Liturgia Diária
18 – QUINTA-FEIRA
24ª SEMANA DO TEMPO COMUM
(verde – ofício do dia)
Dai paz, Senhor, aos que em vós esperam, para confirmar a veracidade dos vossos profetas; escutai as preces do vosso servo e vosso povo, Israel (Eclo 36,18).
Na comunidade de fé, cada ser é chamado a irradiar responsabilidade interior, revelando a dignidade de sua existência diante do Eterno. A verdadeira grandeza manifesta-se no progresso contínuo da palavra, na conduta justa, no amor que liberta, na fé que sustenta e na pureza que eleva. Contudo, não se apaga a consciência de nossa fragilidade: somos caminhantes marcados pela necessidade do perdão e da graça. A comunhão autêntica floresce quando a liberdade se une à responsabilidade, tornando cada pessoa testemunha viva da luz divina.
“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.”
— João 8,32
Evangelium secundum Lucam 7,36-50
36 Rogabat autem illum quidam de pharisæis ut manducaret cum illo. Et ingressus domum pharisæi discubuit.
Um dos fariseus pediu-lhe que fosse comer com ele. Entrando em sua casa, reclinou-se à mesa.
37 Et ecce mulier, quæ erat in civitate peccatrix, ut cognovit quod accubuisset in domo pharisæi, attulit alabastrum unguenti.
E eis que uma mulher pecadora daquela cidade, sabendo que ele estava à mesa na casa do fariseu, trouxe um vaso de alabastro com perfume.
38 Et stans retro secus pedes ejus, lacrimis cœpit rigare pedes ejus, et capillis capitis sui tergebat, et osculabatur pedes ejus, et unguento unguebat.
E, estando atrás, junto a seus pés, chorava, regando-os com lágrimas; enxugava-os com os cabelos, beijava-os e os ungia com perfume.
39 Videns autem pharisæus, qui vocaverat eum, ait intra se dicens: Hic si esset propheta, sciret utique quæ et qualis est mulier, quæ tangit eum: quia peccatrix est.
Ao ver isso, o fariseu que o convidara disse consigo: Se este fosse profeta, saberia quem é e que espécie de mulher o toca, pois é pecadora.
40 Et respondens Jesus dixit ad illum: Simon, habeo tibi aliquid dicere. At ille ait: Magister, dic.
Então Jesus lhe disse: Simão, tenho algo a dizer-te. Ele respondeu: Mestre, dize.
41 Duo debitores erant cuidam feneratori: unus debebat denarios quingentos, et alius quinquaginta.
Um credor tinha dois devedores: um lhe devia quinhentos denários e o outro cinquenta.
42 Non habentibus illis unde redderent, donavit utrisque. Quis ergo eum plus diligit?
Não tendo com que pagar, perdoou a ambos. Qual deles, pois, o amará mais?
43 Respondens Simon dixit: Æstimo quia is cui plus donavit. At ille dixit ei: Recte judicasti.
Simão respondeu: Penso que aquele a quem mais perdoou. E ele lhe disse: Julgaste bem.
44 Et conversus ad mulierem, dixit Simoni: Vides hanc mulierem? Intravi in domum tuam: aquam pedibus meis non dedisti; hæc autem lacrimis rigavit pedes meos, et capillis suis tersit.
E voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para os pés; ela, porém, os regou com lágrimas e os enxugou com seus cabelos.
45 Osculum mihi non dedisti; hæc autem ex quo intravit, non cessavit osculari pedes meos.
Não me deste o beijo; mas esta, desde que entrou, não cessou de beijar meus pés.
46 Oleum capiti meo non dedisti; hæc autem unguento unxit pedes meos.
Não me ungiste a cabeça com óleo; ela, porém, ungiu meus pés com perfume.
47 Propter quod dico tibi: Remittuntur ei peccata multa, quoniam dilexit multum. Cui autem minus dimittitur, minus diligit.
Por isso te digo: são-lhe perdoados muitos pecados, porque muito amou. Mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama.
48 Dixit autem ad illam: Remittuntur tibi peccata.
E disse à mulher: São-te perdoados os pecados.
49 Et cœperunt qui simul accumbebant dicere intra se: Quis est hic, qui etiam peccata dimittit?
Os que estavam à mesa começaram a dizer consigo: Quem é este que até perdoa pecados?
50 Dixit autem ad mulierem: Fides tua te salvam fecit: vade in pace.
Mas ele disse à mulher: A tua fé te salvou; vai em paz.
Reflexão:
A cena revela que o perdão abre horizontes de transformação interior, onde cada ser é chamado à responsabilidade de se refazer continuamente. O amor, ao acolher a fragilidade, torna-se força criadora que ultrapassa julgamentos e restabelece a dignidade. O gesto da mulher mostra que a verdadeira liberdade floresce quando a entrega rompe os limites da convenção e dá lugar à confiança. Assim, o caminho humano não é prisão do passado, mas impulso de renovação. Onde há fé, a vida se reconstrói como comunhão e progresso, e cada pessoa se torna participante de uma ordem maior de sentido e plenitude.
Versículo mais importante:
47 Propter quod dico tibi: Remittuntur ei peccata multa, quoniam dilexit multum. Cui autem minus dimittitur, minus diligit.
Por isso te digo: são-lhe perdoados muitos pecados, porque muito amou. Mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama.(Lc 7:47)
HOMILIA
A Liberdade do Perdão e a Plenitude do Amor
O Evangelho nos apresenta a mesa onde Cristo acolhe tanto o fariseu quanto a mulher pecadora. Dois mundos se encontram: o olhar endurecido do julgamento e a entrega desarmada da fragilidade humana. No centro desse encontro, a Palavra revela que o perdão não é mera anulação de faltas, mas a restituição da dignidade mais profunda do ser.
A mulher, ao ungir os pés do Mestre com lágrimas e perfume, manifesta a verdade de quem se reconhece limitado e, por isso mesmo, aberto à graça. O fariseu, ao contrário, permanece preso à rigidez de sua visão, incapaz de ver que a luz da vida resplandece justamente naqueles que se deixam transformar.
Cristo ensina que a liberdade floresce quando o amor é mais forte que a condenação. A fé da mulher não é teoria, mas ato de entrega total, que rompe cadeias invisíveis e a insere em um novo horizonte de sentido. Ali, o perdão deixa de ser conceito e se torna caminho: um impulso de evolução interior, onde o ser humano descobre sua verdadeira grandeza.
O coração do Evangelho está no dinamismo que ele inaugura. O passado não aprisiona, mas se converte em matéria de transfiguração. A cada lágrima derramada sobre os pés do Senhor, uma nova possibilidade de existência é revelada. A dignidade não se conquista pela perfeição, mas pela abertura à presença divina que habita no íntimo de cada pessoa.
Assim, o convite de Cristo permanece atual: deixar-se salvar pelo amor, caminhar em paz, e fazer da vida não uma sucessão de culpas, mas um espaço de liberdade criadora. O perdão é a energia que restitui o humano ao seu centro eterno, onde todo ser pode florescer em plenitude.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
O Mistério do Perdão como Fonte de Renovação
O versículo revela a essência da revelação cristã: o perdão não é apenas remissão de culpas, mas o renascimento do ser em sua verdade original. A mulher é exemplo vivo dessa realidade. Suas faltas não a aprisionam, mas, ao serem atravessadas pelo amor, tornam-se solo fecundo onde germina a liberdade. O perdão, portanto, é força criadora que reconstrói o humano e o reintegra na plenitude da vida.
O Amor como Medida do Perdão
Cristo afirma que o amor é a chave da experiência do perdão. Não se trata de um cálculo moral, mas de um princípio ontológico: quanto mais o coração se abre ao amor, maior é a capacidade de receber e manifestar a graça. O amor não apenas acompanha o perdão, ele o torna possível, pois dissolve a rigidez do ego e abre espaço para a comunhão.
A Dinâmica da Liberdade Interior
O perdão verdadeiro não escraviza à memória da falta, mas liberta para um novo início. Nesse movimento, a pessoa descobre que a liberdade não é ausência de limites, mas reconciliação com a própria fragilidade iluminada pela presença divina. Aquele que ama muito transcende a prisão do passado e inaugura um futuro de abertura e transformação.
A Dignidade Restaurada pelo Amor
Na lógica do Evangelho, a dignidade não é perdida de modo irreversível; ela pode ser restaurada pela experiência do perdão que brota do amor. A mulher, antes vista apenas como pecadora, torna-se ícone da fidelidade ao Espírito que renova. Assim, a dignidade humana não depende do juízo externo, mas do encontro íntimo com a graça.
O Movimento da Evolução Interior
O versículo indica que a vida espiritual não é estática, mas processo dinâmico. O perdão recebido não é ponto final, mas impulso para a transformação contínua. Amar muito significa não deter-se em si mesmo, mas abrir-se a uma expansão constante de consciência, onde cada ato é participação na vida divina que tudo envolve.
O Chamado à Comunhão
Por fim, o ensinamento de Cristo mostra que o perdão não é experiência individualista, mas comunhão. Quem é perdoado e ama muito torna-se testemunha do amor que reconstrói. A comunhão se realiza quando cada ser, reconciliado em sua interioridade, oferece ao mundo sinais de paz e de renovação. Assim, o perdão deixa de ser apenas benefício pessoal e se converte em luz que se irradia para toda a criação.
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