Liturgia Diária
28 – DOMINGO
26º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(verde, glória, creio – 2ª semana do saltério)
Tudo quanto nos fizestes, Senhor, com verdadeira justiça o fizestes, porque pecamos contra vós e não obedecemos a vossos mandamentos; mas dai glória ao vosso nome e tratai-nos conforme a grandeza da vossa misericórdia (Dn 3,31.29s.43-42).
Chamados à mesa sagrada onde o pão se torna vida eterna, compreendemos que a existência não é mero acaso, mas participação em um sentido maior. A Palavra ressoa como chama que desperta os olhos para a dor e os ouvidos para o clamor dos que jazem esquecidos. O verdadeiro homem, livre em consciência, não se omite diante do sofrimento, pois sua dignidade o convoca a servir. No tempo jubilar, cada gesto justo é celebração da eternidade. Não somos donos do mundo, mas guardiões do bem que nele habita, cultivando equilíbrio, compaixão e firmeza interior contra a indiferença.
Evangelium Secundum Lucam 16,19-31
19 Homo quidam erat dives, qui induebatur purpura et bysso, et epulabatur quotidie splendide.
“Havia um certo homem rico, que se vestia de púrpura e linho fino, e todos os dias banqueteava esplendidamente.”
20 Et erat quidam mendicus, nomine Lazarus, qui jacebat ad januam ejus, ulceribus plenus,
“E estava ali um mendigo chamado Lázaro, que jazia junto à sua porta, cheio de chagas.”
21 cupiens saturari de micis quae cadebant de mensa divitis, et nemo illi dabat: sed et canes veniebant, et lingebant ulcera ejus.
“Desejando alimentar-se das migalhas que caíam da mesa do rico, mas ninguém lhas dava; antes vinham os cães e lambiam as feridas dele.”
22 Factum est autem ut moreretur mendicus, et portaretur ab angelis in sinum Abrahæ. Mortuus est autem et dives, et sepultus est in inferno.
“Sucedeu que o mendigo morreu e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico, e foi sepultado no inferno.”
23 Elevans autem oculos suos, cum esset in tormentis, vidit Abraham a longe, et Lazarum in sinu ejus.
“E levantando os olhos, estando em tormentos, viu Abraão de longe, e Lázaro em seu seio.”
24 Et ipse clamans dixit: Pater Abraham, miserere mei, et mitte Lazarum ut intingat extremum digiti sui in aquam, ut refrigeret linguam meam, quia crucior in hac flamma.
“E ele, clamando, disse: ‘Pai Abraão, tem compaixão de mim e envia Lázaro para que molhe a ponta do seu dedo em água e refresque minha língua, pois estou atormentado nesta chama.’”
25 Et dixit illi Abraham: Fili, recordare quia recepisti bona in vita tua, et Lazarus similiter mala; nunc autem hic consolatur, tu vero cruciaris.
“E Abraão disse-lhe: ‘Filho, recorda-te de que recebeste bens em tua vida, e Lázaro de modo similar males; mas agora ele é consolado e tu atormentado.’”
26 Et in his omnibus inter nos et vos chasma magnum firmatum est: ut hi qui volunt hinc transire ad vos, non possint, neque inde huc transmeare.
“E em todas estas coisas entre nós e vós foi firmada uma grande chaga (abismo), de modo que os que quiserem passar daqui para vós não possam, nem de lá para cá atravessar.”
27 Et ait: Rogo ergo te, pater, ut mittas eum in domum patris mei;
“Então ele disse: ‘Peço-te, pois, pai, que o mandes à casa de meu pai;’”
28 Habeo enim quinque fratres: ut testetur illis ne et ipsi veniant in hunc locum tormentorum.
“Porque tenho cinco irmãos, para que lhes testemunhe, para que também eles não venham a esse lugar de tormento.”
29 Et ait illi Abraham: Habent Moysen et prophetas: audiant illos.
“E Abraão disse-lhe: ‘Eles têm Moisés e os profetas; que os ouçam.’”
30 At ille dixit: Non, pater Abraham: sed si quis ex mortuis ierit ad eos, poenitentiam agent.
“Mas ele disse: ‘Não, pai Abraão; mas se alguém dentre os mortos for ter com eles, arrepender-se-ão.’”
31 Ait autem illi: Si Moysen et prophetas non audiunt, neque si quis ex mortuis resurrexerit, credent.
“Disse-lhe, pois: ‘Se a Moisés e aos profetas não ouvem, tampouco se alguém dentre os mortos ressuscitará, crerão.’”
Verbum Domini
Reflexão:
Ao contemplar essa narrativa, a alma desperta para a realidade de que recursos e privilégios são mandatados não para ostentação, mas para responsabilidade. A lei moral que rege o universo não tolera o egoísmo silente: quem recusa ver o outro empobrece sua própria dignidade. A separação definitiva entre os destinos mostra que não há atalho contra a ordem justa que sanciona a indiferença. O chamado interior exige o uso virtuoso do poder que nos foi dado: agir com justiça, responder ao sofrimento, construir pontes de dever entre os homens. A consciência, quando liberal em sua essência, exige solidariedade e respeito irrestrito à dignidade de cada ser.
Versículo mais importante:
Et dixit illi Abraham: Fili, recordare quia recepisti bona in vita tua, et Lazarus similiter mala; nunc autem hic consolatur, tu vero cruciaris.
“E Abraão disse-lhe: Filho, recorda-te de que recebeste bens em tua vida, e Lázaro de modo semelhante males; mas agora ele é consolado, e tu atormentado.”(Lc 16:25)
HOMILIA
A Luz que Revela o Abismo
O Evangelho nos apresenta dois homens: um cercado de abundância, outro marcado pela miséria. A cena não é apenas um retrato social, mas um espelho da condição interior. O rico, fechado em si mesmo, perdeu a liberdade de ver o outro; Lázaro, na nudez da dor, abriu-se ao invisível, sustentado por uma dignidade que o mundo não lhe reconheceu. Assim se manifesta o abismo: não apenas entre destinos, mas entre consciências. O que ignoramos em vida se torna peso na eternidade. O chamado é claro: a existência nos foi dada para cultivar retidão, compaixão e coragem, libertando-nos da indiferença que nos aprisiona. A verdadeira evolução interior não consiste em acumular, mas em aprender a servir. No silêncio da alma, cada gesto justo é eternidade já presente.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A Memória como Juízo
Quando Abraão diz: “Filho, recorda-te”, não é mero convite à lembrança, mas ao confronto com a própria história. A vida não se perde no esquecimento; cada escolha permanece inscrita na consciência. O homem não é medido pelo que possui, mas pelo modo como se relaciona com o outro. O passado torna-se espelho que revela a verdade do ser.
A Inversão dos Destinos
O rico experimentou a plenitude dos bens terrenos, mas sua abundância não se converteu em virtude. Lázaro, na dor e no abandono, foi moldado para a eternidade. A inversão não é vingança, mas revelação da ordem profunda que governa a existência. O consolo de um e o tormento de outro são consequência natural daquilo que cultivaram interiormente.
A Dignidade Oculta no Sofrimento
Na lógica do Reino, a dor não anula a dignidade, mas pode ser espaço de purificação e abertura ao mistério. O mendigo desprezado é recebido no seio de Abraão, mostrando que a verdadeira grandeza não está na aparência, mas na fidelidade silenciosa diante da vida.
A Liberdade como Responsabilidade
O versículo expõe que toda liberdade humana é acompanhada de responsabilidade. O rico teve condições de agir e não agiu. Assim, a liberdade que não se volta ao bem se converte em condenação. O homem não é apenas livre para escolher, mas responsável por cada fruto da escolha.
Conclusão
Esse versículo é um chamado a compreender que a vida terrena é breve e formativa. O que parece pequeno aos olhos humanos pode ter peso eterno. Não há destino cego: há ordem, há justiça, há coerência. Quem busca viver com retidão encontra consolo; quem se fecha na indiferença se aprisiona em tormento. A alma humana é moldada não pelo que recebe, mas pelo que oferece.
Leia também:
#evangelho #homilia #reflexão #católico #evangélico #espírita #cristão
#jesus #cristo #liturgia #liturgiadapalavra #liturgia #salmo #oração
#primeiraleitura #segundaleitura #santododia #vulgata
Nenhum comentário:
Postar um comentário