Liturgia Diária
9 – SEGUNDA-FEIRA
2ª SEMANA DO ADVENTO
(roxo, pref. do Advento I ou IA – ofício do dia da 2ª semana)
Ó nações, escutai a palavra do Senhor e levai-a até os confins da terra: Eis que chega o nosso Salvador, não tenhais medo! (Jr 31,10; Is 35,4).
A palavra do Senhor atravessa o tempo e o espaço como a força motriz do universo, convocando as nações a reconhecerem o Salvador. No abandono do medo, a alma é elevada ao horizonte eterno da verdadeira comunhão.
Lucas 5:17-26 (Vulgata)
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Et factum est in una dierum, et ipse sedebat docens. Et erant Pharisaei sedentes et legis doctores, qui venerant ex omni castello Galilaeae, et Iudaeae, et Ierusalem: et virtus Domini erat ad sanandum eos.
E aconteceu num daqueles dias que Ele estava ensinando. Estavam sentados fariseus e doutores da Lei, vindos de todas as aldeias da Galileia, da Judeia e de Jerusalém, e o poder do Senhor estava presente para curá-los. -
Et ecce viri portantes in lecto hominem, qui erat paralyticus: et quaerebant eum inferre, et ponere ante eum.
E eis que alguns homens traziam num leito um paralítico e procuravam levá-lo para colocá-lo diante Dele. -
Et non invenientes qua parte illum inferrent prae turba, ascenderunt supra tectum, et per tegulas summiserunt illum cum lecto in medium ante Iesum.
E, não encontrando por onde introduzi-lo por causa da multidão, subiram ao telhado e, através das telhas, o desceram com o leito ao meio, diante de Jesus. -
Quorum fidem ut vidit, dixit: Homo, remittuntur tibi peccata tua.
Vendo a fé deles, disse: Homem, os teus pecados te são perdoados. -
Et coeperunt cogitare scribae et Pharisaei, dicentes: Quis est hic, qui loquitur blasphemias? Quis potest dimittere peccata, nisi solus Deus?
E os escribas e fariseus começaram a pensar: Quem é este que fala blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão só Deus? -
Ut cognovit autem Iesus cogitationes eorum, respondens dixit ad illos: Quid cogitatis in cordibus vestris?
Jesus, porém, conhecendo os pensamentos deles, respondeu: Por que pensais estas coisas em vossos corações? -
Quid est facilius dicere: Dimittuntur tibi peccata tua: an dicere: Surge, et ambula?
O que é mais fácil dizer: Teus pecados te são perdoados, ou: Levanta-te e anda? -
Ut autem sciatis quia Filius hominis habet potestatem in terra dimittendi peccata (ait paralytico): Tibi dico, surge, tolle lectum tuum, et vade in domum tuam.
Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem poder sobre a terra para perdoar pecados (disse ao paralítico): Eu te digo, levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa. -
Et confestim consurgens coram illis, tulit in quo iacebat: et abiit in domum suam, magnificans Deum.
E imediatamente ele se levantou diante deles, tomou o leito em que jazia e foi para sua casa glorificando a Deus. -
Et stupor apprehendit omnes, et magnificabant Deum. Et repleti sunt timore, dicentes: Quia vidimus mirabilia hodie.
Todos ficaram admirados e glorificavam a Deus. E, cheios de temor, diziam: Hoje vimos coisas maravilhosas.
Reflexão:
"Homo, remittuntur tibi peccata tua."
"Homem, os teus pecados te são perdoados." (Lc 5:20)
A cura do paralítico é um marco da transcendência que une o físico e o espiritual. Jesus revela que a fé ativa e colaborativa é capaz de mover barreiras e transformar vidas. Sua palavra ressoa no íntimo do cosmos humano, chamando à evolução não apenas do corpo, mas do espírito, libertando-nos do peso das limitações para caminhar na plenitude da Graça. Assim, cada milagre torna-se uma manifestação da unidade profunda entre o temporal e o eterno, convidando-nos a habitar conscientemente o horizonte infinito do amor divino.
HOMILIA
"A cura para um mundo ferido"
Queridos irmãos e irmãs,
O Evangelho de hoje nos apresenta um episódio que ressoa profundamente em nossa sociedade marcada pela violência e pelo sofrimento. Jesus, diante da fé ativa de amigos que superaram todos os obstáculos para levar um paralítico até Ele, proclama: "Homem, os teus pecados te são perdoados." Esse gesto transcende a cura física e nos conduz à essência da missão de Cristo: restaurar a dignidade humana e reconciliar o ser humano consigo mesmo, com o próximo e com Deus.
Vivemos em tempos de grandes feridas. A disseminação do feminicídio é uma realidade terrível que fere não apenas as vítimas, mas toda a sociedade. Mulheres, criadas à imagem e semelhança de Deus, têm sido alvo de uma violência que grita contra o céu. Esse pecado estrutural reflete a paralisia moral de um mundo que perdeu o sentido da sacralidade da vida e da relação entre os filhos e filhas de Deus.
Jesus nos desafia hoje a sermos como aqueles amigos do paralítico. Não podemos permanecer inertes ou indiferentes diante dessa tragédia. Precisamos agir com fé, movidos pela certeza de que só a transformação espiritual e ética pode curar nossa sociedade. Subir ao “telhado” e remover as barreiras exige coragem: denunciar a violência, promover a educação no respeito mútuo e oferecer apoio às vítimas.
Quando Jesus cura o paralítico, Ele o chama a "levantar-se e caminhar." Esse chamado ecoa também para nós: devemos nos levantar da apatia e caminhar em direção à construção de uma cultura de paz e de amor. Cada vida salva, cada coração transformado, cada mulher protegida é um milagre da Graça que testemunha o poder de Deus operando no mundo.
Na plenitude da fé, reconhecemos que a cura das feridas sociais só é possível se formos capazes de olhar para o outro com os olhos do amor divino, que tudo renova e transforma. Que este Evangelho nos inspire a sermos instrumentos dessa renovação, anunciando com nossas vidas que Cristo continua a perdoar, curar e trazer esperança a um mundo sedento de redenção.
Amém.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
"Homem, os teus pecados te são perdoados." (Lc 5,20): Uma Análise Teológica
Essa declaração de Jesus no Evangelho segundo Lucas não é apenas um ato de misericórdia individual, mas uma revelação profunda da identidade de Cristo, da dinâmica do pecado, e da centralidade do perdão na relação entre Deus e a humanidade.
1. A Autoridade de Jesus sobre o Perdão
Ao proclamar o perdão dos pecados, Jesus reivindica uma autoridade que, para os ouvintes judeus, pertence exclusivamente a Deus (cf. Lc 5,21). Isso sinaliza que Ele não é apenas um profeta ou mestre, mas o Filho de Deus, que age como mediador da reconciliação divina. Essa autoridade transcende as práticas do Templo, indicando que a verdadeira remissão não depende mais de sacrifícios externos, mas de uma relação direta com o Cristo.
2. O Perdão como Ato Criador
A expressão de Jesus não é apenas uma palavra de conforto; é um ato criador. Assim como Deus, ao pronunciar palavras no Gênesis, trouxe à existência a luz e a vida, Jesus, ao dizer "os teus pecados te são perdoados," recria a integridade espiritual do paralítico. Esse perdão restaura não apenas a alma, mas aponta para a cura integral da pessoa, como evidenciado pela subsequente ordem de levantar-se e andar.
3. O Pecado como Paralisia Espiritual
O paralítico simboliza a humanidade paralisada pelo pecado, incapaz de mover-se em direção a Deus por si mesma. Essa condição revela a profundidade teológica do pecado: não apenas um ato de transgressão, mas uma ruptura que afeta nossa capacidade de viver plenamente na comunhão com o Criador. O perdão de Jesus restaura essa comunhão, libertando a pessoa para viver na plenitude da Graça.
4. A Fé Intercessora
É significativo que o perdão seja concedido em resposta à fé dos que levaram o paralítico até Jesus. Isso enfatiza a dimensão comunitária da salvação. A fé não é apenas um ato individual, mas uma realidade que nos conecta uns aos outros e a Deus. Esse detalhe ressalta o papel da comunidade cristã na intercessão, no apoio mútuo e na mediação da Graça divina.
5. O Perdão e o Reino de Deus
Na perspectiva do Reino anunciado por Cristo, o perdão dos pecados é o início de uma nova criação. Ele não apenas apaga uma dívida espiritual, mas inaugura uma realidade transformadora, onde o pecado e suas consequências (como a doença e a exclusão) são superados. Essa frase antecipa a vitória final de Cristo sobre o pecado e a morte, consumada na cruz e na ressurreição.
6. Aplicação Contemporânea
A mensagem de perdão continua a ser um desafio teológico e pastoral. Em um mundo marcado por divisões, injustiças e feridas emocionais, o perdão permanece como o coração da reconciliação e da cura. Jesus nos ensina que o verdadeiro perdão não é uma negação do mal, mas um ato de amor que rompe o ciclo de violência e nos conduz à vida plena em Deus.
Conclusão
A frase "Homem, os teus pecados te são perdoados" encapsula o mistério da missão de Cristo: restaurar a humanidade à sua dignidade original e reconciliá-la com Deus. Nesse ato, encontramos a síntese do Evangelho – uma chamada ao arrependimento, à fé e à experiência transformadora da Graça divina que cura tanto o corpo quanto a alma, preparando-nos para viver na plenitude do Reino de Deus.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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