et semen germinet, et increscat dum nescit ille.
e dormisse e se levantasse, noite e dia, e a semente germinasse e crescesse, sem que ele soubesse como.
28 Ultro enim terra fructificat, primum herbam, deinde spicam, deinde plenum frumentum in spica.
Por si mesma a terra produz fruto: primeiro a erva, depois a espiga, e por fim o trigo cheio na espiga.
29 Et cum se produxerit fructus, statim mittit falcem, quoniam adest messis.
E quando o fruto amadurece, logo se mete a foice, porque chegou a colheita.
30 Et dicebat: Cui assimilabimus regnum Dei? aut cui parabolæ comparabimus illud?
E dizia: A que assemelharemos o Reino de Deus? Ou com que parábola o compararemos?
31 Sicut granum sinapis, quod cum seminatum fuerit in terra, minus est omnibus seminibus, quæ sunt in terra:
É como um grão de mostarda que, quando semeado na terra, é a menor de todas as sementes que há na terra.
32 Et cum seminatum fuerit, ascendit, et fit majus omnibus oleribus, et facit ramos magnos, ita ut possint sub umbra ejus aves cæli habitare.
Mas quando é semeado, cresce e torna-se maior que todas as hortaliças e lança grandes ramos, de modo que as aves do céu podem aninhar-se à sua sombra.
33 Et talibus multis parabolis loquebatur eis verbum, prout poterant audire:
E com muitas parábolas como estas lhes falava a palavra, conforme podiam compreender.
34 Sine parabola autem non loquebatur eis: seorsum autem discipulis suis disserebat omnia.
Sem parábola, porém, não lhes falava; mas em particular explicava tudo a seus discípulos.
Reflexão:
"Et cum se produxerit fructus, statim mittit falcem, quoniam adest messis."
"E quando o fruto amadurece, logo se mete a foice, porque chegou a colheita." (Mc 4:29)
Este versículo é crucial, pois simboliza a consumação do Reino de Deus, onde o processo de crescimento espiritual, embora misterioso e invisível, culmina no momento de colheita, quando a obra de Deus é plenamente realizada e o destino das almas é revelado.
A semente do Reino oculta-se na vastidão da existência, crescendo silenciosamente no seio da realidade. Seu desabrochar não é obra do tempo, mas da força que a impele de dentro para fora, revelando a marcha da criação em direção ao seu ápice. Pequena como um grão de mostarda, carrega em si o destino do universo, elevando-se até tornar-se refúgio para todas as criaturas. No mistério desse crescimento, percebe-se a presença de uma ordem invisível, onde cada instante é um passo na convergência do ser para sua plenitude. O Reino não é um ponto fixo, mas um movimento, uma expansão que atrai todas as coisas para sua consumação luminosa.
HOMILIA
O Reino que Cresce em Silêncio
Amados irmãos e irmãs,
O Evangelho de hoje nos apresenta uma verdade essencial: o Reino de Deus não surge com alarde nem se impõe pela força. Ele cresce no silêncio da história, como a semente que, lançada à terra, germina e se desenvolve sem que percebamos os mistérios de seu crescimento.
Jesus nos convida a contemplar essa dinâmica oculta da vida, onde o essencial se manifesta não na pressa ou na ansiedade humana, mas na paciência daquilo que se desenvolve no tempo certo. A semente do Reino já está lançada no mundo e em nossos corações. Mas muitas vezes, tomados pelas inquietações da modernidade, queremos ver resultados imediatos, medir a eficácia da graça divina segundo os critérios das conquistas humanas. Queremos que a verdade resplandeça sem resistência, que a justiça se instaure sem oposição, que a plenitude se alcance sem passagem pelo amadurecimento da vida.
Contudo, o Senhor nos ensina que há um processo, uma dinâmica oculta e imutável que conduz tudo à sua plenitude. A vida, mesmo diante das incertezas do presente, caminha para um desígnio maior. A crise que assola o mundo, o aparente caos que tantos enxergam, não são sinais do fracasso da semente, mas o próprio terreno onde ela se desenvolve. Há um crescimento que escapa aos nossos olhos, uma obra que se realiza além do nosso entendimento imediato.
O pequeno grão de mostarda nos fala de algo ainda maior: o que parece insignificante agora, no tempo oportuno se torna morada para muitos. O progresso do Reino não se mede por estatísticas, por poderes visíveis, mas pelo modo como transforma, pouco a pouco, a estrutura mais profunda da existência. Somos chamados a confiar nesse movimento, a trabalhar sem desânimo, sabendo que toda obra realizada na verdade e no amor já participa dessa grande colheita que um dia será manifesta.
Assim, irmãos e irmãs, que possamos ser semeadores incansáveis. Que perseveremos, mesmo sem ver os frutos imediatos. Que compreendamos que nossa existência não é um acaso perdido no tempo, mas parte desse grande processo de crescimento que nos conduz, inevitavelmente, à consumação da luz. O Reino já está entre nós, cresce em silêncio, e um dia, na plenitude dos tempos, veremos sua colheita resplandecer.
Amém.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A Consumação do Reino e o Mistério da Colheita
A frase "E quando o fruto amadurece, logo se mete a foice, porque chegou a colheita." (Mc 4,29) contém uma profundidade teológica que transcende a mera imagem agrícola e nos conduz ao mistério da consumação do Reino de Deus.
1. O Crescimento Oculto e a Maturação da História
A parábola da semente mostra que o Reino cresce independentemente da percepção humana. O agricultor planta e confia no processo natural, sem saber como a semente germina. Da mesma forma, a ação de Deus no mundo não se submete ao controle humano, mas segue um dinamismo próprio, conduzindo todas as coisas a uma plenitude invisível aos olhos imediatos.
O amadurecimento do fruto representa o cumprimento desse processo: o Reino cresce no tempo, na história e nas almas, até que atinja o ponto de sua manifestação definitiva. Esse crescimento pode parecer lento ou imperceptível, mas segue uma direção infalível. A colheita, nesse sentido, é o momento em que a obra de Deus atinge sua realização plena.
2. O Tempo da Colheita e a Escatologia Bíblica
A imagem da foice evoca um tema escatológico presente em toda a Escritura: a separação final entre o que é verdadeiro e o que é transitório. O profeta Joel já anunciava:
"Lançai a foice, porque está madura a seara; vinde e pisai, porque o lagar está cheio e os tanques transbordam, pois sua malícia é grande" (Joel 4,13).
A colheita é frequentemente associada ao juízo divino, onde cada ser será revelado conforme sua verdade mais profunda. Jesus, ao empregar essa imagem, aponta para um desfecho inevitável da história: a chegada do Reino não é apenas um evento distante, mas uma realidade em gestação, que em determinado momento se manifestará plenamente.
3. A Colheita como Momento de Separação e Realização
Na visão do Evangelho, a colheita não representa apenas um juízo de condenação, mas um momento de consumação e plenitude. Em Mateus, Jesus retoma essa imagem na parábola do trigo e do joio:
"Deixai crescer ambos até a colheita; e no tempo da colheita direi aos ceifeiros: colhei primeiro o joio e atai-o em molhos para o queimar; mas o trigo recolhei-o no meu celeiro" (Mt 13,30).
A separação entre o joio e o trigo não significa apenas um juízo externo, mas revela o processo interior de maturação espiritual. O homem, em sua liberdade, torna-se joio ou trigo. Aqueles que se deixam transformar pela graça são recolhidos como frutos maduros para a vida eterna; aqueles que resistem à ação divina se tornam como palha seca, destinada a desaparecer.
4. O Chamado à Vigilância e à Cooperação com a Graça
A frase de Marcos 4,29 não nos convida à passividade, mas à vigilância e cooperação. Embora o Reino tenha um dinamismo próprio, nossa participação é essencial. Se a semente germina sem que saibamos como, isso não significa que sejamos meros espectadores. Jesus nos chama a estar atentos ao tempo da colheita, a discernir os sinais do amadurecimento do Reino em nós e no mundo.
A colheita não é apenas um evento futuro, mas algo que já ocorre no presente, sempre que uma alma atinge sua plenitude em Deus. A cada instante, a humanidade caminha para esse momento definitivo em que o tempo dará lugar à eternidade e o Reino se revelará em sua totalidade.
Conclusão
A frase "E quando o fruto amadurece, logo se mete a foice, porque chegou a colheita." resume o sentido do Reino como um processo de crescimento invisível, mas certo. O Reino de Deus não é estático, mas se expande, amadurece e se manifesta no tempo certo. A colheita é a revelação final desse processo, onde cada ser será recolhido segundo sua verdade mais profunda.
Somos chamados, portanto, a viver nesse horizonte de esperança, reconhecendo que cada ato de amor, cada gesto de fidelidade e cada pequena transformação interior já fazem parte da grande colheita que, no tempo determinado por Deus, se manifestará plenamente.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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