Liturgia Diária
3 – TERÇA-FEIRA
SÃO FRANCISCO XAVIER
PRESBÍTERO
(branco, pref. do Advento I ou IA – ou dos pastores – ofício da memória)
Eu vos louvarei, Senhor, entre os povos, e anunciarei o vosso nome aos meus irmãos (Sl 17,50; 21,23).
Louvar ao Senhor entre os povos é reconhecer a unidade transcendental que nos liga ao divino. Anunciar Seu nome é iluminar a consciência humana, despertando a essência sublime que nos conduz à plenitude da comunhão universal e do Amor eterno.
Lucas 10,21-24 (Vulgata)
21 In ipsa hora exsultavit Spiritu Sancto, et dixit: Confiteor tibi, Pater, Domine cæli et terræ, quia abscondisti hæc a sapientibus et prudentibus, et revelasti ea parvulis. Etiam, Pater: quoniam sic placitum fuit ante te.
Naquela mesma hora, exultou no Espírito Santo e disse: Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado.
22 Omnia mihi tradita sunt a Patre meo. Et nemo novit quis sit Filius, nisi Pater: et quis sit Pater, nisi Filius, et cui voluerit Filius revelare.
Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém sabe quem é o Filho senão o Pai, e quem é o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar.
23 Et conversus ad discipulos suos, dixit: Beati oculi qui vident quæ videtis.
E, voltando-se para os discípulos, disse: Felizes os olhos que veem o que vós vedes.
24 Dico enim vobis, quod multi prophetæ et reges voluerunt videre quæ vos videtis, et non viderunt: et audire quæ auditis, et non audierunt.
Pois eu vos digo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vedes, e não viram; e ouvir o que ouvis, e não ouviram.
Reflexão:
"Beati oculi qui vident quæ videtis."
"Felizes os olhos que veem o que vós vedes." (Lucas 10:23)
A revelação aos pequeninos exprime a simplicidade necessária para acolher o mistério da criação e do Criador. A relação íntima entre Pai e Filho é convite à união com o sagrado, onde todo conhecimento se transforma em visão espiritual. Felizes os que veem, pois testemunham a plenitude do real e sua direção transcendental. Profetas e reis buscavam, mas não alcançaram o momento em que o Espírito Santo se revela no coração humano, conduzindo-o ao ponto supremo de convergência, onde o humano encontra o eterno.
HOMILIA
O Mistério da Revelação nos Relacionamentos
O Evangelho de Lucas 10,21-24 nos conduz a uma reflexão profunda sobre a revelação divina e a simplicidade necessária para acolhê-la. Jesus exulta no Espírito Santo ao louvar o Pai por esconder as grandes verdades aos sábios e entendidos, revelando-as aos pequeninos. Este texto, lido à luz dos desafios contemporâneos, especialmente os conflitos entre pais e filhos, convida-nos a meditar sobre o papel da humildade e do amor no restabelecimento da comunhão.
Vivemos tempos em que a distância emocional entre gerações parece crescer. Pais buscam respostas em sua experiência e sabedoria, enquanto filhos clamam por compreensão em suas inquietações e aspirações. Mas será que não estamos esquecendo o essencial? Jesus ensina que o verdadeiro entendimento não nasce da razão isolada, mas da abertura do coração, da escuta e da capacidade de se colocar no lugar do outro, com a simplicidade dos pequeninos.
No relacionamento familiar, a revelação de quem somos e do amor que nos une só pode acontecer quando abrimos espaço para o outro. Assim como o Pai e o Filho possuem uma comunhão íntima e inquebrantável, somos chamados a construir relações enraizadas na empatia e na busca pelo bem comum. Os olhos felizes que veem a verdade são aqueles que se desarmam do orgulho e se permitem enxergar a beleza e a dor que habitam o próximo.
Aos pais, é preciso recordar que os filhos não precisam apenas de conselhos ou limites, mas de testemunhos vivos de fé, de presença amorosa e de compreensão. Aos filhos, cabe reconhecer que o amor dos pais, ainda que falho, reflete algo maior, que nos conecta a um mistério mais profundo de cuidado e providência.
Jesus exulta no Espírito ao ver que o Reino se manifesta na simplicidade e no acolhimento. Hoje, somos desafiados a trazer essa exultação divina para nossos lares, transformando conflitos em oportunidades de reconciliação. Quando buscamos entender e amar como Cristo, as barreiras entre gerações se dissolvem, e a família se torna espaço onde o humano encontra o divino.
Felizes, então, serão os olhos que aprenderem a ver o outro com a mesma misericórdia com que Deus nos enxerga. Pois, ao final, toda divisão se curva diante da unidade que o amor constrói.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
Explicação Teológica: "Felizes os olhos que veem o que vós vedes" (Lucas 10,23)
Esta frase pronunciada por Jesus no Evangelho de Lucas contém um profundo significado teológico que une revelação, graça, e a dimensão escatológica da visão espiritual.
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A visão como dom da graça
Os "olhos que veem" não se referem apenas à capacidade física de enxergar, mas à visão interior, espiritual, que permite discernir a manifestação de Deus na história e no presente. Essa visão é um dom da graça divina, concedida àqueles que, com coração humilde, se abrem à revelação de Cristo. Jesus indica que seus discípulos são bem-aventurados porque tiveram a oportunidade única de contemplar, na plenitude dos tempos, a realização das promessas feitas aos patriarcas, profetas e reis. -
Revelação divina na pessoa de Cristo
A frase situa-se no contexto da revelação messiânica. Em Jesus, o mistério do Reino de Deus é desvendado, e aqueles que o acompanham participam desse momento único. Eles veem, não apenas com os olhos da carne, mas com os olhos da fé, a encarnação do Verbo e os sinais do Reino manifestados por meio de milagres, ensinamentos e, acima de tudo, pelo amor divino. -
A plenitude escatológica
A visão que Jesus celebra aponta também para a esperança escatológica: a união final de todas as coisas em Deus. Os olhos que veem o que os discípulos veem são os olhos que reconhecem o início dessa plenitude no tempo presente. Esse reconhecimento é antecipação do que será plenamente revelado na consumação dos tempos, quando Deus será tudo em todos (1Cor 15,28). -
A cegueira dos sábios e a visão dos pequeninos
No contexto imediato, Jesus contrapõe a visão concedida aos discípulos com a cegueira espiritual dos sábios e entendidos, que, fechados em seu orgulho e racionalismo, não conseguem perceber o essencial. Isso nos ensina que a verdadeira visão não é fruto do mérito humano, mas da humildade e da abertura ao agir de Deus. -
A alegria na comunhão
"Felizes os olhos que veem" reflete a alegria de estar em comunhão com Deus, um estado que transcende o tempo e o espaço. Essa felicidade não é apenas futura, mas presente: ela brota da experiência do amor divino, que transforma o coração e dá novo significado a tudo o que é visto e vivido.
Conclusão
A frase "Felizes os olhos que veem o que vós vedes" nos chama a um profundo exame de nossa visão espiritual. Enxergamos, hoje, as manifestações de Deus em nossa vida? Reconhecemos, com os olhos da fé, a presença de Cristo nos pequenos sinais cotidianos? Essa bem-aventurança nos desafia a cultivar um coração humilde e aberto, para que possamos, como os discípulos, participar da alegria de contemplar e viver a revelação divina em plenitude.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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