quinta-feira, 10 de abril de 2025

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: João 11:45-56 - 12.04.2025

 Liturgia Diária


12 – SÁBADO 

5ª SEMANA DA QUARESMA


(roxo, prefácio da paixão I – ofício do dia)


Senhor, não afasteis de mim o vosso auxílio; olhai para mim em minha defesa, pois sou um verme e não um homem, vergonha dos homens e desprezo do povo (Sl 21,20.7).


Ao aproximar-se o instante da renovação pascal, elevemos nosso ser ao Princípio Originário, fonte da Liberdade e da Consciência. Agradeçamos pela aliança revelada no Mediador, aquele que, pela força do Amor ativo, resgata a singularidade de cada espírito da dispersão do mundo. Nele, a comunhão não é imposição, mas encontro voluntário, onde o eu se reconhece no outro sem perder sua essência. Esse Pastor metafísico, centro da união e da livre convergência, nos convida a sermos inteiros, autônomos e vinculados por escolha. Que cada alma encontre, nesse chamado, o caminho da verdade que liberta e da responsabilidade que eleva.



Lectio Sancti Evangelii secundum Ioannem 11,45-56

45 Multi ergo ex Judæis, qui venerant ad Mariam et Martham, et viderant quæ fecit Jesus, crediderunt in eum.
Assim, muitos dos judeus que tinham vindo a Maria e Marta, e tinham visto o que Jesus fizera, creram nele.

46 Quidam autem ex ipsis abierunt ad pharisæos, et dixerunt eis quæ fecit Jesus.
Mas alguns deles foram aos fariseus e lhes contaram o que Jesus fizera.

47 Collegerunt ergo pontifices et pharisæi concilium, et dicebant: Quid facimus, quia hic homo multa signa facit?
Então os sumos sacerdotes e os fariseus reuniram o conselho e diziam: Que faremos? Porque este homem faz muitos sinais.

48 Si dimittimus eum sic, omnes credent in eum: et venient Romani, et tollent nostrum locum et gentem.
Se o deixarmos assim, todos crerão nele, e virão os romanos, e tirarão o nosso lugar e a nossa nação.

49 Unus autem ex ipsis, Caiphas nomine, cum esset pontifex anni illius, dixit eis: Vos nescitis quidquam,
Mas um deles, chamado Caifás, sendo o sumo sacerdote daquele ano, disse-lhes: Vós nada sabeis,

50 nec cogitatis quia expedit vobis ut unus moriatur homo pro populo, et non tota gens pereat.
nem considerais que vos convém que um só homem morra pelo povo, e não pereça toda a nação.

51 Hoc autem a semetipso non dixit: sed cum esset pontifex anni illius, prophetavit quod Jesus moriturus erat pro gente,
Ora, ele não disse isto por si mesmo; mas, sendo sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus havia de morrer pela nação,

52 et non tantum pro gente, sed ut filios Dei, qui erant dispersi, congregaret in unum.
e não somente pela nação, mas também para reunir em um só os filhos de Deus que estavam dispersos.

53 Ab illo ergo die cogitaverunt ut interficerent eum.
Desde aquele dia, pois, resolveram matá-lo.

54 Jesus ergo jam non in palam ambulabat apud Judæos: sed abiit in regionem juxta desertum, in civitatem quæ dicitur Ephrem, et ibi morabatur cum discipulis suis.
Jesus, então, já não andava publicamente entre os judeus, mas retirou-se para a região próxima do deserto, para uma cidade chamada Efraim, e ali permaneceu com seus discípulos.

55 Erat autem proxima Pascha Judæorum, et ascenderunt multi Jerosolymam de regione ante Pascha, ut sanctificarent seipsos.
Estava próxima a Páscoa dos judeus, e muitos subiram de todas as regiões a Jerusalém antes da Páscoa, para se purificarem.

56 Quærebant ergo Jesum: et colloquebantur ad invicem in templo stantes: Quid putatis, quia non venit ad diem festum?
Procuravam, pois, a Jesus; e, estando no templo, diziam uns aos outros: Que vos parece? Não virá ele à festa?

Frase mais importante:

"et non tantum pro gente, sed ut filios Dei, qui erant dispersi, congregaret in unum."
"e não somente pela nação, mas também para reunir em um só os filhos de Deus que estavam dispersos." (Jo 11:52)

Essa frase resume o sentido profundo da missão de Jesus: Ele não veio apenas por um povo, mas para unificar, por livre adesão, todos os que, dispersos no tempo e no espírito, anseiam pela verdade, pela liberdade interior e pela comunhão no Amor.

Reflexão:

Jesus não se impõe, Ele se revela como escolha.
Cada gesto é um convite ao reconhecimento interior,
à convergência voluntária das consciências dispersas.
Aqueles que O temem, temem a liberdade que Ele oferece.
Pois onde Ele caminha, ruem os poderes fundados no medo.
Ele não domina: chama, reúne, desperta.
E nessa reunião dos dispersos, funda-se uma comunhão consciente.
Ali, onde há o pleno consentimento, brota a verdadeira unidade.


HOMILIA

A Convergência dos Dispersos no Coração do Uno

No silêncio que precede a revelação, onde a realidade se desdobra como um véu em direção ao centro que a sustenta, ecoa uma frase que resume a economia da salvação: “para reunir em um só os filhos de Deus que estavam dispersos” (Jo 11,52). Aqui não se fala de um ajuntamento forçado, mas de uma atração interior, de uma convocação íntima à unidade a partir da liberdade de cada consciência.

A morte de um só pelo todo — como propôs Caifás — revela, sem saber, uma verdade que transcende a mera política dos homens. A doação do Uno, do Verbo encarnado, não visa salvar a nação como estrutura, mas os seres como espíritos em jornada. A unidade que se anuncia não é uniformidade. É convergência. Cada um traz consigo a irredutível centelha da origem, e é por essa luz que se reconhece o chamado.

A dispersão, nesse contexto, não é desordem, mas condição transitória da liberdade. Cada ser precisa experimentar-se como único para, no tempo justo, desejar participar do todo não como submissão, mas como comunhão. Eis o mistério profundo da união: ela só é plena quando brota do consentimento. Jesus retira-se, não por medo, mas porque o tempo da imposição não é o tempo da revelação. Ele aguarda o amadurecimento da liberdade no interior dos que O buscam.

Assim, a morte não é o fim, mas o ponto de inflexão. A semente não desaparece ao cair na terra: ela se transforma. O dom do Uno é o gesto por excelência da liberdade que se entrega para que cada espírito desperte, veja, deseje e caminhe por si mesmo ao encontro do amor total. Nessa dinâmica, cada escolha livre é um passo rumo ao centro onde todos se reconhecem.

Na fidelidade ao chamado, torna-se visível a lenta e amorosa reunião dos dispersos. Cada alma que responde contribui para a elevação do todo, e no entrelaçamento voluntário das consciências nasce o corpo invisível da nova criação. É aí que a celebração se cumpre, não como rito exterior, mas como reconhecimento mútuo de que fomos sempre chamados à unidade pela liberdade do amor.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

A frase: "e não somente pela nação, mas também para reunir em um só os filhos de Deus que estavam dispersos." (Jo 11,52) contém uma das mais densas expressões teológicas do Evangelho de João, revelando o desígnio universal da missão de Cristo e a dinâmica interna da salvação como movimento de unificação no Amor.

1. "E não somente pela nação"

Aqui, a "nação" se refere diretamente ao povo de Israel, escolhido por Deus na história para ser sinal da aliança, portador das promessas e caminho pedagógico para a revelação do Verbo. Contudo, ao dizer "não somente", o texto rompe a lógica de exclusividade e aponta para a superação dos limites étnicos, culturais e religiosos, iluminando o caráter inclusivo da obra de Cristo.

Esta não é uma rejeição da nação, mas sua transfiguração. A eleição histórica de Israel encontra seu cumprimento não na proteção de uma identidade isolada, mas na sua abertura como origem e canal de bênção para todos os povos (cf. Gn 12,3).

2. "Mas também para reunir em um só..."

A expressão "reunir em um só" é um eco profundo daquilo que, na teologia joanina, é a própria missão do Logos: instaurar uma unidade que transcende a agregação visível e se realiza no plano ontológico e espiritual. Esta unidade não é uma fusão nem uma homogeneização, mas uma comunhão que respeita a alteridade. Cristo não anula as diferenças, mas as assume e as transfigura numa síntese superior de Amor.

A ideia de "um só" evoca a comunhão trinitária: a unidade entre Pai, Filho e Espírito é o paradigma da unidade para a qual os seres humanos são chamados. Reunir em um só é, portanto, conduzir cada pessoa ao seu centro mais profundo, onde ela se reconhece como filha do mesmo Pai, irmã em um mesmo Corpo.

3. "Os filhos de Deus que estavam dispersos"

A dispersão tem uma dimensão histórica (a diáspora dos judeus), mas vai além: é símbolo da condição existencial da humanidade separada de Deus e de si mesma. A dispersão é a perda do eixo, o distanciamento do centro espiritual. Cada "filho de Deus" é, por vocação, alguém que traz em si a marca da origem divina, mas encontra-se, por liberdade mal orientada ou ignorância da verdade, fora da comunhão plena.

Cristo vem para chamar de volta cada um desses filhos, não por imposição, mas por atração, por revelação da verdade que liberta (cf. Jo 8,32). O verbo "reunir" (gregar em unidade) implica um caminho de retorno, de iluminação interior, de encontro entre o eu e o Tu divino que habita todas as consciências.

Conclusão

João 11,52 revela que a cruz, longe de ser apenas um drama local, é um ato cósmico e livremente oferecido que visa a regeneração do todo. O Cristo morre não por uma estrutura religiosa, mas para inaugurar o tempo da reconciliação entre o Criador e suas criaturas, entre as criaturas entre si e consigo mesmas. O projeto divino não é apenas salvar indivíduos isolados, mas formar um Corpo Uno, um organismo vivo onde cada ser, sem perder sua liberdade, participa conscientemente da comunhão eterna.

Este versículo revela que a salvação é o caminho da liberdade à unidade, da dispersão ao sentido, da exterioridade ao centro. É o convite permanente à interiorização, ao despertar da filiação e à resposta consciente ao Amor que chama.

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA

Leia também:

Primeira Leitura

Segunda Leitura

Salmo

Evangelho

Santo do dia

Oração Diária

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