Liturgia Diária
9 – TERÇA-FEIRA
23ª SEMANA DO TEMPO COMUM
(verde – ofício do dia)
Vós sois justo, na verdade, ó Senhor, e os vossos julgamentos são corretos. Conforme o vosso amor, Senhor, tratai-me (SI 118,137.124).
A liturgia revela o mistério da origem espiritual, onde o ser humano descobre sua dignidade na união com Cristo. No batismo, a morte do velho homem cede lugar à liberdade do espírito, que não se curva a correntes exteriores, mas se abre ao chamado da vida nova. Ressuscitar com Cristo é despertar para a consciência de que cada existência é portadora de sentido e direito ao florescimento. Assim, a fé não aprisiona, mas expande horizontes, conduzindo o coração ao reconhecimento de que a verdadeira comunhão nasce da liberdade interior iluminada pela graça.
“Se o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres” (Jo 8,36).
In illo tempore: Evangelium secundum Lucam (6,12-19)
12 Et factum est in illis diebus, exiit in montem orare, et erat pernoctans in oratione Dei.
Naqueles dias, Jesus subiu ao monte para orar, e passou a noite inteira em oração a Deus.
13 Et cum dies factus esset, vocavit discipulos suos: et elegit duodecim ex ipsis (quos et Apostolos nominavit).
Ao amanhecer, chamou seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de Apóstolos.
14 Simonem, quem cognominavit Petrum, et Andream fratrem eius, Iacobum et Ioannem, Philippum et Bartholomaeum,
Simão, a quem deu o nome de Pedro, André, seu irmão, Tiago e João, Filipe e Bartolomeu,
15 Matthaeum et Thomam, Iacobum Alphei, et Simonem qui vocatur Zelotes,
Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu, e Simão chamado Zelote,
16 Et Iudam Iacobi, et Iudam Iscariotem, qui fuit proditor.
Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, aquele que se tornou traidor.
17 Et descendens cum illis, stetit in loco campestri, et turba discipulorum eius, et multitudo copiosa plebis ab omni Iudaea et Ierusalem, et maritima, et Tyri, et Sidonis,
Descendo com eles, parou num lugar plano; havia ali grande multidão de discípulos e numerosa gente vinda de toda a Judeia, de Jerusalém, do litoral de Tiro e de Sidônia.
18 Qui venerant ut audirent eum, et sanarentur a languoribus suis: et qui vexabantur a spiritibus immundis, curabantur.
Vieram para ouvi-lo e para serem curados de suas doenças; também os atormentados por espíritos impuros eram libertados.
19 Et omnis turba quaerebant eum tangere: quia virtus de illo exibat, et sanabat omnes.
E toda a multidão procurava tocá-lo, porque dele saía uma força que a todos curava.
Reflexão:
Neste encontro de Cristo com os discípulos e o povo, vemos a força que gera unidade e desperta a vocação de cada ser. A escolha dos doze manifesta que toda vida é chamada à responsabilidade e à participação no fluxo criador. A oração que sustenta Jesus é também a respiração do espírito humano em busca de sentido. Sua presença curadora revela que a liberdade não se esgota na escolha, mas floresce em comunhão. Tocá-lo é reconhecer que cada existência se abre ao infinito, onde a vida, renovada, encontra força para transcender os limites e viver plenamente.
Versículo mais importante:
19 Et omnis turba quaerebant eum tangere: quia virtus de illo exibat, et sanabat omnes.
E toda a multidão procurava tocá-lo, porque dele saía uma força que a todos curava.(Lc 6:19)
HOMILIA
A Força que Emerge do Silêncio
O Evangelho nos conduz ao monte, onde Cristo permanece em oração durante a noite inteira. Este gesto é mais do que simples recolhimento: é a revelação de que toda escolha verdadeira nasce do silêncio interior, onde o espírito se abre ao Infinito. Dali brota a decisão de chamar os doze, sinal de que cada vida é convocada a participar de uma missão que transcende limites pessoais e inaugura uma ordem de comunhão.
O texto nos mostra que a oração é matriz da liberdade: não se trata de fuga, mas de um encontro que liberta das forças que aprisionam a consciência. A escolha dos discípulos simboliza a dignidade do ser humano, chamado a florescer não pela imposição de poder, mas pela abertura ao dom da vida que se comunica.
Ao descer do monte, Cristo se encontra com a multidão sedenta de cura. Nessa cena resplandece a essência da evolução interior: tocar o Mestre é acolher a energia que transforma, permitindo que a existência se eleve além de suas feridas. A virtude que dele emanava não era posse exclusiva, mas um fluxo universal de vida, oferecendo a todos a oportunidade de renovação.
Assim, compreendemos que a verdadeira grandeza não se alcança pela acumulação de forças externas, mas pela entrega ao movimento que integra, cura e conduz ao horizonte do eterno. Nele, cada pessoa descobre que é chamada a ser participante de uma criação que se expande continuamente, onde a liberdade se faz comunhão e a dignidade resplandece como reflexo da Luz divina.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A Força Transformadora do Toque Divino — Lucas 6,19
1. O Significado do Toque
O versículo evidencia que o contato com Cristo não é apenas físico, mas profundamente espiritual. O “toque” simboliza a abertura do ser humano à energia que transcende a matéria, permitindo que a vida interior seja renovada. Neste ato, cada indivíduo manifesta a disposição de receber a força que emana do divino, reconhecendo que a verdadeira cura nasce da união entre consciência e presença transcendente.
2. A Virtude que Emerge do Ser
“Porque dele saía uma força que a todos curava” indica que Cristo não retém poder; sua energia é um fluxo contínuo que brota da essência divina. Essa força é a expressão da harmonia do cosmos espiritual, onde cada ser, ao aproximar-se, participa da ordem criadora e da elevação do espírito. Cura e libertação não são privilégios, mas a consequência natural da abertura ao fluxo vital universal.
3. A Cura como Evolução Interior
A multidão representa a humanidade em busca de plenitude. O toque transforma, mas também educa: revela que a verdadeira saúde transcende o corpo e abarca mente e espírito. A experiência de ser tocado é convite à transformação pessoal, à integração da liberdade interior com a dignidade inalienável do ser humano, mostrando que a evolução do espírito se realiza na participação ativa do fluxo da vida divina.
4. Implicações Metafísicas
O versículo nos convida a compreender que toda existência é chamada a se abrir ao fluxo da virtude e da vida que circula no universo. A força de Cristo simboliza a energia que emana do Absoluto, acessível a todos que se colocam em sintonia com o Ser supremo. Este toque metafísico é convite à expansão da consciência, à elevação da vida interior e à prática de uma liberdade que respeita a dignidade de cada indivíduo.
Leia também:
#evangelho #homilia #reflexão #católico #evangélico #espírita #cristão
#jesus #cristo #liturgia #liturgiadapalavra #liturgia #salmo #oração
#primeiraleitura #segundaleitura #santododia #vulgata
Nenhum comentário:
Postar um comentário