terça-feira, 8 de abril de 2025

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: João 8:51-59 - 10.04.2025

 Liturgia Diária


10 – QUINTA-FEIRA 

5ª SEMANA DA QUARESMA


(roxo, prefácio da paixão I – ofício do dia)


Cristo é mediador de uma nova aliança. Pela sua morte, aqueles que são chamados recebem a promessa da herança eterna (Hb 9,15).


Celebremos, com alma livre e consciência desperta, o Princípio Supremo que firma com o ser humano uma aliança inviolável no âmago do tempo. Por meio do Verbo encarnado, chama cada indivíduo — sem distinção — a transcender os limites da matéria e a emergir da sombra para a luz. Esta passagem se realiza na escuta interior da Verdade viva, que liberta sem coagir, que conduz sem dominar. Assim, cada ser encontra na escuta íntima da Palavra sua própria dignidade e vocação transcendental, respondendo com liberdade à convocação eterna de Ser e Existir em plenitude, em comunhão com o Absoluto.



Lectio sancti Evangelii secundum Ioannem

Joannes 8,51-59

51 Amen, amen dico vobis: si quis sermonem meum servaverit, mortem non videbit in aeternum.
Em verdade, em verdade vos digo: se alguém guardar a minha palavra, não verá a morte eternamente.

52 Dixerunt ergo Iudaei: Nunc cognovimus quia daemonium habes. Abraham mortuus est, et prophetae; et tu dicis: Si quis sermonem meum servaverit, non gustabit mortem in aeternum.
Disseram então os judeus: Agora sabemos que tens um demônio. Abraão morreu, e também os profetas; e tu dizes: Se alguém guardar a minha palavra, não provará a morte eternamente.

53 Numquid tu major es patre nostro Abraham, qui mortuus est? et prophetae mortui sunt. Quem teipsum facis?
És tu, porventura, maior do que nosso pai Abraão, que morreu? E também os profetas morreram. Quem pretendes ser?

54 Respondit Iesus: Si ego glorifico meipsum, gloria mea nihil est. Est Pater meus qui glorificat me, quem vos dicitis quia Deus vester est,
Respondeu Jesus: Se eu me glorifico a mim mesmo, a minha glória nada é. Quem me glorifica é meu Pai, aquele que vós dizeis ser o vosso Deus.

55 et non cognovistis eum; ego autem novi eum: et si dixero quia nescio eum, ero similis vobis, mendax. Sed scio eum, et sermonem eius servo.
E vós não o conhecestes; eu, porém, o conheço. E se dissesse que não o conheço, seria mentiroso como vós. Mas eu o conheço e guardo sua palavra.

56 Abraham pater vester exsultavit ut videret diem meum: vidit, et gavisus est.
Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia: ele o viu e alegrou-se.

57 Dixerunt ergo Iudaei ad eum: Quinquaginta annos nondum habes, et Abraham vidisti?
Disseram então os judeus: Ainda não tens cinquenta anos, e viste Abraão?

58 Dixit eis Iesus: Amen, amen dico vobis, antequam Abraham fieret, ego sum.
Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: antes que Abraão existisse, eu sou.

59 Tulerunt ergo lapides, ut iacerent in eum. Iesus autem abscondit se, et exivit de templo.
Então pegaram pedras para atirarem nele. Mas Jesus ocultou-se e saiu do templo.

Reflexão:

Dixit eis Iesus: Amen, amen dico vobis, antequam Abraham fieret, ego sum.
"Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: antes que Abraão existisse, eu sou." (Jo 8:58)

Essa declaração “ego sum” (eu sou) remete diretamente ao nome divino revelado a Moisés em Êxodo 3,14 — “Ego sum qui sum” (Eu sou aquele que sou) —, afirmando que Jesus não apenas precede Abraão, mas é eterno e uno com o Ser.

A vida verdadeira não se mede pelo tempo, mas pelo grau de adesão à Palavra que é origem do Ser. A liberdade interior se manifesta no reconhecimento espontâneo da verdade, e não na submissão a formas exteriores. Cada pessoa, ao escutar com sinceridade o chamado do Verbo, encontra-se consigo mesma e com o fundamento invisível de sua existência. O "Eu sou" que transcende Abraão revela o eterno presente onde repousa a identidade plena. Não se trata de negar a história, mas de elevá-la. O Espírito que conduz à vida não impõe: ele desperta, convida e respeita o caminho de cada um.


HOMILIA

A frase de Jesus em João 8,58 — "Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: antes que Abraão existisse, eu sou." — é uma das mais densas e teologicamente reveladoras de todo o Evangelho. Nela, o Cristo revela, de maneira direta, sua identidade profunda, ultrapassando todos os limites da história, do tempo e da linguagem religiosa convencional.

1. “Em verdade, em verdade vos digo”
A repetição enfática do Amēn, Amēn (ἀμὴν ἀμὴν) indica solenidade máxima. Jesus não está apenas ensinando: está revelando. Trata-se de um momento de autocomunicação essencial, não de opinião ou parábola. É uma chave que abre um portal de compreensão ontológica do próprio Cristo.

2. “Antes que Abraão existisse”
Abraão é, para os judeus, o início da história da aliança. Ele representa o começo do povo escolhido, a raiz de sua identidade religiosa e genealógica. Ao afirmar que existia antes de Abraão, Jesus se posiciona fora da ordem cronológica humana. Ele não diz "fui criado antes", ou "nasci antes", mas se declara presente antes do patriarca, que viveu quase dois milênios antes da encarnação histórica de Cristo.

3. “Eu sou” (Ego eimi)
Essa é a expressão mais poderosa da passagem. Jesus não diz “eu era”, como seria esperado num discurso temporal. Ele diz ego eimieu sou. Trata-se de uma evocação direta ao nome que Deus revela a Moisés em Êxodo 3,14: "Ego sum qui sum" (Eu sou aquele que sou). Esse nome é impronunciável e absoluto, significando o Ser em sua pura atualidade, sem passado nem futuro, apenas presença. Ao dizer “Eu sou”, Jesus não apenas reivindica pré-existência, mas identidade com Aquele que é.

Essa afirmação rompe a barreira entre Criador e criatura. Jesus não fala apenas como profeta ou mestre; Ele se identifica com o próprio Ser eterno, a Fonte absoluta de tudo o que existe. É o ponto culminante da autorrevelação: o Verbo feito carne revela que não apenas veio de Deus, mas é Deus, coeterno com o Pai, sem começo nem fim.

Implicações teológicas:

  • Cristologia elevada: A afirmação funda uma cristologia que reconhece em Jesus não só o enviado de Deus, mas o próprio Deus presente na história humana.

  • Ontologia divina: “Eu sou” é a expressão da presença absoluta. Jesus se apresenta como Aquele que é por si, não por participação. Ele é o Ser em si mesmo, e não uma derivação.

  • Unidade com o Pai: Ao dizer isso, Jesus não apenas antecipa o que dirá em João 10,30 ("Eu e o Pai somos um") como prepara o entendimento da Trindade: Ele é distinto do Pai e, ao mesmo tempo, consubstancial.

  • Escândalo para os ouvintes: Os judeus compreenderam perfeitamente o alcance da frase. Por isso quiseram apedrejá-lo (Jo 8,59). Na mentalidade deles, ele cometeu uma blasfêmia ao se igualar a Deus — e isso apenas seria blasfêmia se fosse mentira.

Conclusão:
João 8,58 é o momento em que o véu da identidade de Cristo se rasga diante da humanidade. A eternidade se expressa na linguagem do tempo e revela que o Ser se fez pessoa, não para dominar, mas para conduzir o ser humano de volta à sua origem, ao “Eu sou” onde tudo encontra repouso. Nesse "sou", está a liberdade mais radical e a verdade mais plena. A escuta desta revelação exige não só fé, mas também abertura de espírito para reconhecer, no tempo, o que é eterno.


HOMILIA

O Verbo que Precede o Tempo

No silêncio mais interior do ser, onde não há ruído de séculos nem pressa de relógios, ecoa uma afirmação que rompe toda forma de limite: “Antes que Abraão existisse, Eu sou.” Essas palavras de Jesus, ouvidas com o ouvido do espírito, não se referem a um passado cronológico, mas a uma presença anterior a todo tempo, onde o ser ainda não se fragmentara em nomes, castas ou estruturas.

A escuta desta Palavra — viva e pessoal — não é uma adesão a uma ordem imposta, mas um ato de liberdade interior, de ressonância entre a centelha da origem e a consciência desperta que escolhe ouvir. Guardar o Verbo é, assim, caminhar não como quem repete, mas como quem participa do próprio movimento do Ser em direção à sua plenitude.

A morte, na lógica do Cristo, não é fim, mas resistência dissolvida. Aquele que guarda a Palavra não verá a morte, porque já vive no espaço onde a morte não reina — o espaço da origem, da verdade, da presença que é. Não se trata de escapar do mundo, mas de entrar no mais profundo do mundo, onde tudo encontra sua unidade, não por imposição, mas por afinidade com a liberdade de ser.

Abraão viu esse dia e alegrou-se, porque no âmago de sua busca, na liberdade de sair de sua terra, ele pressentiu a luz que unifica o múltiplo. Jesus revela que este dia não é uma data, mas um estado do espírito: é quando o “eu” se curva ao “sou”, quando a existência se encontra com sua fonte.

O Verbo não obriga, ele chama. Ele não constrange, ele atrai. E o ser humano responde — ou não — de acordo com a dignidade de sua liberdade. Por isso, a verdadeira glória não está em se exaltar, mas em permitir que o invisível em nós resplandeça como o invisível n’Ele. E nesse brilho silencioso, a eternidade não está mais distante. Ela já começou.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

A frase de Jesus em João 8,58 — "Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: antes que Abraão existisse, eu sou." — é uma das mais densas e teologicamente reveladoras de todo o Evangelho. Nela, o Cristo revela, de maneira direta, sua identidade profunda, ultrapassando todos os limites da história, do tempo e da linguagem religiosa convencional.

1. “Em verdade, em verdade vos digo”
A repetição enfática do Amēn, Amēn (ἀμὴν ἀμὴν) indica solenidade máxima. Jesus não está apenas ensinando: está revelando. Trata-se de um momento de autocomunicação essencial, não de opinião ou parábola. É uma chave que abre um portal de compreensão ontológica do próprio Cristo.

2. “Antes que Abraão existisse”
Abraão é, para os judeus, o início da história da aliança. Ele representa o começo do povo escolhido, a raiz de sua identidade religiosa e genealógica. Ao afirmar que existia antes de Abraão, Jesus se posiciona fora da ordem cronológica humana. Ele não diz "fui criado antes", ou "nasci antes", mas se declara presente antes do patriarca, que viveu quase dois milênios antes da encarnação histórica de Cristo.

3. “Eu sou” (Ego eimi)
Essa é a expressão mais poderosa da passagem. Jesus não diz “eu era”, como seria esperado num discurso temporal. Ele diz ego eimieu sou. Trata-se de uma evocação direta ao nome que Deus revela a Moisés em Êxodo 3,14: "Ego sum qui sum" (Eu sou aquele que sou). Esse nome é impronunciável e absoluto, significando o Ser em sua pura atualidade, sem passado nem futuro, apenas presença. Ao dizer “Eu sou”, Jesus não apenas reivindica pré-existência, mas identidade com Aquele que é.

Essa afirmação rompe a barreira entre Criador e criatura. Jesus não fala apenas como profeta ou mestre; Ele se identifica com o próprio Ser eterno, a Fonte absoluta de tudo o que existe. É o ponto culminante da autorrevelação: o Verbo feito carne revela que não apenas veio de Deus, mas é Deus, coeterno com o Pai, sem começo nem fim.

Implicações teológicas:

  • Cristologia elevada: A afirmação funda uma cristologia que reconhece em Jesus não só o enviado de Deus, mas o próprio Deus presente na história humana.

  • Ontologia divina: “Eu sou” é a expressão da presença absoluta. Jesus se apresenta como Aquele que é por si, não por participação. Ele é o Ser em si mesmo, e não uma derivação.

  • Unidade com o Pai: Ao dizer isso, Jesus não apenas antecipa o que dirá em João 10,30 ("Eu e o Pai somos um") como prepara o entendimento da Trindade: Ele é distinto do Pai e, ao mesmo tempo, consubstancial.

  • Escândalo para os ouvintes: Os judeus compreenderam perfeitamente o alcance da frase. Por isso quiseram apedrejá-lo (Jo 8,59). Na mentalidade deles, ele cometeu uma blasfêmia ao se igualar a Deus — e isso apenas seria blasfêmia se fosse mentira.

Conclusão:
João 8,58 é o momento em que o véu da identidade de Cristo se rasga diante da humanidade. A eternidade se expressa na linguagem do tempo e revela que o Ser se fez pessoa, não para dominar, mas para conduzir o ser humano de volta à sua origem, ao “Eu sou” onde tudo encontra repouso. Nesse "sou", está a liberdade mais radical e a verdade mais plena. A escuta desta revelação exige não só fé, mas também abertura de espírito para reconhecer, no tempo, o que é eterno.

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA

Leia também:

Primeira Leitura

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