quarta-feira, 28 de maio de 2025

LITURGIA E HOMILIA DIÁRIA - Evangelho: João 16:20-23 - 30.05.2025

 Liturgia Diária


30 – SEXTA-FEIRA 

6ª SEMANA DA PÁSCOA


(branco – ofício do dia)


E cantavam um cântico novo: «Digno és de receber o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste imolado e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, língua, povo e nação; e deles fizeste para o nosso Deus um reino de sacerdotes, e eles reinarão sobre a terra.»
(Apocalipse 5,9-10 – Bíblia de Jerusalém)


Na senda do espírito livre, aquele que anuncia a Palavra enfrenta inevitáveis contratempos, pois todo despertar desafia as amarras da velha ordem. Contudo, a presença do Eterno jamais abandona o que caminha com verdade. Ele sussurra no silêncio da alma: “Continua a falar e não te cales” (At 18,9), pois tua voz é semente de mundos. Perseverar é um ato de fidelidade à luz que arde dentro. A cada palavra viva, dissolve-se a sombra do conformismo, e a aurora do novo se aproxima. Assim, o verbo liberta, o coração resiste, e a criação se renova pelo eco da consciência desperta.



Evangelium secundum Ioannem 16,20-23

20 Amen, amen dico vobis: quia plorabitis et flebitis vos, mundus autem gaudebit; vos contristabimini, sed tristitia vestra vertetur in gaudium.
Em verdade, em verdade vos digo: chorareis e lamentareis, mas o mundo se alegrará; vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em alegria.

21 Mulier cum parit, tristitiam habet, quia venit hora eius; cum autem pepererit puerum, iam non meminit pressurae propter gaudium, quia natus est homo in mundum.
A mulher, quando dá à luz, sente tristeza porque chegou a sua hora; mas, depois que deu à luz o menino, já não se lembra da aflição, por causa da alegria de ter nascido um ser humano no mundo.

22 Et vos igitur nunc quidem tristitiam habetis: iterum autem videbo vos, et gaudebit cor vestrum, et gaudium vestrum nemo tollet a vobis.
Também vós agora estais tristes; mas eu vos verei novamente, e o vosso coração se alegrará, e ninguém vos tirará a vossa alegria.

23 Et in illo die me non rogabitis quidquam. Amen, amen dico vobis: si quid petieritis Patrem in nomine meo, dabit vobis.
E naquele dia, não me perguntareis coisa alguma. Em verdade, em verdade vos digo: se pedirdes alguma coisa ao Pai em meu nome, ele vos dará.

Reflexão:
A travessia da dor é o labor de um nascimento maior. Aquilo que hoje nos oprime prepara o solo de uma consciência mais ampla, onde o sofrimento já não será fim, mas transição. A alegria que advém da visão interior não é a ausência de luta, mas o fruto da liberdade amadurecida pelo amor e pela confiança. A nova humanidade nasce quando aceitamos integrar a dor no tecido da esperança, convertendo a separação em comunhão. A ordem espiritual da criação nos convida a compreender que a tristeza é parte do processo de manifestação de algo mais pleno. O coração que vê além das aparências reconhece no Cristo o modelo da superação criativa. O mundo, ao celebrar o transitório, ignora a eternidade silenciosa que germina nas lágrimas fecundas. Pois, no centro da dor, já pulsa a promessa da alegria inviolável.


Versículo mais importante:

Et vos igitur nunc quidem tristitiam habetis: iterum autem videbo vos, et gaudebit cor vestrum, et gaudium vestrum nemo tollet a vobis.
Também vós agora estais tristes; mas eu vos verei novamente, e o vosso coração se alegrará, e ninguém vos tirará a vossa alegria. (Jo 16:22)

Esse versículo se destaca por unir o consolo imediato à promessa escatológica, transformando a experiência humana da perda e da dor em uma dinâmica de esperança viva, com implicações espirituais profundas e libertadoras.


HOMILIA

A Alegria que Ninguém Pode Tirar

No seio da existência pulsa um mistério que transcende o tempo e as formas: a transformação da dor em alegria, da separação em comunhão, da morte em vida. As palavras do Cristo, como sementes de eternidade, caem hoje no solo interior: “Estais tristes agora, mas Eu vos verei novamente, e o vosso coração se alegrará, e ninguém vos tirará a vossa alegria.”

Esta promessa não se refere a um consolo fugaz, nem a uma recompensa distante, mas a um processo sagrado que envolve todo o ser na grande gestação do espírito. Assim como a mulher sente dores ao dar à luz, a alma humana, em seu devir, atravessa abismos, pressões e silêncios — não para sucumbir, mas para gerar um novo modo de ver, de ser, de amar.

Há em cada lágrima o traço de uma força criadora, e em cada tristeza a semente de uma alegria ainda não compreendida. O Cristo não nos livra da dor, mas nos convida a atravessá-la com os olhos voltados para uma presença que ultrapassa os sentidos, uma presença que se tornará visível ao coração desperto.

A promessa d’Ele é radical: ninguém vos tirará a vossa alegria. Esta alegria é fruto da liberdade interior conquistada, da união entre a consciência individual e a fonte do Ser. É a alegria de quem sabe que nenhuma força exterior pode destruir aquilo que foi fundado na verdade, no amor e na confiança.

Viver esta alegria é responder ao chamado da integridade do ser. É não se submeter aos determinismos, mas escolher — com firmeza e ternura — ser parte de um mundo que se constrói a partir do interior. A verdade é viva e espera por aqueles que ousam atravessar a noite para contemplar o amanhecer.

Que esta Palavra seja em nós como luz secreta, fecundando os lugares ocultos com esperança, e fazendo de cada instante um passo em direção à plenitude que já habita em nós.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

Explicação Teológica Profunda de João 16,22
“Também vós agora estais tristes; mas eu vos verei novamente, e o vosso coração se alegrará, e ninguém vos tirará a vossa alegria.”

Este versículo de João 16,22 é uma chave teológica que une a economia da salvação à dinâmica do coração humano transfigurado pela presença do Cristo ressuscitado. Ele se insere no contexto do discurso de despedida de Jesus, onde o Senhor prepara os discípulos para sua partida iminente, anunciando simultaneamente a tristeza que os tomará e a alegria que surgirá do reencontro.

A profundidade deste versículo reside em três níveis teológicos essenciais:

1. A Tristeza como Travessia Pascal
“Também vós agora estais tristes...”
Jesus reconhece o estado afetivo de seus discípulos, uma tristeza que nasce da iminência da separação. Mas esta tristeza é teologicamente entendida como uma experiência pascal — ou seja, uma participação no mistério de morte e ressurreição. Não se trata de um sentimento vazio, mas de um movimento espiritual que prepara o coração para acolher uma nova forma de presença: não mais física, mas espiritual e transformadora.

A tristeza, aqui, é pedagógica: ela desaloja o apego às formas passageiras para abrir espaço ao eterno.

2. A Promessa do Reencontro e da Presença Ressuscitada
“...mas eu vos verei novamente...”
Não se trata apenas de uma promessa de retorno futuro (como na parusia), mas de uma realidade ontológica já iniciada na ressurreição. O “ver novamente” é uma expressão do modo novo de presença que o Ressuscitado inaugura: Ele vê e é visto não mais pelos olhos da carne, mas pelos olhos do espírito, no íntimo do coração purificado. É o reencontro no Espírito Santo, que atualiza constantemente a comunhão entre Cristo e o discípulo.

Neste sentido, a promessa é sacramental: o Cristo que se foi pela cruz é o Cristo que permanece nos sacramentos, na Palavra, na caridade viva.

3. A Alegria Inviolável como Fruto da União com o Cristo Vivo
“...e o vosso coração se alegrará, e ninguém vos tirará a vossa alegria.”
A alegria prometida não é mero contentamento emocional, mas a chara divina — a alegria como fruto do Espírito (cf. Gl 5,22), nascida da união com Cristo ressuscitado. Esta alegria é escatológica: ela aponta para a plenitude do Reino, mas já é antecipada na experiência do amor que venceu a morte. É uma alegria que brota da liberdade interior, firmada na certeza de que o vínculo com o Cristo é eterno e inviolável.

“Ninguém vos tirará” indica a natureza transcendente dessa alegria: não é o mundo que a concede, e, portanto, não é o mundo que a pode retirar. Ela está enraizada no eterno, e só pode ser experimentada plenamente por aqueles que vivem a fé como adesão integral à vida do Ressuscitado.

Conclusão
João 16,22 é, teologicamente, uma síntese da esperança cristã: a tristeza do mundo é passageira, mas a alegria enraizada no Cristo ressuscitado é eterna. A promessa não se limita a um consolo emocional, mas revela a dinâmica da redenção: da dor à plenitude, da ausência à presença interior, da fragilidade humana à invencível alegria divina. Trata-se de uma convocação à confiança: mesmo nas noites mais escuras, a luz do Cristo vivo já brilha no interior dos que creem.

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA

Leia também:

Primeira Leitura

Segunda Leitura

Salmo

Evangelho

Santo do dia

Oração Diária

Mensagens de Fé

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