Liturgia Diária
18 – QUARTA-FEIRA
3ª SEMANA DO ADVENTO
(roxo, pref. do Advento II ou IIA – ofício do dia)
Está chegando o nosso Rei, Cristo, que João anunciou como Cordeiro que há de vir.
Ao projetar para o futuro a vinda do Messias, Deus declara que "um descendente de Davi... estabelecerá a justiça e a harmonia cósmica sobre a terra". Contudo, para a realização plena de Seu plano eterno, o Senhor conta com a colaboração da humanidade, como manifestado nos exemplos de José e Maria. Que possamos ser colaboradores generosos na manifestação das obras divinas, permitindo que a ordem transcendental se revele através de nossa ação consciente e livre.
Mateus 1:18-24 (Vulgata)
18 Porro natus est Jesus Christus, ubi erat mater ejus Maria, sponsa Joseph, antequam convenirent, invenit eum habentem ex spiritu sancto.
Porém, nasceu Jesus Cristo, da mãe dele Maria, esposa de José, antes que se unissem, ela encontrou-se grávida pelo Espírito Santo.
19 Joseph autem vir ejus, cum esset justus, et nollet eam traducere, voluit occulte dimittere eam.
José, porém, sendo justo, e não querendo expô-la à vergonha, resolveu deixá-la secretamente.
20 Hæc autem eo cogitante, ecce angelus Domini apparuit ei in somnis, dicens: Joseph fili David, noli timere accipere Mariam conjugem tuam: quod enim genuit in ea ex spiritu est sancto.
Enquanto ele estava pensando nisso, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonho, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua esposa, porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo.
21 Pariet autem filium, et vocabis nomen ejus Jesum: ipse enim salvum faciet populum suum a peccatis eorum.
Ela dará à luz um filho, e chamarás seu nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles.
22 Hoc autem totum factum est, ut adimpleretur quod dictum est a Domino per prophetam, dicentem:
Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que foi dito pelo Senhor, por meio do profeta, dizendo:
23 Ecce virgo concipiet, et pariet filium, et vocabunt nomen ejus Emmanuel, quod est interpretatum Nobiscum Deus.
Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e chamarão seu nome Emmanuel, que traduzido é: Deus conosco.
24 Joseph autem, de somno excutens, fecit sicut præcepit ei angelus Domini, et accipiens conjugem suam,
José, despertando do sono, fez como o anjo do Senhor lhe ordenara, e recebeu sua esposa.
25 et non cognovit eam, donec peperit filium suum primogenitum; et vocavit nomen ejus Jesum.
E não a conheceu até que ela deu à luz o seu filho primogênito; e chamou o seu nome de Jesus.
Reflexão:
"Ecce virgo concipiet, et pariet filium, et vocabunt nomen ejus Emmanuel, quod est interpretatum Nobiscum Deus."
"Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e chamarão seu nome Emmanuel, que traduzido é: Deus conosco." ( Mt 1:23)
Essa frase destaca o mistério da encarnação, onde o divino se faz presente entre os seres humanos, revelando a proximidade de Deus com a humanidade.
A ação de José, ao aceitar o plano divino, é um reflexo de uma entrega profunda ao movimento da evolução espiritual. Ao seguir a orientação do anjo, José não apenas protege Maria, mas torna-se um canal através do qual a manifestação do divino se realiza na Terra. O nascimento de Jesus revela a união entre o humano e o divino, como se a humanidade estivesse prestes a ser elevada a uma nova compreensão da sua natureza. A resposta de José é um testemunho da fé ativa que se transforma em ação concreta. É através dessa cooperação com o divino que a transformação da realidade acontece, demonstrando que a evolução da consciência humana é uma interação contínua com o plano divino. Na acolhida do mistério da encarnação, há um convite para que todos participemos ativamente no desdobramento dessa obra de salvação. Assim, cada ato de fé é uma contribuição para a construção de uma nova ordem espiritual no mundo.
HOMILIA
A Encarnação como Caminho de Transformação
Queridos irmãos e irmãs, hoje somos chamados a refletir profundamente sobre o mistério da encarnação de Deus em Jesus Cristo, conforme relatado no Evangelho de Mateus 1:18-24. Este trecho nos oferece uma revelação de grande profundidade, não apenas sobre o nascimento de Cristo, mas também sobre o papel transformador que Ele exerce no tecido espiritual da humanidade e do cosmos.
Naqueles tempos, Maria e José foram instrumentos de um plano divino que transcende a história. O anjo revelou a José que a criança que Maria carregava era "Emmanuel", que significa "Deus conosco". Esta simples palavra carrega um significado eterno: a presença de Deus no coração do mundo humano, e não em uma abstração distante, mas em um ser concreto, tocando nossas vidas de maneira íntima e transformadora.
Hoje, em um mundo que parece cada vez mais distante de qualquer ideal transcendente, a mensagem de "Deus conosco" se torna mais relevante do que nunca. Vivemos em uma era de grande complexidade e evolução, onde as fronteiras entre o físico e o espiritual se tornam cada vez mais difíceis de discernir. Estamos diante de uma realidade que exige de nós uma nova forma de ver, entender e interagir com o divino. A encarnação nos ensina que a divindade não se limita a um espaço sagrado ou a uma realidade distante, mas se encontra em todo o cosmos, pulsando na vida cotidiana e convidando-nos a participar de Sua obra de transformação.
Assim como José, que, em sua humildade e fé, acolheu o mistério da encarnação sem compreender plenamente o que isso significava, nós também somos chamados a abraçar o desconhecido. A verdadeira fé não se trata de uma compreensão racional plena, mas de uma entrega confiante ao processo divino que se desenrola dentro e fora de nós. Não se trata apenas de acreditar que Cristo nasceu em Belém, mas de permitir que Ele nasça, renasça e viva dentro de nós, em nossas ações, em nossos pensamentos e em nossa relação com o mundo.
A presença de Deus conosco, em Cristo, não é um evento isolado do passado, mas um princípio ativo que, como uma semente, continua a crescer e a se expandir em nosso mundo. A encarnação, então, não é apenas um fato histórico, mas o início de um movimento contínuo, onde a humanidade, em sua evolução, é chamada a se unir ao divino, a se transformar, a crescer em consciência e em amor.
Em nossa vida cotidiana, a encarnação nos pede para enxergar a divindade nas coisas mais simples, nas ações mais humildes, nos gestos de amor e solidariedade. Deus não está distante, mas se faz presente nos pequenos detalhes, no trabalho diário, no esforço de melhorar o mundo. Ele não veio para uma grande demonstração de poder, mas para um processo silencioso de transformação interior que se reflete na transformação exterior.
Portanto, irmãos e irmãs, somos chamados a ser instrumentos desse movimento divino, participando ativamente na criação de um novo cosmos, onde a justiça, a paz e a harmonia reinam. Cada ato de amor e de bondade é uma contribuição para o despertar de uma nova realidade, uma realidade em que a presença de "Deus conosco" se torna cada vez mais evidente.
Que possamos, então, seguir o exemplo de José e Maria, que, com fé e humildade, acolheram o mistério da encarnação e se tornaram co-participantes da obra divina. Que o nascimento de Cristo em nosso coração nos conduza a uma transformação profunda, não apenas de nossa vida pessoal, mas do mundo ao nosso redor, até que possamos ver toda a criação se revestindo de Sua luz e de Sua verdade. Amém.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A frase "Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e chamarão seu nome Emmanuel, que traduzido é: Deus conosco." (Mt 1:23) contém um dos mistérios mais profundos da fé cristã, o mistério da encarnação. Ela revela o ponto culminante do relacionamento entre o divino e o humano, e traz à tona o princípio da ação redentora de Deus na história da humanidade.
1. A Virgem Conceberá
A primeira parte da frase, "Eis que a virgem conceberá", não é apenas uma referência a um nascimento biológico, mas ao cumprimento de uma promessa divina que ultrapassa as limitações humanas. A concepção virginal de Jesus é um sinal de que a ação divina não está atada às leis naturais do mundo. Aqui, vemos uma intervenção direta de Deus na história, escolhendo uma virgem para ser a mãe do Salvador. Essa virgindade não deve ser entendida apenas de forma física, mas como um símbolo da pureza e da abertura incondicional da humanidade para acolher o mistério de Deus. Maria, como a "Nova Eva", se torna a expressão máxima de aceitação ao plano divino, participando de maneira única na ação criadora e redentora de Deus.
2. "E Darão à Luz um Filho"
Aqui, a palavra "filho" carrega consigo uma profundidade teológica imensa. A encarnação de Deus em Jesus Cristo, sendo Ele verdadeiro Deus e verdadeiro homem, significa que Deus, em Sua infinita grandeza, escolhe adentrar a experiência humana de uma maneira radicalmente nova. Jesus não é apenas um mensageiro ou uma manifestação espiritual de Deus, mas o próprio Filho eterno que se faz carne. O nascimento de Jesus é o início de um novo movimento cósmico e redentor, que transcende as limitações do tempo e do espaço, pois Deus, ao se fazer homem, assume completamente a natureza humana, sem deixar de ser Deus.
3. "Chamarão Seu Nome Emmanuel"
O nome "Emmanuel" significa "Deus conosco". Essa é uma revelação de grande profundidade teológica, pois implica que Deus não está mais distante ou separado da humanidade, mas se faz presente de forma concreta e tangível. Emmanuel não é um conceito abstrato, mas a presença ativa de Deus em nosso meio. A escolha desse nome revela que a missão de Jesus, desde seu nascimento, é estabelecer a proximidade de Deus com a humanidade. Não mais apenas por meio de profetas, símbolos ou intervenções externas, mas por meio de Sua própria presença encarnada. O Deus que antes estava oculto e distante agora se faz visível e acessível.
4. "Deus Conosco"
A expressão "Deus conosco" implica a vinda de Deus para habitar no coração da criação de uma maneira que nunca havia ocorrido antes. A metáfora da proximidade divina é central: o Deus que criou os céus e a terra, que é transcendente e infinito, escolhe se fazer próximo de nós de maneira tão radical que assume a forma de um bebê humano em uma manjedoura. Isso simboliza um movimento de "unificação" entre o céu e a terra, entre o divino e o humano, onde não há mais separação, mas uma comunhão plena. O Verbo se faz carne para nos ensinar que a verdadeira salvação não é apenas uma salvação espiritual, mas uma salvação total, que envolve corpo, alma e espírito.
A frase revela que, com a encarnação, Deus inicia uma nova criação, uma nova aliança com a humanidade. Ao fazer-se homem, Cristo se torna o ponto de união entre o céu e a terra, entre o eterno e o temporal, entre o divino e o humano. Ele é, portanto, o "mediador" entre Deus e a humanidade, o ponto de reconciliação, onde a separação causada pelo pecado é superada.
5. A Presença Transformadora
Em "Deus conosco", temos a afirmação de que a salvação não é apenas uma promessa futura, mas uma realidade presente. Deus não é apenas uma figura distante a ser adorada em cultos formais ou em momentos de oração, mas Ele está conosco, em nossa vida diária, em nossos relacionamentos e em nossos desafios. Isso implica que nossa própria vida cotidiana, quando vivida na fé, se torna uma continuação da obra redentora de Cristo. A presença de Deus em Cristo não é apenas um fato histórico, mas uma realidade que continua a se desdobrar através da Igreja e dos fiéis, através da ação do Espírito Santo, que torna Cristo vivo e presente no coração da humanidade.
Conclusão
Portanto, a frase "Deus conosco" é o resumo da missão de Jesus: Ele veio para nos mostrar o rosto de Deus, para revelar a proximidade divina e para estabelecer, através de Sua vida, morte e ressurreição, uma nova ordem cósmica onde a criação é restaurada à sua plenitude. "Deus conosco" não é apenas uma promessa de conforto, mas um chamado para que vivamos em comunhão com Deus, acolhendo Sua presença transformadora em nossas vidas, e permitindo que a redenção se realize no mundo ao nosso redor. É através dessa proximidade divina que a humanidade é convidada a participar da evolução espiritual e do desdobramento do plano divino.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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