Liturgia Diária
19 – QUINTA-FEIRA
3ª SEMANA DO ADVENTO
(roxo, pref. do Advento II ou IIA – ofício do dia)
Aquele que há de vir chegará sem demora, e já não haverá mais temor entre nós, porque ele é o nosso Salvador (Hb 10,37).Deus, em Seu desígnio eterno, conduz a criação rumo à plenitude, gerando almas com missões específicas. Desde o ventre, cada ser traz em si a semente do divino, uma centelha que arde em direção ao cumprimento de sua vocação. Aquele que vem inaugura a união entre o humano e o eterno, dissolvendo todo temor.
Lucas 1:5-25 (Vulgata)
5 Fuit in diebus Herodis, regis Iudææ, sacerdos quidam nomine Zacharias, de vicus Abia; et uxor illius ex filiabus Aaron, et nomen eius Elisabeth.
Havia, nos dias do rei Herodes, da Judeia, um sacerdote chamado Zacarias, da divisão de Abias, e sua esposa era filha de Aarão, e seu nome era Isabel.
6 Et erant ambo justi ante Deum, ambulantes in omnibus mandatis et justitiis Domini sine querela.
Ambos eram justos diante de Deus, andando em todos os mandamentos e justiças do Senhor, sem repreensão.
7 Et non erant ei filii, quoniam Elisabeth erat sterilis, et ambo processerant in diebus suis.
E não tinham filhos, porque Isabel era estéril, e ambos eram avançados em idade.
8 Factum est autem, dum sacerdotio fungeretur Zacarias, in ordine vicis suæ ante Deum,
Aconteceu que, enquanto Zacarias exercia seu sacerdócio diante de Deus, na ordem de sua divisão,
9 secundum morem sacerdotii, sorte ejus fuit ut incensum offrirent, ingressus in templum Domini,
Segundo o costume do sacerdócio, lhe tocou por sorte oferecer o incenso, entrando no templo do Senhor.
10 et omnis multitudo populi erat orans foris hora incensi.
E toda a multidão do povo estava orando fora, à hora do incenso.
11 Apparuit autem illi angelus Domini stans a dextris altaris incensi.
Então, apareceu-lhe o anjo do Senhor, de pé à direita do altar do incenso.
12 Et Zacharias turbatus est, et timor cecidit super eum.
Zacarias ficou perturbado, e o temor caiu sobre ele.
13 Dixit autem angelus ad eum: Noli timere, Zacharia, quia exaudita est oratio tua, et uxor tua Elisabeth pariet tibi filium, et vocabis nomen ejus Ioannem.
Mas o anjo lhe disse: Não temas, Zacarias, porque a tua oração foi ouvida, e a tua esposa Isabel te dará um filho, e o chamarás João.
14 Et erit gaudium tibi, et exsultatio, et multi de nativitate ejus gaudebunt.
E será para ti alegria e exultação, e muitos se alegrarão com o seu nascimento.
15 Erat enim magnus coram Domino, vinum et siceram non bibet, et Spiritu Sancto replebitur adhuc ex utero matris suæ.
Pois será grande diante do Senhor; não beberá vinho nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo, ainda no ventre de sua mãe.
16 Et multos filiorum Israël convertere ad Dominum Deum eorum.
E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus.
17 Et ipse ibit ante faciem ejus in spiritu et virtute Eliae, ut converteret corda patrum in filios, et incredulos ad prudentiam justorum, parare Domino plebem perfectam.
E ele irá diante dele no espírito e poder de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos e os desobedientes à sabedoria dos justos, a fim de preparar para o Senhor um povo bem disposto.
18 Et dixit Zacarias ad angelum: Quomodo hoc sciam? ego enim senex sum, et uxor mea processit in diebus suis.
E Zacarias disse ao anjo: Como saberei isso? Pois eu sou idoso, e minha esposa é avançada em idade.
19 Et respondens angelus dixit ei: Ego sum Gabriel, qui sto ante Deum, et missus sum loqui ad te, et annuntiare tibi hæc.
E, respondendo, o anjo lhe disse: Eu sou Gabriel, que estou diante de Deus, e fui enviado para falar contigo e te anunciar estas boas novas.
20 Et ecce tacens eris, et non poteris loqui usque in diem, quo haec fiant, quia non credidisti verbis meis, quae implebuntur in tempore suo.
E eis que ficarás mudo e não poderás falar até o dia em que estas coisas se realizem, porque não acreditaste nas minhas palavras, que se cumprirão no seu tempo.
21 Et populus expectabat Zachariam, et mirabantur quoniam tardaret in templo.
E o povo estava esperando Zacarias, e se maravilhavam, porque ele demorava no templo.
22 Egressus autem, non poterat loqui ad eos, et cognoverunt quia visionem viderit in templo: et ipse faciebat eis signa, et manebat mutus.
Mas, saindo, ele não podia falar com eles, e perceberam que ele vira uma visão no templo; e ele fazia-lhes sinais e permanecia mudo.
23 Et factum est, ut implerentur dies officii ejus, abierunt in domum suam.
E aconteceu que, quando se completaram os dias do seu ministério, ele se foi para sua casa.
24 Post hos autem dies concepit Elisabeth uxor ejus, et occultavit se quinque mensibus, dicens:
Depois daqueles dias, Isabel, sua esposa, concebeu, e se escondeu por cinco meses, dizendo:
25 Quia sic fecit mihi Dominus in diebus, quibus respexit ut tolleret opprobrium meum inter homines.
Pois assim o Senhor fez por mim nos dias em que olhou para me tirar o opróbrio entre os homens.
Reflexão:
"Dixit autem angelus ad eum: Noli timere, Zacharia, quia exaudita est oratio tua, et uxor tua Elisabeth pariet tibi filium, et vocabis nomen ejus Ioannem."
"Mas o anjo lhe disse: Não temas, Zacarias, porque a tua oração foi ouvida, e a tua esposa Isabel te dará um filho, e o chamarás João." (Lc 1:13)
Este versículo é crucial, pois marca o cumprimento da promessa divina, indicando que Deus ouve as orações de Seus servos e age em tempos de necessidade, trazendo uma nova vida e esperança.
Neste relato, Deus atua silenciosamente na história humana, conduzindo cada vida para seu sentido mais profundo. Zacarias, limitado pela dúvida, silencia para compreender o mistério que o transcende, enquanto Isabel, estéril e oculta, carrega em si a promessa fecunda do futuro. Há um dinamismo cósmico que une Deus e humanidade: as aparentes impossibilidades humanas são acolhidas pelo infinito e transformadas em caminhos de redenção. Neste encontro entre tempo e eternidade, cada alma é chamada a reconhecer sua missão como um instrumento ativo da plenitude divina.
HOMILIA
"O Silêncio que Gera a Promessa"
Amados irmãos e irmãs, o Evangelho de Lucas 1,5-25 nos apresenta um encontro entre a eternidade de Deus e a finitude humana. Em meio ao silêncio do templo, onde Zacarias exercia seu ministério, uma voz rompe as barreiras do visível e anuncia o impossível: "Não temas, Zacarias, porque a tua oração foi ouvida". Esse momento é mais do que um anúncio; é o início de uma transformação silenciosa, onde Deus intervém na história, revelando que Sua obra se realiza naqueles que se dispõem a escutar.
Zacarias e Isabel, avançados em idade e aparentemente esquecidos pela vida, representam a humanidade que muitas vezes carrega em si o peso do impossível: as dores, as esperas sem respostas, os sonhos desfeitos. Porém, o silêncio imposto a Zacarias, quando questiona a promessa, nos fala de algo mais profundo: é preciso calar o nosso racionalismo para que Deus fale ao nosso coração. O silêncio de Zacarias não é uma punição, mas um tempo fecundo, um tempo de gestação interior em que ele aprende a acolher a verdade que transcende suas dúvidas.
Hoje, em nossa realidade tão marcada por ruídos, agitação e descrença, Deus continua a nos falar na "quietude" da alma. Muitos de nós, como Zacarias, queremos provas, esquecendo que as maiores promessas de Deus se realizam na fé e na esperança. Há situações em que Deus silencia nossos questionamentos para que possamos ouvir a verdade do que está sendo gerado em nós: um novo tempo, uma nova vida, um caminho que aponta para a luz.
Isabel, que carrega em seu ventre João Batista, é a imagem da esperança que se manifesta no tempo certo. A esterilidade de ontem se transforma em fecundidade, mostrando que Deus jamais abandona aqueles que Nele esperam. Assim também nós somos chamados a ser sinais dessa fecundidade espiritual, mesmo quando o mundo nos vê como estéreis e inúteis.
A voz do anjo que anuncia a Zacarias continua ecoando hoje: "Não temas." Em tempos de dúvidas, de crises pessoais e coletivas, Deus nos convida a acreditar que Ele está conduzindo nossa história. Cada um de nós, como João Batista, é chamado a preparar o caminho para que Cristo nasça, não apenas em datas festivas, mas em cada decisão, em cada gesto de amor, em cada silêncio orante que cultivamos.
Portanto, irmãos, deixemo-nos envolver pelo mistério desse encontro. Que o silêncio de Zacarias nos ensine a escutar com o coração. Que a alegria de Isabel nos inspire a acreditar no impossível. E que a promessa de Deus, que nunca falha, nos faça mensageiros de esperança em um mundo tão carente de sentido e paz.
"Não temas, pois a tua oração foi ouvida." Que essa certeza nos conduza, gerando em nós um novo amanhecer. Amém.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
"Não temas, Zacarias, porque a tua oração foi ouvida, e a tua esposa Isabel te dará um filho, e o chamarás João" (Lc 1,13) é um versículo que revela verdades profundas sobre a relação entre a ação de Deus e a experiência humana de fé, espera e cumprimento das promessas divinas. Teologicamente, essa frase é carregada de simbolismos e sentidos que ecoam tanto no Antigo quanto no Novo Testamento.
1. “Não temas” — A intervenção divina na história
O anjo inicia com um convite: “Não temas.” Esta é uma frase recorrente na Sagrada Escritura, pronunciada sempre que Deus intervém para manifestar Sua vontade. O temor de Zacarias diante da visão do anjo representa a limitação humana diante do divino. O “não temas” é mais que um consolo; é a certeza de que Deus entra em nossa vida para reordená-la, dissipando as trevas da dúvida e substituindo-as pela confiança. O encontro com Deus não anula o temor, mas transforma-o em reverência e entrega.
2. “A tua oração foi ouvida” — A fidelidade de Deus às promessas
Deus ouve as orações, mesmo quando o tempo humano parece negar uma resposta. Zacarias e Isabel representam aqueles que perseveram na fé mesmo diante do silêncio de Deus. A esterilidade de Isabel simboliza a condição espiritual de Israel naquele tempo: um povo que aguardava a manifestação da promessa messiânica. A oração de Zacarias não é apenas um pedido pessoal; é o clamor do povo fiel. Quando o anjo diz que a oração foi ouvida, está proclamando que Deus age no Seu tempo, e que Sua fidelidade não conhece limites.
3. “A tua esposa Isabel te dará um filho” — A fecundidade no impossível
O anúncio de um filho a um casal idoso e estéril é um sinal da ação poderosa de Deus que, ao longo da história da salvação, realiza o impossível. Da mesma forma que Sara (Gn 18,10-14) e Ana, mãe de Samuel (1Sm 1,20), Isabel torna-se sinal da superação dos limites humanos pela graça divina. João Batista, o filho prometido, não será apenas fruto de uma promessa cumprida, mas o precursor daquele que trará a plenitude das promessas divinas: Jesus Cristo. A esterilidade transformada em fecundidade revela que nada é impossível para Deus quando há fé.
4. “E o chamarás João” — O nome como missão
Na tradição bíblica, o nome revela a essência e a missão de uma pessoa. O nome “João” (do hebraico Yochanan) significa “Deus é misericordioso” ou “Deus fez graça”. João Batista será a voz que proclama a misericórdia divina e a iminência da vinda do Salvador. Ele é o último profeta do Antigo Testamento e a ponte para o Novo, sendo escolhido desde o ventre materno para anunciar a conversão e preparar os corações para Cristo.
O Sentido Teológico Global
A frase reflete a dinâmica entre o humano e o divino: Deus age na história por meio daqueles que se abrem à Sua graça. Zacarias e Isabel são instrumentos da obra redentora, assim como João Batista será o arauto da chegada do Messias. Essa intervenção divina aponta para uma teologia da esperança e do cumprimento, onde as promessas de Deus se realizam no tempo certo.
Deus ouve, intervém e conduz, mas espera do ser humano uma resposta: confiança, entrega e acolhida. No silêncio de Zacarias, após questionar o anúncio, há também uma lição: o tempo do silêncio pode ser um tempo de maturação espiritual, no qual aprendemos a acolher as obras de Deus sem resistências.
Assim, “Não temas” continua sendo o convite de Deus para nós hoje. Nossas “esterilidades” — sonhos não realizados, esperanças frustradas, tempos de espera — são, para Deus, o terreno fértil onde Sua promessa se cumprirá. Como João Batista, somos chamados a proclamar que Deus age, que Sua graça nos precede e que, no coração da história, ressoa a misericórdia daquele que veio e que virá.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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