Liturgia Diária
31 – TERÇA-FEIRA
OITAVA DO NATAL
(branco, glória – ofício do dia)
Nasceu para nós um menino, foi-nos dado um filho; ele traz aos ombros a marca da realeza; o nome que lhe foi dado é: Conselheiro admirável (Is 9,5).
Em gratidão pelo ano que finda, celebremos o Logos eterno que se fez carne, unindo o divino ao humano. No novo ano, aprofundemos o conhecimento de Cristo, amando-o intensamente e manifestando sua luz em cada ação. Que nossas vidas reflitam o Verbo encarnado, transformando o tempo em comunhão eterna.
João 1:1-18 - (Vulgata)
-
In principio erat Verbum, et Verbum erat apud Deum, et Deus erat Verbum.
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. -
Hoc erat in principio apud Deum.
Ele estava no princípio com Deus. -
Omnia per ipsum facta sunt, et sine ipso factum est nihil, quod factum est.
Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez. -
In ipso vita erat, et vita erat lux hominum.
Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. -
Et lux in tenebris lucet, et tenebrae eam non comprehenderunt.
E a luz brilha nas trevas, e as trevas não a compreenderam. -
Fuit homo missus a Deo, cui nomen erat Ioannes.
Houve um homem enviado por Deus, cujo nome era João. -
Hic venit in testimonium, ut testimonium perhiberet de lumine, ut omnes crederent per eum.
Ele veio como testemunha, para dar testemunho da luz, para que todos cressem por meio dele. -
Non erat ille lux, sed ut testimonium perhiberet de lumine.
Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. -
Verbum erat lux vera, quae illuminat omnem hominem venientem in hunc mundum.
O Verbo era a luz verdadeira, que ilumina todo homem que vem ao mundo. -
In mundo erat, et mundus per ipsum factus est, et mundus eum non cognovit.
Ele estava no mundo, e o mundo foi feito por Ele, mas o mundo não o conheceu. -
In propria venit, et sui eum non receperunt.
Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. -
Quotquot autem receperunt eum, dedit eis potestatem filios Dei fieri, his qui credunt in nomine eius:
Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, aos que crêem no Seu nome, -
qui non ex sanguinibus, neque ex voluntate carnis, neque ex voluntate viri, sed ex Deo nati sunt.
os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. -
Et Verbum caro factum est, et habitavit in nobis, et vidimus gloriam eius, gloriam quasi unigeniti a Patre, plenum gratiae et veritatis.
E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a Sua glória, glória como a do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade. -
Ioannes testimonium perhibet de ipso, et clamat dicens: Hic erat, de quo ego dixi: Qui post me venturus est, ante me factus est, quia prior me erat.
João deu testemunho d'Ele, e clamou, dizendo: Este é aquele de quem eu disse: O que vem após mim é antes de mim, porque Ele existia antes de mim. -
Et de plenitudine eius nos omnes accepimus, et gratiam pro gratia.
E da Sua plenitude todos nós recebemos, e graça sobre graça. -
Lex enim data est per Mosen, gratia et veritas per Iesum Christum facta sunt.
A Lei foi dada por meio de Moisés, a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo. -
Deum nemo vidit umquam; unigenitus Filius, qui est in sinu Patris, ipse enarravit.
Ninguém jamais viu a Deus; o Filho unigênito, que está no seio do Pai, é quem O revelou.
Reflexão:
"Et Verbum caro factum est, et habitavit in nobis, et vidimus gloriam eius, gloriam quasi unigeniti a Patre, plenum gratiae et veritatis."
"E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a Sua glória, glória como a do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade." (João 1,14)
Essa frase resume o mistério da Encarnação, em que o Verbo eterno de Deus assume a natureza humana para revelar a plenitude da graça e da verdade ao mundo.
A Palavra divina, que se fez carne, revela uma profunda unidade entre o princípio eterno e a criação temporária. Cada ser, ao manifestar a luz da Verdade, participa de um processo contínuo de evolução, onde o potencial de toda criação está ligado à busca pela totalidade. À medida que nos aproximamos dessa luz, entendemos que nossa jornada não é isolada, mas uma colaboração cósmica com o divino. A verdade e a graça que em Cristo se revelam são como sementes que, ao serem acolhidas, transformam a essência do ser, convidando-o a crescer e se expandir. O conhecimento da luz não é uma simples conquista, mas um retorno progressivo ao Uno, ao Ponto Omega, onde toda a criação encontrará seu verdadeiro propósito.
HOMILIA
Título: "A Luz que Transforma a História"
Queridos irmãos e irmãs,
O Evangelho de João nos conduz ao coração do mistério divino: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus" (João 1,1). Essa passagem nos apresenta a Palavra criadora que não apenas ordena o cosmos, mas também entra na história humana para transformá-la. "E o Verbo se fez carne e habitou entre nós" (João 1,14).
Hoje, enfrentamos desafios profundos em nossa sociedade: desigualdades crescentes, crises de identidade, fragmentação comunitária e o grito dos mais vulneráveis. Neste contexto, a mensagem deste Evangelho se torna urgente e transformadora.
Quando a Palavra se faz carne, ela nos revela que Deus escolheu habitar em meio a nós, assumindo nossas dores, lutas e limitações. Isso significa que a presença divina não é alheia às nossas angústias; pelo contrário, ela se faz próxima, solidária e atuante. O Verbo nos chama a reconhecer a dignidade de cada ser humano, porque cada pessoa reflete a luz divina.
A luz que brilha nas trevas e que as trevas não podem apagar (João 1,5) nos convida a sermos portadores dessa luz no mundo. Em meio às sombras do egoísmo e da injustiça, somos chamados a ser sinais de esperança e reconciliação. A glória que contemplamos no Filho não é uma glória distante e inatingível, mas uma glória que transforma o cotidiano, que purifica nossas intenções e que renova as estruturas humanas a partir de dentro.
A graça e a verdade que vêm de Cristo nos desafiam a superar o materialismo e a indiferença. A graça nos ensina que somos feitos para viver em comunhão, cuidando uns dos outros, e a verdade nos orienta a buscar sempre o bem comum, rejeitando as mentiras que dividem e oprimem.
Portanto, ao celebrarmos este mistério, somos chamados a nos tornar continuadores dessa luz no mundo. Que o Verbo encarnado inspire nossas ações a serem coerentes com o amor que recebemos, levando transformação onde houver necessidade, e promovendo a verdadeira paz que nasce do coração de Deus.
Assim, irmãos, vivamos como aqueles que reconheceram a luz verdadeira, permitindo que ela nos transforme e, por nosso testemunho, ilumine os que ainda caminham nas trevas. Que o Verbo, que se fez carne e habitou entre nós, faça morada também em nossos corações e em nossas ações.
Amém.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
"E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a Sua glória, glória como a do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade." (João 1,14)
Esta frase encapsula o mistério central da fé cristã: a Encarnação do Verbo Divino. Vamos explorá-la em profundidade.
1. "E o Verbo se fez carne"
O "Verbo" (Logos, em grego) é o princípio eterno, a Sabedoria divina que preexiste à criação. Ao afirmar que o Verbo "se fez carne", o evangelista João declara algo revolucionário: Deus, infinito e eterno, assumiu a fragilidade e a limitação da existência humana. "Carne" não significa apenas um corpo físico, mas a totalidade da condição humana, incluindo a vulnerabilidade ao sofrimento, à dor e à morte.
Este ato não é um mero simbolismo, mas uma realidade concreta. Deus não se limita a observar a humanidade de fora; Ele entra na história e na matéria para redimi-las. Essa encarnação é um ato de amor absoluto, no qual o divino e o humano se unem de maneira irrevogável.
2. "E habitou entre nós"
O verbo grego usado aqui, eskenosen ("armou sua tenda"), remete ao tabernáculo no Antigo Testamento, onde Deus habitava no meio do povo de Israel. Jesus é o novo tabernáculo, o lugar onde a presença de Deus não apenas visita, mas permanece entre os homens.
Essa "habitação" não é distante nem condicional. Deus escolhe viver no meio da humanidade em sua realidade cotidiana, em seus desafios e contradições. A Encarnação é, assim, a expressão máxima da proximidade de Deus, que se faz companheiro no caminho humano.
3. "E vimos a Sua glória"
A "glória" na linguagem bíblica é a manifestação visível da presença divina. Em Jesus, a glória de Deus não se manifesta em espetáculos de poder, mas na humildade, no serviço, na cruz e, finalmente, na ressurreição. É uma glória paradoxal, escondida na simplicidade da humanidade de Cristo, mas revelada aos que têm olhos para vê-la.
Os discípulos que contemplaram esta glória foram testemunhas de que, em Jesus, Deus não é distante, mas um Deus que ama, perdoa e se entrega por inteiro.
4. "Glória como a do unigênito do Pai"
Jesus é o "unigênito", ou seja, o Filho único de Deus. Essa expressão indica a relação íntima e eterna entre o Pai e o Filho. Jesus não é apenas um mensageiro ou um profeta; Ele é a revelação plena do Pai. Nele, Deus se dá a conhecer totalmente.
Essa glória é única porque é a manifestação do amor perfeito e eterno que une o Pai ao Filho, um amor que transborda para toda a criação.
5. "Cheio de graça e de verdade"
A expressão "graça e verdade" reflete o cumprimento das promessas de Deus. A "graça" é o dom gratuito do amor de Deus que salva, e a "verdade" é a fidelidade de Deus às Suas promessas. Em Cristo, esses dois aspectos se unem de forma perfeita: Ele é a verdade que revela o Pai e a graça que nos redime.
Cristo, "cheio de graça e de verdade", não apenas reflete a bondade de Deus, mas a comunica de maneira concreta, reconciliando a humanidade com o Criador.
Conclusão
João 1,14 é uma proclamação da nova aliança entre Deus e a humanidade. O Verbo que se faz carne é a ponte definitiva entre o eterno e o temporal, o infinito e o finito. Ele transforma a nossa existência, elevando-a para que possamos participar da vida divina.
Esta frase nos convida a contemplar o mistério da Encarnação com um coração aberto, reconhecendo que, em Cristo, Deus não apenas nos visita, mas nos transforma e nos chama a viver em comunhão com Ele, repletos de graça e guiados pela verdade.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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