sexta-feira, 30 de maio de 2025

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: Lucas 24:46-53 - 01.06.2025

 Liturgia Diária


1º – DOMINGO 

ASCENSÃO DO SENHOR


(branco, glória, creio, prefácio da Ascensão – ofício da solenidade)


“Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus, que vos foi arrebatado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu.”
Atos 1,11


Elevemos o espírito na contemplação da Ascensão: símbolo da liberdade que se eleva sem romper o vínculo com a terra. Jesus, exaltado à destra do Pai, permanece próximo — não por imposição, mas por comunhão interior, através do Espírito que fortalece a consciência de cada um. Seu impulso não oprime, mas desperta. Somos chamados a comunicar, com mansidão, a esperança que arde silenciosa no coração, não como doutrina imposta, mas como luz partilhada. Assim, o verdadeiro testemunho nasce: da interioridade à ação, do invisível ao visível, do íntimo à comunidade — livre, responsável, consciente.

“Partilhai com mansidão a esperança...” (1Pd 3,15)



Lectio Sancti Evangelii secundum Lucam (24,46-53)

46 et dixit eis: “Sic scriptum est, et sic oportebat Christum pati et resurgere a mortuis die tertia,
E disse-lhes: “Assim está escrito, e assim era necessário que o Cristo sofresse e ressuscitasse dos mortos ao terceiro dia,”

47 et praedicari in nomine eius paenitentiam in remissionem peccatorum in omnes gentes, incipientibus ab Ierusalem.
e que em seu nome se pregasse a conversão para a remissão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém.”

48 Vos estis testes horum.
Vós sois testemunhas destas coisas.

49 Et ecce ego mitto promissum Patris mei in vos; vos autem sedete in civitate, quoadusque induamini virtute ex alto.”
E eis que eu envio sobre vós a promessa de meu Pai. Permanecei, pois, na cidade, até que sejais revestidos da força do alto.”

50 Eduxit autem eos foras usque Bethaniam et elevatis manibus suis benedixit eos.
Depois levou-os para fora, até Betânia, e levantando as mãos, abençoou-os.

51 Et factum est, dum benediceret illis, recessit ab eis et ferebatur in caelum.
E aconteceu que, enquanto os abençoava, afastou-se deles e foi elevado ao céu.

52 Et ipsi adorantes regressi sunt in Ierusalem cum gaudio magno
E eles, depois de o adorarem, voltaram para Jerusalém com grande alegria,

53 et erant semper in templo benedicentes Deum.
e estavam continuamente no templo, louvando a Deus.

Reflexão:

A Ascensão não marca o fim, mas a dilatação do horizonte humano. Aquele que se eleva aos céus convida cada um a transcender o próprio limite, não para fugir do mundo, mas para imergi-lo em sentido. A promessa do Espírito revela que a força não vem do domínio, mas da escuta interior que liberta. O testemunho nasce da liberdade de crer, do ato de escolher viver em comunhão com o invisível que pulsa em tudo. O céu não está longe: ele se insinua onde há esperança partilhada, onde a consciência desperta e age. Subir é abrir espaço em si para o eterno.


Versículo mais importante: Lucas 24,49 (Vulgata):

Et ecce ego mitto promissum Patris mei in vos; vos autem sedete in civitate, quoadusque induamini virtute ex alto.
E eis que eu envio sobre vós a promessa de meu Pai. Permanecei, pois, na cidade, até que sejais revestidos da força do alto. Lucas 24,49 (Vulgata)

Esse versículo une a plenitude pascal à liberdade interior: a espera ativa pela “virtude do alto” revela que o poder autêntico não se impõe, mas habita e transforma desde dentro.


HOMILIA

A Elevação do Invisível no Coração do Mundo

Amados, hoje nos é revelado o mistério da Elevação: Cristo, bendizendo com mãos erguidas, eleva-se aos céus diante de seus discípulos. Não se trata de uma separação, mas de uma transformação na forma de presença. Aquele que caminhava ao lado agora habita o íntimo dos que creem. Ele não parte para longe, mas penetra o invisível, tornando-se acessível pela liberdade interior de cada ser que o acolhe.

“Eis que envio sobre vós a promessa do meu Pai...” (Lc 24,49). Esta promessa não é apenas consolo — é força silenciosa, é impulso do alto que desperta em nós uma potência que não escraviza, mas emancipa. Somos chamados a testemunhar essa presença não por imposição, mas por ressonância: pela escuta profunda do Espírito que sopra onde quer, por dentro, e desperta cada um à sua dignidade e vocação de plenitude.

A Ascensão é o sinal de que o humano está destinado a se abrir ao eterno, que a matéria está grávida do espírito, e que o tempo não aprisiona o sentido, mas o revela. Cada vida, com sua singularidade, é convidada a unir-se à corrente viva da Elevação: não por uniformidade, mas por convergência.

Cristo sobe, e com Ele sobe o nosso olhar. Não para fugir do chão, mas para compreendê-lo à luz do alto. A verdadeira adoração não nos afasta da realidade — ela nos reorienta para ver o mundo como campo sagrado onde o invisível se encarna.

Assim, quando adoramos o Cristo elevado, é dentro de nós que Ele deseja reinar. Quando louvamos no templo, é em nossa liberdade que Ele quer ser entronizado. E quando caminhamos entre os homens, é com o coração habitado por esse fogo manso que podemos comunicar, com mansidão, a esperança que nos move.

Que cada um, então, permita ser revestido dessa força que não domina, mas transforma; que não exige, mas inspira. Pois é no alto que se revela o sentido, e é no íntimo que esse sentido se torna vida.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

Lucas 24,49 (Vulgata)

Et ecce ego mitto promissum Patris mei in vos; vos autem sedete in civitate, quoadusque induamini virtute ex alto.
“Eis que eu envio sobre vós a promessa de meu Pai. Permanecei, pois, na cidade, até que sejais revestidos da força do alto.”

1. A promessa do Pai e o envio do Espírito

Neste versículo, Cristo liga intimamente sua missão redentora ao envio contínuo do Espírito: a “promessa do Pai” transcende a obra pascal, estendendo-se para além do Calvário e da Ressurreição. Já no Antigo Testamento, Jeremias anuncia um “espírito novo” soprando sobre o povo (Jr 31,33), e Joel profetiza a efusão universal do Espírito (Jl 3,1-2). Aqui, Jesus assume essa dinâmica: Ele mesmo é o mediador da aliança plena, mas é o Espírito que opera em nós a santificação e a missão.

2. Permanecer e aguardar: atitude de escuta

“Permanecei na cidade” não é uma ordem de inércia, mas de receptividade. Na cultura judaica, a “cidade” (Jerusalém) simboliza o centro da revelação divina. Esperar ali significa cultivar a oração, a fraternidade e a docilidade ao sopro divino. Essa espera ativa é uma forma de kenosis (“esvaziamento”), em que o discípulo reconhece sua limitação e se abre ao dom gratuito de Deus.

3. “Virtute ex alto”: a energia que não vem de nós

A expressão latina virtute ex alto (sacerdotalmente traduzida como “força do alto”) vem do grego dunamis – palavra que dá origem a “dinâmico” e “milagre”. Trata-se de uma energia transcendente, que não se impõe pela coerção, mas se irradia no interior, transformando a natureza humana e capacitando-a para o anúncio. É a “unção” que Jesus recebeu (cf. Lc 4,18) e agora compartilha com seus seguidores.

4. Dimensão trinitária

O versículo articula a comunhão entre as três pessoas divinas: o Pai, que promete; o Filho, que envia; o Espírito, que vem. A “promessa do Pai” revela o desígnio eterno de Deus de habitar na humanidade. Cristo é o canal dessa aliança restaurada, mas o Espírito é a presença viva, interior e permanente, consumando em nós a mesma vida divina.

5. Fundamento da missão apostólica e da Igreja

Este envio inaugura a era apostólica e eclesial: é o alicerce de toda pregação e sacramento. Sem o Espírito, o discipulado torna-se obra humana; com o Espírito, cada cristão se torna testemunha autêntica, dotada de carismas para edificar a comunidade. A espera em Jerusalém culminará em Pentecostes (At 2), quando a Igreja recebe o signo visível do vento e do fogo: a universalidade do Evangelho ganha impulso irreversível.

6. Implicações para o crente hoje

Para nós, este versículo é convite a reconhecer nossa total dependência do Espírito: não somos missionários movidos por estratégias próprias, mas por um dom que excede nossa iniciativa. “Sentar-se” espera-lo significa cultivar a escuta orante, a vigilância sacramental e a humildade de recursos limitados. E, ao sermos “revestidos”, descobrimos que a verdadeira força evangélica brota da interioridade renovada, não de estruturas exteriores.

Em suma, Lucas 24,49 nos apresenta o ponto de virada da economia da salvação: o Ressuscitado permanece conosco, agora em forma de Espírito, para reforçar nossa liberdade interior, capacitar nossa ação e manifestar a presença viva de Deus no mundo. A “promessa do Pai” não é mera expectativa futura, mas atualização contínua da graça que nos impulsiona a viver e a anunciar com poder e humildade.

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA

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Primeira Leitura

Segunda Leitura

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