Liturgia Diária
20 – SEXTA-FEIRA
3ª SEMANA DO ADVENTO
(roxo, pref. do Advento II ou IIA – ofício do dia)
Um ramo brotará da raiz de Jessé; a glória do Senhor encherá a terra inteira, e toda criatura verá a salvação de Deus (Is 11,1; 40,5; Lc 3,6).
O ramo que brota da raiz de Jessé revela a gênese de uma unidade divina: a manifestação da Glória que permeia e transfigura o ser. Nessa plenitude, cada criatura contempla a salvação como o espelho onde o finito se encontra com o infinito, reconciliando-se na essência da Verdade absoluta.
Lucas 1:26-38 (Vulgata)
26. Missus est autem angelus Gabriel a Deo in civitatem Galilaeae, cui nomen Nazareth,
26. Foi enviado o anjo Gabriel por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré,
27. ad virginem desponsatam viro, cui nomen erat Ioseph, de domo David, et nomen virginis Maria.
27. a uma virgem prometida em casamento a um homem chamado José, da casa de Davi, e o nome da virgem era Maria.
28. Et ingressus angelus ad eam dixit: Ave, gratia plena, Dominus tecum.
28. Ao entrar, o anjo disse-lhe: Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo.
29. Quae cum vidisset, turbata est in sermone eius et cogitabat qualis esset ista salutatio.
29. Ela, porém, ao ouvir estas palavras, perturbou-se e pensava no que significaria esta saudação.
30. Et ait angelus ei: Ne timeas, Maria, invenisti enim gratiam apud Deum.
30. Disse-lhe o anjo: Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus.
31. Ecce, concipies in utero et paries filium, et vocabis nomen eius Iesum.
31. Eis que conceberás e darás à luz um filho, e o chamarás com o nome de Jesus.
32. Hic erit magnus et Filius Altissimi vocabitur; et dabit illi Dominus Deus sedem David patris eius,
32. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai.
33. et regnabit in domo Iacob in aeternum, et regni eius non erit finis.
33. Ele reinará sobre a casa de Jacó eternamente, e o seu reino não terá fim.
34. Dixit autem Maria ad angelum: Quomodo fiet istud, quoniam virum non cognosco?
34. Disse Maria ao anjo: Como se fará isso, se eu não conheço homem?
35. Et respondens angelus dixit ei: Spiritus Sanctus superveniet in te, et virtus Altissimi obumbrabit tibi; ideoque et, quod nascetur sanctum, vocabitur Filius Dei.
35. O anjo respondeu-lhe: O Espírito Santo virá sobre ti, e a força do Altíssimo te cobrirá com sua sombra; por isso, o santo que vai nascer será chamado Filho de Deus.
36. Et ecce Elisabeth cognata tua, et ipsa concepit filium in senectute sua, et hic mensis sextus est illi, quae vocatur sterilis,
36. Eis que também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na sua velhice, e já está no sexto mês aquela que era chamada estéril.
37. quia non erit impossibile apud Deum omne verbum.
37. Porque para Deus nada é impossível.
38. Dixit autem Maria: Ecce ancilla Domini; fiat mihi secundum verbum tuum. Et discessit ab illa angelus.
38. Disse Maria: Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo afastou-se dela.
Reflexão:
"Ecce ancilla Domini; fiat mihi secundum verbum tuum."
"Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra." (Lucas 1,38)
Essa declaração de Maria sintetiza sua total entrega e obediência ao plano divino, representando um momento crucial na história da salvação. Esse "sim" é a resposta que permite a encarnação do Verbo, marcando o início da realização do mistério redentor.
A Anunciação marca o encontro entre o humano e o eterno, onde o "sim" de Maria ressoa como o despertar de uma consciência universal. Nessa resposta, encontramos o eixo que une o finito ao infinito, revelando que a encarnação é o ponto culminante da evolução espiritual, em que Deus e a humanidade se integram em plenitude.
HOMILIA
O Sim que Transforma a História
Amados irmãos e irmãs,
O Evangelho de hoje nos conduz a um dos momentos mais sublimes da história: o encontro entre o anjo Gabriel e Maria. Nesse diálogo celestial, vemos algo que transcende o tempo e ilumina nosso presente. A cena da Anunciação não é apenas um episódio do passado, mas uma mensagem viva que continua ecoando em nossas vidas.
Maria, uma jovem humilde de Nazaré, é chamada a colaborar com o projeto divino de redenção. Sua resposta, “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38), não é uma aceitação passiva, mas um ato de profunda liberdade e amor. Ao dizer “sim,” Maria torna-se ponte entre o divino e o humano, abrindo o caminho para que Deus habite entre nós.
Hoje, somos constantemente interpelados por desafios que exigem o nosso próprio “sim” a Deus. Esse “sim” não acontece em um vácuo, mas no contexto de um mundo marcado pela incerteza, pelo egoísmo e pela busca incessante de sentido. Quando, como Maria, nos abrimos ao chamado divino, permitimos que algo maior se manifeste em nós e por meio de nós.
O anjo também nos visita de maneiras inesperadas: no clamor dos necessitados, na beleza da criação, no silêncio da oração e nos encontros cotidianos. A pergunta é: estamos prontos para reconhecer essa visita? Estamos dispostos a dizer “sim,” mesmo sem compreender plenamente o alcance do plano de Deus?
A resposta de Maria nos ensina que o verdadeiro protagonismo nasce da entrega confiante. Ela nos lembra que, quando nos colocamos à disposição da vontade divina, tornamo-nos agentes de transformação. Deus não nos força, mas nos convida a colaborar livremente na construção de um mundo onde a esperança, a paz e o amor prevaleçam.
Assim, como Maria, sejamos capazes de responder com coragem e fé. O “sim” de cada um de nós pode transformar não apenas nossas vidas, mas a história de todos ao nosso redor. Que possamos, como ela, ser morada de Deus e testemunhas de sua ação salvadora no mundo.
Amém.
EEXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A frase "Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lucas 1,38) é um dos momentos mais teologicamente ricos e profundos do Evangelho, encapsulando o mistério da liberdade humana em harmonia com a vontade divina. Vamos explorar seus significados principais:
1. A entrega total à vontade de Deus
Maria se identifica como "a serva do Senhor", reconhecendo-se como totalmente pertencente a Deus. O termo "serva" (do grego doulē) expressa não uma submissão opressiva, mas uma entrega amorosa e voluntária. Este reconhecimento de Maria como instrumento da ação divina não é uma anulação de sua vontade, mas sua elevação ao mais alto grau de liberdade: conformar-se plenamente ao plano de Deus.
2. A fé diante do mistério
Ao dizer “faça-se em mim segundo a tua palavra,” Maria demonstra uma fé radical. Ela não exige explicações completas, nem tenta controlar o mistério que lhe é revelado. Confia, mesmo sem compreender totalmente, porque reconhece na palavra do anjo a verdade do próprio Deus. Sua fé é ativa, permitindo que a vontade divina se manifeste nela.
3. A cooperação humana na obra divina
Essa frase representa a colaboração perfeita entre Deus e o ser humano. Deus, que é todo-poderoso, escolhe agir através da liberdade de Maria. O “faça-se” não é apenas uma aceitação passiva, mas um ato criador, em que a humanidade de Maria se torna o espaço em que a encarnação acontece. Assim, Deus respeita a liberdade humana ao mesmo tempo em que a eleva à máxima dignidade.
4. A encarnação como resposta ao “sim” de Maria
O “sim” de Maria possibilita a realização do mistério da Encarnação, em que o Verbo eterno de Deus se faz carne. Maria é o modelo da Igreja, pois nela encontramos a imagem perfeita do que significa acolher a Palavra divina e permitir que ela gere vida no mundo.
5. O cumprimento das promessas de Deus
Ao se declarar serva do Senhor, Maria se insere na linhagem das grandes figuras do Antigo Testamento que confiaram nas promessas divinas, como Abraão e Moisés. Ela se torna o ponto culminante da história da salvação, onde a fidelidade de Deus encontra a resposta fiel do ser humano.
6. Um convite universal à imitação de Maria
A frase de Maria não é apenas um testemunho pessoal, mas um chamado a todos os cristãos. Somos todos convidados a nos tornar “servos do Senhor,” a deixar que Deus atue em nós e por meio de nós. O “faça-se” de Maria ressoa em cada coração que deseja cooperar com o plano divino.
Conclusão
Esta declaração de Maria é o ápice da liberdade humana em resposta ao amor divino. Ela nos ensina que a verdadeira grandeza está na abertura total à vontade de Deus. Ao dizer “Eis aqui a serva do Senhor,” Maria nos mostra que a humildade, a fé e a obediência são os caminhos pelos quais o infinito se manifesta no finito, e a salvação entra no mundo.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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