sábado, 7 de dezembro de 2024

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: Lucas 5:17-26 - 09.12.2024

 Liturgia Diária


9 – SEGUNDA-FEIRA 

2ª SEMANA DO ADVENTO


(roxo, pref. do Advento I ou IA – ofício do dia da 2ª semana)


Ó nações, escutai a palavra do Senhor e levai-a até os confins da terra: Eis que chega o nosso Salvador, não tenhais medo! (Jr 31,10; Is 35,4).

A palavra do Senhor atravessa o tempo e o espaço como a força motriz do universo, convocando as nações a reconhecerem o Salvador. No abandono do medo, a alma é elevada ao horizonte eterno da verdadeira comunhão.



Lucas 5:17-26 (Vulgata)

  1. Et factum est in una dierum, et ipse sedebat docens. Et erant Pharisaei sedentes et legis doctores, qui venerant ex omni castello Galilaeae, et Iudaeae, et Ierusalem: et virtus Domini erat ad sanandum eos.
    E aconteceu num daqueles dias que Ele estava ensinando. Estavam sentados fariseus e doutores da Lei, vindos de todas as aldeias da Galileia, da Judeia e de Jerusalém, e o poder do Senhor estava presente para curá-los.

  2. Et ecce viri portantes in lecto hominem, qui erat paralyticus: et quaerebant eum inferre, et ponere ante eum.
    E eis que alguns homens traziam num leito um paralítico e procuravam levá-lo para colocá-lo diante Dele.

  3. Et non invenientes qua parte illum inferrent prae turba, ascenderunt supra tectum, et per tegulas summiserunt illum cum lecto in medium ante Iesum.
    E, não encontrando por onde introduzi-lo por causa da multidão, subiram ao telhado e, através das telhas, o desceram com o leito ao meio, diante de Jesus.

  4. Quorum fidem ut vidit, dixit: Homo, remittuntur tibi peccata tua.
    Vendo a fé deles, disse: Homem, os teus pecados te são perdoados.

  5. Et coeperunt cogitare scribae et Pharisaei, dicentes: Quis est hic, qui loquitur blasphemias? Quis potest dimittere peccata, nisi solus Deus?
    E os escribas e fariseus começaram a pensar: Quem é este que fala blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão só Deus?

  6. Ut cognovit autem Iesus cogitationes eorum, respondens dixit ad illos: Quid cogitatis in cordibus vestris?
    Jesus, porém, conhecendo os pensamentos deles, respondeu: Por que pensais estas coisas em vossos corações?

  7. Quid est facilius dicere: Dimittuntur tibi peccata tua: an dicere: Surge, et ambula?
    O que é mais fácil dizer: Teus pecados te são perdoados, ou: Levanta-te e anda?

  8. Ut autem sciatis quia Filius hominis habet potestatem in terra dimittendi peccata (ait paralytico): Tibi dico, surge, tolle lectum tuum, et vade in domum tuam.
    Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem poder sobre a terra para perdoar pecados (disse ao paralítico): Eu te digo, levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa.

  9. Et confestim consurgens coram illis, tulit in quo iacebat: et abiit in domum suam, magnificans Deum.
    E imediatamente ele se levantou diante deles, tomou o leito em que jazia e foi para sua casa glorificando a Deus.

  10. Et stupor apprehendit omnes, et magnificabant Deum. Et repleti sunt timore, dicentes: Quia vidimus mirabilia hodie.
    Todos ficaram admirados e glorificavam a Deus. E, cheios de temor, diziam: Hoje vimos coisas maravilhosas.

Reflexão:

"Homo, remittuntur tibi peccata tua."

"Homem, os teus pecados te são perdoados." (Lc 5:20)


A cura do paralítico é um marco da transcendência que une o físico e o espiritual. Jesus revela que a fé ativa e colaborativa é capaz de mover barreiras e transformar vidas. Sua palavra ressoa no íntimo do cosmos humano, chamando à evolução não apenas do corpo, mas do espírito, libertando-nos do peso das limitações para caminhar na plenitude da Graça. Assim, cada milagre torna-se uma manifestação da unidade profunda entre o temporal e o eterno, convidando-nos a habitar conscientemente o horizonte infinito do amor divino.


HOMILIA

"A cura para um mundo ferido"

Queridos irmãos e irmãs,

O Evangelho de hoje nos apresenta um episódio que ressoa profundamente em nossa sociedade marcada pela violência e pelo sofrimento. Jesus, diante da fé ativa de amigos que superaram todos os obstáculos para levar um paralítico até Ele, proclama: "Homem, os teus pecados te são perdoados." Esse gesto transcende a cura física e nos conduz à essência da missão de Cristo: restaurar a dignidade humana e reconciliar o ser humano consigo mesmo, com o próximo e com Deus.

Vivemos em tempos de grandes feridas. A disseminação do feminicídio é uma realidade terrível que fere não apenas as vítimas, mas toda a sociedade. Mulheres, criadas à imagem e semelhança de Deus, têm sido alvo de uma violência que grita contra o céu. Esse pecado estrutural reflete a paralisia moral de um mundo que perdeu o sentido da sacralidade da vida e da relação entre os filhos e filhas de Deus.

Jesus nos desafia hoje a sermos como aqueles amigos do paralítico. Não podemos permanecer inertes ou indiferentes diante dessa tragédia. Precisamos agir com fé, movidos pela certeza de que só a transformação espiritual e ética pode curar nossa sociedade. Subir ao “telhado” e remover as barreiras exige coragem: denunciar a violência, promover a educação no respeito mútuo e oferecer apoio às vítimas.

Quando Jesus cura o paralítico, Ele o chama a "levantar-se e caminhar." Esse chamado ecoa também para nós: devemos nos levantar da apatia e caminhar em direção à construção de uma cultura de paz e de amor. Cada vida salva, cada coração transformado, cada mulher protegida é um milagre da Graça que testemunha o poder de Deus operando no mundo.

Na plenitude da fé, reconhecemos que a cura das feridas sociais só é possível se formos capazes de olhar para o outro com os olhos do amor divino, que tudo renova e transforma. Que este Evangelho nos inspire a sermos instrumentos dessa renovação, anunciando com nossas vidas que Cristo continua a perdoar, curar e trazer esperança a um mundo sedento de redenção.

Amém.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

"Homem, os teus pecados te são perdoados." (Lc 5,20): Uma Análise Teológica

Essa declaração de Jesus no Evangelho segundo Lucas não é apenas um ato de misericórdia individual, mas uma revelação profunda da identidade de Cristo, da dinâmica do pecado, e da centralidade do perdão na relação entre Deus e a humanidade.

1. A Autoridade de Jesus sobre o Perdão

Ao proclamar o perdão dos pecados, Jesus reivindica uma autoridade que, para os ouvintes judeus, pertence exclusivamente a Deus (cf. Lc 5,21). Isso sinaliza que Ele não é apenas um profeta ou mestre, mas o Filho de Deus, que age como mediador da reconciliação divina. Essa autoridade transcende as práticas do Templo, indicando que a verdadeira remissão não depende mais de sacrifícios externos, mas de uma relação direta com o Cristo.

2. O Perdão como Ato Criador

A expressão de Jesus não é apenas uma palavra de conforto; é um ato criador. Assim como Deus, ao pronunciar palavras no Gênesis, trouxe à existência a luz e a vida, Jesus, ao dizer "os teus pecados te são perdoados," recria a integridade espiritual do paralítico. Esse perdão restaura não apenas a alma, mas aponta para a cura integral da pessoa, como evidenciado pela subsequente ordem de levantar-se e andar.

3. O Pecado como Paralisia Espiritual

O paralítico simboliza a humanidade paralisada pelo pecado, incapaz de mover-se em direção a Deus por si mesma. Essa condição revela a profundidade teológica do pecado: não apenas um ato de transgressão, mas uma ruptura que afeta nossa capacidade de viver plenamente na comunhão com o Criador. O perdão de Jesus restaura essa comunhão, libertando a pessoa para viver na plenitude da Graça.

4. A Fé Intercessora

É significativo que o perdão seja concedido em resposta à fé dos que levaram o paralítico até Jesus. Isso enfatiza a dimensão comunitária da salvação. A fé não é apenas um ato individual, mas uma realidade que nos conecta uns aos outros e a Deus. Esse detalhe ressalta o papel da comunidade cristã na intercessão, no apoio mútuo e na mediação da Graça divina.

5. O Perdão e o Reino de Deus

Na perspectiva do Reino anunciado por Cristo, o perdão dos pecados é o início de uma nova criação. Ele não apenas apaga uma dívida espiritual, mas inaugura uma realidade transformadora, onde o pecado e suas consequências (como a doença e a exclusão) são superados. Essa frase antecipa a vitória final de Cristo sobre o pecado e a morte, consumada na cruz e na ressurreição.

6. Aplicação Contemporânea

A mensagem de perdão continua a ser um desafio teológico e pastoral. Em um mundo marcado por divisões, injustiças e feridas emocionais, o perdão permanece como o coração da reconciliação e da cura. Jesus nos ensina que o verdadeiro perdão não é uma negação do mal, mas um ato de amor que rompe o ciclo de violência e nos conduz à vida plena em Deus.

Conclusão
A frase "Homem, os teus pecados te são perdoados" encapsula o mistério da missão de Cristo: restaurar a humanidade à sua dignidade original e reconciliá-la com Deus. Nesse ato, encontramos a síntese do Evangelho – uma chamada ao arrependimento, à fé e à experiência transformadora da Graça divina que cura tanto o corpo quanto a alma, preparando-nos para viver na plenitude do Reino de Deus.

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA

Leia também:

Primeira Leitura

Segunda Leitura

Salmo

Evangelho

Santo do dia

Oração Diária

Mensagens de Fé

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