Liturgia Diária
6 – SÁBADO
22ª SEMANA DO TEMPO COMUM
(verde – ofício do dia)
Piedade de mim, ó Senhor, porque clamo por vós todo o dia! Ó Senhor, vós sois bom e clemente, sois perdão para quem vos invoca (Sl 85,3.5).
Reconciliados com o Eterno pela paixão, morte e ressurreição de Cristo, somos chamados a viver na clareza de um horizonte que não se curva ao medo, mas floresce na confiança. A liturgia não é rito vazio, mas sopro que desperta a consciência para a dignidade inalienável do ser humano. Permanecer firmes na fé é assumir a vida como dom e responsabilidade, reconhecendo que o Cristo é o Senhor do tempo e da existência. Nesse reconhecimento, o coração se liberta das correntes da ilusão e se abre ao infinito, onde verdade e liberdade se entrelaçam em unidade luminosa.
“Se o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres” (Jo 8,36).
Evangelium secundum Lucam 6,1-5
1 Factum est autem in sabbato secundo primo, cum transiret per sata, vellebant discipuli eius spicas et manducabant confricantes manibus.
1 Aconteceu que, num sábado, passando Jesus pelas plantações, seus discípulos colhiam espigas e as comiam, esfregando-as com as mãos.
2 Quidam autem pharisaeorum dicebant illis: Quid facitis, quod non licet in sabbatis?
2 Alguns dos fariseus lhes disseram: Por que fazeis o que não é permitido nos sábados?
3 Et respondens Iesus ad eos dixit: Nec hoc legistis, quod fecit David, cum esurisset ipse et qui cum eo erant?
3 Jesus lhes respondeu: Não lestes o que fez Davi, quando teve fome ele e os que com ele estavam?
4 Quomodo intravit in domum Dei et panes propositionis sumpsit et manducavit et dedit his, qui cum ipso erant, quos non licet manducare nisi tantum sacerdotibus?
4 Como entrou na casa de Deus, tomou os pães da proposição, comeu e deu aos que estavam com ele, os quais não é permitido comer senão apenas aos sacerdotes?
5 Et dicebat illis: Dominus est Filius hominis etiam sabbati.
5 E dizia-lhes: O Filho do Homem é Senhor também do sábado.
Reflexão:
O sábado aqui é mais do que lei, é espaço de abertura ao sentido maior da vida. O gesto dos discípulos mostra que a necessidade vital não se curva a formalismos, pois a vida é sempre mais sagrada que a regra. Cristo revela que o tempo não aprisiona, mas se torna caminho de plenitude. O homem, ao acolher essa liberdade, aprende que sua dignidade não é derivada de estruturas externas, mas do dom de existir diante do Eterno. Assim, cada instante é chance de unir matéria e espírito, limite e transcendência, na caminhada para a realização integral do ser.
Versículo mais importante:
5 Et dicebat illis: Dominus est Filius hominis etiam sabbati.
E dizia-lhes: O Filho do Homem é Senhor também do sábado.(Lc 6:5)
HOMILIA
O Senhor do Tempo e da Vida
O Evangelho nos conduz ao campo silencioso, onde os discípulos, movidos pela fome, colhem espigas em um sábado. O gesto simples se torna revelação, pois nele a vida se mostra maior que a lei, e o tempo se abre como espaço de encontro com o Mistério. Cristo, ao afirmar ser Senhor também do sábado, não apenas corrige os fariseus, mas revela que a existência não se reduz a ritos ou limites, mas encontra sua essência no dom da liberdade que conduz à plenitude.
O sábado, sinal do repouso sagrado, torna-se imagem da eternidade que abraça cada instante. A lei não é prisão, mas instrumento de crescimento, e quando se torna barreira contra a vida, perde sua finalidade. O Filho do Homem mostra que o verdadeiro culto é o coração desperto, capaz de transformar o tempo em sacramento de comunhão.
Aqui se revela a dignidade da pessoa humana: chamada a transcender os condicionamentos externos e a reconhecer no Cristo a fonte de uma liberdade que não é capricho, mas participação na ordem divina do ser. Ao unir necessidade e sentido, matéria e espírito, o Evangelho nos lembra que a vida floresce quando o homem se reconhece peregrino de um horizonte maior, onde tudo se orienta para a unidade.
Assim, seguir Cristo é aprender a saborear a eternidade já nas espigas colhidas do presente, porque cada instante é um templo e cada ato, quando iluminado pelo amor, é já participação no repouso divino.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A Autoridade do Filho do Homem sobre o Tempo
O versículo “E dizia-lhes: O Filho do Homem é Senhor também do sábado” (Lc 6,5) ultrapassa a questão legalista levantada pelos fariseus e toca o núcleo da revelação: Cristo é o Senhor do tempo, o mediador entre o eterno e o transitório. O sábado, instituído como sinal do repouso divino na criação, é aqui elevado a uma dimensão mais profunda: não é o tempo que governa o Homem, mas o Homem redimido em Cristo que encontra no tempo a via para a eternidade.
O Sábado como Símbolo da Eternidade
O sábado, para além de ser prescrição da Lei, é imagem do repouso do Criador. Ele aponta para a consumação da existência, quando toda criatura participará da plenitude divina. Cristo, ao se declarar Senhor do sábado, não nega essa dimensão, mas a cumpre. O repouso já não está preso a um dia, mas se abre como possibilidade de toda a vida se tornar templo. Cada instante é chamado a ser eternidade germinal, onde o finito toca o Infinito.
Liberdade Interior e Superação da Lei Externa
Ao mostrar que a vida dos discípulos não podia ser aprisionada pela letra da lei, Jesus ensina que a liberdade não é anarquia, mas adesão ao sentido último da existência. A dignidade humana se realiza quando o homem compreende que não foi feito para a lei, mas a lei para a vida. No Cristo, a liberdade é resgate da ordem interior, é capacidade de transformar necessidade em comunhão e ação em adoração.
A Unidade entre Necessidade e Sentido
Os discípulos colhem espigas porque têm fome. Cristo legitima esse gesto e, ao fazê-lo, revela que a necessidade vital não é alheia ao sagrado. O pão do campo e o pão do altar se encontram. Na união entre o ordinário e o divino, o homem percebe que sua vida é chamada a ser síntese: corpo que busca alimento, alma que busca eternidade. Assim, a existência humana é espaço de integração, onde o temporal se torna caminho do eterno.
Conclusão: Cristo, Senhor do Tempo e da Vida
O Filho do Homem é Senhor do sábado porque Ele mesmo é o repouso definitivo, a presença do eterno no tempo. Nele, a pessoa humana encontra sua dignidade mais alta: viver a liberdade não como ruptura, mas como harmonia com o Todo. O sábado, que era sinal, se cumpre na vida transformada pela presença do Cristo, onde cada respiração pode tornar-se oração e cada momento, abertura ao repouso divino que não conhece ocaso.
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