domingo, 6 de abril de 2025

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: João 8:21-30 - 08.04.2025

 Liturgia Diária


8 – TERÇA-FEIRA 

5ª SEMANA DA QUARESMA


(roxo, prefácio da paixão I – ofício do dia)


Espera no Senhor e tem coragem, espera no Senhor! (Sl 26,14)


Tudo o que emanava de Jesus ressoava com a Vontade Suprema, expressão plena da Liberdade Original que transcende toda autoridade imposta. Sua existência foi o desvelar do Ser em comunhão com a Verdade, sem concessões ao domínio da força ou da manipulação. No ápice do sacrifício, elevando-se na cruz, revelou o poder do consentimento interior ao Bem maior — escolha que nenhum poder terreno pode coagir. Sua fidelidade não foi submissão, mas afirmação soberana do espírito que reconhece em si mesmo o direito de aderir ao que é eterno. Ali, a liberdade espiritual manifestou sua força suprema diante do mundo.



Lectio Sancti Evangelii secundum Ioannem 8,21-30

21 Dixi ergo vobis quia moriemini in peccatis vestris. Si enim non credideritis quia ego sum, moriemini in peccatis vestris.
Eu vos disse que morrereis em vossos pecados. Pois se não crerdes que Eu sou, morrereis em vossos pecados.

22 Dicebant ergo Iudaei: Numquid interficiet semetipsum, quia dicit: Quo ego vado, vos non potestis venire?
Diziam então os judeus: Acaso ele vai matar a si mesmo, porque diz: Para onde eu vou, vós não podeis ir?

23 Et dicebat eis: Vos de deorsum estis, ego de supernis sum. Vos de hoc mundo estis, ego non sum de hoc mundo.
E ele lhes dizia: Vós sois de baixo, eu sou do alto. Vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo.

24 Dixi ergo vobis quia moriemini in peccatis vestris. Si enim non credideritis quia ego sum, moriemini in peccatis vestris.
Eu vos disse, pois, que morrereis em vossos pecados. Porque se não crerdes que Eu sou, morrereis em vossos pecados.

25 Dicebant ergo ei: Tu quis es? Dixit eis Iesus: Principium, qui et loquor vobis.
Diziam-lhe, pois: Quem és tu? Jesus lhes disse: O Princípio, aquele mesmo que vos falo.

26 Multa habeo de vobis loqui et iudicare, sed qui me misit verax est, et ego quae audivi ab eo, haec loquor in mundo.
Muito tenho a dizer e a julgar de vós; mas aquele que me enviou é verdadeiro, e o que ouvi dele, isto falo ao mundo.

27 Et non cognoverunt quia Patrem eius dicebat.
E não compreenderam que lhes falava do Pai.

28 Dixit ergo eis Iesus: Cum exaltaveritis Filium hominis, tunc cognoscetis quia ego sum, et a me ipso facio nihil: sed sicut docuit me Pater, haec loquor.
Disse-lhes, pois, Jesus: Quando levantardes o Filho do homem, então conhecereis que Eu sou, e que nada faço por mim mesmo, mas falo como o Pai me ensinou.

29 Et qui me misit, mecum est, et non reliquit me solum: quia ego quae placita sunt ei facio semper.
E aquele que me enviou está comigo; não me deixou sozinho, porque eu faço sempre o que lhe agrada.

30 Haec illo loquente, multi crediderunt in eum.
Dizendo ele estas coisas, muitos creram nele.

Reflexão:

Dixit ergo eis Iesus: Cum exaltaveritis Filium hominis, tunc cognoscetis quia ego sum, et a me ipso facio nihil: sed sicut docuit me Pater, haec loquor.
Disse-lhes, pois, Jesus: Quando levantardes o Filho do homem, então conhecereis que Eu sou, e que nada faço por mim mesmo, mas falo como o Pai me ensinou. (Jo 8:28)

Este versículo (João 8,28) é central porque revela a identidade divina de Jesus ("ego sum") e a perfeita unidade de sua vontade com a do Pai. Ele indica que o verdadeiro reconhecimento de quem Ele é virá através de sua elevação — a cruz —, que se tornará sinal de revelação e libertação para os que creem.

Aquele que é revela-se como pura adesão à Fonte do Ser, não pela imposição, mas pela entrega voluntária à Verdade que liberta. Sua fala não coage, convida; sua presença não subjuga, ilumina. O mundo inferior não reconhece aquele que transcende, pois enxerga com olhos velados pelo medo da liberdade interior. Aquele que escolhe crer, não apenas compreende, mas participa do movimento ascendente rumo à plenitude. Quando o Filho é elevado, é a consciência livre que se revela. Quem age conforme o Bem por escolha própria já caminha unido ao Princípio. E a união não é prisão, mas comunhão viva com o Eterno.


HOMILIA

“Quando o Filho for Elevado: A Aurora do Reconhecimento”

No silêncio do tempo, ressoa a Palavra: “Quando levantardes o Filho do Homem, então conhecereis que Eu sou.” Essa afirmação não é apenas uma predição, mas uma chave oculta para a compreensão do sentido profundo da existência. Jesus não fala de um evento isolado; Ele revela um princípio eterno: o Ser só se manifesta plenamente quando elevado — não por honra mundana, mas pelo consentimento ao sacrifício consciente.

Na cruz, Ele não é vencido, mas revela a força suprema da liberdade interior. Aquilo que parece derrota aos olhos da matéria é, na realidade, a elevação do espírito que escolhe permanecer fiel à Origem. Jesus age não por imposição, mas por plena adesão à Vontade que é fonte de toda vida verdadeira. Ele não impõe a verdade — Ele é a verdade vivida, reconhecida por aqueles que aprendem a ver com os olhos da interioridade.

O “Eu sou” de Cristo ecoa como chamado à descoberta do próprio ser: conhecer que Ele é, é também reconhecer que somos. Quando a consciência desperta para esse “Eu sou”, rompe os limites do mundo inferior e alça-se ao alto, onde não há servidão, mas união. Essa elevação, no entanto, é escolha — não há verdade imposta, apenas revelada a quem a deseja profundamente.

Assim, cada vida que decide livremente seguir o caminho do Filho elevado, reencontra o sentido do existir. Pois no reconhecimento d’Aquele que é, encontra-se a verdadeira força: não a força que domina, mas a que transforma, porque ama. A cruz, então, não é o fim — é o ponto de virada, onde o tempo se curva diante do eterno, e o homem, enfim, aprende a ser.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

A frase de Jesus em João 8,28 — "Disse-lhes, pois, Jesus: Quando levantardes o Filho do homem, então conhecereis que Eu sou, e que nada faço por mim mesmo, mas falo como o Pai me ensinou" — é uma das expressões mais densas e reveladoras da teologia joanina. Ela carrega em si três núcleos fundamentais: a “elevação” do Filho do homem, o reconhecimento do “Eu sou” e a total conformidade do Filho à vontade do Pai. Vamos explorá-los com profundidade.

1. “Quando levantardes o Filho do homem”

A expressão “levantar” (ὑψώσητε, do grego) possui um duplo significado na teologia joanina: refere-se ao ato físico da crucificação e, ao mesmo tempo, à exaltação espiritual. A cruz não é apenas um instrumento de suplício, mas o trono paradoxal do Filho do Homem. É na cruz que Ele é reconhecido — não por meio de milagres visíveis, mas por sua entrega absoluta, pela revelação do amor que consome a si mesmo em favor do outro. A “elevação” é também o início de um movimento ascensional da criação inteira rumo ao Pai, pois a cruz torna-se o centro do mundo redimido, o ponto onde o tempo toca o eterno.

2. “Então conhecereis que Eu sou”

Aqui, Jesus utiliza a fórmula sagrada Ego eimiEu sou — ecoando o nome revelado a Moisés no Êxodo: “Eu sou aquele que sou” (Ex 3,14). No contexto do Evangelho de João, essa afirmação vai além de uma identidade pessoal. Trata-se da revelação ontológica de que Jesus é uno com o Ser, com a Fonte absoluta. O “conhecereis” está intimamente ligado a uma experiência espiritual e existencial: só ao contemplar o Crucificado, o coração humano é tocado pela verdade e pela liberdade. O reconhecimento de que “Ele é” não vem por força externa, mas por um despertar interno, pela liberdade de quem se abre à luz que vem do alto.

3. “Nada faço por mim mesmo, mas falo como o Pai me ensinou”

Aqui Jesus revela a natureza da verdadeira obediência: não uma submissão cega, mas uma comunhão viva. Ele não é um intermediário passivo, mas aquele cuja vontade está em perfeita consonância com o Pai. Ele age porque conhece, e conhece porque ama. Ao dizer que “nada faz por si mesmo”, Jesus está dizendo que sua missão é expressão pura da Vontade originária. Ele é, por isso, o modelo de toda liberdade verdadeira: agir a partir da Fonte, e não a partir do ego isolado.

Conclusão

Esta frase é um vértice da teologia da encarnação e da revelação. A cruz torna-se o lugar onde a verdade é conhecida, não por imposição, mas por reconhecimento interior. Jesus, ao ser elevado, não apenas revela sua identidade divina — Eu sou — mas também ensina que o caminho da glória passa pela livre entrega. A comunhão com o Pai se manifesta na liberdade de amar até o fim. E somente ao contemplarmos esse mistério com o coração desperto, reconhecemos n’Ele a Palavra viva, e em nós, a vocação de sermos também filhos, elevados não por mérito, mas por adesão à Verdade que nos antecede.

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA

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