terça-feira, 15 de abril de 2025

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: João 13:1-15 - 17.04.2025

 Liturgia DiáriaDIA 


17 – QUINTA-FEIRA 

CEIA DO SENHOR


(missa vespertina)


(branco, glória, prefácio da Eucaristia – ofício próprio)


Nós, porém, devemos gloriar-nos na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo; nele está a salvação, nossa vida e ressurreição; por ele somos salvos e libertos (Gl 6,14).


No mistério da Ceia, abre-se o véu entre o finito e o eterno: ali, o Verbo, soberano em sua entrega, manifesta o poder da consciência livre que se doa sem coação. O pão e o vinho transcendem a matéria, revelando a dignidade do indivíduo como fim em si mesmo. A entrega voluntária do Cristo inaugura uma ordem espiritual onde o amor não é imposição, mas escolha. Celebrar esse instante é reconhecer que a verdadeira comunhão nasce da liberdade interior e da responsabilidade diante do outro. Servir, então, é afirmar a autonomia do ser, em plenitude, diante do Absoluto.



Lectio sancti Evangelii secundum Ioannem 
13,1-15

  1. Ante diem festum paschae, sciens Iesus quia venit hora eius ut transeat ex hoc mundo ad Patrem: cum dilexisset suos, qui erant in mundo, in finem dilexit eos.
    Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, como amara os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.

  2. Et cena facta, cum diabolus iam misisset in cor ut traderet eum Iudas Simonis Iscariotae,
    E, durante a ceia, quando o diabo já havia posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, o propósito de traí-lo,

  3. sciens quia omnia dedit ei Pater in manus, et quia a Deo exivit et ad Deum vadit,
    sabendo que o Pai tudo lhe dera nas mãos, e que viera de Deus e voltava para Deus,

  4. surgit a cena et ponit vestimenta sua; et cum accepisset linteum, praecinxit se.
    levantou-se da ceia, tirou as vestes e, pegando uma toalha, cingiu-se com ela.

  5. Deinde mittit aquam in pelvem, et coepit lavare pedes discipulorum et extergere linteo, quo erat praecinctus.
    Depois deitou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha com que estava cingido.

  6. Venit ergo ad Simonem Petrum. Et dicit ei Petrus: Domine, tu mihi lavas pedes?
    Chegou, pois, a Simão Pedro. Este lhe disse: Senhor, tu vais lavar-me os pés?

  7. Respondit Iesus et dixit ei: Quod ego facio, tu nescis modo, scies autem postea.
    Respondeu-lhe Jesus: O que eu faço, não o compreendes agora, mas saberás depois.

  8. Dicit ei Petrus: Non lavabis mihi pedes in aeternum! Respondit ei Iesus: Si non lavero te, non habes partem mecum.
    Disse-lhe Pedro: Tu nunca me lavarás os pés! Jesus respondeu: Se eu não te lavar, não terás parte comigo.

  9. Dicit ei Simon Petrus: Domine, non tantum pedes meos sed et manus et caput!
    Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça!

  10. Dicit ei Iesus: Qui lotus est, non indiget nisi ut pedes lavet, sed est mundus totus; et vos mundi estis, sed non omnes.
    Disse-lhe Jesus: Aquele que se banhou não necessita lavar senão os pés, pois todo está limpo; e vós estais limpos, mas não todos.

  11. Sciebat enim quisnam esset, qui traderet eum; propterea dixit: Non estis mundi omnes.
    Pois sabia quem o havia de trair; por isso disse: Nem todos estais limpos.

  12. Postquam ergo lavit pedes eorum et accepit vestimenta sua, cum recubuisset iterum, dixit eis: Scitis quid fecerim vobis?
    Depois de lhes lavar os pés, tomou as vestes, voltou à mesa e disse-lhes: Compreendeis o que vos fiz?

  13. Vos vocatis me: Magister et Domine; et bene dicitis: sum etenim.
    Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, pois eu o sou.

  14. Si ergo ego lavi vestros pedes, Dominus et Magister, et vos debetis alter alterius lavare pedes.
    Ora, se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros.

  15. Exemplum enim dedi vobis, ut, sicut ego feci vobis, et vos faciatis.
    Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, também vós o façais.

Reflexão:

Ao lavar os pés dos discípulos, Aquele que transcende o tempo se curva diante do outro, afirmando o valor único de cada consciência. Não há imposição, há escolha amorosa e livre. Ele não domina, serve — não por dever, mas por liberdade interior. Em cada gesto, mostra que a verdadeira grandeza se realiza quando o ser reconhece sua origem no eterno e sua vocação no cuidado mútuo. Cada indivíduo é chamado a participar dessa obra em evolução, onde a comunhão não é submissão, mas encontro de vontades autônomas em direção ao bem comum, sempre crescente.


A frase mais importante:

A frase mais importante de João 13,1-15 é frequentemente considerada esta:

15. Exemplum enim dedi vobis, ut, sicut ego feci vobis, et vos faciatis.
Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, também vós o façais. (Jo 13:15)

Essa frase (versículo 15) resume a mensagem central do trecho: o ensinamento do amor-serviço como escolha consciente, livre e ativa, onde o próprio Cristo, Mestre e Senhor, se oferece como modelo a ser seguido.


HOMILIA

O Gesto que Move o Mundo

No silêncio da Ceia, quando o tempo parece conter a respiração e o eterno toca o instante, o Cristo se levanta, despe-se de títulos e veste-se de serviço. Ajoelha-se diante dos que ama — não como quem obedece a um mandamento, mas como quem expressa a mais pura forma de liberdade: a do amor que escolhe doar-se. Ele, que tudo recebeu nas mãos, não fecha os punhos, mas abre-os sobre a água, lavando os pés cansados de homens imperfeitos.

Neste gesto, não há imposição, apenas revelação. A grandeza não está na altura dos tronos, mas na profundidade do encontro entre consciências que se reconhecem. Cada ser, chamado à plenitude, encontra nessa atitude a bússola do próprio devir: crescer não é conquistar o outro, mas unir-se a ele sem perder-se de si. O Cristo, origem e fim, convida-nos não à obediência cega, mas à comunhão lúcida — onde servir é afirmar a dignidade do outro como reflexo do absoluto.

Assim, lavar os pés não é apenas um rito; é um movimento cósmico, um passo na direção da unidade que respeita a diferença, do vínculo que não aprisiona, mas sustenta. Na liberdade do gesto que ama, desenha-se o futuro — não imposto de fora, mas cultivado por dentro, onde cada escolha carrega em si a semente da eternidade.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

João 13,15

1. O Ato que Transcende o Gesto

"Dei-vos o exemplo..." — Com estas palavras, Jesus transforma um ato de humildade em revelação teológica. Ele, que é o Verbo eterno, assume voluntariamente a posição do servo para ensinar algo que vai além da ética comum. O gesto do lava-pés não é apenas uma ação de serviço; é uma epifania do próprio ser divino, que se revela não pelo poder de dominar, mas pela liberdade de amar. O exemplo que Ele nos dá é a síntese de quem Ele é: o Deus que se inclina.

2. Liberdade como Escolha de Amor

Ao dizer "...para que, como eu vos fiz, também vós o façais", Jesus não impõe uma regra moral, mas propõe uma via de realização. Ele age livremente, sem coação, mostrando que o verdadeiro amor se manifesta quando o ser escolhe o outro — não por obrigação, mas por reconhecimento de sua dignidade. A liberdade aqui não é autonomia isolada, mas relação: escolher servir é um ato supremo de liberdade, pois é optar por sair de si em direção ao outro sem perder-se.

3. O Exemplo como Princípio de Transformação

O “exemplo” de Cristo não é uma simples sugestão ética ou um código de conduta. Ele inaugura uma nova lógica: a do Reino, onde o primeiro é quem serve, e a glória se encontra na doação. Este exemplo se torna princípio fundante de uma nova humanidade — aquela em que cada pessoa, ao reconhecer sua própria dignidade, reconhece igualmente a do outro. O serviço passa a ser um ato criador, que transforma realidades, cura relações e edifica comunidades verdadeiras.

4. Uma Teologia da Encarnação Aplicada

Jesus não ensina a partir de uma distância abstrata. Ele vive o que ensina. O lava-pés é a encarnação visível da Palavra — é a teologia tornada carne e gesto. Ele une o transcendente e o imanente: o eterno se expressa no cotidiano, o divino se faz ato humano. O exemplo de Jesus é, portanto, uma convocação à integração entre fé e prática, entre crença e ação, entre identidade espiritual e vivência concreta.

5. O Chamado à Responsabilidade Pessoal e Comunitária

Seguir o exemplo de Cristo é assumir a responsabilidade pela construção do bem. Isso exige consciência, discernimento e ação deliberada. Cada indivíduo é chamado a participar ativamente dessa dinâmica de comunhão, oferecendo sua liberdade em benefício do outro. Não se trata de submissão, mas de cooperação na obra da plenitude: cada ato de serviço torna-se um elo de união entre os seres humanos e com o Criador.

6. Uma Ética para um Mundo em Movimento

Embora não mencionemos diretamente os desafios do presente, a frase de Jesus ecoa como resposta a todos os tempos. Em qualquer era, há necessidade de exemplos autênticos, de líderes que sirvam, de indivíduos que escolham o bem comum sem renunciar à própria consciência. O exemplo de Cristo não envelhece, porque ele toca a estrutura fundamental do ser: a capacidade de amar livremente. É uma ética do eterno, plantada no tempo.

Conclusão: O Gesto como Caminho para o Absoluto

“Dei-vos o exemplo...” é uma chave hermenêutica para a existência humana: o caminho para Deus passa pela escolha consciente de amar através do serviço. Cada vez que alguém repete esse gesto com verdade, o universo avança um passo em direção à sua consumação. O exemplo de Cristo não apenas nos ensina a viver, mas nos chama a cooperar com a dinâmica do Amor que tudo sustenta e transforma.

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA

Leia também:

Primeira Leitura

Segunda Leitura

Salmo

Evangelho

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Oração Diária

Mensagens de Fé

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