Liturgia Diária
7 – DOMINGO
23º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(verde, glória, creio – 3ª semana do saltério)
Vós sois justo, na verdade, ó Senhor, e os vossos julgamentos são corretos. Conforme o vosso amor, Senhor, tratai-me (SI 118,137.124).
O chamado de Jesus é convite à liberdade interior, onde o desapego revela a essência do ser. Seguir o Mestre é escolher com clareza o caminho da consciência, discernindo valores que edificam uma sociedade justa. A Palavra sagrada não aprisiona, mas abre horizontes de vida, guiando a mente ao encontro da verdade que liberta. A bondade divina torna-se refúgio e inspiração, conduzindo cada passo ao florescer da justiça e da dignidade humana.
“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (João 8:32)
Evangelium secundum Lucam 14,25-33
-
Ibant autem turbae multae cum eo: et conversus dixit ad illos:
Grandes multidões acompanhavam Jesus; voltando-se, disse-lhes: -
Si quis venit ad me, et non odit patrem suum, et matrem, et uxorem, et filios, et fratres, et sorores, adhuc autem et animam suam, non potest meus esse discipulus.
Se alguém vem a mim e não renuncia a seu pai, sua mãe, sua esposa, seus filhos, seus irmãos, suas irmãs e até à própria vida, não pode ser meu discípulo. -
Et qui non bajulat crucem suam, et venit post me, non potest meus esse discipulus.
E quem não carrega a sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo. -
Quis enim ex vobis volens turrem ædificare, non prius sedens computat sumptus, qui necessarii sunt, si habeat ad perficiendum?
Pois qual de vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro para calcular os gastos, a fim de ver se tem como terminá-la? -
Ne, posteaquam posuerit fundamentum, et non potuerit perficere, omnes, qui vident, incipiant illudere ei,
Para que, depois de lançar o alicerce e não poder concluí-la, todos os que virem comecem a zombar dele, -
Dicentes: Quia hic homo cœpit ædificare, et non potuit consummare.
Dizendo: Este homem começou a construir e não conseguiu acabar. -
Aut quis rex iturus committere bellum adversus alium regem, non sedens prius cogitat, si possit cum decem millibus occurrere ei, qui cum viginti millibus venit ad se?
Ou qual rei, prestes a enfrentar outro em guerra, não se senta primeiro para refletir se com dez mil pode enfrentar o que vem contra ele com vinte mil? -
Alioquin adhuc illo longe agente, legationem mittens rogat ea, quæ pacis sunt.
Se não puder, enquanto o outro ainda está longe, enviará uma embaixada para pedir condições de paz. -
Sic ergo omnis ex vobis, qui non renuntiat omnibus, quæ possidet, non potest meus esse discipulus.
Assim, pois, todo aquele dentre vós que não renuncia a tudo o que possui, não pode ser meu discípulo.
Reflexão:
O seguimento de Cristo não é fuga, mas encontro com a liberdade que exige escolhas conscientes. A renúncia não anula, mas abre espaço para a plenitude do ser. A torre e a guerra são imagens da vida que pede responsabilidade diante das próprias decisões. Carregar a cruz é assumir o peso da existência sem perder o horizonte da luz. A verdadeira paz nasce da coragem de calcular os caminhos e oferecer-se ao amor maior. O discipulado é ato de entrega que transforma limitações em crescimento. Renunciar é libertar-se. Libertar-se é participar da obra viva do Reino.
Versículo mais importante:
27. Et qui non bajulat crucem suam, et venit post me, non potest meus esse discipulus.
E quem não carrega a sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo.(Lc 14:27)
HOMILIA
A Cruz como Caminho da Liberdade Interior
O Evangelho nos conduz ao núcleo do seguimento de Cristo: a renúncia. Mas esta renúncia não é um empobrecimento do ser; ao contrário, é a abertura para a grandeza que já nos habita. Quando Jesus nos pede para carregar a cruz, ele não impõe um fardo arbitrário, mas indica o ponto de passagem onde a criatura descobre sua verdadeira estatura espiritual.
Seguir o Mestre exige discernimento: calcular os custos da torre, medir as forças da batalha. Não se trata de cálculos exteriores, mas da consciência que pesa os valores e escolhe o essencial. Renunciar é libertar-se de tudo o que aprisiona, é desfazer-se das ilusões que reduzem a pessoa a posses, laços ou seguranças frágeis.
A cruz, nesse horizonte, torna-se a matriz da liberdade. Ela não destrói, mas transmuta; não oprime, mas revela a dignidade inviolável do ser humano chamado a uma comunhão maior. O discípulo, ao deixar-se conduzir por Cristo, não perde sua identidade: ele a encontra em plenitude.
O convite é exigente, mas fecundo: tornar-se construtor de si mesmo, cooperador da obra divina, portador de um amor que não conhece fronteiras. A cruz não é apenas peso, é também asas. Nela se aprende que a verdadeira vida não nasce da posse, mas da entrega; não se mede pela acumulação, mas pela capacidade de transcender.
Assim, o discipulado é um ato de liberdade. É escolher viver não como servo de forças externas, mas como ser interiormente desperto, capaz de participar da obra sempre nova de Deus, onde cada renúncia é semente de eternidade.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
O Chamado à Cruz como Mistério de Liberdade
O versículo revela que o discipulado não é adesão superficial, mas mergulho no núcleo da existência. Carregar a cruz não significa apenas suportar sofrimentos, mas assumir, em liberdade, a própria condição humana transfigurada pela presença divina. A cruz torna-se ponto de passagem: de escravidões interiores à liberdade que floresce no seguimento de Cristo.
A Cruz como Síntese da Existência
Na cruz, todos os opostos se encontram: vida e morte, limite e transcendência, dor e esperança. Assumir a cruz é reconhecer a tensão da existência e atravessá-la, sem fugir nem reprimir, mas deixando que nela se revele a luz do eterno. O discípulo é aquele que integra a sombra em direção ao sol espiritual.
O Seguimento como Movimento Evolutivo
O “seguir” Cristo implica mais que imitação: é processo de evolução interior. O discípulo caminha num dinamismo de contínua superação, chamado a expandir-se em direção à plenitude. A cruz não detém, mas impulsiona, porque o peso suportado com amor converte-se em força criadora.
A Cruz e a Dignidade da Pessoa
Ao exigir a cruz, Jesus não diminui a dignidade humana; pelo contrário, ele a eleva. O homem, ao assumir sua cruz, descobre-se como ser capaz de transcender o imediato e participar da vida divina. A cruz é, assim, revelação da grandeza do espírito humano, não sua anulação.
O Discipulado como Aliança com o Eterno
Não basta contemplar Cristo de longe: é preciso seguir, unir-se a Ele na estrada que atravessa a morte e alcança a vida nova. A cruz marca o selo dessa aliança: quem a abraça entra no movimento do amor divino que tudo transforma.
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