quarta-feira, 9 de abril de 2025

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: João 10:31-42 - 11.04.2025

 Liturgia Diária


11 – SEXTA-FEIRA 

5ª SEMANA DA QUARESMA


(roxo, prefácio da paixão I – ofício do dia)


Tende piedade, estou sofrendo. Libertai-me do inimigo e do opressor! Não serei confundido, Senhor, porque vos invoquei (Sl 30,10.16.18).


A alma livre, guiada pela Luz do Cristo interior, reconhece que a fidelidade à Vontade Suprema transcende a aprovação do mundo. Aqueles que caminham na Verdade não se curvam à tirania da aparência nem às vozes que abafam a consciência. Ser é mais que pertencer: é afirmar-se no invisível alicerce do Bem. A incompreensão torna-se semente, e a perseguição, portal para a inteireza. Celebramos, pois, com confiança plena naquele que habita o âmago do ser — nossa Força silenciosa e Fonte de salvação. Pois onde há liberdade do espírito, ali pulsa a presença viva da Vontade eterna.



Lectio Sancti Evangelii secundum Ioannem (Io 10,31-42)

31 Tulerunt ergo lapides Iudæi, ut lapidarent eum.
Então os judeus pegaram pedras para apedrejá-lo.

32 Respondit eis Iesus: “Multa bona opera ostendi vobis ex Patre: propter quod eorum opus me lapidatis?”
Jesus respondeu-lhes: “Mostrei-vos muitas obras boas da parte do Pai. Por qual dessas obras quereis apedrejar-me?”

33 Responderunt ei Iudæi: “De bono opere non lapidamus te, sed de blasphemia; et quia tu, homo cum sis, facis te ipsum Deum”.
Os judeus responderam: “Não te apedrejamos por uma boa obra, mas por blasfêmia, porque sendo homem, te fazes Deus.”

34 Respondit eis Iesus: “Nonne scriptum est in lege vestra: ‘Ego dixi: Dii estis?’
Jesus respondeu: “Não está escrito na vossa Lei: ‘Eu disse: Vós sois deuses’?”

35 Si illos dixit deos, ad quos sermo Dei factus est, et non potest solvi Scriptura,
Se chama deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida — e a Escritura não pode ser anulada 

36 quem Pater sanctificavit et misit in mundum vos dicitis: ‘Blasphemas’, quia dixi: ‘Filius Dei sum’?aquele que o Pai santificou e enviou ao mundo, vós dizeis: ‘Estás blasfemando’, porque eu disse: ‘Sou Filho de Deus’?

37 Si non facio opera Patris mei, nolite credere mihi;
Se não faço as obras de meu Pai, não acrediteis em mim;

38 si autem facio, et si mihi non vultis credere, operibus credite, ut cognoscatis et credatis quia in me est Pater, et ego in Patre”.
mas se as faço, mesmo que não queirais crer em mim, crede nas obras, para que conheçais e acrediteis que o Pai está em mim, e eu no Pai.”

39 Quaerebant ergo eum apprehendere, et exiit de manibus eorum.
Procuraram então prendê-lo, mas ele escapou das mãos deles.

40 Et abiit iterum trans Iordanem in eum locum, ubi erat Ioannes baptizans primum, et mansit illic.
E voltou de novo para além do Jordão, para o lugar onde João batizava no princípio, e permaneceu ali.

41 Et multi venerunt ad eum et dicebant: “Ioannes quidem signum fecit nullum; omnia autem, quæ dixit Ioannes de hoc, vera erant”.
Muitos foram até ele e diziam: “João não realizou nenhum sinal, mas tudo o que ele disse sobre este homem era verdade.”

42 Et multi crediderunt in eum illic.
E muitos ali creram nele.

Frase mais importante:

"si autem facio, et si mihi non vultis credere, operibus credite, ut cognoscatis et credatis quia in me est Pater, et ego in Patre.”
"Mas se as faço, mesmo que não queirais crer em mim, crede nas obras, para que conheçais e acrediteis que o Pai está em mim, e eu no Pai.” (Jo 10:38)

Essa frase é central porque expressa a união entre Jesus e o Pai por meio das obras, propondo que a verdade se manifesta não apenas por palavras, mas pelos frutos visíveis da ação — um princípio que também ecoa a valorização da experiência concreta como caminho para o conhecimento do real.

Reflexão:

A liberdade interior floresce quando o espírito reconhece a verdade como presença viva, mesmo diante da rejeição exterior. O Cristo revela que o divino habita em todos os que acolhem o Verbo e vivem suas obras. A consciência desperta não se submete à acusação injusta, pois sabe que ser é mais do que parecer. A unidade entre o Pai e o Filho revela o chamado humano à transcendência por meio do conhecimento e da ação justa. Aqueles que creem não se rendem à imposição, mas se abrem ao esplendor da verdade. Nisso, a plenitude se torna caminho.


HOMILIA

Título: A Chama Invisível do Ser

No silêncio que antecede o gesto, habita o sopro da origem. O Cristo, ao afirmar sua unidade com o Pai, não busca convencer pela força da palavra, mas pela coerência entre o que é e o que faz. “Crede nas obras”, diz ele, como quem aponta para a essência encarnada na existência. Aqui, não há imposição de crença, mas um convite à contemplação da Verdade viva que se revela por seus frutos.

Cada ser humano, portador de um centro interior irredutível, é chamado a descobrir essa centelha que arde sem consumir. Não é a obediência cega que edifica o caminho, mas o reconhecimento livre da verdade que pulsa além das aparências. O Cristo não exige, propõe; não acusa, revela; não se impõe, manifesta-se.

Aqueles que O rejeitam não o fazem por falta de sinais, mas porque seus olhos ainda não se abriram ao que é visível no invisível. A liberdade autêntica começa quando a alma se inclina, não diante de um poder, mas diante de uma Presença. Essa Presença não anula, mas confirma; não submete, mas engrandece.

Quando Jesus diz: “O Pai está em mim, e eu no Pai”, ele aponta para a vocação última de todo ser — viver em comunhão sem perda da individualidade. A obra divina não se revela no ruído, mas na harmonia entre o ser e o agir. E essa harmonia é o que transforma cada passo humano num avanço irreversível em direção à Plenitude.

Crer, então, é um ato de liberdade — não como escolha entre ideias, mas como adesão da alma ao que ela reconhece como verdadeiro em sua própria luz. E neste reconhecimento silencioso, onde a obra confirma a Palavra, o ser reencontra sua origem e seu destino.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

A frase de João 10,38 — “Mas se as faço, mesmo que não queirais crer em mim, crede nas obras, para que conheçais e acrediteis que o Pai está em mim, e eu no Pai” — contém uma densidade teológica notável. Nela se entrelaçam revelação, liberdade, conhecimento e unidade ontológica entre Cristo e o Pai. Vamos desdobrá-la passo a passo.

1. “Mas se as faço”

Jesus refere-se às obras que realiza: milagres, curas, ensinamentos, mas também os sinais espirituais que emanam de sua pessoa. Não são apenas ações externas; são manifestações visíveis da verdade invisível que o habita. Essas obras são teofanias: expressões concretas da presença do Pai na história. Elas revelam o Logos encarnado em ação.

2. “Mesmo que não queirais crer em mim”

Aqui, Jesus reconhece a liberdade interior de seus ouvintes. Ele não exige uma fé cega ou imposta. Ele reconhece que o coração humano pode resistir à pessoa do Cristo, ao seu nome, à sua origem, à sua palavra. E, no entanto, Ele não abandona esses corações: oferece-lhes outro caminho — o caminho da razão iluminada pela experiência.

3. “Crede nas obras”

Essa é a ponte entre o visível e o invisível. Jesus orienta os ouvintes a não se fecharem completamente. Mesmo que rejeitem sua identidade messiânica, podem observar os frutos, os efeitos, os sinais que apontam para algo maior. É uma pedagogia divina: Ele conduz ao conhecimento da verdade não pela força da autoridade, mas pela evidência do bem realizado.

4. “Para que conheçais e acrediteis”

A ordem aqui é crucial: primeiro conhecer, depois crer. O verbo conhecer (do grego ginóskō) implica uma experiência viva, não apenas intelectual. Jesus propõe que a fé pode nascer do encontro com o bem. Trata-se de um conhecimento que penetra o ser, que provoca transformação e, por fim, confiança. A fé não é uma negação do conhecimento, mas seu amadurecimento.

5. “Que o Pai está em mim, e eu no Pai”

Esta é a culminância da revelação: a união consubstancial entre o Pai e o Filho. Não se trata de uma cooperação moral ou de um simbolismo. Jesus revela aqui sua identidade divina. Ele não apenas representa Deus; Ele é a Presença do Pai em forma humana. E essa união não é uma fusão que anula a distinção, mas uma comunhão perfeita em amor, vontade e ação.

Síntese Teológica

Este versículo oferece uma teologia da revelação que respeita a liberdade humana e ao mesmo tempo exige uma resposta racional e espiritual. Cristo manifesta a verdade divina através das obras que, como sacramentos vivos, apontam para sua origem no Pai. Ele convida a uma fé que não se baseia apenas na autoridade da palavra, mas também na evidência do amor operante.

Essa estrutura também reflete o dinamismo da Trindade: o Pai age no Filho, o Filho manifesta o Pai, e a fé no Filho conduz à comunhão com o Pai. Assim, a obra de Cristo torna-se caminho de ascensão para o homem, onde o ato livre de crer corresponde à abertura da alma à verdade que já a toca silenciosamente.

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA

Leia também:

Primeira Leitura

Segunda Leitura

Salmo

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