14 – SÁBADO
SÃO JOÃO DA CRUZ
PRESBÍTERO E DOUTOR DA IGREJA
(branco, pref. do Advento I ou IA, dos pastores ou dos doutores – ofício da memória)
Quanto a mim, que eu me glorie somente da cruz do Senhor nosso, Jesus Cristo. Por ele, o mundo está crucificado para mim, como eu estou crucificado para o mundo (Gl 6,14).
A cruz é o eixo onde o finito e o infinito se encontram, dissolvendo as ilusões do ego. Crucificado com Cristo, o ser transcende o mundo, não para negá-lo, mas para integrá-lo em sua plenitude divina, onde cada sofrimento torna-se uma ponte para a ressurreição do cosmos em Deus.
São Mateus 17:10-13
10 Et interrogaverunt eum discipuli, dicentes: Quid ergo scribae dicunt quod Eliam oporteat primum venire?
10 E os discípulos perguntaram-lhe, dizendo: Por que dizem os escribas que é necessário que Elias venha primeiro?
11 At ille respondens, ait eis: Elias quidem venturus est, et restituet omnia.
11 Ele, respondendo, disse-lhes: De fato, Elias há de vir e restaurará todas as coisas.
12 Dico autem vobis, quia Elias jam venit, et non cognoverunt eum, sed fecerunt in eum quaecumque voluerunt. Sic et Filius hominis passurus est ab eis.
12 Eu, porém, vos digo: Elias já veio, e não o reconheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim também o Filho do Homem sofrerá da parte deles.
13 Tunc intellexerunt discipuli, quia de Joanne Baptista dixisset eis.
13 Então os discípulos compreenderam que ele lhes falara de João Batista.
Reflexão
"De fato, Elias há de vir e restaurará todas as coisas." (Mt 17:11)
A vinda de Elias e sua incompreensão pelos homens revelam a dinâmica do despertar espiritual: muitas vezes o essencial passa despercebido aos olhos distraídos. A restauração mencionada é um chamado à transformação interior, onde o Cristo, centro convergente do cosmos, ilumina o sentido profundo da criação, revelando-nos o destino divino do universo.
HOMILIA
Um Chamado à Plenitude
Queridos irmãos e irmãs,
O Evangelho de Mateus 17:10-13 nos apresenta um diálogo entre Jesus e seus discípulos, no qual Ele revela a vinda de Elias como aquele que restabelecerá todas as coisas, e o identifica com João Batista. Esse texto, à primeira vista, parece apontar para um evento já consumado na história da salvação, mas, ao mergulharmos em sua profundidade, percebemos que ele ecoa um convite eterno e universal: o chamado à restauração de tudo em Deus.
Quando Jesus afirma que "Elias já veio", Ele não apenas situa a figura de João Batista no plano profético, mas também nos ensina que o movimento restaurador é contínuo. O "restituir todas as coisas" é um processo que transcende o tempo e nos desafia a reconhecer, em cada momento da história, a presença daqueles que, como João Batista, preparam os caminhos do Senhor.
Nos dias de hoje, somos convidados a perguntar: quem são os Elias do nosso tempo? Quem são os profetas que clamam por uma restauração que não é meramente externa, mas profundamente interior e cósmica? Somos desafiados a identificar as vozes que, muitas vezes, clamam no deserto da indiferença, chamando-nos a abrir os olhos para a plenitude que Deus deseja realizar em nós e através de nós.
A restauração a que o Evangelho alude não se limita à reconciliação entre indivíduos, mas engloba a totalidade da criação. Em um mundo marcado por divisões e fragmentações, somos chamados a participar desse movimento restaurador, permitindo que nossas vidas sejam instrumentos da reconciliação divina. Esse processo começa em nosso próprio coração, à medida que abandonamos o orgulho, o egoísmo e o medo, e nos abrimos à realidade do amor transformador de Deus.
Assim como Elias e João Batista prepararam o caminho do Senhor, nós também somos chamados a ser precursores de sua presença em nosso tempo. Cada gesto de compaixão, cada palavra de esperança, cada ação de justiça torna-se uma proclamação de que o Reino de Deus já está entre nós e de que a plenitude está se aproximando.
Que possamos, como discípulos, viver na expectativa da restauração prometida, reconhecendo que ela não é apenas um evento futuro, mas uma realidade que já começa a despontar em nossas vidas. E, assim, permitamos que o horizonte da plenitude nos impulsione a ser testemunhas vivas da esperança que não decepciona.
Amém.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A Profunda Teologia da Restauração em Mateus 17:11
A frase "De fato, Elias há de vir e restaurará todas as coisas" (Mt 17:11) carrega em si uma riqueza teológica que aponta para o movimento dinâmico da ação divina na história e no cosmos. Essa declaração de Jesus não apenas remete a uma figura profética específica, mas também reflete a esperança escatológica e o compromisso divino com a renovação de toda a criação.
1. A Profecia de Elias e a Preparação do Caminho
Na tradição judaica, Elias é visto como o profeta que precederia a chegada do Messias, preparando o povo para a plenitude da ação de Deus. Essa visão está enraizada em Malaquias 4:5-6, onde Elias é descrito como aquele que reconciliaria pais e filhos, restaurando a harmonia entre os seres humanos. A presença de Elias simboliza a mediação entre o humano e o divino, convocando a humanidade ao arrependimento e à conversão.
2. A Identificação com João Batista
Jesus, ao afirmar que Elias "já veio" (Mt 17:12), identifica João Batista como o cumprimento dessa profecia. João é o Elias espiritual, o mensageiro que clama no deserto, apontando para a vinda de Cristo e chamando o povo a um batismo de arrependimento. Essa identificação não apenas cumpre a profecia, mas redefine a figura de Elias: ele não é apenas um indivíduo, mas um arquétipo de todo movimento que restaura e reconcilia.
3. A Restauração como Missão Escatológica
A frase "restaurará todas as coisas" transcende o contexto histórico imediato. Não se trata apenas da preparação para a vinda de Cristo na história, mas também da restauração final que se realizará na parusia (segunda vinda de Cristo). Esse processo abrange tanto o âmbito humano quanto o cósmico: a reconciliação entre Deus e a humanidade, e a renovação de toda a criação, como descrito em Romanos 8:19-21, onde Paulo fala da "libertação da criação do cativeiro da corrupção".
4. A Participação Humana na Restauração
Embora a restauração seja, em última análise, obra de Deus, ela convida à cooperação humana. Assim como Elias e João Batista foram instrumentos no plano divino, cada cristão é chamado a ser um agente de restauração. Isso implica uma transformação interior, que se reflete na promoção da justiça, da paz e da reconciliação no mundo.
5. A Dimensão Cósmica e Integral da Restauração
A restauração de "todas as coisas" aponta para uma visão integral da redenção. Não é apenas o ser humano que será transformado, mas também o cosmos inteiro, que participa do drama da queda e da redenção. Essa perspectiva é amplamente afirmada na teologia bíblica, onde céu e terra são renovados na consumação final (Apocalipse 21:1-5).
Conclusão: Um Chamado à Esperança e à Missão
"De fato, Elias há de vir e restaurará todas as coisas" é uma frase que ressoa como um chamado à esperança e à missão. Ela nos lembra que a história está direcionada para um propósito divino, onde todas as coisas serão renovadas e reconciliadas em Cristo. Ao mesmo tempo, nos convoca a viver como precursores desse Reino, testemunhando, através de nossas vidas, o poder transformador da graça de Deus.
Essa restauração é o núcleo da promessa divina: um horizonte de plenitude, onde o amor de Deus abraça e recria tudo o que existe.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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