segunda-feira, 7 de abril de 2025

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: João 8,31-42 - 09.04.2025

 Liturgia Diária


9 – QUARTA-FEIRA 

5ª SEMANA DA QUARESMA


(roxo, prefácio da paixão I – ofício do dia)


Vós me libertais, Senhor, da ira dos meus inimigos; vós me fazeis triunfar sobre os meus agressores e do homem violento me salvais (Sl 17,48s).


No percurso ascensional rumo à Luz da Ressurreição, a consciência é chamada a permanecer fiel ao princípio da liberdade interior que reconhece no Bem a fonte de toda orientação. Abandonar o erro não é submeter-se, mas elevar-se — um gesto de livre adesão à Verdade que nos revela nossa própria dignidade. A fidelidade, aqui, não é obediência cega, mas o reconhecimento lúcido de que a verdade nos liberta. Ser guiado por ela é um ato de escolha consciente, onde o espírito recusa os grilhões do engano e caminha, por si mesmo, ao encontro da transcendência que o plenifica em sua própria essência.



Lectio Sancti Evangelii secundum Ioannem
 
João 8,31-42

31 Dicebat ergo Iesus ad eos, qui crediderunt ei Iudaeos: Si vos manseritis in sermone meo, vere discipuli mei eritis,
Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele: Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos;

32 et cognoscetis veritatem, et veritas liberabit vos.
e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.

33 Responderunt ei: Semen Abrahae sumus, et nemini servivimus umquam: quomodo tu dicis: Liberi fietis?
Responderam-lhe: Somos descendência de Abraão e jamais fomos escravos de ninguém; como dizes tu: Sereis livres?

34 Respondit eis Iesus: Amen, amen dico vobis: quia omnis, qui facit peccatum, servus est peccati.
Jesus respondeu: Em verdade, em verdade vos digo: todo aquele que comete pecado é escravo do pecado.

35 Servus autem non manet in domo in aeternum: filius autem manet in aeternum.
O escravo não permanece para sempre na casa; o filho, sim, permanece para sempre.

36 Si ergo Filius vos liberaverit, vere liberi eritis.
Se, pois, o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres.

37 Scio quia semen Abrahae estis: sed quaeritis me interficere, quia sermo meus non capit in vobis.
Sei que sois descendência de Abraão; mas procurais matar-me, porque a minha palavra não entra em vós.

38 Ego quod vidi apud Patrem, loquor: et vos quae vidistis apud patrem, facitis.
Eu falo o que vi junto do Pai; e vós fazeis o que ouvistes de vosso pai.

39 Responderunt, et dixerunt ei: Pater noster Abraham est. Dicit eis Iesus: Si filii Abrahae estis, opera Abrahae facite.
Responderam-lhe: Nosso pai é Abraão. Disse-lhes Jesus: Se sois filhos de Abraão, fazei as obras de Abraão.

40 Nunc autem quaeritis me interficere, hominem, qui veritatem vobis locutus sum, quam audivi a Deo: hoc Abraham non fecit.
Mas agora procurais matar-me, a mim que vos falei a verdade que ouvi de Deus; isso Abraão não fez.

41 Vos facitis opera patris vestri. Dixerunt ergo ei: Nos ex fornicatione non sumus nati, unum patrem habemus Deum.
Vós fazeis as obras de vosso pai. Disseram-lhe, então: Não nascemos da fornicação, temos um só pai: Deus.

42 Dixit ergo eis Iesus: Si Deus pater vester esset, diligeretis me: ego enim ex Deo processi, et veni: neque enim a me ipso veni, sed ille me misit.
Disse-lhes Jesus: Se Deus fosse vosso Pai, vós me amaríeis, pois eu saí de Deus e vim; não vim de mim mesmo, mas Ele me enviou.

Reflexão:

et cognoscetis veritatem, et veritas liberabit vos.
"e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." (Jo 8:32)

Esta frase (João 8,32) concentra o coração da mensagem: a verdade como caminho para a liberdade interior. Ela expressa a transformação da consciência pela revelação, onde a liberdade não é apenas social ou exterior, mas espiritual e profunda — fruto do reconhecimento e da adesão à verdade que vem de Deus.

A liberdade autêntica nasce da adesão ao Logos, que revela a verdade como luz íntima e não como imposição. O ser humano, consciente de sua origem transcendente, escolhe o bem não por dever externo, mas por afinidade interior com o que o realiza. Quando o erro é deixado para trás por discernimento e amor à verdade, a alma não se torna serva, mas filha. E o Filho que liberta, não o faz por decreto, mas por presença transformadora. Cada passo rumo à luz é um exercício de autonomia elevada. Pois viver é optar, e optar é existir com plena dignidade.


HOMILIA

Título: O Chamado da Verdade que Liberta

No Evangelho segundo João, ouvimos: “et cognoscetis veritatem, et veritas liberabit vos (e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.) (Jo 8,32). Esta frase ressoa como um sopro eterno que toca o núcleo mais íntimo do ser, convocando-o a despertar do estado de servidão para uma existência de plena consciência.

Jesus não fala de uma liberdade dada por convenções externas, nem de uma verdade que se impõe por força ou tradição. Ele revela uma realidade que pulsa desde sempre no interior de cada ser: a verdade como caminho de libertação. Essa verdade não é apenas conteúdo a ser aprendido, mas presença viva a ser reconhecida — ela é a vibração mais pura da Origem, o chamado que nos guia de volta ao nosso ponto mais alto.

Aqueles que permanecem na Palavra são chamados discípulos — não por submissão, mas por escolha. Essa permanência não é estagnação, mas movimento interior contínuo. Seguir o Verbo é abrir-se ao dinamismo da existência, onde o erro não é reprimido por regras, mas superado pela compreensão de que não corresponde à nossa natureza mais elevada.

Ser livre, então, é viver em fidelidade àquilo que é real, eterno, essencial. É não se confundir com as sombras do transitório, mas orientar-se pelo fulgor do que não muda. É reconhecer que toda tentativa de construir a vida fora da Verdade é uma forma disfarçada de escravidão.

O Filho nos liberta não apenas com palavras, mas com Sua própria presença, que revela em nós o que está além do tempo, o que é uno com o Bem. Essa libertação é um convite à maturidade espiritual, onde cada ato se torna expressão de uma consciência desperta, e cada escolha, um testemunho da verdade reconhecida e amada.

Assim, viver segundo o Evangelho é integrar-se ao sentido mais alto da existência: um caminho em direção à luz, onde a liberdade não é fuga, mas retorno; onde a Verdade não aprisiona, mas nos devolve a nós mesmos — plenos, inteiros, e finalmente em paz.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

A frase: "E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" (Jo 8,32) é uma das declarações mais densas e teologicamente profundas de Jesus, inserida num contexto de revelação progressiva da Sua identidade como o Filho enviado do Pai. Ela condensa, numa única afirmação, a essência da economia salvífica: o conhecimento da verdade como meio de libertação.

1. "Conhecereis a verdade" — O conhecimento como relação viva

No vocabulário bíblico, "conhecer" não é um ato meramente intelectual, mas existencial, relacional. Conhecer a verdade é entrar em comunhão com ela. E, para o evangelista João, a verdade não é um conceito abstrato, mas uma Pessoa: Cristo mesmo. Como Ele dirá mais adiante: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida" (Jo 14,6).

Conhecer a verdade é, então, abrir-se à revelação do Logos eterno — aquele que estava com Deus e que é Deus (Jo 1,1). É permitir que essa luz penetre a interioridade e desvele não apenas o sentido do mundo, mas também o verdadeiro eu, regenerado à imagem do Filho.

2. "E a verdade vos libertará" — A liberdade como consequência da comunhão com Deus

A libertação a que Jesus se refere não é política, nem apenas moral. É ontológica e espiritual. O pecado, segundo o próprio texto (Jo 8,34), é uma forma de servidão: "todo aquele que comete pecado é escravo do pecado". O pecado, nesse sentido, não é apenas uma transgressão externa, mas uma alienação do próprio ser, uma ruptura entre a criatura e sua fonte.

Libertar-se é retornar ao fundamento da existência, ao sentido profundo de ser imagem e semelhança de Deus. É deixar de viver sob o jugo da ilusão, da ignorância e da mentira — condições que aprisionam o espírito — e entrar na luz que revela o real.

3. A Verdade como mediação do Espírito

Essa verdade que liberta é revelada pelo Filho e iluminada pelo Espírito Santo, que “guia à toda a verdade” (Jo 16,13). A Trindade está toda implicada nesse processo de libertação: o Pai como origem, o Filho como revelação encarnada, e o Espírito como dinamismo interior que atualiza essa verdade no coração do crente.

Portanto, ser liberto pela verdade é ser transformado pela presença trinitária de Deus no mais íntimo do ser humano — é deixar-se conduzir pela graça que purifica, eleva e plenifica.

4. Implicações éticas e escatológicas

A liberdade prometida não é apenas uma experiência interior, mas tem frutos concretos: ela capacita o ser humano a agir conforme o bem, a reconhecer sua dignidade e a viver de maneira autêntica e reconciliada. Mais ainda, essa liberdade aponta para a consumação escatológica — o retorno ao Pai, onde a verdade será plenamente vista face a face (1Cor 13,12) e toda sombra se dissipará.

Assim, "e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" é uma afirmação que articula revelação, comunhão e salvação. Nela, o Verbo encarnado convida a humanidade não apenas a crer, mas a entrar em relação com a Verdade viva — uma relação que, ao ser acolhida, redime e restaura o ser humano à sua vocação mais alta: a liberdade de viver no Amor, em plena união com Deus.

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA

Leia também:

Primeira Leitura

Segunda Leitura

Salmo

Evangelho

Santo do dia

Oração Diária

Mensagens de Fé

#evangelho #homilia #reflexão #católico #evangélico #espírita #cristão

#jesus #cristo #liturgia #liturgiadapalavra #liturgia #salmo #oração

#primeiraleitura #segundaleitura #santododia #vulgata

Nenhum comentário:

Postar um comentário