Liturgia Diária
30 – SEGUNDA-FEIRA
OITAVA DO NATAL
(branco, glória – ofício próprio)
Quando um tranquilo silêncio envolvia todas as coisas e a noite chegava ao meio do seu curso, a vossa Palavra onipotente, Senhor, desceu do céu, do vosso trono real (Sb 18,14s).
A profetisa Ana, símbolo da alma desperta, dirigiu-se ao templo, espaço metafísico onde o finito encontra o Infinito. Ali, sua voz ergueu-se em louvor ao Absoluto e em testemunho do Menino – a manifestação da Verdade encarnada – aos que aguardavam a libertação, não apenas de Jerusalém, mas da existência fragmentada. Neste gesto, somos chamados a transcender a simples percepção dos acontecimentos para acessar a dimensão onde o Tempo é envolvido pela Eternidade. Conhecer as maravilhas de Deus é mais que um ato intelectual; é abrir-se ao horizonte do Transcendente, reconhecendo em cada revelação divina o convite à comunhão com o Mistério. Louvar, assim, é harmonizar-se com o ritmo eterno do Amor, permitindo que o reconhecimento da Verdade conduza a alma à plenitude do Ser.
Lucas 2:36-40 (Vulgata)
36 Et erat Anna prophetissa, filia Phanuel, de tribu Aser; hæc processerat in diebus multis, et vixerat cum viro suo annis septem a virginitate sua.
36 E havia Ana, profetisa, filha de Fanuel, da tribo de Aser; esta era avançada em idade e tinha vivido com seu marido sete anos desde a sua virgindade.
37 Et hæc vidua usque ad annos octoginta quatuor, quæ non discedebat de templo, jejuniis et obsecrationibus serviens nocte ac die.
37 E era viúva até os oitenta e quatro anos, não se afastando do templo, servindo com jejuns e orações, noite e dia.
38 Et hæc, ipsa hora superveniens, confitebatur Domino, et loquebatur de illo omnibus qui exspectabant redemptionem Israël.
38 E esta, chegando naquela mesma hora, louvava ao Senhor e falava dele a todos os que esperavam a redenção de Israel.
39 Et ut perfecerunt omnia secundum legem Domini, reversi sunt in Galilæam, in civitatem suam Nazareth.
39 E, depois de terem cumprido tudo segundo a lei do Senhor, voltaram para a Galileia, à sua cidade de Nazaré.
40 Puer autem crescebat, et confortabatur plenus sapientia: et gratia Dei erat in illo.
40 O menino crescia e se fortalecia, cheio de sabedoria, e a graça de Deus estava sobre ele.
Reflexão:
"Puer autem crescebat, et confortabatur plenus sapientia: et gratia Dei erat in illo."
"O menino crescia e se fortalecia, cheio de sabedoria, e a graça de Deus estava sobre ele." (Lucas 2,40)
Essa frase destaca o desenvolvimento espiritual e humano de Jesus, revelando a plenitude da presença divina em sua vida.
O testemunho de Ana revela a busca humana por uma realidade que transcende o imediato e nos une ao eterno. Sua perseverança no templo, através de jejuns e orações, simboliza o movimento interior da alma que se alinha com o propósito divino. O louvor que ela entoa ao reconhecer o Menino não é apenas uma expressão de gratidão, mas um eco da transformação cósmica que se inicia na encarnação da Verdade. Assim como o menino cresce e se fortalece em sabedoria, somos chamados a crescer espiritualmente, participando do dinamismo da graça divina que opera em tudo. Nesse processo, nossa existência ganha sentido, inserida na corrente contínua de evolução rumo à plenitude que nos convida a unir tempo e eternidade.
HOMILIA
"O Crescimento do Amor Encarnado"
Amados irmãos e irmãs,
O Evangelho de hoje nos convida a contemplar a figura de Ana, a profetisa, e o crescimento do Menino Jesus, repleto de graça e sabedoria. Em Ana, vemos uma alma que não se deixa aprisionar pelo tempo ou pelas circunstâncias. Ela persiste no templo, em oração e jejum, aguardando a revelação divina. Sua perseverança nos ensina que a espera pela realização das promessas de Deus é, em si, um caminho de transformação.
Ao reconhecer o Menino como o Redentor, Ana nos chama a perceber que, em Jesus, não está apenas o cumprimento de uma promessa, mas o início de um movimento que abrange toda a humanidade. Este Menino cresce, não apenas fisicamente, mas em sabedoria, no dinamismo de uma graça que toca todas as dimensões da existência. Ele é a manifestação do Amor que se faz carne, inaugurando uma nova etapa na história humana.
Nos dias de hoje, somos chamados a olhar para o mundo com os olhos de Ana e ver o Cristo em meio a nós, crescendo em sabedoria em nossas comunidades, em nossas famílias e em nossos corações. Este crescimento exige de nós abertura e colaboração, pois a graça divina não opera isoladamente, mas nos convida a participar de sua obra transformadora.
Ao contemplar Jesus crescendo e se fortalecendo, somos lembrados de que nossa própria vida é uma jornada de crescimento espiritual. Assim como Ana esperava no templo, somos chamados a permanecer vigilantes, em oração e ação, atentos aos sinais de Deus no cotidiano.
Que este Evangelho nos inspire a reconhecer que, mesmo nos desafios e aparentes demoras, Deus continua agindo. E, como Ana, possamos proclamar ao mundo que o Amor encarnado está presente, crescendo e conduzindo a humanidade à plenitude de sua vocação divina. Amém.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A frase "O menino crescia e se fortalecia, cheio de sabedoria, e a graça de Deus estava sobre ele" (Lucas 2,40) é uma síntese teológica rica que reflete o mistério da encarnação de Cristo e o dinamismo de sua humanidade divina.
1. Crescimento e fortalecimento:
O crescimento de Jesus, descrito como físico e espiritual, aponta para a plena aceitação de sua humanidade. Ele não é apenas Deus que se fez carne, mas também um verdadeiro homem que se desenvolve no tempo e no espaço. Este crescimento revela a pedagogia divina: a obra de redenção não acontece instantaneamente, mas por meio de um processo gradual, que respeita as leis da criação. O fortalecimento não é apenas físico, mas indica a maturação de sua vontade e da consciência de sua missão redentora.
2. Plenitude de sabedoria:
Estar "cheio de sabedoria" destaca a perfeita harmonia entre a natureza divina e humana de Cristo. Enquanto Filho de Deus, ele possui a sabedoria divina desde toda a eternidade. Contudo, em sua humanidade, Jesus também aprende, experimenta e reflete. Esta frase mostra como sua sabedoria é manifesta na totalidade de sua pessoa: na perfeita obediência ao Pai e na compreensão profunda da condição humana. Ele não aprende como nós, com erros ou incertezas, mas vivencia o conhecimento em um processo que une experiência humana e iluminação divina.
3. A graça de Deus sobre ele:
A graça, aqui, não é algo recebido como um dom externo, mas uma expressão da unidade intrínseca de Jesus com o Pai. A graça que está sobre ele é a mesma que flui de sua identidade divina e que se irradia para a humanidade. Esta graça é, ao mesmo tempo, o favor de Deus e o poder transformador que possibilita a reconciliação entre o humano e o divino.
4. Implicações teológicas:
Essa frase encapsula o mistério da kenosis (esvaziamento) e da glória divina. Jesus, sendo Deus, assume plenamente a humanidade e nela cresce, fortalecendo-se e revelando progressivamente sua identidade e missão. Ele é o modelo perfeito de como a humanidade pode crescer em direção à comunhão com Deus. A frase nos desafia a buscar uma vida onde o crescimento, a sabedoria e a graça estejam integrados, refletindo em nós o plano divino de salvação.
Portanto, Lucas 2,40 é mais do que uma descrição narrativa; é uma declaração profunda sobre o plano de Deus, que opera na humanidade de Cristo para elevar toda a criação à plenitude de sua vocação divina.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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