Liturgia Diária
17 – QUARTA-FEIRA
24ª SEMANA DO TEMPO COMUM
(verde – ofício do dia da 4ª semana)
Dai paz, Senhor, aos que em vós esperam, para confirmar a veracidade dos vossos profetas; escutai as preces do vosso servo e vosso povo, Israel (Eclo 36,18).
A comunidade é revelada como espaço vivo onde a eternidade toca o tempo, chamada “casa de Deus”, coluna e fundamento da verdade. Nela, cada pessoa encontra dignidade e liberdade para ser inteira, pois não se sustenta em estruturas externas, mas na presença do Verbo que unifica. Reunidos em torno de Cristo, celebramos não apenas ritos, mas o mistério da vida que se renova em cada encontro. A assembleia torna-se escola do espírito, onde aprendemos a acolher a verdade que não aprisiona, mas expande, conduzindo-nos à plenitude do amor que sustenta a criação e abre caminhos de comunhão.
Evangelium secundum Lucam 7,31-35
-
Cui ergo similes dicam homines generationis huius? et cui similes sunt?
A quem, pois, compararei os homens desta geração? E a quem são semelhantes? -
Similes sunt pueris sedentibus in foro, et loquentibus ad invicem, et dicentibus: Cecinimus vobis tibiis, et non saltastis: lamentavimus, et non plorastis.
São semelhantes a meninos que, sentados na praça, falam uns aos outros: Tocamos flauta para vós, e não dançastes; entoamos lamentos, e não chorastes. -
Venit enim Ioannes Baptista non manducans panem neque bibens vinum: et dicitis: Daemonium habet.
Pois veio João Batista, que não comia pão nem bebia vinho, e dizeis: Ele tem um demônio. -
Venit Filius hominis manducans et bibens, et dicitis: Ecce homo devorator et bibens vinum, amicus publicanorum et peccatorum.
Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizeis: Eis aí um homem glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores. -
Et iustificata est sapientia ab omnibus filiis suis.
Mas a sabedoria é justificada por todos os seus filhos.
Reflexão:
O Senhor denuncia a inconstância da geração que rejeita tanto a austeridade de João como a proximidade de Cristo. Essa palavra nos revela que a verdade não se mede por conveniências humanas, mas pela coerência que nasce do espírito livre. O ser humano é chamado a superar os jogos da indiferença e a abrir-se à escuta da vida em sua plenitude. A sabedoria não é abstrata, mas reconhecida nos frutos de quem a encarna. Cada gesto de amor autêntico testemunha sua força. Assim, a vida se torna caminho de comunhão, onde liberdade e responsabilidade se entrelaçam no horizonte eterno.
Versículo mais importante:
Lucam 7,35
Et iustificata est sapientia ab omnibus filiis suis.
Mas a sabedoria é justificada por todos os seus filhos.(Lc 7:35)
HOMILIA
A Sabedoria que se Revela nos Filhos da Eternidade
O Evangelho nos apresenta uma geração inquieta, comparada a crianças que rejeitam tanto a música da festa quanto o lamento da dor. Assim se mostra o coração humano quando fecha as portas ao Mistério: nada o satisfaz, porque busca fora aquilo que só pode ser encontrado no interior. João Batista, com sua austeridade, não foi aceito; Cristo, com sua proximidade, também foi rejeitado. O problema não estava neles, mas na incapacidade de reconhecer a presença da vida que se revela de modos diversos.
Neste contraste, surge a sentença: “A sabedoria é justificada por todos os seus filhos.” A verdadeira sabedoria não precisa impor-se, pois se manifesta nos frutos da liberdade vivida, da dignidade preservada, da comunhão cultivada. Cada gesto de fidelidade ao chamado do Espírito é já um ato que justifica a sabedoria, mostrando que ela não é teoria, mas vida que floresce.
A evolução interior exige ultrapassar a indiferença e romper com a atitude estéril de julgar tudo a partir de expectativas próprias. A voz do Evangelho nos convida a abrir espaço para a diversidade de caminhos pelos quais Deus se comunica, seja pela austeridade que purifica, seja pela proximidade que acolhe. A liberdade espiritual nasce quando reconhecemos que a verdade não está presa a formas únicas, mas se encarna no fluxo da existência em direção ao eterno.
Assim, somos chamados a nos tornar filhos da sabedoria: não meros espectadores do tempo, mas participantes do movimento que conduz todas as coisas à plenitude. Na dignidade da pessoa humana ressoa a marca da eternidade, e cada ato de amor, cada silêncio fecundo, cada passo de fidelidade se converte em testemunho da sabedoria que permanece.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A Sabedoria como Presença Viva
O versículo “Mas a sabedoria é justificada por todos os seus filhos” (Lc 7,35) apresenta-se como síntese de uma verdade profunda: a sabedoria divina não se prova por argumentos, mas pelos frutos que gera na existência. Aqui, a teologia se encontra com a metafísica, pois o texto não fala de uma ideia abstrata, mas de uma força viva que se manifesta através daqueles que a acolhem.
A Origem da Sabedoria
Na tradição bíblica, a Sabedoria (Chokmah) não é apenas conhecimento, mas princípio ativo que sustenta a criação. No horizonte metafísico, ela é reflexo do Logos eterno, que ordena, une e harmoniza todas as coisas. Ser “filho da sabedoria” é participar dessa ordem invisível, reconhecendo-se como parte de um todo maior, onde a vida tem um sentido mais alto do que o imediato.
Os Filhos como Testemunhas
A sabedoria não necessita de defesa, pois encontra sua justificação nos filhos que dela participam. Estes filhos são aqueles que vivem a verdade em liberdade, dignidade e amor, manifestando, em suas ações, a coerência da vida espiritual. Cada gesto de justiça, cada palavra de paz, cada escolha de compaixão são expressões concretas de que a sabedoria não é uma teoria, mas uma realidade vivida.
A Justificação Interior
Metafisicamente, a justificação aqui não é um julgamento humano, mas a revelação da própria essência da sabedoria. Ela se confirma a si mesma ao frutificar no ser humano que evolui em consciência. O interior transformado torna-se o espaço onde a sabedoria se encarna, fazendo do coração humano um templo do divino.
Sabedoria e Liberdade
A sabedoria não impõe servidão, mas gera liberdade. Seus filhos não são escravos de mandamentos exteriores, mas homens e mulheres que discernem a presença do divino em cada circunstância. Essa liberdade não é capricho, mas a capacidade de responder ao chamado interior, integrando disciplina e amor, razão e mistério, transcendência e imanência.
Conclusão: Tornar-se Filho da Sabedoria
Ser filho da sabedoria é deixar que a vida seja iluminada por um princípio mais alto, que ordena o caos e transforma o humano em reflexo do eterno. Essa filiação não se herda pela carne, mas se conquista pela adesão à verdade, pela dignidade das escolhas e pela abertura ao mistério de Deus. Assim, a sabedoria é justificada, não em teorias, mas na vida de cada ser que encarna a luz da eternidade em sua própria existência.
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