Liturgia DiáriaDIA
25 – SEXTA-FEIRA
OITAVA DA PÁSCOA
(branco, glória, seq. facultativa, pref. da Páscoa I [“neste dia”] – ofício próprio)
O Senhor conduziu o seu povo na esperança, e o mar cobriu seus inimigos, aleluia (Sl 77,53).
Reunidos no sopro invisível da comunhão, celebramos o Mistério que ergue o ser à liberdade do espírito. Aquele que fora rejeitado — a Pedra angular — torna-se o eixo da consciência desperta, sustentáculo de toda construção interior. Em sua memória viva, não há imposição, mas escolha; não há servidão, mas comunhão voluntária com o Bem. O alimento que d'Ele emana nutre a dignidade inalienável de cada alma, convidando-a a existir em plenitude, sem tutelas, mas em aliança. Cada gesto de gratidão revela a centelha do sagrado em nós, onde o divino não ordena: propõe. E no consentimento, floresce a verdadeira salvação.
Evangelium secundum Ioannem 21,1-14
1 Postea manifestavit se iterum Iesus discipulis ad mare Tiberiadis. Manifestavit autem sic:
Depois disso, Jesus se manifestou novamente aos discípulos à beira do mar de Tiberíades. E manifestou-se assim:
2 Erant simul Simon Petrus et Thomas, qui dicitur Didymus, et Nathanael, qui erat a Cana Galilaeae, et filii Zebedaei, et alii ex discipulis eius duo.
Estavam juntos Simão Pedro, Tomé chamado Dídimo, Natanael de Caná da Galileia, os filhos de Zebedeu e outros dois discípulos.
3 Dicit eis Simon Petrus: Vado piscari. Dicunt ei: Venimus et nos tecum. Et exierunt et ascenderunt in navem; et illa nocte nihil prendiderunt.
Disse-lhes Simão Pedro: Vou pescar. Disseram-lhe: Também nós vamos contigo. Saíram e entraram na barca, mas naquela noite nada apanharam.
4 Mane autem iam facto, stetit Iesus in littore; non tamen cognoverunt discipuli quia Iesus est.
Ao amanhecer, Jesus estava na margem; mas os discípulos não sabiam que era Jesus.
5 Dixit ergo eis Iesus: Pueri, numquid pulmentarium habetis? Responderunt ei: Non.
Então Jesus lhes disse: Filhos, tendes alguma coisa para comer? Responderam-lhe: Não.
6 Dixit eis: Mittite in dexteram navigii rete, et invenietis. Miserunt ergo et iam non valebant illud trahere prae multitudine piscium.
Disse-lhes: Lançai a rede ao lado direito da barca, e achareis. Lançaram-na, e já não podiam arrastá-la, por causa da grande quantidade de peixes.
7 Dixit ergo discipulus ille, quem diligebat Iesus, Petro: Dominus est! Simon Petrus, cum audisset quia Dominus est, tunicam succinxit — erat enim nudus — et misit se in mare.
Então aquele discípulo a quem Jesus amava disse a Pedro: É o Senhor! Simão Pedro, ouvindo que era o Senhor, vestiu sua túnica — pois estava nu — e lançou-se ao mar.
8 Alii autem discipuli navigio venerunt — non enim longe erant a terra, sed quasi cubitis ducentis — trahentes rete piscium.
Os outros discípulos vieram na barca — pois não estavam longe da terra, mas cerca de duzentos côvados — arrastando a rede com os peixes.
9 Ut ergo descenderunt in terram, viderunt prunas positas et piscem superpositum et panem.
Quando desceram à terra, viram brasas acesas, com um peixe em cima, e pão.
10 Dicit eis Iesus: Afferte de piscibus, quos prendidistis nunc.
Jesus lhes disse: Trazei alguns dos peixes que acabastes de apanhar.
11 Ascendit Simon Petrus et traxit rete in terram plenum magnis piscibus centum quinquaginta tribus; et cum tantum essent, non est scissum rete.
Simão Pedro subiu e arrastou a rede para a terra, cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes; e, apesar de serem tantos, a rede não se rompeu.
12 Dicit eis Iesus: Venite, prandete. Et nemo audebat discumbentium interrogare eum: Tu quis es? Sciebant enim quia Dominus est.
Jesus lhes disse: Vinde, comei. E nenhum dos discípulos ousava perguntar-lhe: Quem és tu? Pois sabiam que era o Senhor.
13 Venit Iesus et accipit panem et dat eis et piscem similiter.
Jesus aproximou-se, tomou o pão e deu-lhes, e do mesmo modo o peixe.
14 Hoc iam tertio manifestatus est Iesus discipulis, cum resurrexisset a mortuis.
Esta foi a terceira vez que Jesus se manifestou aos discípulos depois de ter ressuscitado dos mortos.
Reflexão:
Na alvorada da liberdade espiritual, Ele se revela não como imposição, mas como presença. A barca vazia, símbolo da busca sem direção, torna-se plena quando o ouvir interior orienta a ação. A rede transbordante não é fruto da força, mas da escuta. O pão e o peixe, partilhados, não impõem um credo, mas sustentam o encontro. A verdadeira presença não se impõe, convida. É nesse convite que o ser humano descobre sua vocação interior: viver, agir e amar não por dever, mas por escolha, em uma comunhão onde cada ato livre constrói o eterno aqui e agora.
Versiculo mais importante:
O versículo considerado mais significativo em João 21,1-14 é geralmente o versículo 7, pois marca o momento de reconhecimento de Jesus ressuscitado, carregando profunda densidade espiritual e simbólica.
João 21,7 (Vulgata):
Dixit ergo discipulus ille, quem diligebat Iesus, Petro: Dominus est! Simon Petrus, cum audisset quia Dominus est, tunicam succinxit — erat enim nudus — et misit se in mare.
Então aquele discípulo a quem Jesus amava disse a Pedro: É o Senhor! Simão Pedro, ouvindo que era o Senhor, vestiu sua túnica — pois estava nu — e lançou-se ao mar. (João 21,7)
Este versículo destaca o momento em que o amor e a intimidade espiritual permitem reconhecer o Cristo presente. É um símbolo do despertar interior: o salto de Pedro ao mar representa o impulso da alma que, reconhecendo a Verdade, lança-se a ela sem hesitar.
HOMILIA
O Fogo Invisível à Beira do Mar
Amados, contemplamos hoje um encontro que não se anuncia com alardes, mas com brasas acesas no silêncio da manhã. Jesus está à margem. Não no centro dos discursos, não nas sinagogas ou palácios, mas à margem — onde o mar toca a terra e a esperança repousa em redes vazias.
Os discípulos, mesmo após tudo o que viveram, voltam ao labor de antes. A pesca. O esforço humano. A noite sem frutos. Eis o retrato de tantas almas que, mesmo tocadas pelo mistério, ainda buscam sentido em vazios repetidos. Mas há uma aurora. E nela, uma Voz.
“Lançai a rede do outro lado.”
Não é apenas um gesto prático. É uma ruptura com o automatismo. Uma provocação ao espírito para que se incline à escuta. Pois a escuta, irmãos, é o primeiro ato da liberdade interior. Aquela rede transbordante não é milagre do peixe, é milagre do consentimento. Quando o ser humano se alinha ao chamado que vibra silencioso no tecido do mundo, tudo começa a fluir.
E então, João — o que ama — reconhece: “É o Senhor!”
O amor vê primeiro. Porque não vê com os olhos do cálculo, mas com os olhos do ser desperto.
Pedro, impetuoso, não espera. Não calcula, não pondera. Ele se lança. Não por dever, mas por desejo. Aquele salto ao mar é o símbolo de toda alma que, reconhecendo o centro do sentido, rompe com as margens do medo.
Na praia, o Cristo não exige explicações. Prepara alimento. Não interroga, acolhe. Não impõe, oferece.
Pão e peixe. Matéria e espírito. Terra e céu.
Ali, à beira do mundo, acontece o mais sagrado: a liberdade que se une ao Amor sem ser forçada por ele.
Queridos, cada um de nós é convidado a lançar sua rede do outro lado. A não repetir gestos por inércia. A reconhecer no cotidiano uma margem onde Alguém acende o fogo invisível.
Que saibamos escutar essa voz silenciosa. Que sejamos como Pedro: não esperando a certeza, mas confiando no impulso do coração desperto.
Pois o Senhor continua à margem, esperando ser reconhecido por aqueles que escolhem amá-Lo.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A frase "Então aquele discípulo a quem Jesus amava disse a Pedro: É o Senhor! Simão Pedro, ouvindo que era o Senhor, vestiu sua túnica — pois estava nu — e lançou-se ao mar." (João 21,7) é um versículo denso em significado teológico, revelando aspectos profundos da relação entre o discípulo, a Igreja e o Cristo ressuscitado.
1. O Discípulo a Quem Jesus Amava:
O evangelista João, ao se referir a si mesmo como "o discípulo a quem Jesus amava", enfatiza o relacionamento único de intimidade com o Senhor. Este discípulo, ao reconhecer a presença de Cristo, não o faz apenas de forma objetiva ou lógica, mas por um sentido profundo de proximidade e amor. O amor é a chave para o reconhecimento da presença de Cristo. Este amor não é apenas um sentimento humano, mas um reflexo da conexão mística entre o divino e o humano. A verdadeira visão espiritual surge da entrega ao amor divino, e esse reconhecimento ocorre pela abertura do coração. É através dessa amizade espiritual com o Senhor que o discípulo vê além da mera realidade física, alcançando o profundo significado do Cristo presente.
2. O Reconhecimento do Senhor:
A expressão "É o Senhor!" traz à tona a revelação do Cristo ressuscitado. Esse reconhecimento não se dá de imediato, mas é um momento de iluminação. É significativo que João, com sua capacidade de amar e de contemplar profundamente o Cristo, seja o primeiro a ver. O amor verdadeiro, nesse contexto, é a luz que ilumina a visão espiritual. O reconhecimento de Jesus como o Senhor implica o reconhecimento da Sua soberania divina, não apenas sobre o mundo visível, mas também sobre as realidades invisíveis. Em um nível teológico, é uma expressão da epifania do Cristo ressuscitado, que se revela aos discípulos de maneira mais plena e transcendente. A ressurreição de Jesus não é apenas um retorno à vida, mas uma revelação de uma nova ordem cósmica, onde a morte é vencida e o Cristo assume seu papel de Senhor do universo.
3. Simão Pedro, a resposta impulsiva e a busca por pureza:
Quando Pedro ouve o reconhecimento de João, ele imediatamente se levanta e se lança ao mar. Este gesto de Pedro reflete sua natureza impulsiva, mas também uma profundidade teológica significativa. O mar, na tradição bíblica, muitas vezes simboliza as águas caóticas e incontroláveis da existência humana. Pedro, ao se lançar ao mar, está simbolicamente "mergulhando" em sua própria humanidade, mas também é um gesto de abandono e confiança total em Cristo. Sua nudez, mencionada antes de ele vestir a túnica, é uma metáfora para a sua vulnerabilidade e impureza. O ato de se vestir representa a busca pela pureza e pela restauração que só podem vir de Cristo. Ele busca, através dessa ação, se revestir da dignidade e da santidade que são conferidas pela graça divina.
4. O Ato de Mergulhar e a Restauração Espiritual:
O mergulho de Pedro nas águas remete ao batismo, onde o fiel se lança nas águas da morte para ressurgir em Cristo. Ao lançar-se ao mar, Pedro simboliza o movimento de purificação e renovação, um processo de entrar na morte para alcançar a vida verdadeira. Isso também se relaciona com a doutrina cristã de que o crente é chamado a morrer para o pecado e viver em Cristo. No contexto da ressurreição, esse gesto de Pedro é uma resposta ao Cristo vivo, uma aceitação da nova vida que ele oferece. O mar, então, deixa de ser um símbolo de caos para se tornar um espaço de purificação e transição para uma nova existência.
5. A Vestimenta e o Novo Ser:
A ação de Pedro em vestir a túnica antes de se aproximar de Jesus simboliza a renovação e a cobertura da dignidade humana em Cristo. No Antigo Testamento, o ato de se cobrir com vestes significava também se revestir de uma nova identidade e de um novo status perante Deus. Pedro, ao vestir sua túnica, expressa seu desejo de se apresentar puro diante de Cristo. Isso nos ensina que, na jornada espiritual, somos chamados não apenas a reconhecê-Lo como Senhor, mas também a nos revestir da nova criação que Ele oferece — a santidade e a pureza que vêm da Sua graça redentora.
6. A Profundidade do Encontro Pessoal com o Senhor:
Este versículo também ilustra a profundidade do encontro pessoal com Cristo. O reconhecimento de João e o impulso de Pedro não são apenas gestos históricos, mas espirituais. Eles revelam a necessidade de uma relação pessoal com o Cristo ressuscitado, onde o amor e a resposta impulsiva à Sua presença são os meios pelos quais a graça se manifesta de maneira plena. Este encontro não é intelectual ou abstrato, mas visceral e profundamente existencial, tocando a alma de quem O encontra e se entrega à Sua vontade.
Em resumo, João 21,7 revela não apenas a reação humana diante da presença do Cristo ressuscitado, mas também ensina sobre a dinâmica de amor, reconhecimento, purificação e restauração que ocorre quando o ser humano se encontra com o Senhor. O gesto de Pedro, ao se lançar ao mar e vestir sua túnica, é a metáfora da transformação espiritual que todos os cristãos são chamados a experimentar: um mergulho no mistério da morte e ressurreição, e um revestir-se da nova vida em Cristo.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
Leia também:
#evangelho #homilia #reflexão #católico #evangélico #espírita #cristão
#jesus #cristo #liturgia #liturgiadapalavra #liturgia #salmo #oração
#primeiraleitura #segundaleitura #santododia #vulgata
Nenhum comentário:
Postar um comentário