Liturgia Diária
12 – SEXTA-FEIRA
23ª SEMANA DO TEMPO COMUM
(verde – ofício do dia)
Vós sois justo, na verdade, ó Senhor, e os vossos julgamentos são corretos. Conforme o vosso amor, Senhor, tratai-me (SI 118,137.124).
Acolhamos a graça que desce silenciosa ao coração e reconheçamos nela o sopro da liberdade que nos eleva acima do orgulho e da rigidez. Cada dom recebido é centelha que não deve ser retida, mas oferecida em serviço amoroso, onde o espírito se purifica ao invés de julgar. O verdadeiro caminho não está em apontar a falha do outro, mas em corrigir a sombra própria, iluminando-a pela consciência. Assim, o ser participa do horizonte da verdade, onde a dignidade floresce como fruto da escolha interior que, livre, se orienta para o Bem.
Dominicae Evangelium secundum Lucam (6,39-42)
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Dicebat autem illis similitudinem: numquid potest caecus caecum ducere? nonne ambo in foveam cadent?
39. E dizia-lhes também uma parábola: pode, acaso, um cego guiar outro cego? Não cairão ambos na mesma cova? -
Non est discipulus super magistrum: perfectus autem omnis erit, si sit sicut magister ejus.
40. O discípulo não está acima do mestre; todo aquele, porém, que for perfeito será como o seu mestre. -
Quid autem vides festucam in oculo fratris tui, trabem autem, quae in oculo tuo est, non consideras?
41. Por que vês o cisco no olho do teu irmão e não percebes a trave que está no teu próprio olho? -
Aut quomodo potes dicere fratri tuo: Frater, sine ejiciam festucam de oculo tuo, ipse in oculo tuo trabem non videns? Hypocrita, ejice primum trabem de oculo tuo, et tunc perspicies ut educas festucam de oculo fratris tui.
42. Ou como podes dizer ao teu irmão: Irmão, deixa-me tirar o cisco do teu olho, não vendo tu mesmo a trave que está no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e então verás claramente para tirar o cisco do olho do teu irmão.
Reflexão:
A visão clara nasce do reconhecimento das próprias sombras antes de apontar as fragilidades alheias. O ser humano se realiza não pela imposição, mas pelo caminho livre do aperfeiçoamento interior. O mestre autêntico não subjuga, mas inspira pelo exemplo, convidando a consciência a florescer em luz própria. A correção verdadeira não é repressão, mas libertação do olhar obscurecido. Quando retiramos o peso que nos cega, enxergamos no outro não um inimigo, mas um companheiro de ascensão. A liberdade se manifesta em escolher o bem sem coerção. Assim, a comunhão cresce como horizonte partilhado, onde cada um se torna responsável por todos.
Versículo mais importante:
42. Aut quomodo potes dicere fratri tuo: Frater, sine ejiciam festucam de oculo tuo, ipse in oculo tuo trabem non videns? Hypocrita, ejice primum trabem de oculo tuo, et tunc perspicies ut educas festucam de oculo fratris tui.
Ou como podes dizer ao teu irmão: Irmão, deixa-me tirar o cisco do teu olho, não vendo tu mesmo a trave que está no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e então verás claramente para tirar o cisco do olho do teu irmão.(Lc 6:42)
HOMILIA
A Luz que Remove a Sombra
O Evangelho nos revela que não é possível conduzir o outro se caminhamos na escuridão de nossos próprios olhos. O cego que guia o cego não simboliza apenas a ignorância, mas a falta de interioridade. O Mestre nos ensina que a visão verdadeira não nasce do julgamento, mas da purificação do próprio coração.
A trave que obscurece nossa visão é a soma de nossas ilusões e resistências, que só podem ser vencidas quando escolhemos a verdade como horizonte. O discípulo só se torna semelhante ao mestre quando aprende a ver a si mesmo com sinceridade, e assim se abre para a liberdade que conduz ao amor.
Retirar a trave do próprio olho é um ato de dignidade, pois devolve ao ser humano sua clareza original, o dom de contemplar o outro não como objeto de correção, mas como reflexo da mesma luz divina. A evolução interior consiste em transformar a cegueira em visão, e essa passagem é fruto da graça unida ao esforço pessoal.
Somente quem aprende a caminhar em si, na paciência e na humildade, pode estender as mãos ao irmão e ajudar a remover o cisco que o fere. Assim, a comunhão não nasce do poder de julgar, mas da liberdade de amar e servir.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
1. O Olho como Símbolo da Consciência
O olho, nas Escrituras, não é apenas o órgão físico da visão, mas a expressão da consciência e do modo como percebemos a realidade. Um olho obscurecido é imagem de uma consciência deformada, incapaz de discernir o bem e a verdade. O Evangelho indica que, antes de olhar para o outro, é necessário purificar a própria visão.
2. A Trave e o Cisco: Desproporção da Visão Moral
A trave representa as grandes distorções interiores: orgulho, vaidade, fechamento ao divino. O cisco simboliza imperfeições menores presentes no próximo. O contraste revela a tendência humana de minimizar as próprias falhas e ampliar as do outro. Jesus denuncia a hipocrisia de julgar sem antes se purificar.
3. A Verdadeira Purificação Interior
O chamado não é apenas moral, mas espiritual: remover a trave é obra de conversão, de retorno à transparência original da alma. O ato de limpar o olhar é reconhecer a própria fragilidade, acolher a graça e libertar-se das correntes que impedem a clareza interior.
4. A Liberdade de Ver Claramente
“Então verás claramente” indica que a visão pura é fruto de um processo. A liberdade de perceber a realidade na luz da verdade não é dada de imediato, mas conquistada pela união da graça divina e da abertura do ser humano. O olhar limpo é a condição para agir com justiça.
5. A Dignidade do Outro
Somente após a purificação pessoal é possível olhar o outro sem julgamento destrutivo, mas com compaixão. A dignidade da pessoa não se reduz às suas falhas; ela é reflexo da imagem divina. A correção verdadeira, portanto, nasce do amor, e não da presunção.
6. O Caminho da Comunhão
Este versículo nos conduz a uma compreensão profunda: a comunhão só é possível quando cada ser humano assume a responsabilidade de trabalhar sua própria sombra. A luz que nasce dessa purificação não apenas ilumina o indivíduo, mas também torna possível um vínculo mais livre e verdadeiro com o próximo.
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