sábado, 5 de abril de 2025

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: João 8:12-20 - 07.04.2025

 Liturgia Diária7 – SEGUNDA-FEIRA 

5ª SEMANA DA QUARESMA


(roxo, prefácio da paixão I – ofício do dia)


Tende pena e compaixão de mim, ó Deus, pois há tantos que me calcam sob os pés, e agressores me oprimem todo o dia! (Sl 55,2)


Contemplamos, nesta liturgia, o Verbo que se manifesta como fulgor da consciência desperta, guia invisível das almas que buscam a verdade e a retidão. Sua luz não impõe, mas convida; não subjuga, mas revela a nobreza do ser que se reconhece livre diante do Eterno. Neste esplendor, cada espírito é chamado a escolher com sabedoria, acolher com inteireza e confiar na Fonte invisível que sustenta o real. Assim, a caminhada não é domínio, mas autodescoberta; não é obediência cega, mas adesão lúcida ao Bem. Nele, o discernimento é semente da justiça, e a confiança, fruto da dignidade espiritual.



Lectio sancti Evangelii secundum Ioannem (8,12-20)

12 Iterum ergo locutus est eis Jesus, dicens: Ego sum lux mundi: qui sequitur me, non ambulat in tenebris, sed habebit lumen vitae.
Jesus voltou a falar-lhes, dizendo: Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não caminha nas trevas, mas terá a luz da vida.

13 Dixerunt ergo ei pharisaei: Tu de te ipso testimonium perhibes: testimonium tuum non est verum.
Disseram-lhe então os fariseus: Tu dás testemunho de ti mesmo; teu testemunho não é verdadeiro.

14 Respondit Jesus, et dixit eis: Et si ego testimonium perhibeo de me ipso, verum est testimonium meum: quia scio unde veni, et quo vado; vos autem nescitis unde venio, aut quo vado.
Jesus respondeu e lhes disse: Ainda que eu dê testemunho de mim mesmo, meu testemunho é verdadeiro, porque sei de onde vim e para onde vou; mas vós não sabeis de onde venho, nem para onde vou.

15 Vos secundum carnem judicatis: ego non judico quemquam:
Vós julgais segundo a carne; eu não julgo ninguém.

16 Et si judico ego, judicium meum verum est: quia solus non sum, sed ego et qui misit me, Pater.
E se eu julgo, meu juízo é verdadeiro, porque não estou só, mas eu e o Pai que me enviou.

17 Et in lege autem vestra scriptum est, quia duorum hominum testimonium verum est.
Na vossa lei está escrito que o testemunho de dois homens é verdadeiro.

18 Ego sum qui testimonium perhibeo de me ipso: et testimonium perhibet de me, qui misit me, Pater.
Sou eu que dou testemunho de mim mesmo; e o Pai, que me enviou, dá testemunho de mim.

19 Dicebant ergo ei: Ubi est Pater tuus? Respondit Jesus: Neque me scitis, neque Patrem meum: si me sciretis, forsitan et Patrem meum sciretis.
Disseram-lhe então: Onde está teu Pai? Jesus respondeu: Vós não me conheceis, nem ao meu Pai; se me conhecêsseis, certamente conheceríeis também a meu Pai.

20 Haec verba locutus est Jesus in gazophylacio, docens in templo: et nemo apprehendit eum, quia necdum venerat hora ejus.
Estas palavras Jesus falou no tesouro, ensinando no templo; e ninguém o prendeu, porque ainda não era chegada a sua hora.

Reflexão:

Ego sum lux mundi: qui sequitur me, non ambulat in tenebris, sed habebit lumen vitae.
"Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não caminha nas trevas, mas terá a luz da vida." (Jo 8:12)

Na luz de Cristo, cada ser é chamado a reconhecer sua origem e seu destino — não como imposição exterior, mas como ato íntimo de discernimento e adesão consciente ao Bem. O Verbo que nos guia não determina o caminho, mas o revela à alma livre que busca seu sentido eterno. A verdade, quando descoberta, liberta; e a liberdade, quando enraizada no amor, conduz à justiça. O julgamento carnal cede lugar à compreensão espiritual, onde cada consciência desperta se reconhece parte de uma fonte comum. A comunhão verdadeira nasce do conhecimento do Eu e Daquele que o sustenta. Assim se vive a luz.


HOMILIA

Título: A Luz Que Reconhece a Origem e Conduz ao Destino

No início de toda busca está a luz. Não a que fere os olhos ou projeta sombras, mas a que ilumina por dentro, revelando ao espírito sua procedência e seu chamado. Quando o Cristo afirma — “Ego sum lux mundi: qui sequitur me, non ambulat in tenebris, sed habebit lumen vitae” (Jo 8,12) — Ele não impõe, mas revela. Essa luz é convite, não coerção. É presença silenciosa que respeita o tempo da liberdade interior, conduzindo a alma àquilo que ela já intui como verdadeiro.

Aqueles que O escutam tentam desacreditá-Lo com categorias exteriores: julgam com critérios carnais, esperam legalismos, exigem testemunhas. Mas a luz que Ele oferece não é objeto de prova, e sim de reconhecimento. O testemunho d’Ele é verdadeiro porque é coerente com a origem e com o destino. Ele sabe de onde vem e para onde vai. Saber isso é já ter vencido a desorientação. Não se trata de poder, mas de clareza.

A verdade não oprime: ela ordena interiormente. Não convence pela força, mas pela consonância com o que já vibra no mais íntimo da consciência. A liberdade, quando reconhece a luz, adere a ela por decisão própria, pois vê nela a via da plenitude.

Aquele que se abre à luz do Cristo não se torna seguidor por submissão, mas por afinidade espiritual. Caminha em direção ao sentido, sem medo das trevas, pois dentro de si já arde o lumen vitae. E quanto mais avança, mais compreende: o Pai, invisível aos olhos carnais, revela-Se naquele que vive na verdade e na liberdade de ser.

Nada pode prender essa luz. Nada pode detê-la. Ela caminha entre os muros do templo, entre os limites do mundo, e espera. Sua hora chegará. E até lá, ela segue revelando, suavemente, o caminho para aqueles que ousam ver.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

A frase:
“Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não caminha nas trevas, mas terá a luz da vida.” (Jo 8,12)
é uma das declarações mais densas e reveladoras de Cristo no Evangelho de João, contendo um núcleo teológico de imensa profundidade.

1. “Eu sou a luz do mundo” — a identidade revelada no Verbo

Jesus inicia com “Ego sum”, expressão que remete diretamente à autodefinição divina do Êxodo: “Eu sou Aquele que sou” (Ex 3,14). Ele não apenas traz luz; Ele é a luz — isto é, a própria presença originária que dá inteligibilidade, sentido e direção a toda existência. Essa luz não é física nem metafórica apenas: é a consciência plena da Verdade, que sustenta o ser e o orienta à plenitude.

2. “Luz do mundo” — a universalidade do Logos

A luz que Ele é não se limita a um povo, tempo ou tradição: ela é do mundo, o cosmos, o conjunto de tudo o que foi criado. Com isso, Ele declara-se como o Logos encarnado — a Razão divina que informa toda realidade e que a conduz para seu destino final. Essa luz é a presença do sentido em meio à dispersão, a revelação da unidade onde há fragmentação.

3. “Quem me segue” — o caminho da liberdade interior

Seguir Jesus não é uma submissão mecânica, mas um ato livre e pessoal de adesão à Verdade. A luz não empurra: ela convida. Ao seguir essa luz, o ser humano escolhe sair do automatismo das sombras para a clareza da consciência, respondendo ao chamado profundo que reconhece em si mesmo. Seguir é um movimento que envolve razão, vontade e amor — uma conversão integral da existência.

4. “Não caminha nas trevas” — a superação da ignorância existencial

As trevas aqui não são apenas o mal, mas a ignorância do sentido, o afastamento da origem e da finalidade do ser. Quem caminha sem essa luz está perdido dentro de si, projetando ilusões, repetindo ciclos de alienação. A luz de Cristo é a que desvela o interior, que impede o ser de se perder de si mesmo. Quem O segue deixa de caminhar à deriva.

5. “Mas terá a luz da vida” — a iluminação do ser eterno

Aqui está o ápice: não apenas iluminação para caminhar, mas a luz que é a própria vida. Isso significa que Cristo concede mais do que orientação: Ele comunica vida verdadeira, ou seja, uma existência enraizada no eterno, fecundada pelo Espírito, alinhada ao movimento do Amor que tudo cria e sustenta. Essa luz é também a promessa da união com o Pai, da incorruptibilidade, da liberdade integral.

Conclusão:

Essa frase, em sua brevidade, contém a totalidade do mistério cristão:

  • Cristo como fonte e fim de todo sentido,

  • a liberdade como condição da adesão,

  • e a vida como iluminação que transcende o tempo.

Ela nos convida a não apenas crer, mas a seguir: a fazer da luz não uma ideia, mas um caminho vivido, que nos conduz à unidade perdida com o princípio de todas as coisas — e à realização plena do ser.

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA

Leia também:

Primeira Leitura

Segunda Leitura

Salmo

Evangelho

Santo do dia

Oração Diária

Mensagens de Fé

#evangelho #homilia #reflexão #católico #evangélico #espírita #cristão

#jesus #cristo #liturgia #liturgiadapalavra #liturgia #salmo #oração

#primeiraleitura #segundaleitura #santododia #vulgata


Nenhum comentário:

Postar um comentário