sábado, 12 de abril de 2025

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: João 12:1-11- 14.04.2025

 Liturgia Diária


DIA 14 – SEGUNDA-FEIRA 

SEMANA SANTA


(roxo, pref. da paixão II – ofício próprio)


Julgai, Senhor, meus acusadores, combatei aqueles que me combatem. Tomai armadura e escudo e levantai-vos em meu socorro, Senhor, minha força e salvação (Sl 34,1s; Sl 139,8)


A Consciência Ungida manifesta-se no ser livre que reconhece sua origem transcendente e sua vocação para o serviço luminoso da Verdade. O Enviado não se curva ao peso do mundo, pois sabe que a centelha que o anima é eterna. Pela Iniciação, o espírito desperto assume sua tríplice função: anunciar o real, elevar o invisível, ordenar o tempo. Ao partilhar o Pão do Ser, tornamo-nos espaço para o gesto puro — como o de Maria — cuja oferenda invisível perfuma o tempo com fidelidade e Amor. Assim, cada ato se faz manifestação da Liberdade que habita o Sopro do Altíssimo.



Evangelium secundum Ioannem 12,1-11

1 Iesus ergo ante sex dies Paschae venit Bethaniam, ubi Lazarus fuerat mortuus, quem suscitavit Iesus.
Jesus, seis dias antes da Páscoa, foi a Betânia, onde estava Lázaro, o morto que Ele ressuscitara.

2 Fecerunt autem ei cenam ibi, et Martha ministrabat: Lazarus vero unus erat ex discumbentibus cum eo.
Fizeram-lhe ali uma ceia, e Marta servia; e Lázaro era um dos que estavam à mesa com Ele.

3 Maria ergo accepit libram unguenti nardi pistici pretiosi, et unxit pedes Iesu, et extersit pedes eius capillis suis; et domus impleta est ex odore unguenti.
Então Maria tomou uma libra de perfume de nardo puro e precioso, ungiu os pés de Jesus e os enxugou com os cabelos; e a casa encheu-se do perfume do unguento.

4 Dixit ergo unus ex discipulis eius, Iudas Iscariotes, qui erat eum traditurus:
Disse então um dos seus discípulos, Judas Iscariotes, que estava para traí-lo:

5 Quare hoc unguentum non veniit trecentis denariis, et datum est egenis?
Por que não se vendeu este perfume por trezentos denários para dar aos necessitados?

6 Dixit autem hoc, non quia de egenis pertinebat ad eum, sed quia fur erat, et loculos habens, ea, quae mittebantur, portabat.
Disse isso, não porque se importasse com os necessitados, mas porque era ladrão, e tendo a bolsa, tirava o que nela se colocava.

7 Dixit ergo Iesus: Sinite illam, ut in diem sepulturae meae servet illud.
Jesus disse então: Deixai-a; que ela o guarde para o dia da minha sepultura.

8 Pauperes enim semper habetis vobiscum: me autem non semper habetis.
Os pobres sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me tendes.

9 Cognovit ergo turba multa ex Iudaeis quia illic est, et venerunt, non propter Iesum tantum, sed ut Lazarum viderent, quem suscitavit a mortuis.
Muitos dos judeus souberam que Ele estava ali e vieram, não só por causa de Jesus, mas também para ver Lázaro, que Ele ressuscitara dos mortos.

10 Cogitaverunt autem principes sacerdotum ut et Lazarum interficerent:
Os sumos sacerdotes deliberaram matar também Lázaro,

11 Quia multi propter illum abibant ex Iudaeis, et credebant in Iesum.
Porque muitos dos judeus, por causa dele, se afastavam e criam em Jesus.

Frase mais importante:

"Pauperes enim semper habetis vobiscum: me autem non semper habetis."
"Os pobres sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me tendes." (Jo 12:8)

Essa frase destaca o momento único e insubstituível da presença do Cristo, lembrando que há uma ordem de valores em que a presença do Verbo encarnado ultrapassa todas as preocupações materiais. É uma chave de leitura para todo o episódio, em que o gesto de Maria se revela como expressão da consciência espiritual diante da eternidade do Amor.


Reflexão:

A liberdade do espírito realiza-se quando reconhece no gesto gratuito o valor superior à utilidade. Maria não calcula, ela oferece. Sua entrega manifesta o primado do amor sobre o interesse, do ser sobre o ter. A presença de Jesus atrai e transforma, revela que a vida plena não está no domínio, mas na doação. Lázaro, sinal da superação do limite, é ameaça aos que temem a perda do controle. O Enviado caminha sereno, pois Sua força vem de dentro. E quem O acolhe começa a respirar a eternidade ainda no tempo, vivendo não como servo do medo, mas como expressão da luz.


HOMILIA

O Perfume do Ser que Reconhece

No silêncio de uma casa em Betânia, entre a mesa posta e os que partilham o alimento, um gesto rompe a lógica do cálculo: Maria unge os pés do Mestre com perfume de nardo puro. Não pergunta quanto custa, nem pesa utilidades. Ela sente. Ela age. Ela revela. Seu gesto torna-se linguagem da interioridade que reconhece o Absoluto quando Ele passa.

Na ordem do real, há momentos que não se repetem. Instantes onde a eternidade toca o tempo. Maria não busca justificar-se. Sua liberdade não é reação, é presença. Ela se move por afinidade com a Verdade viva. Enquanto outros medem, ela oferece. Enquanto outros hesitam, ela se entrega. Pois quem ama verdadeiramente não busca aprovar-se aos olhos do mundo, mas manifestar, com cada gesto, a fidelidade que liberta.

Jesus não a interrompe. Pelo contrário, Ele a defende. Porque ali, naquele ato sem palavras, realiza-se o chamado de toda consciência desperta: unir-se ao que transcende, participar da Obra que resgata o tempo e lhe dá direção. O perfume enche a casa — como a lembrança do gesto atravessa os séculos — não como relíquia, mas como anúncio: toda existência encontra sentido quando se eleva ao Outro com inteireza.

Lázaro, presença da superação, é testemunho da força que já venceu a morte. Ele está à mesa. É sinal. É pedra que desperta o espírito cego para aquilo que o ultrapassa. Mas isso incomoda. Os que vivem do domínio e do controle não suportam o que é gratuito, não suportam o que escapa à lógica do poder.

Por isso, o Cristo anuncia: “Me autem non semper habetis.” Há tempos e espaços que são dádivas. Negá-los por medo ou por cálculo é perder-se no imediato. Reconhecê-los é tornar-se coautor da Luz. Que estejamos prontos, não apenas para ver, mas para ungir com a própria liberdade os passos d’Aquele que caminha rumo à plenitude do Amor. Pois onde há entrega verdadeira, ali se ergue o altar do Ser desperto.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

A frase de Jesus em João 12,8 — "Os pobres sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me tendes." — é uma das expressões mais densas teologicamente do Evangelho, pois carrega em poucas palavras uma revelação sobre a presença, o tempo, o valor da pessoa e o discernimento espiritual.

1. “Os pobres sempre os tendes convosco” – A constância da condição humana

Jesus começa afirmando uma realidade que transcende os ciclos históricos: a presença dos pobres entre nós. Essa constância não é uma justificativa para negligência, mas uma constatação do mundo em sua imperfeição. A pobreza aqui pode ser lida em sua dimensão material, mas também espiritual: são os que carecem de sentido, de justiça, de luz interior.

Este trecho ecoa Deuteronômio 15,11: “Pois nunca deixará de haver pobres na terra; por isso te ordeno que abras a mão para o teu irmão”. Jesus não anula essa responsabilidade. Pelo contrário, reconhece que o compromisso com os que sofrem permanece como parte da estrutura moral do mundo. A compaixão deve ser contínua. Contudo, essa constância exige discernimento diante do que é único.

2. “Mas a mim nem sempre me tendes” – A singularidade da presença de Cristo

Aqui Jesus revela a urgência da Sua presença. Não se trata de uma negação da ajuda ao próximo, mas de um chamado a reconhecer que há momentos e presenças que são irrecuperáveis. Cristo, enquanto caminha entre os homens, é a epifania do Verbo, e Sua presença no tempo é limitada em sua forma histórica.

Teologicamente, essa frase revela a tensão entre o kairos (tempo oportuno, sagrado) e o chronos (tempo comum). A presença de Cristo é kairológica: única, densa de sentido, portadora da plenitude da Revelação. Negligenciar esse momento em nome de uma ação que pode ser feita em qualquer tempo — por mais justa que seja — é inverter a hierarquia da realidade.

3. Maria compreende o “kairos”

O gesto de Maria, ungindo os pés de Jesus, é exatamente o oposto do cálculo racional de Judas. Ela compreende o valor do instante. Seu perfume não é desperdício, mas resposta ao Absoluto presente. Maria discerne que naquele momento, diante d’Aquele que é a Ressurreição e a Vida, só o amor incondicional e a entrega total são adequados.

4. Implicações espirituais e eclesiológicas

Essa frase de Jesus também instrui a Igreja e cada fiel sobre a centralidade da adoração, do reconhecimento da presença real de Cristo — especialmente na Eucaristia. A missão social da Igreja é inseparável da sua missão sacramental, mas a ordem interna é clara: Cristo é a fonte, e não o efeito; é o princípio, e não apenas o exemplo.

Assim, a frase “os pobres sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me tendes” nos convida a:

  • Reconhecer a prioridade da presença de Deus quando se manifesta,

  • Entender que a ação sem contemplação é ativismo vazio,

  • Perceber que o amor verdadeiro não se opõe à justiça, mas a ultrapassa,

  • E que cada momento de encontro com o Cristo exige uma resposta de adoração, não de cálculo.

Cristo não desvaloriza os pobres. Ele revela que só é possível amá-los verdadeiramente quando o amor nasce do reconhecimento d’Ele como centro e fonte de todo valor.

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA

Leia também:

Primeira Leitura

Segunda Leitura

Salmo

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Oração Diária

Mensagens de Fé

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