Liturgia Diária
4 – SÁBADO
TEMPO DO NATAL ANTES DA EPIFANIA
(branco – ofício do dia)
Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, para que todos recebêssemos a filiação adotiva (Gl 4,4s).
A permanência em Jesus transcende a mera existência e nos alça ao estado de união com o Logos divino, onde a luz da verdade nos liberta das sombras do pecado. Nele, o amor não é apenas um ato, mas uma substância que interliga as essências de todos os que chamamos de irmãos e irmãs, conduzindo-nos ao caminho eterno da justiça, onde o ser encontra seu propósito mais elevado. Neste encontro com o Cristo cósmico, celebramos não apenas um tempo, mas a eternidade que ressoa na plenitude do Natal. É um tempo de comunhão não apenas com um povo, mas com toda a criação de Deus, em um cântico que eleva as almas ao reconhecimento do Verbo feito carne, manifestação suprema da unidade entre o divino e o humano. Assim, a alegria do Natal torna-se uma centelha do júbilo eterno, onde cada coração é convidado a tornar-se um reflexo da glória do Senhor.
João 1:35-42 (Vulgata)
35 Altera die iterum stabat Joannes, et ex discipulis ejus duo.
No dia seguinte, João estava novamente lá, com dois dos seus discípulos.
36 Et respiciens Jesum ambulantem, dicit: Ecce Agnus Dei.
E, fixando os olhos em Jesus que passava, disse: Eis o Cordeiro de Deus.
37 Et audierunt eum duo discipuli loquentem, et secuti sunt Jesum.
Ouvindo-o falar assim, os dois discípulos seguiram Jesus.
38 Conversus autem Jesus, et videns eos sequentes se, dicit eis: Quid quaeritis? Qui dixerunt ei: Rabbi (quod dicitur interpretatum Magister), ubi habitas?
Então Jesus, voltando-se e vendo que o seguiam, disse-lhes: O que procurais? Responderam-lhe: Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras?
39 Dicit eis: Venite et videte. Venerunt, et viderunt ubi maneret, et apud eum manserunt die illo: hora autem erat quasi decima.
Ele lhes disse: Vinde e vede. Foram, viram onde ele morava e ficaram com ele aquele dia. Era cerca da décima hora.
40 Erat autem Andreas, frater Simonis Petri, unus ex duobus qui audierant a Joanne, et secuti fuerant eum.
Um dos dois que tinham ouvido as palavras de João e seguido Jesus era André, irmão de Simão Pedro.
41 Invenit hic primum fratrem suum Simonem, et dicit ei: Invenimus Messiam (quod est interpretatum Christus).
Ele encontrou primeiro seu irmão Simão e disse-lhe: Achamos o Messias (que quer dizer Cristo).
42 Et adduxit eum ad Jesum. Intuitus autem eum Jesus, dixit: Tu es Simon filius Jona; tu vocaberis Cephas, quod interpretatur Petrus.
E levou-o a Jesus. Jesus, fixando nele o olhar, disse: Tu és Simão, filho de João; serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro).
Reflexão:
Et respiciens Jesum ambulantem, dicit: Ecce Agnus Dei.
“E, fixando os olhos em Jesus que passava, disse: Eis o Cordeiro de Deus.” (Jo 1:36)
Essa declaração de João Batista aponta diretamente para a identidade de Jesus como o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo (João 1,29). É uma afirmação central do Evangelho, pois revela Jesus como o sacrifício redentor e o cumprimento das promessas divinas, inaugurando o seguimento que transforma os discípulos e toda a humanidade.
A narrativa do encontro com Cristo revela a dinâmica profunda do chamado e da resposta, onde o universo interior de cada ser é transformado ao vislumbrar a face do Verbo encarnado. Este movimento de busca e revelação reflete a comunhão entre o humano e o divino, em que o seguimento de Jesus é a aceitação de uma vocação cósmica, expandindo a consciência para além das limitações do ego. Encontrar Cristo é descobrir o eixo central que organiza todas as realidades em torno do Amor e da Verdade. Assim, a simplicidade do “vinde e vede” desvela a imensidão de um encontro que une, transforma e conduz à plenitude. Jesus, ao renomear Simão como Pedro, sinaliza que cada um é chamado a transcender sua própria essência, participando da obra eterna que conduz à realização última no Reino de Deus.
HOMILIA
“O Chamado que Transforma: Um Encontro com o Cordeiro de Deus”
No Evangelho de hoje, somos conduzidos a uma cena de profundo significado: João Batista proclama a identidade de Jesus como o Cordeiro de Deus. Essa proclamação não é apenas uma introdução à missão de Cristo, mas um convite para um movimento interior que transcende o tempo e o espaço, alcançando também o coração de nossos dias tão desafiadores.
Quando os discípulos de João ouvem as palavras “Eis o Cordeiro de Deus” e seguem Jesus, testemunhamos um momento de escolha radical. Eles deixam para trás aquilo que conheciam para buscar algo maior, impulsionados por uma inquietação que ecoa em toda a humanidade: a sede pelo eterno, pelo verdadeiro sentido da vida.
Hoje, vivemos em um mundo repleto de distrações, incertezas e divisões. As vozes que nos cercam frequentemente nos afastam de nosso centro, convidando-nos a seguir caminhos que prometem segurança imediata, mas que falham em oferecer a plenitude que buscamos. No entanto, o convite de Jesus permanece inalterado: “Vinde e vede.” Ele nos chama a sair de nossas zonas de conforto e contemplar onde Ele habita, não em um lugar físico, mas no âmago do amor, da justiça e da verdade.
Ao dizer a Simão que ele será chamado Pedro, Jesus nos lembra que cada um de nós carrega em si uma potencialidade maior. Não somos definidos apenas por quem fomos até agora, mas por aquilo que podemos nos tornar ao aceitar o chamado de Cristo. Assim como Pedro, somos convidados a nos tornar pedras vivas na construção de um mundo mais justo e amoroso.
Neste tempo de tantos desafios, que possamos, como os discípulos, ouvir a voz que aponta para o Cordeiro de Deus, segui-lo com coragem e permitir que Ele transforme nossas vidas. Em Cristo, encontramos não apenas um caminho, mas o caminho, uma resposta que nos guia para a verdadeira comunhão com Deus e com os outros.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
“E, fixando os olhos em Jesus que passava, disse: Eis o Cordeiro de Deus.” (Jo 1:36)
Esta frase, aparentemente simples, contém uma riqueza teológica que se desdobra em várias dimensões: cristológica, sacrificial e escatológica.
1. A Identidade de Jesus: O Cordeiro de Deus
Quando João Batista aponta para Jesus e o identifica como o “Cordeiro de Deus,” ele evoca diretamente a figura do cordeiro pascal da tradição judaica (Êx 12). Este cordeiro, imolado na noite da Páscoa, era o sinal da libertação do povo de Israel da escravidão no Egito. Assim, João apresenta Jesus como aquele que traz uma libertação definitiva, não mais limitada a uma nação, mas estendida a toda a humanidade, libertando-nos do pecado e da morte.
2. O Olhar que Reconhece
A expressão “fixando os olhos em Jesus” sublinha um momento de profunda contemplação e discernimento espiritual. Não é um olhar superficial, mas um reconhecimento da verdade divina encarnada em Jesus. Esse olhar também nos interpela: somos chamados a direcionar nossos olhos para Cristo, reconhecendo nele a plenitude da revelação de Deus.
3. O Cordeiro e o Sacrifício
O título “Cordeiro de Deus” antecipa o mistério pascal. Jesus é identificado como aquele que será oferecido em sacrifício pelos pecados do mundo (cf. Is 53:7, Ap 5:6). Diferentemente dos sacrifícios do Antigo Testamento, que eram repetidos continuamente, o sacrifício de Cristo é único e perfeito, consumado na cruz e perpetuado na Eucaristia. Nele, o pecado não é apenas coberto, mas removido, restaurando a comunhão plena entre Deus e a humanidade.
4. A Passagem Escatológica
A menção de Jesus “passando” carrega uma conotação escatológica. Ele não é apenas uma figura histórica, mas o Emanuel, aquele que caminha em direção ao cumprimento do Reino de Deus. Este “passar” reflete o movimento constante de Deus na história, convocando-nos a segui-lo na direção da plenitude dos tempos, onde o Cordeiro será glorificado.
5. O Testemunho de João Batista
A declaração de João Batista é mais do que uma identificação; é um testemunho. Ele cumpre sua missão de preparar o caminho do Senhor (Jo 1:23) ao apontar o Messias. Em sua humildade, João direciona seus próprios discípulos a Jesus, reconhecendo que sua missão é incompleta sem o Cordeiro.
Aplicação Teológica
A frase desafia cada cristão a perguntar: “Onde está meu olhar fixado?” Como João Batista, somos chamados a reconhecer e apontar para Cristo em nossas vidas. A identificação de Jesus como o Cordeiro nos convida a participar de sua obra redentora, aceitando o chamado ao seguimento e ao sacrifício, para que também possamos viver e proclamar a plenitude da salvação em nossas próprias histórias.
Este versículo é, portanto, um resumo poderoso da missão de Jesus e do papel do cristão no mundo: reconhecer, seguir e testemunhar o Cordeiro de Deus.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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