sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelio: Lucas 2:22-40 - 02.02.2025

 Liturgia Diária2 – DOMINGO 

APRESENTAÇÃO DO SENHOR


(branco, glória, creio, prefácio próprio – ofício da festa)


Aqui está a transformação do seu texto em uma perspectiva metafísica:


A Luz que Se Manifesta no Tempo

Eis que a Luz primordial irrompe no fluxo da história, dissolvendo as sombras da ignorância e revelando aos que buscam a visão interior. O Senhor vem com poder, não para subjugar, mas para despertar os que habitam a fronteira entre o visível e o invisível.

O Sagrado Oferecimento

No silêncio da entrega, Maria e José conduzem ao templo Aquele que já é o próprio Templo, Aquele que não pode ser contido em espaços finitos, pois é a irradiação do Eterno. O Menino que se oferece não é apenas um filho consagrado, mas a própria Luz devolvida à humanidade, a chama que ilumina o caminho dos que anseiam pelo Conhecimento Supremo.

A Contemplação Profética

Quarenta ciclos se completam desde a manifestação da Presença no mundo, e eis que a Sabedoria desperta nos que velam pela aurora. Simeão e Ana, anciãos do tempo e da espera, percebem além das formas: veem na Criança o esplendor que antecede a criação. Não é um rito que se cumpre apenas no templo de pedra, mas o desvelar de um mistério que se expande pelo cosmos e se inscreve na alma dos que contemplam.

A Jornada Interior

Nós, como peregrinos do Absoluto, somos chamados a penetrar este Mistério. O Espírito nos convoca à casa do Infinito, ao altar onde a Verdade se revela na fração do Pão. Quem se abre à Luz, vê. Quem se entrega à Verdade, vive. Quem reconhece o Cristo, antecipa a plenitude do Tempo, pois já caminha rumo à sua manifestação gloriosa.



Lucas 2:22-40 (Vulgata)

22 Et postquam impleti sunt dies purgationis eorum secundum legem Moysi, tulerunt illum in Ierusalem, ut sisterent eum Domino,
E, quando se completaram os dias da purificação deles, segundo a lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor,

23 sicut scriptum est in lege Domini: Quia omne masculinum adaperiens vulvam, sanctum Domino vocabitur,
conforme está escrito na lei do Senhor: Todo primogênito varão será consagrado ao Senhor,

24 et ut darent hostiam, secundum quod dictum est in lege Domini, par turturum aut duos pullos columbarum.
e para oferecerem o sacrifício prescrito na lei do Senhor: um par de rolas ou dois pombinhos.

25 Et ecce homo erat in Ierusalem, cui nomen Simeon, et homo iste iustus et timoratus, exspectans consolationem Israel, et Spiritus Sanctus erat in eo.
Havia então em Jerusalém um homem chamado Simeão; era justo e piedoso, esperava a consolação de Israel, e o Espírito Santo estava sobre ele.

26 Et responsum acceperat a Spiritu Sancto non visurum se mortem, nisi prius videret Christum Domini.
E lhe fora revelado pelo Espírito Santo que não veria a morte antes de ver o Cristo do Senhor.

27 Et venit in Spiritu in templum. Et cum inducerent puerum Iesum parentes eius, ut facerent secundum consuetudinem legis pro eo,
Movido pelo Espírito, veio ao templo. E, quando os pais trouxeram o Menino Jesus para cumprirem o que a Lei ordenava a seu respeito,

28 et ipse accepit eum in ulnas suas et benedixit Deum et dixit:
ele o tomou em seus braços, louvou a Deus e disse:

29 "Nunc dimittis servum tuum, Domine, secundum verbum tuum in pace,
"Agora, Senhor, podes despedir teu servo em paz, segundo tua palavra,

30 quia viderunt oculi mei salutare tuum,
porque meus olhos viram a tua salvação,

31 quod parasti ante faciem omnium populorum,
que preparaste à vista de todos os povos,

32 lumen ad revelationem gentium et gloriam plebis tuae Israel."
luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel."

33 Et erat pater eius et mater mirantes super his, quae dicebantur de illo.
Seu pai e sua mãe estavam admirados com o que dele se dizia.

34 Et benedixit illis Simeon et dixit ad Mariam matrem eius: "Ecce positus est hic in ruinam et resurrectionem multorum in Israel et in signum, cui contradicetur
Simeão os abençoou e disse a Maria, sua mãe: "Eis que este Menino está destinado à queda e ao levantamento de muitos em Israel, e a ser um sinal de contradição,

35 (et tuam ipsius animam pertransiet gladius), ut revelentur ex multis cordibus cogitationes."
(e a ti mesma uma espada transpassará a alma), para que se revelem os pensamentos de muitos corações."

36 Et erat Anna prophetissa, filia Phanuel, de tribu Aser. Haec processerat in diebus multis et vixerat cum viro suo annis septem a virginitate sua;
Havia também uma profetisa, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era de idade muito avançada e vivera com seu marido sete anos desde a virgindade,

37 et haec vidua usque ad annos octoginta quattuor, quae non discedebat de templo, ieiuniis et obsecrationibus serviens nocte ac die.
e agora era viúva de oitenta e quatro anos. Não se afastava do templo, servindo a Deus noite e dia com jejuns e orações.

38 Et haec, ipsa hora superveniens, confitebatur Deo et loquebatur de illo omnibus, qui exspectabant redemptionem Ierusalem.
Ela também chegou naquele momento, louvava a Deus e falava sobre o Menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém.

39 Et ut perfecerunt omnia secundum legem Domini, reversi sunt in Galilaeam, in civitatem suam Nazareth.
Depois de cumprirem tudo segundo a lei do Senhor, voltaram para a Galileia, à sua cidade de Nazaré.

40 Puer autem crescebat et confortabatur plenus sapientia, et gratia Dei erat in illo.
O Menino crescia e se fortalecia, cheio de sabedoria, e a graça de Deus estava sobre ele.


Reflexão:

lumen ad revelationem gentium et gloriam plebis tuae Israel.
luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel. (Lc 2:32)

Essa proclamação sintetiza a vinda de Cristo como a plenitude da revelação divina, estendendo a salvação a todos os povos.

No templo do tempo, o Verbo se manifesta, e a luz se entrelaça à matéria. O olhar de Simeão, desperto pela plenitude do Espírito, atravessa as formas e antevê o sentido último da existência. O Cristo-Menino não é apenas promessa, mas já é plenitude em germinação, crescendo como um eixo que atrai tudo a si. A revelação é movimento: inicia-se na oferta humilde, ecoa no reconhecimento dos sábios e se projeta na grande consumação. Quem contempla esse Mistério percebe que a glória não é um instante, mas um processo no qual toda a criação se inclina à sua consumação definitiva.


HOMILIA


A LUZ QUE TRANSCENDE O TEMPO


Amados irmãos e irmãs, hoje nos deparamos com a cena do templo onde o Menino Jesus, levado por Maria e José, é apresentado ao Senhor. Uma cena aparentemente simples, mas que carrega em si a dinâmica da revelação: o eterno se manifesta no tempo, o infinito se dobra sobre a finitude, e a Luz se entrelaça à matéria para resgatar a Criação.

Diante desse mistério, encontramos duas figuras que personificam a espera e a esperança: Simeão e Ana. Eles não são meros espectadores, mas testemunhas de um novo ciclo. Ambos representam aqueles que, com olhos atentos e corações sintonizados à verdade, reconhecem que a história não é um encadeamento aleatório de eventos, mas um caminho que se inclina para uma plenitude. Simeão, tomado pelo Espírito, proclama que seus olhos veem a salvação, uma luz que ilumina todas as nações. Ana, no silêncio e na oração, torna-se anunciadora da redenção.

Mas o que significa essa Luz que entra no mundo? O que significa reconhecer Cristo como o eixo da história e da existência?

Vivemos dias em que o homem se vê perdido entre suas conquistas e suas inquietações. A ciência avança, a tecnologia encurta distâncias, a comunicação se expande, mas a alma humana continua a clamar por sentido. Somos uma geração que construiu poderosos instrumentos para compreender o mundo visível, mas muitas vezes negligenciamos os alicerces do invisível. Buscamos a matéria, mas esquecemos a essência; dominamos os átomos, mas perdemos o rumo do espírito.

Simeão e Ana nos ensinam que o verdadeiro reconhecimento da verdade não vem da acumulação de conhecimento exterior, mas da sintonia com o que é profundo e eterno. Eles representam aqueles que não se distraem com o ruído das aparências, mas sabem esperar, sabem ver além. O mundo de hoje nos convida a pressa, à superficialidade e ao consumo desenfreado da informação; mas a verdade exige paciência, contemplação e entrega.

O Cristo apresentado no templo é o mesmo que, anos depois, oferecerá sua vida em sacrifício e ressurgirá para inaugurar uma nova humanidade. Ele é sinal de contradição porque expõe as estruturas que se opõem à luz. Ele desvela os pensamentos ocultos dos corações, porque sua presença convida à transformação. Hoje, essa mesma presença nos questiona: estamos dispostos a vê-lo? Estamos prontos para reconhecer essa luz em meio às sombras do nosso tempo?

O mundo clama por redenção, mas essa redenção não virá por meio de soluções passageiras, de ideologias que se corroem com o tempo, ou de promessas vazias que desviam da verdade. A única redenção verdadeira é aquela que nasce do encontro com Aquele que ilumina a existência desde dentro. Assim como Simeão e Ana, somos chamados a esperar e a proclamar. Não a espera passiva de quem aguarda um futuro incerto, mas a espera ativa de quem molda o presente com esperança.

Neste tempo, em que as nações buscam novos rumos, em que os corações oscilam entre medo e desejo, sejamos portadores dessa luz. Reconheçamos o Cristo que se manifesta nos pequenos sinais, no silêncio que fala mais alto que o barulho do mundo, na presença que resgata, na verdade que liberta.

E então, como Simeão, poderemos dizer: "Agora, Senhor, podes deixar teu servo partir em paz, porque meus olhos viram a tua salvação."


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

A LUZ QUE ILUMINA AS NAÇÕES E A GLÓRIA DE ISRAEL

"Lumen ad revelationem gentium et gloriam plebis tuae Israel."
(Lucas 2,32)

A frase pronunciada por Simeão no Templo contém um mistério teológico de imensa profundidade, pois anuncia o alcance universal da missão de Cristo e o papel singular de Israel na economia da salvação.

1. A LUZ QUE ILUMINA AS NAÇÕES

A expressão "lumen ad revelationem gentium" revela que Cristo não é apenas o Messias de Israel, mas também a luz destinada a iluminar todas as nações. A palavra lumen aqui assume um significado que transcende a luz física: trata-se da luz da verdade, do conhecimento divino, da revelação que dissipa as trevas da ignorância e do pecado.

Nas Escrituras, a luz é símbolo da presença divina (Fiat lux em Gn 1,3) e da sabedoria de Deus (Lux vera quae illuminat omnem hominem – Jo 1,9). Ao dizer que Cristo é a luz para as nações, Simeão antecipa o anúncio da universalidade da salvação, algo que já fora profetizado por Isaías:

"Eu te estabeleci como luz das nações, para seres minha salvação até os confins da terra." (Is 49,6)

Aqui está a radical novidade do Evangelho: a salvação não está restrita a um único povo, mas é oferecida a todos. A luz de Cristo ilumina não apenas Israel, mas todas as nações, trazendo a revelação definitiva que transcende as limitações dos sistemas religiosos e filosóficos anteriores. O próprio Jesus confirma isso ao dizer:

"Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida." (Jo 8,12)

Essa luz não apenas dissipa a ignorância, mas também purifica, revela e transforma. Aquele que se expõe à luz de Cristo não pode permanecer o mesmo: ou aceita ser iluminado e purificado, ou se fecha, rejeitando a salvação.

2. A GLÓRIA DO TEU POVO ISRAEL

A segunda parte da frase, "gloriam plebis tuae Israel," não deve ser entendida como um privilégio nacionalista, mas como a confirmação do papel de Israel no plano salvífico de Deus. Israel foi escolhido para ser o portador da promessa messiânica, o povo da aliança, aquele através do qual Deus revelou sua Lei e seus profetas.

A glória de Israel não está em sua grandeza política ou militar, mas no fato de ter sido o instrumento pelo qual Deus conduziu a humanidade à plenitude dos tempos, preparando a vinda do Salvador. Como diz São Paulo:

"Deles são a adoção, a glória, as alianças, a promulgação da Lei, o culto, as promessas; deles são os patriarcas, e deles descende o Cristo segundo a carne, o qual é sobre tudo, Deus bendito para sempre. Amém!" (Rm 9,4-5)

Israel é glorificado porque Cristo, a suprema revelação de Deus, nasce dentro dele e por meio dele se entrega ao mundo. Porém, essa glória não se encerra em si mesma, mas se expande, cumprindo sua vocação ao dar ao mundo o Salvador.

3. A TENSÃO ENTRE PARTICULARIDADE E UNIVERSALIDADE

O que essa frase de Lucas 2,32 revela é a grande tensão entre particularidade e universalidade dentro da história da salvação. Cristo nasce dentro de Israel, mas para toda a humanidade. O Evangelho é, ao mesmo tempo, um cumprimento das promessas feitas aos patriarcas e uma ruptura com qualquer ideia de exclusividade étnica ou nacional da salvação.

Esse mesmo paradoxo se reflete na própria missão da Igreja: ela é um povo eleito, um novo Israel, mas sua missão é ir ad gentes, a todas as nações, pois a verdade de Cristo não pode ser confinada a um único grupo.

4. A RELEVÂNCIA PARA OS NOSSOS DIAS

No mundo contemporâneo, essa passagem nos chama a refletir sobre dois aspectos:

  1. Cristo continua sendo a luz para as nações – Em uma época marcada por relativismos, crises de identidade e falta de sentido, a mensagem de Cristo se mantém como única resposta capaz de iluminar a verdadeira condição humana.
  2. O cristão é chamado a ser portador dessa luz – Assim como Israel foi a nação que trouxe Cristo ao mundo, hoje os cristãos têm a missão de irradiar essa luz para aqueles que ainda estão nas trevas da ignorância espiritual.

O anúncio de Simeão ressoa até os dias de hoje: a luz de Cristo foi dada ao mundo, mas cabe a cada um decidir se deseja viver nessa luz ou permanecer nas sombras.

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quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: Marcos 4:35-41 - 01.02.2025

 Liturgia Diária


1º – SÁBADO 

3ª SEMANA DO TEMPO COMUM


(verde – ofício do dia da 3ª semana do saltério)


Cantai ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor, terra inteira. Glória e esplendor em sua presença, santidade e beleza no seu santuário (Sl 95,1.6).


A fé, revela a Escritura, é a certeza do que transcende a percepção sensível, a adesão à substância do que ainda não se manifesta aos olhos. Diante do temor que obscurece a alma dos discípulos, o Verbo encarnado interpela: “Ainda não penetrastes na essência da fé?” Roguemos ao Senhor que expanda em nós a luz da fé, para que vejamos além das formas transitórias e nos unamos à realidade última que sustenta todas as coisas.



Marcos 4:35-41 (Vulgata)

  1. Et factum est in illa die, vespere facto, dicit illis: Transgrediamur latus trans fretum.
    E aconteceu naquela mesma tarde, já tendo-se feito noite, disse-lhes: "Passaremos para a outra margem."

  2. Et dimittunt turbam, et assumunt eum, sicuti erat in navi; et aliae naves erant cum illo.
    E deixando a multidão, tomaram-no assim como estava na barca; e outras barcas o seguiam.

  3. Et factus est subitus ventus magnus, et fluctus ferebant in navem, ita ut iam impleturentur.
    E houve uma grande tempestade de vento, e as ondas batiam na barca, de forma que ela já se enchia de água.

  4. Et ipse erat in puppi supra cervical, dormiens: et excitant eum, et dicunt ei: Magister, non est tibi cura, quia perimus?
    E ele estava na parte de trás, dormindo sobre um travesseiro, e o despertaram, dizendo-lhe: "Mestre, não te importa que pereçamos?"

  5. Et exsurgens, imperavit vento et aiunt mari: Tace, obmutesce. Et subiit tranquillitas magna.
    E, levantando-se, repreendeu o vento e disse ao mar: "Cala-te, emudece." E houve grande calma.

  6. Et ait illis: Quid timidi estis? Nec tamen fidem habetis?
    E disse-lhes: "Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?"

  7. Et timuerunt timore magno, et dicebant alterutrum: Quisnam est hic, quia et venti et mare obediunt ei?
    E temeram-se com grande temor, e diziam uns aos outros: "Quem é este, que até o vento e o mar lhe obedecem?"

Reflexão:

Et ait illis: Quid timidi estis? Nec tamen fidem habetis?
E disse-lhes: "Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?" (Mc 4:40)

Essa pergunta de Jesus resume a essência do relato: a fé não é apenas uma crença passiva, mas a chave para a superação do medo e a comunhão com a realidade divina.

A barca em que os discípulos estão representa a jornada humana, em constante luta contra os ventos das adversidades e as ondas da incerteza. Contudo, a intervenção divina não é apenas um ato de salvação externa, mas também um convite ao despertar interior, onde a fé se torna o leme que guia as almas para águas mais profundas. O ato de Jesus acalmar a tempestade revela a força do espírito sobre as forças caóticas que nos cercam. Quando a confiança é depositada na essência divina, a paz se torna possível, não como uma ausência de desafios, mas como uma transcendência que une todas as partes do ser. O despertar da fé é, assim, um movimento do espírito que se orienta para o centro imutável, onde tudo encontra harmonia.


HOMILIA

A Travessia da Fé

Amados irmãos e irmãs, o Evangelho nos apresenta hoje a travessia do lago, onde Jesus e seus discípulos enfrentam uma tempestade repentina. Esta cena, tão concreta, nos revela algo profundo sobre nossa própria jornada.

Vivemos tempos de incertezas. A humanidade, como aquela barca, atravessa um mar agitado por crises, dúvidas e desafios que parecem ameaçar seu rumo. O medo se infiltra nos corações, e muitos se perguntam, como os discípulos: “Mestre, não te importa que pereçamos?” O silêncio de Deus diante das tempestades da história é muitas vezes angustiante. Contudo, este Evangelho nos convida a olhar além das aparências e a perceber uma verdade essencial: Cristo está na barca.

A tempestade simboliza as forças que nos desorientam, mas também o grande movimento da existência, que nos impulsiona a avançar. Há uma força que conduz tudo para além do caos aparente, um chamado à maturidade da fé. Quando Jesus desperta e acalma os ventos, Ele nos ensina que a paz verdadeira não vem da ausência de dificuldades, mas da confiança naquele que sustenta todas as coisas.

Hoje, a fé não pode ser apenas uma ideia vaga ou um refúgio para os momentos de crise. Ela deve ser uma resposta viva, uma força que nos transforma e nos faz ver que o caminho não termina no medo, mas na plenitude da comunhão. “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?”, pergunta-nos o Senhor. Nossa travessia não é sem sentido: ela nos leva ao outro lado, ao horizonte que se abre para uma realidade maior, onde tudo encontra seu verdadeiro significado.

Que aprendamos, então, a descansar no coração de Deus, a confiar que mesmo no silêncio, Ele age. Pois a fé não é apenas esperar que a tempestade passe, mas compreender que há uma direção segura para além dela.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

A Fé como Superação do Medo – Marcos 4,40

A frase de Jesus — “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?” (Mc 4,40) — contém um ensinamento teológico profundo sobre a natureza da fé e sua relação com o medo. No contexto do relato, os discípulos se encontram em meio a uma tempestade violenta, e Jesus, adormecido na barca, parece indiferente ao perigo iminente. Ao ser despertado, Ele acalma o mar e o vento com uma palavra, revelando sua autoridade sobre a criação. Sua pergunta aos discípulos, então, não é meramente retórica, mas uma interpelação existencial que desvela a relação entre fé e medo.

1. O Medo como Desordem do Coração

O medo, na perspectiva bíblica, é a consequência do afastamento da confiança em Deus. No Gênesis, Adão, ao pecar, esconde-se porque tem medo (Gn 3,10). No deserto, Israel teme a fome e a sede porque duvida da providência divina. O medo dos discípulos reflete essa mesma dinâmica: diante das forças caóticas do mundo, o coração humano se inquieta e perde de vista a presença de Deus.

A pergunta de Jesus revela que o medo, em sua raiz mais profunda, não é apenas um instinto natural, mas um sinal da ausência de uma fé madura. A fé verdadeira não se manifesta apenas quando tudo está sob controle, mas precisamente quando as forças externas parecem ameaçadoras.

2. A Fé como Participação na Ordem Divina

Jesus não diz aos discípulos simplesmente para não temerem; Ele os convida a reconhecerem que a fé é a chave para compreender a realidade de forma mais profunda. A fé não é apenas uma crença subjetiva ou uma disposição emocional, mas uma participação na ordem divina que sustenta o cosmos.

O medo nasce quando se vê apenas a tempestade, mas a fé permite perceber que há uma Vontade superior conduzindo a história. Por isso, Cristo não apenas acalma o mar, mas quer transformar o olhar dos discípulos, para que compreendam que sua segurança não está na estabilidade das circunstâncias externas, mas na comunhão com Ele.

3. O Chamado ao Crescimento Espiritual

A pergunta de Jesus tem um tom pedagógico: “Ainda não tendes fé?” Isso implica que a fé é um caminho de crescimento, um processo no qual a alma deve avançar da dependência dos sentidos e da razão humana para uma confiança radical na condução divina.

A experiência da tempestade faz parte da pedagogia divina. Deus permite que passemos por provações não para nos abandonar, mas para que aprendamos a ver além das aparências. O crescimento na fé exige que a alma passe da segurança ilusória dos meios humanos para a certeza profunda de que Cristo está sempre presente, mesmo quando parece dormir.

4. A Fé como Resposta ao Mistério de Cristo

O medo dos discípulos não vem apenas da tempestade, mas do próprio poder de Jesus. O texto conclui dizendo que, após o milagre, “encheram-se de grande temor” (Mc 4,41). Esse temor não é o medo natural, mas o espanto diante da manifestação do Mistério.

A fé autêntica não é apenas confiar que Deus nos livrará das tempestades da vida, mas reconhecer que Ele mesmo é o centro de todas as coisas. O verdadeiro temor que devemos ter não é das forças do mundo, mas da nossa própria incapacidade de reconhecer a Presença que nos sustenta.

Conclusão

A pergunta de Jesus — “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?” — ecoa como um chamado à conversão profunda do nosso olhar. Somos constantemente desafiados a escolher entre o medo e a confiança, entre ver apenas o caos ou enxergar, através da fé, a ordem invisível que conduz todas as coisas.

A fé não é apenas um refúgio contra as tempestades da vida; é a chave para compreender que, em Cristo, tudo já está reconciliado. O verdadeiro discípulo não é aquele que apenas pede para que a tempestade cesse, mas aquele que, mesmo em meio às ondas, descansa na certeza de que Deus já sustenta todas as coisas.

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quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: Marcos 4:26-34 - 31.01.2025

 Liturgia Diária


31 – SEXTA-FEIRA 

SÃO JOÃO BOSCO


PRESBÍTERO


(branco, pref. comum, ou dos pastores – ofício da memória)


Vossos sacerdotes, Senhor, se vistam de justiça e vossos santos exultem de alegria (Sl 131,9).


A liturgia nos exorta à fidelidade na manifestação das sementes do Reino, pois cada ação na verdade é um reflexo da eterna semeadura do Verbo no tempo. Ainda que a existência apresente provações, a perseverança ressoa com a promessa celeste: “Não abandoneis, pois, a vossa coragem, que merece grande recompensa.” Assim como o cosmos se ordena segundo a divina harmonia, também a trajetória dos santos se inscreve no desdobramento da Vontade Suprema.

São João Bosco, peregrino da luz, moveu-se na tessitura invisível da graça, não temendo as sombras que tentaram ofuscar sua missão. Manifestou, em sua jornada terrestre, o zelo pelo crescimento espiritual dos que, à margem do fluxo do mundo, aguardavam o despertar de sua dignidade transcendente. No silêncio do chamado divino, ergueu a “Família Salesiana”, reflexo da comunhão dos santos, para que a sabedoria se expandisse como ondas no oceano do Espírito.

Elevemos nossa prece ao Senhor, para que nos conceda a centelha ardente desse mestre das almas, a fim de que nossa própria senda se alinhe ao eterno desígnio do Reino.



Marcos 4:26-34 (Vulgata)

26 Et dicebat: Sic est regnum Dei, quemadmodum si homo jaciat sementem in terram,
E dizia: Assim é o Reino de Deus, como se um homem lançasse a semente na terra,

27 et dormiat, et exsurgat nocte ac die, et semen germinet, et increscat dum nescit ille.
e dormisse e se levantasse, noite e dia, e a semente germinasse e crescesse, sem que ele soubesse como.

28 Ultro enim terra fructificat, primum herbam, deinde spicam, deinde plenum frumentum in spica.
Por si mesma a terra produz fruto: primeiro a erva, depois a espiga, e por fim o trigo cheio na espiga.

29 Et cum se produxerit fructus, statim mittit falcem, quoniam adest messis.
E quando o fruto amadurece, logo se mete a foice, porque chegou a colheita.

30 Et dicebat: Cui assimilabimus regnum Dei? aut cui parabolæ comparabimus illud?
E dizia: A que assemelharemos o Reino de Deus? Ou com que parábola o compararemos?

31 Sicut granum sinapis, quod cum seminatum fuerit in terra, minus est omnibus seminibus, quæ sunt in terra:
É como um grão de mostarda que, quando semeado na terra, é a menor de todas as sementes que há na terra.

32 Et cum seminatum fuerit, ascendit, et fit majus omnibus oleribus, et facit ramos magnos, ita ut possint sub umbra ejus aves cæli habitare.
Mas quando é semeado, cresce e torna-se maior que todas as hortaliças e lança grandes ramos, de modo que as aves do céu podem aninhar-se à sua sombra.

33 Et talibus multis parabolis loquebatur eis verbum, prout poterant audire:
E com muitas parábolas como estas lhes falava a palavra, conforme podiam compreender.

34 Sine parabola autem non loquebatur eis: seorsum autem discipulis suis disserebat omnia.
Sem parábola, porém, não lhes falava; mas em particular explicava tudo a seus discípulos.


Reflexão:

"Et cum se produxerit fructus, statim mittit falcem, quoniam adest messis."

"E quando o fruto amadurece, logo se mete a foice, porque chegou a colheita." (Mc 4:29)

Este versículo é crucial, pois simboliza a consumação do Reino de Deus, onde o processo de crescimento espiritual, embora misterioso e invisível, culmina no momento de colheita, quando a obra de Deus é plenamente realizada e o destino das almas é revelado.

A semente do Reino oculta-se na vastidão da existência, crescendo silenciosamente no seio da realidade. Seu desabrochar não é obra do tempo, mas da força que a impele de dentro para fora, revelando a marcha da criação em direção ao seu ápice. Pequena como um grão de mostarda, carrega em si o destino do universo, elevando-se até tornar-se refúgio para todas as criaturas. No mistério desse crescimento, percebe-se a presença de uma ordem invisível, onde cada instante é um passo na convergência do ser para sua plenitude. O Reino não é um ponto fixo, mas um movimento, uma expansão que atrai todas as coisas para sua consumação luminosa.


HOMILIA

O Reino que Cresce em Silêncio

Amados irmãos e irmãs,

O Evangelho de hoje nos apresenta uma verdade essencial: o Reino de Deus não surge com alarde nem se impõe pela força. Ele cresce no silêncio da história, como a semente que, lançada à terra, germina e se desenvolve sem que percebamos os mistérios de seu crescimento.

Jesus nos convida a contemplar essa dinâmica oculta da vida, onde o essencial se manifesta não na pressa ou na ansiedade humana, mas na paciência daquilo que se desenvolve no tempo certo. A semente do Reino já está lançada no mundo e em nossos corações. Mas muitas vezes, tomados pelas inquietações da modernidade, queremos ver resultados imediatos, medir a eficácia da graça divina segundo os critérios das conquistas humanas. Queremos que a verdade resplandeça sem resistência, que a justiça se instaure sem oposição, que a plenitude se alcance sem passagem pelo amadurecimento da vida.

Contudo, o Senhor nos ensina que há um processo, uma dinâmica oculta e imutável que conduz tudo à sua plenitude. A vida, mesmo diante das incertezas do presente, caminha para um desígnio maior. A crise que assola o mundo, o aparente caos que tantos enxergam, não são sinais do fracasso da semente, mas o próprio terreno onde ela se desenvolve. Há um crescimento que escapa aos nossos olhos, uma obra que se realiza além do nosso entendimento imediato.

O pequeno grão de mostarda nos fala de algo ainda maior: o que parece insignificante agora, no tempo oportuno se torna morada para muitos. O progresso do Reino não se mede por estatísticas, por poderes visíveis, mas pelo modo como transforma, pouco a pouco, a estrutura mais profunda da existência. Somos chamados a confiar nesse movimento, a trabalhar sem desânimo, sabendo que toda obra realizada na verdade e no amor já participa dessa grande colheita que um dia será manifesta.

Assim, irmãos e irmãs, que possamos ser semeadores incansáveis. Que perseveremos, mesmo sem ver os frutos imediatos. Que compreendamos que nossa existência não é um acaso perdido no tempo, mas parte desse grande processo de crescimento que nos conduz, inevitavelmente, à consumação da luz. O Reino já está entre nós, cresce em silêncio, e um dia, na plenitude dos tempos, veremos sua colheita resplandecer.

Amém.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

A Consumação do Reino e o Mistério da Colheita

A frase "E quando o fruto amadurece, logo se mete a foice, porque chegou a colheita." (Mc 4,29) contém uma profundidade teológica que transcende a mera imagem agrícola e nos conduz ao mistério da consumação do Reino de Deus.

1. O Crescimento Oculto e a Maturação da História

A parábola da semente mostra que o Reino cresce independentemente da percepção humana. O agricultor planta e confia no processo natural, sem saber como a semente germina. Da mesma forma, a ação de Deus no mundo não se submete ao controle humano, mas segue um dinamismo próprio, conduzindo todas as coisas a uma plenitude invisível aos olhos imediatos.

O amadurecimento do fruto representa o cumprimento desse processo: o Reino cresce no tempo, na história e nas almas, até que atinja o ponto de sua manifestação definitiva. Esse crescimento pode parecer lento ou imperceptível, mas segue uma direção infalível. A colheita, nesse sentido, é o momento em que a obra de Deus atinge sua realização plena.

2. O Tempo da Colheita e a Escatologia Bíblica

A imagem da foice evoca um tema escatológico presente em toda a Escritura: a separação final entre o que é verdadeiro e o que é transitório. O profeta Joel já anunciava:

"Lançai a foice, porque está madura a seara; vinde e pisai, porque o lagar está cheio e os tanques transbordam, pois sua malícia é grande" (Joel 4,13).

A colheita é frequentemente associada ao juízo divino, onde cada ser será revelado conforme sua verdade mais profunda. Jesus, ao empregar essa imagem, aponta para um desfecho inevitável da história: a chegada do Reino não é apenas um evento distante, mas uma realidade em gestação, que em determinado momento se manifestará plenamente.

3. A Colheita como Momento de Separação e Realização

Na visão do Evangelho, a colheita não representa apenas um juízo de condenação, mas um momento de consumação e plenitude. Em Mateus, Jesus retoma essa imagem na parábola do trigo e do joio:

"Deixai crescer ambos até a colheita; e no tempo da colheita direi aos ceifeiros: colhei primeiro o joio e atai-o em molhos para o queimar; mas o trigo recolhei-o no meu celeiro" (Mt 13,30).

A separação entre o joio e o trigo não significa apenas um juízo externo, mas revela o processo interior de maturação espiritual. O homem, em sua liberdade, torna-se joio ou trigo. Aqueles que se deixam transformar pela graça são recolhidos como frutos maduros para a vida eterna; aqueles que resistem à ação divina se tornam como palha seca, destinada a desaparecer.

4. O Chamado à Vigilância e à Cooperação com a Graça

A frase de Marcos 4,29 não nos convida à passividade, mas à vigilância e cooperação. Embora o Reino tenha um dinamismo próprio, nossa participação é essencial. Se a semente germina sem que saibamos como, isso não significa que sejamos meros espectadores. Jesus nos chama a estar atentos ao tempo da colheita, a discernir os sinais do amadurecimento do Reino em nós e no mundo.

A colheita não é apenas um evento futuro, mas algo que já ocorre no presente, sempre que uma alma atinge sua plenitude em Deus. A cada instante, a humanidade caminha para esse momento definitivo em que o tempo dará lugar à eternidade e o Reino se revelará em sua totalidade.

Conclusão

A frase "E quando o fruto amadurece, logo se mete a foice, porque chegou a colheita." resume o sentido do Reino como um processo de crescimento invisível, mas certo. O Reino de Deus não é estático, mas se expande, amadurece e se manifesta no tempo certo. A colheita é a revelação final desse processo, onde cada ser será recolhido segundo sua verdade mais profunda.

Somos chamados, portanto, a viver nesse horizonte de esperança, reconhecendo que cada ato de amor, cada gesto de fidelidade e cada pequena transformação interior já fazem parte da grande colheita que, no tempo determinado por Deus, se manifestará plenamente.

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terça-feira, 28 de janeiro de 2025

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: Marcos 4,21-25 - 30.01.2025

 Liturgia Diária


30 – QUINTA-FEIRA 

3ª SEMANA DO TEMPO COMUM


(verde – ofício do dia)


Cantai ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor, terra inteira. Glória e esplendor em sua presença, santidade e beleza no seu santuário (Sl 95,1.6).


Graças à sublime conexão com o Verbo encarnado, que é Jesus Cristo, a comunhão espiritual dos que transcendem no crer, como sacerdócio eterno e nação consagrada ao absoluto, eleva-se à capacidade de dialogar diretamente com a Essência divina, sem a intermediação de vozes alheias. Assim, sustentados pelo influxo da graça infinita, mantemos a chama primordial da fé vibrante em nossa essência, manifestando-a como reflexo luminoso em cada ato que nos une ao eterno.



Marcos 4,21-25 (Vulgata)

  1. Et dicebat illis: Numquid venit lucerna ut sub modio ponatur aut sub lecto? Nonne ut super candelabrum ponatur?
    E dizia-lhes: Porventura traz-se a lâmpada para colocá-la debaixo do alqueire ou da cama? Não se coloca ela sobre o candeeiro?

  2. Non enim est aliquid absconditum, quod non manifestetur, nec factum est occultum, sed ut in palam veniat.
    Nada está oculto que não venha a ser manifestado, nem há nada escondido que não venha à luz.

  3. Si quis habet aures audiendi, audiat.
    Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça.

  4. Et dicebat illis: Videte quid audiatis. In qua mensura mensi fueritis, remetietur vobis, et adiicietur vobis.
    E dizia-lhes: Atentai no que ouvis. Com a medida com que medirdes, vos medirão, e ainda se vos acrescentará.

  5. Qui enim habet, dabitur illi; et qui non habet, etiam quod habet auferetur ab illo.
    Pois ao que tem, será dado; e ao que não tem, até o que tem lhe será tirado.


Reflexão:

Qui enim habet, dabitur illi; et qui non habet, etiam quod habet auferetur ab illo.
Pois ao que tem, será dado; e ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. (Mc 4:25)

Essa frase destaca o princípio espiritual de multiplicação dos dons para aqueles que os cultivam e a perda para aqueles que os negligenciam, resumindo o ensinamento central do trecho.

A luz é a manifestação do divino que deseja expandir-se, alcançar e iluminar toda a criação. Quando permitimos que a lâmpada interior brilhe, não apenas vemos, mas também somos vistos como instrumentos dessa clareza espiritual. Tudo o que permanece oculto em nós aguarda o momento de ser revelado para contribuir com o crescimento integral da consciência. A medida com que nos doamos à verdade determina a abundância de luz que recebemos. Aquele que cultiva sua essência espiritual encontra um fluxo inesgotável de graça, enquanto a negligência interior conduz à esterilidade. Somos chamados a cooperar com a luz para que, através de nós, ela ilumine os horizontes infinitos do ser.


HOMILIA

A Luz que Transforma e Eleva a Vida

No Evangelho de Marcos 4,21-25, somos convidados a refletir sobre o propósito da luz que carregamos dentro de nós e como ela deve brilhar para o mundo. Jesus utiliza a metáfora da lâmpada que não é feita para ser escondida, mas para ser colocada no alto, onde pode iluminar a todos. Essa luz é o símbolo de nossa fé, de nossos dons e de nossa responsabilidade em transformar o ambiente ao nosso redor.

Nos dias de hoje, vivemos em um mundo que alterna entre sombras e progresso. De um lado, enfrentamos crises de desigualdade, indiferença e isolamento; de outro, presenciamos avanços incríveis em ciência, tecnologia e comunicação. No entanto, qual é o verdadeiro propósito desse progresso se a luz que recebemos não é compartilhada para promover a justiça, a solidariedade e o bem comum?

Jesus nos alerta que tudo o que está oculto será revelado, e a medida com que agimos será a medida com que receberemos. Isso nos desafia a examinar profundamente como utilizamos os dons que nos foram confiados. Estamos colocando nossa luz no alto, onde pode iluminar e inspirar os outros, ou a escondemos por medo, comodismo ou egoísmo?

A frase "Pois ao que tem, será dado; e ao que não tem, até o que tem lhe será tirado" ressoa como um chamado à responsabilidade. Aquele que cultiva os seus dons e os utiliza para o bem verá esses dons multiplicados. Mas aquele que negligencia sua luz e sua vocação pode perder até mesmo o pouco que possui. Isso nos ensina que o progresso não é verdadeiro quando beneficia apenas a poucos, mas quando é colocado a serviço da humanidade inteira.

Hoje, somos convidados a nos tornar portadores de uma luz transformadora. Isso implica coragem para enfrentar as sombras do mundo, mas também sabedoria para usar os instrumentos modernos em favor daquilo que é essencial: o cuidado com o próximo, a busca pela verdade e a construção de um futuro onde a luz de cada indivíduo possa brilhar sem obstáculos.

Colocar nossa lâmpada no alto significa fazer com que nossas ações, nossos talentos e nossa fé se tornem faróis que iluminam as dificuldades e as possibilidades do nosso tempo. É nessa entrega que encontramos sentido e nos unimos ao movimento universal que nos chama para uma vida mais plena e verdadeira, rumo à realização do que fomos criados para ser: luz no mundo.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

Explicação Teologicamente Profunda de Marcos 4:25

"Pois ao que tem, será dado; e ao que não tem, até o que tem lhe será tirado" (Mc 4:25) é uma afirmação paradoxal que desafia a compreensão imediata e exige uma reflexão profunda sobre sua implicação espiritual, moral e escatológica. Para entendê-la, é necessário situá-la no contexto do Evangelho de Marcos e na pedagogia divina revelada por Jesus.

1. O Dom de Deus como Graça que Multiplica

Na perspectiva teológica, o "ter" mencionado no versículo não se refere à posse material ou ao acúmulo de bens terrenos. Jesus não está falando de um privilégio elitista ou de uma injustiça divina, mas da disposição interior de acolher e responder à graça de Deus. "Ter" é, nesse contexto, possuir abertura ao Espírito, humildade para acolher a verdade e generosidade para compartilhar os dons recebidos.

Quem possui essa disposição encontra um crescimento exponencial na vida espiritual. Aquele que cultiva a fé, a caridade e a esperança não apenas se torna mais pleno, mas também torna-se capaz de gerar frutos espirituais em abundância. Esse "será dado" é o dinamismo do Reino de Deus: quanto mais nos entregamos à vontade divina, mais somos capacitados e enriquecidos pela graça.

2. O Risco da Estagnação e da Negligência

Por outro lado, "não ter" não implica uma ausência inicial de dons, mas sim uma postura de fechamento, indiferença ou negligência para com aquilo que foi recebido. Todo ser humano é dotado de potencialidades e chamado a participar do Reino. Porém, aquele que endurece o coração, que recusa os convites à conversão, ou que esconde a sua "lâmpada" embaixo do alqueire, perde até mesmo a capacidade de reconhecer o pouco que possui. Essa perda não é uma punição arbitrária de Deus, mas uma consequência natural do afastamento da fonte da vida e da verdade.

3. A Economia do Reino de Deus

No Reino de Deus, a dinâmica da abundância não segue a lógica do mundo. Enquanto na sociedade humana o "ter" é frequentemente acumulativo e egoísta, no Reino, o "ter" é participativo e generoso. O que se recebe é dado para ser compartilhado, e na partilha o dom se multiplica. Aquele que enterra seu talento (como na parábola dos talentos, Mt 25,14-30) perde-o porque não o colocou a serviço, enquanto o que arrisca e trabalha com o que recebeu vê os frutos florescerem.

4. Uma Chave Escatológica: A Preparação para o Juízo

Esse versículo também possui uma dimensão escatológica, relacionada ao juízo final. O "ter" significa estar preparado, viver em vigilância e fidelidade à missão recebida. Quem persevera na fé e na obediência ao Evangelho será recompensado com a plenitude da comunhão divina. Por outro lado, aquele que rejeita o chamado de Deus, mesmo que pareça ter algo (como obras exteriores ou méritos humanos), verá tudo isso desmoronar diante da luz da verdade. Como em Mateus 7,21-23, as aparências não bastam; é necessário que a vida esteja verdadeiramente enraizada em Cristo.

5. Aplicação Prática e Espiritual

Esse ensinamento é um convite ao discernimento e à ação. Ele nos desafia a:

  • Reconhecer os dons espirituais recebidos como graça de Deus, não como mérito próprio.
  • Cultivar esses dons com dedicação, oração e serviço ao próximo.
  • Evitar a apatia espiritual e o fechamento à graça, que levam à esterilidade e à perda da plenitude de vida que Deus deseja para cada um de nós.
  • Estar atentos à pedagogia divina, que multiplica em nós o bem quando o colocamos em circulação e nos corrige quando nos afastamos do caminho do amor.

6. Uma Conclusão Cristocêntrica

Em última análise, essa frase aponta para Cristo como a luz que ilumina tudo. Ele é o modelo perfeito de quem "tem" em plenitude e se dá completamente. Sua vida, morte e ressurreição nos ensinam que quanto mais nos esvaziamos para Deus e para os outros, mais somos preenchidos pelo amor divino. A frase, portanto, não é apenas um alerta, mas também uma promessa: aqueles que se abrem à luz de Cristo jamais ficarão no vazio, mas receberão em abundância o que lhes é necessário para alcançar a vida eterna.

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA

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segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelh: Marcos 4:1-20 - 29.01.2025

 Liturgia Diária


29 – QUARTA-FEIRA 

3ª SEMANA DO TEMPO COMUM


(verde – ofício do dia)


Cantai ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor, terra inteira. Glória e esplendor em sua presença, santidade e beleza no seu santuário (Sl 95,1.6).


A comunidade cristã, ao elevar-se à profundidade do Verbo Divino, inscrevendo a Sabedoria Eterna no âmago da alma e na consciência iluminada, torna-se manifestação viva do templo espiritual, onde o amor e o perdão transcendem a existência. Vivamos a celebração da Eucaristia como um mistério de fé que nos une à essência do Cristo e como um cântico jubiloso à Verdade que nos transfigura.



Marcos 4:1-20 (Vulgata)

  1. Et iterum coepit docere ad mare. Et congregata est ad eum turba multa, ita ut in navem ascendens sederet in mari, et omnis turba circa mare super terram erat.
    E começou novamente a ensinar junto ao mar. E reuniu-se ao seu redor uma grande multidão, de modo que, subindo a uma barca, sentou-se no mar, enquanto toda a multidão estava em terra, junto ao mar.

  2. Et docebat eos in parabolis multa, et dicebat illis in doctrina sua:
    E ensinava-lhes muitas coisas em parábolas, e dizia-lhes em sua doutrina:

  3. Audite: Ecce exiit seminans ad seminandum.
    Ouvi: Eis que saiu o semeador a semear.

  4. Et dum seminat, aliud cecidit circa viam, et venerunt volucres cæli, et comederunt illud.
    E enquanto semeava, uma parte caiu junto ao caminho, e vieram as aves do céu e a comeram.

  5. Aliud vero cecidit super petrosa, ubi non habuit terram multam: et statim exortum est, quia non habebat altitudinem terræ.
    Outra parte caiu sobre terreno pedregoso, onde não havia muita terra, e logo nasceu, porque não tinha profundidade de terra.

  6. Et quando exortus est sol, exæstuavit: et quia non habebat radicem, exaruit.
    E, quando surgiu o sol, queimou-se, e, porque não tinha raiz, secou-se.

  7. Et aliud cecidit in spinas: et ascenderunt spinæ, et suffocaverunt illud, et fructum non dedit.
    Outra parte caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram e a sufocaram, e não deu fruto.

  8. Et aliud cecidit in terram bonam: et dabat fructum ascendentem et crescentem, et afferebat unum triginta, et unum sexaginta, et unum centum.
    E outra parte caiu em terra boa, e dava fruto que crescia e aumentava, produzindo trinta, sessenta e cem por um.

  9. Et dicebat: Qui habet aures audiendi, audiat.
    E dizia: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.

  10. Et cum esset singularis, interrogaverunt eum hi qui cum eo erant duodecim, parabolam.
    Quando estava sozinho, os que estavam com Ele, juntamente com os doze, perguntaram-lhe sobre a parábola.

  11. Et dicebat eis: Vobis datum est nosse mysterium regni Dei: illis autem, qui foris sunt, in parabolis omnia fiunt:
    E disse-lhes: A vós foi dado conhecer o mistério do Reino de Deus; mas aos que estão de fora, tudo é dito em parábolas,

  12. Ut videntes videant, et non videant: et audientes audiant, et non intelligant: ne quando convertantur, et dimittantur eis peccata.
    Para que, vendo, vejam e não percebam; e ouvindo, ouçam e não entendam, para que nunca se convertam e lhes sejam perdoados os pecados.

  13. Et ait illis: Nescitis parabolam hanc? et quomodo omnes parabolas cognoscetis?
    E disse-lhes: Não entendeis esta parábola? Como, então, compreendereis todas as parábolas?

  14. Qui seminat, verbum seminat.
    O semeador semeia a Palavra.

  15. Hi autem sunt qui circa viam, ubi seminatur verbum, et cum audierint, confestim venit Satanas, et aufert verbum, quod seminatum fuerat in cordibus eorum.
    Estes são os que estão junto ao caminho, onde a Palavra é semeada; e, quando a ouvem, logo vem Satanás e tira a Palavra que foi semeada nos seus corações.

  16. Et hi sunt similiter qui super petrosa seminantur: qui cum audierint verbum, statim cum gaudio accipiunt illud:
    Semelhantemente, estes são os que foram semeados em terreno pedregoso: quando ouvem a Palavra, imediatamente a recebem com alegria,

  17. Et non habent radicem in semetipsis, sed temporales sunt: deinde orta tribulatione et persecutione propter verbum, confestim scandalizantur.
    Mas não têm raiz em si mesmos, sendo temporários; quando surge tribulação ou perseguição por causa da Palavra, imediatamente tropeçam.

  18. Et alii sunt qui in spinas seminantur: hi sunt qui verbum audiunt,
    Outros são os que foram semeados entre espinhos: são os que ouvem a Palavra,

  19. Et ærumnæ sæculi, et deceptio divitiarum, et circa reliqua concupiscentiæ introëuntes suffocant verbum, et sine fructu efficitur.
    Mas os cuidados do mundo, a sedução das riquezas e outras cobiças que entram, sufocam a Palavra, e ela se torna infrutífera.

  20. Et hi sunt qui super terram bonam seminati sunt, qui audiunt verbum, et suscipiunt, et fructificant, unum triginta, unum sexaginta, et unum centum.
    E estes são os que foram semeados em terra boa: ouvem a Palavra, a recebem e produzem frutos: trinta, sessenta e cem por um.


Reflexão:

"Qui seminat, verbum seminat."
"O semeador semeia a Palavra." (Mc 4:14)

Essa frase é central porque sintetiza o significado da parábola e revela o propósito espiritual da semeadura: a Palavra de Deus, como fonte de vida, é oferecida a todos os corações, dependendo de cada terreno (ou alma) para germinar e frutificar.

A semente da Palavra é o impulso divino que visa integrar o humano no processo ascensional do cosmos. Cada terreno representa as fases de maturação espiritual, onde o coração humano se torna o campo de manifestação da Graça. No terreno fértil da alma aberta à transcendência, a Palavra germina, conduzindo à unificação do ser com o Espírito. Ao acolher o Verbo, a existência revela-se como o entrelaçar de uma consciência que cresce em direção ao Ponto Supremo, onde a plenitude de Deus é experimentada como fruto da comunhão integral entre a criação e o Criador.


HOMILIA

"O Chamado à Terra Fértil do Coração"

Amados irmãos e irmãs, ao nos debruçarmos sobre a parábola do semeador, somos convidados a mergulhar na essência do Reino de Deus, que se desvela como um mistério de transformação e plenitude. Jesus nos apresenta um gesto simples e cotidiano — o semear — para revelar verdades profundas sobre nossa existência e nossa relação com o divino.

O semeador é aquele que lança a Palavra de Deus ao mundo, sem distinção de terrenos. Esta Palavra é viva e dinâmica, um convite constante à conversão e ao crescimento. Contudo, o destino dessa semente depende da receptividade de cada coração. Alguns são como o caminho, endurecidos pela pressa e pela superficialidade da vida moderna. As vozes da cultura do imediato sufocam a escuta do essencial, deixando a Palavra vulnerável aos "pássaros" da distração e do consumismo.

Outros são como o terreno pedregoso, onde a Palavra é recebida com entusiasmo momentâneo, mas sem profundidade. Quantas vezes, diante dos desafios da vida, abandonamos aquilo que nos foi plantado, preferindo a segurança das convenções ou a fuga diante da tribulação? Vivemos em um tempo que exige raízes profundas, pois as tempestades de nossa era — a crise ambiental, os conflitos sociais, a solidão digital — pedem homens e mulheres enraizados na esperança.

Há ainda aqueles cujos corações estão entre os espinhos. Aqui, as preocupações do mundo e a sedução das riquezas sufocam a Palavra, impedindo que ela dê frutos. Vivemos em um contexto onde a busca incessante por status, conforto e reconhecimento pode obscurecer o chamado à verdadeira vida. Somos lembrados de que a Palavra não pode florescer quando o solo do coração está ocupado com as ervas daninhas da ganância e da ansiedade.

Porém, há também a terra boa — o coração aberto, acolhedor, disposto a deixar a Palavra germinar e transformar. Esse terreno não é fruto do acaso; é o resultado de uma escolha consciente, de um compromisso diário em ouvir, compreender e viver a mensagem de Cristo. Nesse coração, a Palavra cresce e dá frutos — trinta, sessenta e cem por um. Esses frutos não são apenas pessoais; são dons que transbordam para o mundo, transformando a realidade à nossa volta.

Hoje, somos chamados a ser essa terra fértil. Em meio aos desafios e às promessas de nossa época, devemos perguntar: que tipo de solo oferecemos à Palavra de Deus? Estamos dispostos a remover as pedras e espinhos que impedem seu crescimento? Somos capazes de escutar com atenção e permitir que ela transforme nosso ser, guiando-nos em direção a uma vida plena?

A parábola do semeador nos lembra que o Reino de Deus já está entre nós, mas sua plenitude depende de nossa resposta. Que nossos corações sejam o terreno onde a Palavra floresce, para que, por meio de nós, o mundo possa vislumbrar os frutos da paz, da justiça e do amor que brotam da presença viva de Deus em nossas vidas. Amém.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

"O semeador semeia a Palavra." (Marcos 4,14)

Essa frase, aparentemente simples, carrega uma profundidade teológica extraordinária ao revelar a dinâmica do Reino de Deus e o papel da Palavra divina na economia da salvação. Vamos explorar sua riqueza em três dimensões principais: o semeador, a Palavra e o terreno.


1. O Semeador: O Agente da Graça

O semeador, na interpretação direta da parábola, é o próprio Cristo, que, em sua missão terrena, veio para revelar o Reino de Deus ao mundo. Ele lança a Palavra com generosidade e universalidade, alcançando a todos os povos, tempos e condições de vida. Essa imagem do semeador nos lembra que Deus não age de forma seletiva, mas, com infinita misericórdia, oferece a graça a toda a humanidade, independentemente do estado espiritual de cada um.

O ato de semear também implica paciência e confiança. Assim como o semeador lança a semente sem garantia imediata de colheita, Cristo nos ensina que o Reino de Deus cresce de forma misteriosa e muitas vezes invisível aos olhos humanos. Isso desafia nossa tendência de medir o sucesso da fé por resultados imediatos, convidando-nos a confiar no tempo de Deus.


2. A Palavra: O Verbo Criador e Transformador

Na perspectiva teológica, "a Palavra" que é semeada não é apenas um conjunto de ensinamentos ou mandamentos, mas o próprio Verbo eterno de Deus, o Logos encarnado em Jesus Cristo. Essa Palavra não apenas informa, mas transforma. É viva e eficaz (cf. Hb 4,12), capaz de criar novas realidades espirituais onde quer que seja acolhida.

A Palavra semeada também evoca o mistério da autocomunicação divina. Deus se doa inteiramente a nós por meio de sua Palavra, convidando-nos a participar de sua vida divina. Quando acolhida, essa Palavra não permanece inerte, mas gera frutos de conversão, santidade e participação no próprio amor de Deus.


3. O Terreno: A Liberdade Humana

Embora o semeador e a Palavra sejam dons de Deus, o fruto dessa semeadura depende do terreno, que simboliza o coração humano. A parábola enfatiza que Deus respeita profundamente a liberdade humana. O terreno pode ser duro, pedregoso, cheio de espinhos ou fértil, mas a escolha de acolher e permitir que a Palavra cresça é sempre nossa.

Essa interação entre graça e liberdade reflete uma das mais profundas verdades teológicas: Deus nos convida a cooperar ativamente na obra da salvação. A Palavra semeada é uma oferta gratuita, mas ela só pode produzir frutos quando encontra um coração disposto a acolhê-la, cultivá-la e protegê-la contra as forças que tentam sufocá-la.


A Atualidade da Semente

Em nosso tempo, a frase "O semeador semeia a Palavra" nos desafia a identificar quem ou o que tem sido o semeador em nossas vidas. Pode ser a Sagrada Escritura, a liturgia, os ensinamentos da Igreja ou mesmo um encontro pessoal com Cristo. Por outro lado, também somos chamados a ser semeadores, levando a Palavra aos outros com coragem e fidelidade, mesmo quando não enxergamos os frutos imediatamente.

Finalmente, somos convidados a perguntar: que tipo de terreno somos? Estamos endurecidos pelas distrações e superficialidades do mundo? Ou permitimos que a Palavra de Deus penetre profundamente em nós, transformando-nos em testemunhas vivas do Reino?

A frase "O semeador semeia a Palavra" é, portanto, um convite permanente à confiança no poder da graça divina, à cooperação com ela em liberdade e à transformação contínua do mundo pela força criadora da Palavra de Deus. É um chamado a sermos, ao mesmo tempo, terreno fértil e semeadores incansáveis.

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domingo, 26 de janeiro de 2025

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: São Marcos 3:31-35 - 28.01.2025

 Liturgia Diária


28 – TERÇA-FEIRA 

SANTO TOMÁS DE AQUINO


PRESBÍTERO E DOUTOR DA IGREJA


(branco, pref. comum, ou dos pastores ou dos doutores – ofício da memória)


No meio da Igreja o Senhor abriu os seus lábios, encheu-o com o espírito de sabedoria e inteligência e o revestiu com um manto de glória (Eclo 15,5).


Nosso vínculo essencial com Cristo não é da ordem do sangue, mas da transcendência da fé, que nos conduz à dimensão última do Ser. Ao nos chamar para sua comunhão divina, Jesus revela que a verdadeira família é constituída por aqueles que integram sua vontade ao ritmo eterno da Verdade divina. Santo Tomás de Aquino, em sua luminosa jornada terrena, adentrou esse fluxo metafísico. Nascido na Itália em 1225 e transfigurado para a eternidade em 1274, sua humildade e profunda contemplação abriram caminho para a união do intelecto humano com a Sabedoria divina. Pela ciência e pelo estudo, ele alçou a experiência da santidade ao patamar do absoluto, reconhecendo em cada conceito uma centelha do Logos. Na memória deste espírito elevado, elevemos nossa intercessão por todos aqueles que, nos espaços do ensino e da teologia, buscam desvendar a profundidade do Inefável e contemplar a glória oculta no mistério do Verbo eterno.



São Marcos 3:31-35 (Vulgata)

31. Et venit mater eius et fratres eius, et foris stantes miserunt ad eum vocantes eum.
E sua mãe e seus irmãos chegaram; e, estando do lado de fora, enviaram alguém para chamá-lo.

32. Et sedebat circa eum turba, et dicunt ei: “ Ecce mater tua et fratres tui foris quaerunt te ”.
E a multidão estava sentada ao seu redor, e disseram-lhe: "Eis que tua mãe e teus irmãos estão lá fora e te procuram."

33. Et respondens eis ait: “ Quae est mater mea et fratres mei? ”
Ele, respondendo-lhes, disse: "Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?"

34. Et circumspectans eos, qui in circuitu eius sedebant, ait: “ Ecce mater mea et fratres mei.
E, olhando ao redor para aqueles que estavam sentados ao seu redor, disse: "Eis aqui minha mãe e meus irmãos.

35. Qui enim fecerit voluntatem Dei, hic frater meus, et soror mea, et mater est ”.
Pois aquele que faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe."

Reflexão:

"Qui enim fecerit voluntatem Dei, hic frater meus, et soror mea, et mater est."
"Pois aquele que faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe." (Mc 3:35)


Nesta cena, percebemos o chamado à filiação universal no espírito da vontade divina. O Cristo nos conduz à expansão da consciência, onde o parentesco terreno é transcendido pela unidade daqueles que se entregam ao dinamismo do amor absoluto. Cada gesto de obediência à vontade divina é como um elo que integra a humanidade ao horizonte da plenitude. Aqui, revela-se o convite para uma comunhão que supera o espaço e o tempo, em direção a uma totalidade unificadora. Tornamo-nos, assim, colaboradores do propósito divino, co-criando uma família espiritual que pulsa na interconexão do eterno.


HOMILIA

A Família de Deus e a Expansão da Consciência Divina

No Evangelho de São Marcos 3,31-35, somos convidados a refletir sobre uma transformação profunda: Jesus redefine o conceito de família, alicerçando-o não no sangue ou na carne, mas na vontade de Deus. “Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe.” Essa declaração nos desafia a expandir nossa visão de pertencimento e comunhão, transpondo as barreiras do individualismo e do egoísmo tão marcantes em nosso tempo.

Nos dias atuais, vivemos em um mundo fragmentado por divisões de classe, ideologia, cultura e crença. A humanidade, em sua busca por identidade e significado, muitas vezes se fecha em laços restritivos, esquecendo-se de que a verdadeira unidade não se encontra na uniformidade, mas na convergência de todos em direção ao divino. Jesus nos ensina que, ao fazermos a vontade de Deus, participamos de um parentesco espiritual que transcende todas as limitações humanas.

Fazer a vontade de Deus significa integrar-se ao fluxo do amor criador e redentor que sustenta a existência. É permitir que nossa consciência se eleve além das preocupações terrenas imediatas, conectando-nos a um propósito mais amplo, no qual cada ação que realizamos se torna um reflexo da glória divina. Nesse chamado, Jesus nos revela que a família de Deus é formada por aqueles que, em liberdade, escolhem ser agentes do bem e da verdade.

Em um tempo em que tantas pessoas se sentem solitárias, perdidas ou isoladas, esta mensagem ecoa como uma esperança viva. Não estamos sozinhos; somos chamados a participar de uma família universal, unida não por vínculos biológicos, mas por uma missão comum: transformar o mundo pela força do amor. Para isso, precisamos cultivar um olhar que vá além das aparências e divisões superficiais, reconhecendo no outro um irmão ou irmã em potencial, um companheiro na jornada em direção ao divino.

Assim como Jesus olhou ao redor e declarou: “Eis aqui minha mãe e meus irmãos”, também somos chamados a olhar ao nosso redor com um coração ampliado, percebendo a presença de Deus naqueles que encontramos. Esta é a verdadeira expansão da consciência: ver além da matéria e perceber a luz divina que nos conecta a todos. Fazer a vontade de Deus é, antes de tudo, amar, e nesse amor, encontrar o sentido pleno de ser parte de sua família eterna.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

A frase de Jesus em Marcos 3,35, "Pois aquele que faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe", revela um ensinamento teológico de profundidade extraordinária, no qual o Senhor redefine o conceito de pertencimento, deslocando-o da esfera natural e biológica para o âmbito espiritual e ontológico. Essa afirmação não nega os laços familiares humanos, mas os transcende, apontando para uma realidade maior: a participação na comunhão divina mediante a adesão à vontade de Deus.

A Vontade de Deus como Centro de Unidade

A vontade de Deus, na teologia cristã, não é um decreto arbitrário, mas a expressão do amor absoluto que deseja a plenitude da criação. Fazer a vontade de Deus implica uma conformidade interior ao bem, à verdade e à justiça, que são reflexos do próprio ser divino. Essa obediência não é servil, mas uma resposta livre e amorosa ao chamado de Deus, que nos convida a participar de sua própria vida. Assim, tornar-se "irmão", "irmã" ou "mãe" de Cristo é inserir-se numa relação de íntima comunhão com Ele, que é o Verbo encarnado, o ponto de convergência entre Deus e a humanidade.

A Transcendência do Parentesco

Ao afirmar que aqueles que fazem a vontade de Deus são sua família, Jesus nos ensina que os laços espirituais são superiores aos laços carnais. A verdadeira fraternidade cristã não se baseia em critérios externos, como a nacionalidade, a etnia ou o parentesco, mas na obediência à vontade divina, que é o fundamento de uma nova humanidade reconciliada. Nesse sentido, a Igreja, como Corpo Místico de Cristo, é a família de Deus, composta por todos aqueles que, em Cristo, respondem ao chamado à santidade.

A Dimensão Cristológica

Cristo, enquanto Filho de Deus, é o modelo perfeito de obediência à vontade do Pai. Sua vida inteira, desde a encarnação até a cruz, foi um ato de entrega total ao plano divino de salvação. Quando Ele nos chama a fazer a vontade de Deus, não nos impõe algo que Ele mesmo não tenha vivido, mas nos convida a segui-lo no caminho da plena conformidade ao amor do Pai. Ao fazer isso, nos tornamos não apenas seus seguidores, mas seus irmãos e irmãs, compartilhando de sua filiação divina por adoção.

A Maternidade Espiritual

A inclusão da figura da mãe nesta declaração revela uma dimensão fecunda e geradora. Fazer a vontade de Deus não é apenas obedecer passivamente, mas participar ativamente de sua obra criadora e redentora. Assim como Maria gerou Cristo no mundo, cada pessoa que faz a vontade de Deus é chamada a gerar Cristo em sua vida e nas vidas ao seu redor, tornando-se uma extensão do mistério da encarnação.

Implicações para os Dias de Hoje

Esta passagem desafia a visão individualista da sociedade contemporânea, que frequentemente valoriza o "eu" acima do "nós". Fazer a vontade de Deus implica sair de si mesmo, superar o egoísmo e abraçar um amor universal que nos une a todos em Cristo. Ao fazer isso, descobrimos que nossa verdadeira identidade não está em nossas posses, status ou laços naturais, mas em nossa participação na família divina.

Em síntese, esta frase de Jesus não é apenas um ensinamento ético ou moral, mas uma revelação do destino último da humanidade: tornar-se uma única família em Deus, unida pelo amor que se manifesta na obediência à sua vontade. Esta é a comunhão que o Cristo veio inaugurar e que culminará na plenitude do Reino de Deus.

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